Segunda-feira, 08.03.10








As marcas são os hematomas; ou braços e narizes quebrados. São marcas na alma, um sentimento de medo da vida, de uma eterna prisão, um total convencimento de seu próprio sentimento eterno de desvalia.
As coisas começam de forma inocente. O ciúme durante o namoro, que até nos deixa orgulhosas, porque achamos que ele está cuidando de nosso bem estar. E se preocupando com o nosso bem estar. Algumas de nós percebemos o exato momento em que o príncipe vira sapo. E muitas de nós conseguem correr do sapo, mas outras entre nós sentimos mal, mas não conseguimos enxergar que somos vitimas de um abusador emocional, que estamos presas em uma teia de abusos emocionais, que vai destruir todos os nossos sonhos de uma família, vai destruir nossos filhos e até nossa capacidade de ação e reação.
Para nós fica sempre o sentimento de que nunca conseguimos atender a exigência do nosso companheiro. E quando achamos que conseguimos, já existem tantas demandas impossíveis de ser viabilizadas, e uma lista infinita de defeitos e erros nossos que só nos resta tentar não fazer mais uma vez a coisa errada, o que inevitavelmente faremos. É uma tensão constante um pisar em ovos, um viver dentro de uma panela de pressão, temos que ficar escolhendo as palavras e nem isso muitas vezes ajuda muito.
Incidentes insignificantes tornam se motivos de berros, de criticas demolidoras, de xingamentos que nos lembre o quanto insignificantes e inúteis nós somos. Sentimos que somos pouco desejáveis, temos medo até da educação que damos aos nossos filhos. Porque muitas vezes somos humilhadas diante deles.
Uma das “estratégias” usadas é a negação total de contato físico, verbal, e sexual. As formas de abuso emocional podem variar em algumas nuances de acordo com a cultura e classe social do abusador, mas em síntese é tudo a mesma coisa, destrói a nossa auto-estima, destrói a nossa vida.
Mas quem é o abusador emocional? Quem é esse monstro que mora em nossa casa, que dorme ao nosso lado. Quem é esse monstro de duas faces, que na sociedade aparenta ser um bom pai, cheio de virtudes, um homem correto, e na intimidade do lar é esse monstro? Porque essa perversidade com os que lhes são tão íntimos? Os que talvez o ame?
Esse é um homem inseguro, que talvez tenha sofrido violência em sua infância, dentro da sua família ou na sociedade. Inseguros do seu desempenho sexual, que através da humilhação a suas companheiras, eles acham que vão afastar a criança assustada e impotente que existe dentro deles.
A masculinidade é definida muito em função de do domínio e controle sobre os outros. Alivia o estresse e proporciona uma sensação boa, ao abusador. Não importa a um monstro desses que nós nos sintamos culpadas, e inadequadas depois de sofrermos tal abuso.
O abusador tem dificuldades em lidar com o conflito (frustração, medo, perda) Prefere expressar suas frustrações através da raiva. Costuma apresentar uma enorme dependência da vitima, auto-piedade, e não se sente culpado de suas ações. Ao contrario vê a se mesmo como uma vitima, acha que são as outras pessoas que o provocam para agir como age.
Considera-se superior as mulheres. Por ser inseguro tem uma grande necessidade de exercer controle sobre o ambiente e as pessoas que convive, por isso sempre são sedutores de caráter. Percebem que a violência efetivamente funciona, e por isso a mantém.
Impulsivo e com pré disposição para comportamentos compulsivos. Projeta na mulher sentimentos de hostilidade em relação á figura feminina, como uma forma de compensação por sua impotência.
E por que não vamos embora?







São vários os motivos:
Trata-se deu um ciclo, de uma dança mórbida, jogos inconscientes que se compensam. Dificilmente conseguimos sair sozinhas desse jogo doentio. Quando rompemos sem estarmos conscientes, do jogo, tendemos a recolocar alguém no lugar.
Para rompermos com um circulo de abusos, emocionais ou físicos, precisamos de uma rede de apoio poderosa. Porque os abusos surtem efeitos e nos mutilam a capacidade de ação.
Nossos filhos são armas poderosas, assim como sanções financeiras, perda do padrão econômico, medo da censura social e familiar, por romper com alguém que é um “bom marido”, aos olhos de todos. A co-dependencia se confunde com afeto.
E por isso precisamos de uma rede poderosa para rompermos com os abusos. Precisamos de apoio jurídico, psicológico, de uma infra-estrutura que nos garanta a nossa integridade física e moral. E a dos nossos filhos. Precisamos de coragem, e de uma estratégia de ação. Mas antes de tudo precisamos entender que não somos culpadas – que não “fizemos por merecer” como parece crer o nosso companheiro. Precisamos acreditar em outras formas de existir mais saudáveis, e voltarmos a sonhar e a acreditar-me um futuro sem violência, sem coação. Precisamos ouvir nossa própria voz.



publicado por araretamaumamulher às 05:46 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Quarta-feira, 17.02.10





Nunca peça à vítima para ignorar ou esquecer o que aconteceu. Não se deve pedir às vítimas da violência para simplesmente perdoarem os que as maltrataram, principalmente se a violência ainda continua. A questão do perdão é entre a pessoa e Deus. Ao invés disso, é necessário que se acredite na vítima e que ela possa falar abertamente. A vergonha e a culpa estão entre os sentimentos mais comuns das vítimas da violência doméstica. Elas acham que ninguém as pode compreender. Nunca deixe a vítima pensar que você acredita que ela é culpada pelo que aconteceu.
