Quinta-feira, 01.04.10

A violência contra a mulher não rouba apenas vidas, ela mata as palavras, seqüestra a mulher e aniquila os laços sociais e emocionais.
No plano social, a passagem ao ato costuma ser um recurso freqüente em sociedades que vivem sob o jugo da repressão – qualquer que seja seu tipo. A exclusão implica a perda da capacidade de se fazer ouvir, o fechamento de todos os veículos de expressão de anseios, demandas etc., o que não raro desencadeia formas violentas de reação.
Como não podemos mais confiar nas estruturas e instituições que nos amparam somos lançadas em nosso desamparo e, aparentemente, reduzidas à materialidade da vida biológica – a vida nua.
O nosso lar que deveria ser: “lugar em que o viver deve se transformar no viver bem”, no entanto, cada vez mais, torna-se um lugar de perigo, de ameaças, de território conflagrado.
Com freqüência, o medo ou a experiência de vitimização – direta ou indireta – levam as mulheres a adotarem medidas de auto-proteção que as distanciam da sociedade.
Ou seja, reduzem o uso dos espaços públicos, o contato com vizinhos e parentes, vivendo o que chamamos de confinamento.
Tais reações poderiam ser entendidas como um grito um apelo ao reconhecimento do outro. Um grito que clama pelo direito de fazer ouvir – de se permitir existir, de se fazer ver!
Mas de que forma vemos o outro? É no reconhecimento da alteridade que podemos estabelecer os laços sociais e a solidariedade. Diferença e singularidade são pressupostos para a existência do laço social cujo traço identitário não seja o narcisismo. Em outras palavras, o registro das culturas narcísicas tudo é permitido ao sujeito que se crê o centro do universo -, em sua onipotência predatória o outro é apenas um objeto para usufruto de seu próprio gozo. Na medida em que o seu companheiro a delineia apenas como objeto de seu próprio gozo, está é reduzida a um fetiche.
Isto traz conseqüências diretas na sua relação com a lei. O reconhecimento da lei pressupõe o reconhecimento da alteridade e da singularidade. Pressupõe, igualmente, que a lei deva ser justa, ter uma equivalência simbólica e, sobretudo, a todos se aplicar.
Ao contrário dos países europeus e mesmo dos Estados Unidos, no Brasil lei e práticas sociais de justiça não caminham juntas. A lei é letra morta, instrumento de vingança (aos amigos tudo, aos inimigos a lei) e aplicável somente às “classes perigosas”. Existe na sociedade brasileira um imenso intervalo entre o registro simbólico da lei e o funcionamento normativo da justiça.
Por esta razão podemos afirmar que a concepção simbólica da lei não pode se restringir aos processos lingüísticos, mas tem de ser necessariamente relançada nos campos social e político de forma que a economia política dos bens e valores possa estar entrelaçada com a economia psíquica das pulsões, desejos e demandas dos diferentes atores sociais.
Neste sentido, podemos perceber como as subjetividades em nossa cultura são freqüentemente relançadas ao agressor.
Desta forma, nada impede que a vitima seja instrumento de puro gozo para um eu obeso, que institui como forma de existência o uso e usufruto dos bens e do corpo da vitima, esvaziando os valores que circulam no espaço.
Se pela ótica da elite podemos falar de uma cultura narcísica, que redunda em uma estetização da existência, tendo a perversão como seu modo de funcionamento princeps, nas chamadas classes populares assistimos a um aumento gradativo da violência, tanto em sua freqüência quanto em suas diferentes formas de manifestação. Ou seja, há um enorme vácuo conforme afirmamos anteriormente entre a ordem simbólica da lei e as práticas sociais do dispositivo da justiça. “Uma coisa é se falar de crime, e até de violência, outra é falar de crueldade. Claro que a crueldade é uma modalidade da violência, mas o crime não necessariamente envolve a crueldade”.
Mas não é dessa economia da sobrevivência, da reparação ou da redistribuição que se trata. Há aí um ódio anímico de outro tipo. Algo se partiu no interior de alguém quando este indivíduo é capaz de lidar com a vida humana da forma pela qual alguns desses agressores, que são filhos e herdeiros da mesma tragédia, são capazes.
“Estamos diante de um grande desafio de ordem psicológica, psicanalítica, espiritual, cultural. Um grande desafio para todos nós: do que é capaz um ser humano?”.
Penso que devemos retornar aos dois pólos possíveis de estruturação de nossa vida psíquica e social. O desejo somente é possível quando nos voltamos para o registro alteritário. A condição de possibilidade do desejo é que a vitima se apresente como algo sedutor capaz de despertar a capacidade desejante do agressor.
Quando este se apresenta como impossível, o corpo da vitima é apenas o lugar da descarga pulsional voraz, tomado como um objeto, fonte de afirmação predatória de seu auto centramento. Para além do respeito à diferença podemos nos defrontar com a total indiferença ao outro, que sequer existe enquanto registro alteritário. Por esta razão, a violência contra a mulher implica não apenas sua dominação como também um ataque ou dano em sua capacidade de pensar.
Todos queremos ser, desejar existir é força fundante do ser humano. Ser alguém e ser para alguém são variações possíveis de uma existência que só se realiza num olhar, num gesto, numa palavra dirigida que dá a quem quer ser a certeza de que ele existe, de que tem um lugar de referência. Pertencer a algum lugar constitui-se uma abertura para o ser no mundo. Ser de algum lugar.
A existência, o sentir-se existindo impõe-se ao sujeito. Então podemos pensar sobre como alguém se sente existindo numa condição ou situação em que o existir passa desapercebido. Como é se sentir existindo quando se é ou está invisível? O que é a invisibilidade? Por que isto se apresenta como uma questão atual?
Ação e discurso são as únicas formas que os homens têm para mostrar quem são, para revelar ativamente suas identidades pessoais e singulares, para revelar o “quem” em contraposição ao “o que” alguém é “Através deles - da ação e do discurso - os homens podem distinguir-se, em vez de permanecerem apenas diferentes; a ação e o discurso são os modos como os seres humanos se manifestam uns aos outros, não como meros objetos físicos, mas enquanto homens”.
Existir é, antes de tudo, apresentar a própria imagem para o Outro. O que equivale a dizer, para um adulto que já tenha ultrapassado as fronteiras dos complexos familiares, que existir é apresentar a própria imagem no espaço público. É no espaço público que o sujeito atesta que sua existência faz alguma diferença. Assim sendo, já não se trata apenas de exibir uma bela figura para deleite do outro, como um dia a criança se ofereceu à contemplação apaixonada da mãe. Se o espaço público é onde se estabelecem – e onde se desestabilizam – as relações de poder, ele não se constrói com belas imagens, mas com a imagem dos homensem ação. A visibilidade dos homens no espaço público depende da ação.
Quando não se vê algo, esse algo não existe “ser é ser percebido”. Mas ser é, antes de tudo, ser para alguém. Ver e ser visto são duas faces da mesma moeda nos encontros humanos. Não ser visto significa não participar, não fazer parte, estar fora, tornar-se estranho. O sentimento de não pertencer, de estar fora, costuma ser doloroso. Uma das formas mais eficientes de tornar alguém invisível é projetar sobre ele ou ela um estigma, um preconceito. Quando o fazemos, anulamos a pessoa e só vemos o reflexo de nossa própria intolerância. Tudo aquilo que distingue a pessoa, tornando-a um indivíduo; tudo o que nela é singular desaparece. O estigma dissolve a identidade do outro e a substitui pelo retrato estereotipado e a classificação que lhe impomos.
Da estranheza ao temor, da curiosidade ao medo, do amor ao ódio, o rosto da violência nos força a manifestar a maneira secreta que temos de encarar o mundo, de nos desfigurarmos todos até nas comunidades mais familiares, mais fechadas.
Ao criarmos imagens, sobre o eu e sobre o outro, criamos, muitas vezes, uma fantasia sobre o agressor que deve ser temido por ser estranho diferente. A rejeição a um determinado modelo, que se baseia em ideologias, de forma, cor, carregada não apenas das cores da humilhação, mas também da futilidade do ato.
Como um estupro da alma, ninguém nos vê e, entretanto, sentimo-nos dissecadas e ressecadas pelos outros, a invisibilidade não se constitui um fenômeno óptico. A invisibilidade é a forma mais aterrorizante de nos sentirmos visíveis. Sabemos que estamos ali, é fato, mas há uma espécie de desaparecimento de uma pessoa no meio de outras pessoas.
Viver na sombra dos movimentos: não conseguir se enxergar com movimento próprio, potência própria, importância, existência própria. Sentir-se invisível traz sofrimento a vitima.
A invisibilidade pública é a expressão pontiaguda de dois fenômenos psicossociais que assumem caráter crônico nas sociedades: humilhação e reificação, A humilhação apresenta - se como um fenômeno histórico, construído e reconstruído ao longo de muitos séculos, e determinante no cotidiano das mulheres de todas as classes. Um Ser só acontece decisivamente a partir do olhar do outro. Somente assim é que o Ser pode, realmente, assumir sua própria existência. O Ser nasce e morre pelos olhos do outro: a qualidade do olhar que nos é dirigido constitui - se como espelho verdadeiro ou deformador. Aí, afinal, definem-se lugares nossos lugares mais ou menos autênticos, lugares mais ou menos aprisionadores.
A identidade só existe no espelho e este espelho é o olhar dos outros, é o reconhecimento dos outros. É a generosidade do olhar do outro que nos devolve nossa própria imagem ungida de valor, envolvida pela aura da significação humana, da qual a única prova é o reconhecimento alheio.
Nós nada somos ou valemos se não contarmos com o olhar alheio acolhedor, se não formos vistos, se o olhar do outro não nos recolher e salvar da invisibilidade – invisibilidade que nos anula e que, portanto, é sinônimo de solidão e incomunicabilidade, falta de sentido e de valor.
Lamentavelmente, este não é um fato novo.
Freud assinala como a intolerância se manifesta muito mais no tocante às pequenas diferenças do que nas divergências fundamentais - o ódio ao “quase semelhante”. Neste caso, o ódio encontra seu objeto precisamente no campo do próximo, do semelhante – o próximo que somos supostos amar como nos ensina o mandamento: amarás o próximo como a ti mesmo.
Freud nos ensina ainda que a ausência de uma instância legal e justa que lhe sirva de proteção contra a anomia reenvia o sujeito ao desamparo e ao pavor, justamente pela falta desta autoridade simbólica.
Desse modo, as relações entre os diferentes são atravessadas pela desconfiança e o temor ao outro. Conseqüentemente, os canais de comunicação e os espaços de convivência se tornam ainda menores, aprofundando a incomunicabilidade entre eles.
É neste cenário que observamos o uso predatório do corpo da vitima, instrumento de puro gozo, de perversão narcísica. Somos assim lançadas em nosso desamparo e, aparentemente, reduzidas à materialidade da vida biológica – a vida nua.
Sem esta dimensão de filiação, é muito difícil de afirmar uma identidade e o que aguarda é um destino de, pelo menos, muito sofrimento. Acreditamos que em tais situações poderíamos pensar na saída pela violência como uma marca que permite a vitima emergir de um lugar não escolhido por ela, à procura de uma filiação e reconhecimento - um lugar que a rejeitou.
Nestas configurações, não se trata de negar a existência do outro, mas sim de lhe negar qualquer valor.