Para a vitima de violência, admitir que sofre humilhação, maus tratos, e privações, é o mesmo que ficar nua em praça publica expor nossa vida pessoal, é algo muito doloroso, e muitas vezes sentimos ser mais fáceis passar pelo que estamos a passar do que denunciar. O medo, a vergonha, a exposição publica de nossos problemas, é um drama, tão difícil de ser enfrentado quanto os maus tratos.
Admitir para nós seres humanos que não somos os melhores, que fracassamos na escolha de nossos companheiros, que aceitamos apesar de reconhecermos esse fracasso, por muitos anos, ir remediando e suportando a dor e a humilhação, não é uma tarefa fácil.
O sentimento de medo, que beira ao terror, de desonestidade, de culpa em conseqüência do que estamos passando e tão avassalador que nos paralisa totalmente, nos deixa sem ação.
Trata-se de uma defesa emocional, que usamos para nos proteger de mais sofrimentos e dor, de piores tratos e humilhações.
Qualquer mulher que já sofreu abuso emocional ou físico sabe o quanto é dolorido, e como é difícil, expor nossos problemas, porque já sabemos de antemão que vem o julgamento, e o julgamento nunca nos é favorável.
Eu já ouvi tanta coisa do tipo:” E porque você não sai de casa?” “O que você faz para ser tratada dessa forma?” e por ai vai...
Esse tipo de atitude, só nos faz encolhermos ainda mais. E não nos ajuda em nada.
Na verdade, porém, usamos a nossa razão para imaginar desculpas para nosso comportamento patológico que estão de acordo com o que desejamos. Nossas emoções influenciam excessivamente a nossa razão por causa de nossos medos.
Temos dificuldades em fazer distinção entre os sentimentos exagerados do momento da agressão seja ela física ou emocional, e a realidade em longo prazo. E ai começamos a imaginar que somos muito piores do realmente somos na realidade. Misturamos nossos medos e nossa baixa auto-estima, e criamos com toda a certeza um monstro, que pelo poder que damos a ele, vai acabar mesmo nos pegando.
No amor o único bater, autorizado, é o do coração. São pancadas suaves que não deixam marcas, nem resignadas recordações, nada que um simples gesto de ternura não apague.
Não sendo um mal exclusivo das classes mais baixas, hoje se sabe que a violência doméstica não poupa ninguém, não é um problema de classe social, nem de formação acadêmica, são conhecidos os casos de violência é transversal grassa na alta sociedade e o número de casos entre namorados jovens universitários é uma coisa nunca vista.
A formação acadêmica não constitui fator impeditivo destas práticas e, as vítimas por vergonha escondem dos familiares às agressões. A violência doméstica é transversal a toda a sociedade, mas o sofrimento que provoca nas classes com menores recursos é muito maior, porque à violência física se junta à psicológica e a dependência econômica obriga as vítimas a permanecer ao alcance da mão e do chicote dos seus algozes.
No drama da violência doméstica à dureza dos fatos, responde a Justiça com a sua habitual brandura, os autores sentem que podem continuar a alimentar a sua crueldade, impunemente.
Objeto de estudos sucessivos e da repetida necessidade de outros mais pormenorizados, a violência doméstica, passou de consentida a criminosa. O poder marital que permitia matar a mulher adúltera sem conseqüências e o sexo forçado para concretizar o casamento, passaram a ser criminalizados como homicídio e violação. Todavia, a violência doméstica transformou-se num problema social gravíssimo, as medidas para combater este flagelo tem fracassado perante o progressivo aumento deste tipo de criminalidade.
Há quem refira um aumento da violência dos atacantes que à agressão emotiva, juntaram a coativa para condicionarem as vítimas obrigando-as a negar os fatos e a inventar explicações incompatíveis com os ferimentos que apresentam.
Na maioria das culturas, as pessoas escondem o problema da violência dentro da família. Isto significa que pouco se sabe a respeito do nível de violência que afeta as famílias. Os maus-tratos dentro da família têm chamado cada vez mais a atenção dos serviços de saúde, mas são raramente incluídos nos programas comunitários de saúde e educação. Entretanto, a maioria dos casos não são nem mesmo informados. Isto significa que as pessoas que cometem a violência não são responsabilizadas por seus atos. Muitas vezes, elas nem mesmo se dão conta de que cometeram um crime.
No início da década passada, nos Estados Unidos, por exemplo, foram informados um milhão e meio de casos de maus-- tratos contra crianças e adolescentes, com mil mortes por ano. Estima-se que o número real de casos seja 20 vezes maior. Em muitos países em desenvolvimento, o problema é raramente informado.
O termo violência doméstica é usado para descrever qualquer atitude violenta ou negligência dentro da família. As vítimas podem sofrer tudo que é tipo de problemas físicos e mentais – inclusive stress, problemas para dormir, lembranças repentinas do trauma, agressão, isolamento social, comportamento auto-- destrutivo, depressão e fobias. Algumas podem até mesmo cometer suicídio.
A pobreza e a falta de instrução podem aumentar o nível de violência doméstica. Também pode haver outros fatores individuais, familiares, comunitários e sociais. Entretanto, o abuso de poder sobre membros familiares indefesos está sempre presente. As mulheres, os adolescentes, as crianças e as pessoas com deficiência são as vítimas mais freqüentes.
Ajudando as vítimas
O ideal seria que os casos de violência doméstica fossem tratados por profissionais, pois a ajuda inadequada pode causar ainda mais problemas. Entretanto, quando estes não estão disponíveis, os amigos que estiverem dispostos a escutar e oferecer apoio podem ajudar. Ter de testemunhar pode ser prejudicial para a vítima e, mais uma vez, recomenda-se a ajuda especializada, a fim de se minimizarem os danos. Quanto antes os maus-tratos forem identificados e resolvidos, maiores serão as chances de se evitar mais violência e de se tratarem as pessoas violentas com sucesso.
Como os não profissionais podem ajudar?
A princípio, é importante escutar cuidadosamente a vítima e acreditar nela. Acompanha-la a um departamento oficial para expor sua situação e ajude-a a procurar ajuda profissional. Geralmente as vítimas têm medo de procurar ajuda, porém, com este apoio, talvez elas o consigam fazer.


publicado por araretamaumamulher às 11:39 | link do post | comentar | ver comentários (5) | favorito

Domingo, 24.01.10
A reação mais comum perante as crueldades da vida é bani-las para fora da consciência. Um engenhoso sistema de defesa psicológica de negação e silêncio são estratégias de sobrevivência para tentar esquecer e não colocar em palavras o que é considerado demasiado cruel para existir na vida humana. O conflito entre manter o silêncio e a vontade de gritar a sua dor é inerente ao trauma psicológico. É um processo que tem lugar tanto a nível individual como em nível da sociedade. A crueldade necessita de ser falada antes de ressurgir na vida da pessoa ou na comunidade. As sociedades têm necessidade de repor a ordem e a justiça, a nível individual cada pessoa procura sempre o sentido e a solução para a vida. O reconhecimento do que aconteceu é essencial num processo de reconciliação e para a recuperação pessoal.
O ato de denunciar e de levar a publico o abuso de direitos humanos numa sociedade está fortemente relacionado com movimentos políticos. A história mostra-nos que os movimentos políticos desempenharam um papel-chave no despertar de uma consciência pública sobre as realidades dolorosas e vergonhosas que a vida humana encobre. Mais de 100 anos de estudos sobre psico-traumas nas sociedades ocidentais mostram a relação entre os movimentos políticos e a denúncia do sofrimento humano provocado pelo abuso dos direitos humanos.
No final do século XIX um movimento contra o clericalismo na França iniciou uma investigação sobre a Histeria. Até então a Histeria era considerada como uma doença feminina imprevisível. Os resultados da pesquisa provaram a relação entre os sintomas da doença e a ocorrência de abuso sexual na infância. No início do século XX, movimentos pela paz e movimentos anti-militaristas desenvolveram pesquisas sobre os psico-traumas relacionados com a guerra. No final do século a pesquisa nesta área teve como objetivo central libertar as mulheres das relações desiguais de poder e da violência.
O movimento feminista foi essencial para estimular este desenvolvimento. No início da década de 70 a pesquisa foi feita por duas feministas nos Estados Unidos (Burgess & Holmstrom, 1972). Elas concluíram que os efeitos da violação, da violência doméstica e do abuso sexual são de fato os mesmos que os encontrados em sobreviventes de guerra. Mulheres que foram vítimas de violência ou de violação descreveram os seus medos durante estas experiências violentas como sendo de receio de perder a vida e como um medo intenso de morrer ou de ficar mutiladas para sempre. Depois do evento elas sofreram de problemas de insônia, náuseas, pesadelos, sobressaltos, sustos, mostrando sintomas de dissociação e de “anestesia” corporal e emocional. Nos últimos trinta anos uma série de estudos foi realizada e hoje existe uma nova literatura cujos resultados estão publicados e o tema já é discutido publicamente nos órgãos de comunicação social.
Está claro que ver e reconhecer os efeitos da violência doméstica e do abuso sexual não é somente uma questão de provar as agressões mostrando as lesões físicas e o imenso sofrimento psicológico. É também uma questão que deve ser vista em relação com o ambiente político. Instrumento importante para conter a violência contra as mulheres é um sistema legal que criminaliza os agressores, um sistema de saúde que cria espaço para as mulheres se recomporem das suas lesões e um sistema sócio-cultural que permita às mulheres reintegrarem-se e reconstruírem as suas vidas em paz.
Em 1980 foi introduzido o conceito de DSPT (Distúrbio de Stress Pós-Traumático), pela Associação de Psiquiatria Americana, como uma nova desordem psiquiátrica. O conceito foi desenvolvido na base de experiências com os veteranos da guerra do Vietname. Depois do seu regresso da guerra eles apresentavam uma série de problemas e de dificuldades em se reintegrarem na família e na vida social. Eles tinham vários sintomas de stress psicológico causado pelas memórias das experiências durante a guerra.
Desde que este conceito foi introduzido no Manual de Estatísticas de Diagnóstico das Doenças Mentais (DSM IV), tornou-se claro que as síndromes psicológicas dos sobreviventes de abuso sexual e violência doméstica eram de fato os mesmos encontrados entre os sobreviventes de guerra: “Mulheres e crianças que foram agredidas e violadas são vítimas de guerra. A Histeria é uma neurose da guerra entre os sexos” (Herman, 1992).
O DSPT é um diagnóstico aplicável a doenças de saúde mental desenvolvido no Ocidente e a utilidade deste conceito em países não Ocidentais está ainda em discussão, porque, por exemplo, o uso do termo trauma tende a medicar problemas que são profundamente políticos e sociais. Contudo, não há dúvida de que o DSPT contribui para o reconhecimento dos efeitos de eventos traumáticos tal como a violência doméstica, na saúde pública e mental. Mulheres sofrendo de conseqüências da violência doméstica não são malucas ou anormais – a verdade é que elas simplesmente estão afetadas por eventos cruéis que alteram as suas vidas e destroem o seu bem-estar. E embora os contextos culturais, socioeconômicos e políticos se devam ter em conta, o sofrimento pessoal depois de tais eventos traumáticos necessita de uma atenção pessoal. O conhecimento psicológico no atendimento às vítimas e a educação psicológica como um meio de apoiar famílias e comunidades têm uma grande importância. A comissão da verdade e reconciliação na África do Sul após o apartheid foi um exemplo de um programa de intervenção, usando os conhecimentos da investigação em psico-traumas.
A definição de trauma envolve todos os eventos ou ações que podem resultar em morte, assim como também em lesões sérias, ou ameaças à integridade física ou psicológica do próprio ou de outros. A resposta das pessoas a esses eventos envolve medo intenso, sensação de desamparo e horror (DSM IV).
Deve fazer-se uma distinção entre os eventos que ocorrem uma vez e estão limitados no tempo (por exemplo, um acidente de carro ou umas cheias) e os eventos que não estão isolados e que ocorrem numa situação de média ou longa duração (por exemplo, a guerra ou a violência doméstica). Os traumas de Tipo I são os produzidos de eventos singulares e os traumas de Tipo II resultam da exposição prolongada a repetidas situação stressantes.
As reações normais que se podem esperar depois de se ter sobrevivido a experiências traumáticas são: ter memórias vividas dos eventos, pesadelos, vigilância constante, ansiedade e medo, abuso na ingestão de medicamentos ou outras substâncias, falar de mais, ter problemas sexuais, dores de corpo, tristeza, raiva, agressividade, desespero, culpa, falta de confiança nos outros, auto-isolamento, etc. A razão para estas respostas tão fortes é porque os sobreviventes se sentem como se essa experiência estivesse aprisionada no seu corpo e na sua mente. Foi tão horrível e dolorosa que as pessoas tentam esquecer ou evitam pensar no que aconteceu. Sobreviventes de traumas oscilam entre a tentativa de esquecer o que aconteceu e entre serem assolados com recordações intensas do evento. Esta reação é completamente normal e dura alguns dias ou semanas. Quando uma mulher recebe apoio da família ou de outros, isso ajuda-a a compreender as suas reações de modo a que ela não sinta que está a ficar doida.
Quando se trata de traumas de Tipo I, a maioria das pessoas pode recuperar-se completamente, especialmente quando tem o suporte da família ou dos amigos sempre que necessário. Nos casos em que as reações se manifestam por mais de três meses, necessita-se de dar atenção especial.
A violência doméstica causa um trauma de Tipo II, o chamado DSPT, e as reações podem durar por muito tempo, até anos. Judith Herman refere-se a mudanças complexas de personalidade que podem ser causadas por experiências traumatizantes, duradouras ou contínuas, tal como o abuso sexual, o incesto e a violência doméstica. Ela descreve várias categorias de sintomas tais como a somatização, as mudanças na regulação do afeto e dos impulsos, a dissociação, mudanças na identidade, mudanças na percepção do agressor, mudanças nas relações com os outros e mudanças na percepção do sentido da vida. Finalmente, Herman (1992) afirma que a depressão é a constatação mais comum em todos os estudos clínicos de pessoas cronicamente traumatizadas.
Van der Kolk (2000) menciona que, nas crianças vítimas de abuso sexual e nos casos de violação das mulheres por parceiros do sexo masculino, é freqüente surgirem reações que se mantêm de forma duradoura. Uma mulher que é vítima de violência cometida pelo seu marido ou parceiro íntimo está em alto risco de desenvolver problemas de saúde mental que atingirão também as suas crianças. Esses eventos perturbarão o seu comportamento, a maneira como ela se relaciona com os outros, a percepção de si mesma e a sua auto-estima, o seu espírito e o seu ser existencial.
Mulheres com reações de Stress Pós-Traumático exibem uma grande variedade de sintomas físicos. Algumas mulheres podem queixar-se de sintomas relacionados com a parte do corpo exposta ao trauma, especialmente em casos de exposição à violência física. Outras podem ter problemas que se expressam em disfunções sexuais, doenças de transmissão sexual, problemas musculares ou ósseos, dores crônicas e distúrbios funcionais. Vítimas de violação, em particular, apresentam sintomas na forma de dores pélvicas crônicas, dores de cabeça, desordens gastrintestinais e problemas menstruais. Gravidezes não desejadas, aborto natural ou induzido, bem como o risco de contrair o HIV, podem ser resultados de violência.
Por isso, os funcionários dos serviços de saúde reprodutiva, mais do que os outros nos serviços de saúde, lidarão com mulheres agredidas e violadas. Este aspecto dá-lhes responsabilidade e devem ter como tarefa reconhecer os sintomas e sinais nestas mulheres, respondendo às suas necessidades físicas, facilitando as necessidades psicológicas e apoiar no que for necessário para parar com o ciclo de violência através da ação legal.
• Eventos traumáticos relacionados com o conflito armado
• Tortura
• Ser mulher
• Pobreza e dificuldades socioeconômicas
• Desemprego e falta de qualificações profissionais
• Problemas de marginalização e discriminação
• Problemas de saúde derivados da precariedade dos serviços de saúde e de sanidade
• Má nutrição
• Condições físicas deterioradas, incluindo traumas e outras lesões físicas.
• Colapso das redes sociais resultando em fraco suporte social
• Eventos traumáticos tais como morte, perda ou medo.
• Situações diárias de stress
• Incapacidade em recuperar de eventos traumáticos após o primeiro mês
• Sensação de falta de controle sobre os eventos traumáticos.
É interessante comparar estes fatores com a situação de mulheres em situação de violência doméstica em países de baixos rendimentos. Muitos destes fatores podem ser aplicados nestes casos. Portanto, é mais ou menos implícito que estas mulheres também estão em alto risco de desenvolver problemas de saúde mental. Os fatores de risco, contudo, podem ser balanceados por fatores de proteção. Estes fatores são a chave para conceber programas de apoio e de prevenção.
Vejamos alguns exemplos de fatores de proteção:
• A presença de uma rede social, incluindo uma família nuclear ou extensa.
• A presença de grupos de auto-ajuda e de empoderamento e troca de experiências
• Ter emprego ou a possibilidade de gerar rendimentos
• Ter acesso a organizações de direitos humanos
• Ter acesso a serviços públicos que forneçam cuidados de saúde, proteção policial e justiça.
• A possibilidade de realizar rituais culturais e cerimônias
• Ter na inspiração política ou religiosa uma fonte de conforto, de sentido e de perspectiva para o futuro.
O bem-estar e a saúde de uma mulher vítima de violência doméstica e/ou abuso sexual é severamente afetado e perturbado por essas experiências. A sua saúde pessoal, o seu papel como mãe, como esposa, como geradora de rendimentos ou como empregada, será afetada. As suas crianças estarão em alto risco de desenvolver um problema sério de saúde mental ou de se tornarem vítimas ou perpetradoras na vida adulta. Isto cria um ciclo vicioso de violência.
Estudos feitos na área que estamos a abordar revelaram que crianças que vivem num ambiente doméstico em que há abuso do cônjuge, correm um risco 1.500 vezes superior à média nacional de serem igualmente vítimas de abuso (Van der Kolk, 2000). Segundo a OMS (2001) as crianças que são vítimas de violência ou de abuso sexual têm um risco elevado de elas próprias se tornarem mais tarde perpetradoras de formas semelhantes de abuso em relação a crianças mais novas. Testemunhar violência freqüente na casa também pode contribuir para desenvolver um comportamento agressivo: “Crianças jovens e agressivas, que chegaram ao ponto de cometer um homicídio. Comprovou-se que o fator mais importante que contribuía para esses atos de violência era ter um pai que se comportava de forma violenta e se revelava capaz de se tornar um homicida” (Lewis et al, 1983).
A violência contra as mulheres é uma violação básica dos direitos humanos e tem um poder extremamente destrutivo para a comunidade e para a sociedade. Não existe nada de natural na violência. A violência não tem nada a ver com as normas culturais aceites. O aumento de violência nas famílias e nas comunidades pode ser sintoma de perda de controle, de lutas contra as mudanças dos papéis de gênero, de lacunas nos sistemas jurídico, econômico e de saúde que falham em estabelecer limites, de processos de aculturação, etc. Enquanto os países e as sociedades mantiverem os olhos fechados para a violência contra as mulheres e as crianças, eles estão, em termos psicológicos, em processos de autodestruição.
Prejudicar e limitar as forças construtivas das mulheres na sociedade representa um custo extremamente alto. Prejudicar a confiança e a crença das crianças na justiça, na segurança e na paz, é criar mais riscos de que elas cresçam agressivas, se tornem adultos criminosos ou vítimas de violência de outros. Eles serão um sério risco para a paz e para o desenvolvimento da sociedade.
Violência e comportamento destrutivo sempre existiram e continuarão a existir na terra, pois “tu não podes evitar que as aves da desgraça sobrevoem a tua cabeça”. “Contudo, a comunidade nacional e internacional tem uma enorme responsabilidade em estabelecer limites aos agressores criminosos e em ajudar as suas vítimas a que eles construam ninhos nos seus cabelos”. As recomendações da OMS mostram que é muito urgente libertar as mulheres desta injustiça infame e destas situações insuportáveis.


publicado por araretamaumamulher às 08:02 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Domingo, 03.01.10
Ontem fizemos um perfil do agressor, hoje faremos um perfil da vitima de violência doméstica e familiar.
Os diferentes estudos sobre as mulheres vítimas de maus-tratos afirmam que não existe um perfil determinado de vítima e de agressor. Porém, as conclusões extraídas das diversas pesquisas analisadas mostram alguns padrões comportamentais que se exteriorizam freqüentemente nos casos de violência doméstica.
São eles: violência se manifesta de maneira reiterada, sendo um padrão de conduta continuado; os agressores são geralmente homens, maridos, ex-maridos, companheiros ou ex-companheiros das vítimas; os indivíduos que foram vítimas de maus-tratos na infância reproduzem estas condutas, e, por isso, têm mais possibilidades de serem agressores, agredindo sua própria companheira; as agressões sofridas não são conhecidas até transcorrer um longo período de tempo; o crime doméstico se manifesta como violência física,psicológica, sexual, patrimonial ou moral; às vítimas possuem baixa auto-estima e vários problemas de saúde, na maioria dos casos, as mulheres são chantageadas por seus maridos e freqüentemente cedem às pressões, sentindo-se incapaz de agir; às vítimas vivem em estado de pânico e temor. Precisam de ajuda externa para assumir seu problema e encontrar soluções alternativas .
A violência traz conseqüências gravíssimas para as vítimas, que vão muito além de traumas óbvios das agressões físicas. A violência conjugal tem sido associada com o aumento de diversos problemas de saúde como baixo peso dos filhos ao nascer, queixas ginecológicas, depressão, suicídio, entre outras .
No Brasil, como em vários outros países, a delimitação dos prejuízos psicológicos decorrentes de situações traumáticas é a matéria recente, e, portanto, não está claramente especificada na legislação. O que gera o dano psíquico é a ameaça à própria vida ou à integridade psicológica, uma lesão física grave, a percepção do dano com internacional, a perda violenta de um ente querido e a exposição ao sofrimento de outros, ainda que não seja próxima afetivamente .
Dentre as mais diversas pesquisas sobre as vítimas da violência doméstica e familiar quanto à caracterização da vítima percebe-se que:
a) a maioria das mulheres tem uma união consensual (57%);
b) 65% delas tem filhos com este parceiro;
c) cerca de 40% são do lar e 60% trabalham fora;
d) sua idade varia de 15 a 60 anos, mas a maioria é jovem (21 e 35 anos – 65%);
e)são brancas.
Em 88% dos casos em que essas agressões foram presenciadas pelos filhos, em 6% não presenciaram e 6% não souberam responder .
Estudos Brasileiros salientam, com maior ênfase, a baixa renda das mulheres vítimas de violência doméstica. Relatam que a renda familiar predominante é entre um a três salários – mínimos (42,6%), seguida pela faixa dos quatro a seis salários (36,1%) e uma categoria de 39,3% que não exercia atividades remuneradas .
As pesquisas também demonstraram que a mulher que trabalha fora de casa é mais consciente da situação. Isto porque o exercício de atividade profissional assegura-lhe independência econômica, encorajando-a a reagir e buscar soluções para o seu problema. As estatísticas da violência doméstica nas grandes cidades coincidem com as do interior do país. Está provado que a violência doméstica é um fenômeno global, presente tanto nos países desenvolvidos, como nos subdesenvolvidos e nos que estão em desenvolvimento. O caso brasileiro está correlacionado à pobreza, baixa escolaridade e dependência econômica das mulheres. Os homens aparecem como maiores agressores. Além disso, o preconceito e a discriminação estão na origem da violência contra a mulher. Muitas mulheres sentem-se envergonhadas de admitir, mesmo para amigos, que um membro de sua família (na maioria dos casos o companheiro) pratica violência, e em assim sendo, não o denunciam.
Os direitos humanos são os direitos e liberdades básicos de todos os seres humanos. Normalmente o conceito de direitos humanos tem a idéia também de pensamento e de expressão, e a igualdade perante a lei.
A expressão Direitos Humanos já diz, claramente, o que isto significa. Direitos Humanos são os direitos do homem, ou seja, são direitos que visam resguardar os valores mais preciosos da pessoa humana, direitos que visam resguardar a solidariedade, a igualdade, a fraternidade, a liberdade, e a dignidade da pessoa humana. No entanto, apesar de facilmente identificado, a construção de um conceito que o defina, não é uma tarefa fácil, em razão da amplitude do tema. Segundo alguns autores, os direitos humanos seriam como uma das previsões absolutamente necessárias a todas as Constituições, no sentido de consagrar o respeito à dignidade humana, garantir a limitação de poder e visar o pleno desenvolvimento da personalidade humana", ou ainda, direitos humanos seriam uma idéia política com base moral e estão intimamente relacionados com os conceitos de justiça, igualdade e democracia. Eles são uma expressão do relacionamento que deveria prevalecer entre os membros de uma sociedade e entre indivíduos e Estados. Os Direitos Humanos devem ser reconhecidos em qualquer Estado, grande ou pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema social e econômico que essa nação adota. "
Assim como no Direito Brasileiro existe a proteção dos direitos humanos, há também no Direito Internacional esta proteção, sendo recente na história contemporânea. Surgiu no Pós – Guerra como resposta às atrocidades cometidas durante o nazismo . É naquele cenário que se desenvolve o esforço de reconstrução dos direitos humanos como paradigma e referencial ético a orientar a ordem internacional contemporânea.
Os direitos humanos fundamentais visam a resguardar os valores mais preciosos da pessoa humana, ou seja, a vida, a igualdade, a liberdade e a dignidade humana.
A atual Constituição da República Federativa do Brasil conferiu dignidade e proteção especiais aos direitos fundamentais, sendo considerada um verdadeiro marco histórico nesta seara. As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata, conforme o artigo 5º, § 1º , permitindo inclusive a conclusão de que os direitos fundamentais estão protegidos não apenas diante do legislador ordinário, mas também contra o poder constituinte reformador, por integrarem o rol das denominadas cláusulas de irredutibilidade ou mínimas.
O artigo 5º, § 2º, estabelece que os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ele adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Essa norma possibilita que outros direitos, ainda não expressamente previstos na Constituição, sejam considerados direitos fundamentais, este que pode ser entendido como o conjunto de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana .
Dignidade da Pessoa Humana e Violência Doméstica.
Os Direitos Fundamentais e a dignidade da pessoa humana são conceitos correlativos e interdependentes, seja no âmbito do direito público, seja no âmbito do direito privado, onde o ser humano é o grande protagonista das sociedades organizadas e o reconhecimento e proteção a sua dignidade são considerados a grande meta das nações democráticas. A idéia de dignidade está na origem de todos os direitos fundamentais que se sucederam a partir da Revolução Francesa. Mesmo hoje em dia é ela que dá o substrato necessário à concretização dos direitos de liberdade, igualdade e solidariedade, pois está subjacente a todas as normas que integram o catálogo de direitos fundamentais da Constituição Brasileira .
Atualmente, coexistem dois sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos, o sistema universal, de que fazem parte os Estados integrantes das Nações Unidas - ONU e o sistema regional em que são associados vários países. São eles: o sistema Europeu (No Conselho da Europa), o sistema americano ( na Organização dos Estados Americanos – OEA), o sistema africano ( na Organização para a Unidade Africana) e o sistema árabe ( na Liga dos Estados Árabes). Somente os países asiáticos encontram-se desprovidos de uma convenção regional de direitos humanos. Tais sistemas agrupam países que se relacionam entre si política, econômica e culturalmente ou que compartilham uma mesma declaração de princípios. Cada sistema é autônomo em relação aos demais, embora se estruturem, com base nos princípios instituídos pela Declaração Universal e pelos Pactos Internacionais das Nações Unidas.
A violência doméstica praticada contra a mulher é um concreto exemplo de violação da dignidade da pessoa humana e dos direitos fundamentais. Tão verdade é, que a recente lei 11.340 de 07/08/2006 (Lei Maria da Penha), teve de se adequar aos documentos internacionais de proteção aos direitos das mulheres, em seu artigo 6º, onde afirma taxativamente que “a violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos”.
Provadas empiricamente a situação de hipossuficiência e discriminação sofrida pelas mulheres em vários países do mundo, foi necessário a elaboração de um sistema especial de proteção dos seus direitos humanos, através de convenções e pactos internacionais. São eles: A Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a mulher; a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, a chamada “Convenção de Belém do Pará”; a Declaração e Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial da Mulher “Beijing”, que constituem alguns dos mais relevantes instrumentos voltados à proteção dos direitos humanos da mulher na ordem jurídica internacional.


publicado por araretamaumamulher às 14:04 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Sábado, 19.12.09
Hoje resolvi falar sobre os mitos que rondam a violência da mulher. Porque acredito que já está mais do que na hora de colocarmos as coisas de forma clara, para que todos possam realmente saber o que de verdade sofre uma mulher que é vitima de violencia....
Primeiro mito
A violência doméstica é uma “perda de controle”- uma questão do controle da ira.
Fato
O comportamento violento é uma escolha – a violência doméstica nada tem que ver com a ira. Esta é uma ferramenta que os agressores usam para obter o que desejam. Sabemos que de fato os agressores têm bastante controle porque param quando alguém bate à porta ou o telefone toca. Sempre tentam direcionar os socos e os pontapés para as partes do corpo onde os ferimentos têm menor possibilidade de serem vistos e não agridem qualquer pessoa quando estão “irados”, mas esperam até que não haja testemunhas e então praticam o abuso contra a pessoa a quem dizem que amam. A violência doméstica diz respeito ao agressor usar seu controle, e a não perdê-lo. Suas ações são extremamente deliberadas.
Segundo mito
A vítima é responsável pela violência porque a provoca.
Fato
Ninguém pede para ser agredido. Ainda, ninguém merece sofrer agressão, independentemente, daquilo que diga ou faça. Todos têm o direito de viver sem sofrer violência. Ninguém deseja que o cônjuge seja abusivo. As mulheres cujo segundo ou terceiro parceiro são agressores, muitas vezes serão tidas pelo outros como culpadas pela violência – “deve ser algo com ela”. Na verdade, o agressor usa a tática do charme no início do relacionamento a fim de descobrir que ela já foi vítima de abuso. Então usa essa informação para culpá-la pela violência – “Veja, o problema está com você, ou seu outro companheiro também não a teria agredido” ou, para silenciá-la, “Você não irá contar para outras pessoas porque elas nunca irão acreditar visto que você já disse isso antes”.
Terceiro mito
Se a vitima não gostar, ela pode deixar o relacionamento.
Fato
As vítimas não gostam do abuso. Elas permanecem no relacionamento por muitos motivos, incluindo o medo. A maioria, por fim, acaba saindo dessa situação. A provocação da vítima na violência doméstica não é diferente do que em qualquer outro crime, ou seja, não há provocação. As mulheres agredidas muitas vezes fazem repetidas tentativas de deixar o relacionamento violento, mas são impedidas devido ao aumento da violência e das táticas de controle da parte do agressor. Outros fatores que inibem a capacidade de a vítima fugir incluem a dependência econômica, poucas opções viáveis de acomodação e apoio, resposta inadequada do sistema judiciário criminal ou de outras agências, isolamento social, impedimentos culturais ou religiosos, compromisso para com o agressor e o relacionamento e medo de sofrer ainda mais violência. Estima-se que o perigo à vítima aumenta em 70% quando tenta fugir, visto que o agressor intensifica o uso da violência quando começa a perder o controle.
Quarto mito
A violência doméstica somente ocorre em pequena porcentagem nos relacionamentos.
Fato
Estima-se que a violência doméstica ocorra em ¼ a ½ de todos os relacionamentos íntimos. Isto se aplica a relacionamentos heterossexuais como homossexuais.
Quinto mito
As mulheres da classe média e alta não sofrem agressões com tanta freqüência quanto às mulheres pobres.
Fato
A violência doméstica ocorre em todos os níveis socioeconômicos. Visto que as mulheres com dinheiro, normalmente, têm mais acesso a outros recursos, as mulheres mais pobres tendem a utilizar as agências comunitárias e, portanto, são mais visíveis.
Sexto mito
Os agressores são violentos em todos os seus relacionamentos.
Fato
Os agressores decidem ser violentos com seu cônjuge da forma como jamais considerariam tratar outra pessoa.
Sétimo mito
Bebidas alcoólicas e consumo de drogas provocam o comportamento agressivo
Fato
Muitos agressores não bebem ou consomem drogas. Embora muitos cônjuges abusivos também consumam bebidas alcoólicas e/ou drogas, esta não é a causa subjacente da agressão. Muitos usam essas substâncias como desculpa para explicar sua violência.
Oitavo mito
Se a mulher sofre agressão uma vez, será sempre agredida.
Fato
Embora algumas mulheres que sofreram agressão tenham passado por mais de um relacionamento abusivo, as mulheres protegidas pelos serviços contra a violência doméstica têm menor possibilidade de entrarem em outro relacionamento abusivo.
Nono mito
É fácil deixar um relacionamento abusivo, simplesmente juntando os pertences e indo embora.
Fato
Isto não é verdade. O agressor tende a isolar a vítima ao não lhe dar dinheiro, impedindo-a de conseguir um trabalho, de estar com a família e amigos. A dificuldade de pagar abrigo para as crianças e sua sobrevivência torna quase impossível o simplesmente juntar os pertences e partir
Décimo mito
Somente as mulheres são vítimas da violência doméstica.
Fato
Os homens também são vítimas da violência doméstica, mas muitos têm vergonha de informar o abuso. Um estudo bem divulgado, realizado pelo Dr. Murray Strauss, da Universidade de New Hampshire, revelou que as mulheres usam meios violentos para resolver o conflito no relacionamento com tanta freqüência quanto os homens. Contudo, o estudo também concluiu que quando o contexto e as conseqüências de uma agressão são medidos, a maioria das vítimas está no grupo de mulheres. O Departamento de Justiça dos EUA descobriu que 95% das vítimas de abuso praticado pelo cônjuge são mulheres. Os homens podem ser vítimas, mas isso é raro.
Décimo primeiro mito
As crianças em lares onde ocorre a violência tendem a se tornarem vítimas ou agressores.
Fato
Isto, infelizmente, é verdade. Embora pareça que as crianças estejam dormindo ou não comentem a respeito do que vêem e ouvem, elas são afetadas. As crianças reproduzem o que os adultos fazem em sua vida e o ciclo da violência prossegue.
Décimo segundo mito
Os agressores são sempre pessoas más e cruéis.
Fato
Não é verdade. Algumas das pessoas mais agradáveis que você conhece são agressores e se encontram em todas as classes sociais e econômicas. Noventa por cento dos agressores não têm antecedentes criminais.
Décimo terceiro mito
Finalmente, o abuso irá cessar.
Fato
Sem ajuda profissional, os agressores irão continuar. O abuso, normalmente, se torna mais freqüente e mais violento, algumas vezes resultando em morte
Décimo quarto mito
O ciclo da violência é rompido quando acaba o relacionamento.
Fato
Os momentos mais perigosos para a vítima podem ser quando elas deixam o relacionamento sem um plano de segurança. Sem intervenção, os agressores continuarão o abuso.
Décimo quinto mito
A violência doméstica é, normalmente, um caso isolado.
Fato
Agredir é uma forma de coerção e controle que uma pessoa exerce sobre a outra. Agredir não é apenas um ataque físico. Isto inclui a repetição de várias táticas, incluindo intimidação, ameaças, privação econômica, isolamento e abuso psicológico e sexual. A violência física é apenas uma das táticas. As várias formas de abuso utilizadas pelos agressores os ajudam a manterem o poder e o controle sobre o cônjuge ou o/a companheiro/a
Décimo sexto mito
Os homens que agridem, geralmente, são bons pais e devem ter a guarda conjunta dos filhos caso o casal se separe.
Fato
Os estudos revelam que os homens que agridem a esposa também abusam dos filhos em 70% dos casos. Mesmo quando os filhos não sofrem abuso direto, eles sofrem ao verem um cônjuge agredir o outro. Os agressores, muitas vezes demonstram acentuado interesse pelos filhos quando da separação como um meio de manter o contato, e assim controlar o cônjuge
Décimo sétimo mito
Quando há violência na família, todos os membros participam na dinâmica e, portanto, todos devem mudar o comportamento para que cesse a violência.
Fato
Apenas o agressor pode por fim à agressão. Agredir é uma escolha dele e, portanto, deve ser responsabilizado. Muitas mulheres agredidas fazem diversas tentativas de mudar o comportamento na esperança de que isso irá por fim ao abuso. Porém, não funciona. As mudanças no comportamento dos membros da família não irão alterar o comportamento violento do agressor.
Décimo oitavo mito
Os agressores e/ou as vítimas sofrem de baixa auto-estima.
Fato
Os agressores não têm baixa auto-estima. Eles crêem que receberam poder e controle sobre seu cônjuge. Eles fingem ter baixa auto-estima se isso levar outros a crerem que a violência não é sua culpa. Os sobreviventes do abuso podem ter tido uma excelente auto-estima no início do relacionamento, mas o agressor usa o abuso emocional: usa nomes depreciativos; faz com que a pessoa se sinta inferiorizada; diz que a culpa é dela a fim de destruir sua auto-estima. Alguns agressores procuram mulheres com baixa auto-estima, visto que acreditam que ela terá maior probabilidade de culpar a si mesmas e menores chances de informar a respeito do abuso. Outros agressores buscarão mulheres com elevada auto-estima visto representarem um desafio maior para exercer o controle ao longo do tempo.
Quero deixar bem claro mais uma vez que tudo isso eu sei por ter vivido e ainda vivenciar a violência em minha vida.
Temos parar de achar que o agressor é quem precisa de tratamento, o agressor precisa é de cadeia de segurança máxima. O perdão... Há é muito lindo falar do perdão para quem não perdeu mais de vinte anos de sua vida com um monstro dessa proporção... Eu não quero perdoar eu quero ser reparada por tudo que perdi, é um direito meu...


publicado por araretamaumamulher às 15:51 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

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