publicado por araretamaumamulher às 18:56 | link do post | comentar | favorito

Sábado, 20.03.10

 Em geral discutimos violência contra a mulher considerando apenas a violência física. Contudo, há outra forma de violência tão perversa quanto: a violência psicológica, que está inserida nos discursos cotidianos, nas formas como as pessoas se relacionam. A subjugação, o desrespeito, a falta de liberdade para sair sozinha são casos de violência extremamente sutis que não chegam às delegacias.

 
Não há dicotomia, uma atravessa a outra. Quando consideramos apenas o ato extremo perdemos as "delicadezas" do processo, as coisas ínfimas que acontecem no cotidiano e que tem tudo a ver com a violência física.
Muitas vezes a mulher procura a delegacia porque apanhou, mas ela não denuncia quando o camarada a xingou, ou a humilhou.
Quais as conseqüências para uma mulher que vive submetida à violência psicológica?
Além dos adoecimentos, que poderíamos citar vários, tem uma questão que extremamente perigosa: a mulher naturalizar essa situação.
Ou seja, acreditar que é normal que a relação com o homem é necessariamente desigual e que não é possível construir relações de outras formas. Às vezes a mulher apresenta sintomas de depressão, ansiedade, ela adoece e não sabe o porquê. Muitas vezes é justamente em virtude de situações como essas vivenciadas cotidianamente.
Essa naturalização muito impedimento é uma proibição explícita ou interiorizada?
É proibição interiorizada quando a mulher se acostuma a adotar certas formas de vida e nem questiona. É a produção de um determinado tipo de mulher, que passa a pensar numa determinada freqüência, a ponto dela sequer questionar se aquela freqüência é a que serve para ela, ou se o que ela faz ou deixa de fazer é de fato desejo dela. Ela passa a conduzir sua vida e forma de pensar, desejar a partir de um contexto colocado pelo marido.
É quando a mulher não consegue sair sozinha. Cinema com amigas, nem pensar. Todos os programas são necessariamente junto com o marido.
Ela não tem vontade própria.
Exato. É interessante refletir sobre a forma como as pessoas se relacionam.
A liberdade que o homem tem para exercer atividades fora do casamento como a pelada do fim de semana, o barzinho. É difícil encontrar mulheres que cultivam uma amizade para além do casamento, ou que saiam para jogar voleibol. É essencial pensar e questionar como a mulher é produzida para se centrar na família, nos filhos, no casamento e tudo isso passa a significar a vida dela, a forma como ela vai se comportar. Já o homem é produzido historicamente com outras possibilidades.
Você acha que a nova geração de mulheres questiona mais as relações e enfrenta esse tipo de violência?
O fato de a mulher trabalhar fora não quer dizer que não se submeta mais. Parece que a questão de gênero se resume à produtividade feminina. Mulheres estão no mercado de trabalho, ganharam espaço, estão exercendo funções que antes só os homens exerciam, então, está tudo resolvido.
Esse é um discurso perigoso, porque a gente sabe que a mulher continua submetida à rotina doméstica. As que trabalham fora são mais estressadas, porque ainda precisam dar conta dos filhos, do marido, da organização da casa. Não quero dizer que a forma de vida da mulher não melhorou, mas há ainda muita violência psicológica independente das conquistas
 



publicado por araretamaumamulher às 19:31 | link do post | comentar | favorito

Domingo, 03.01.10
Ontem fizemos um perfil do agressor, hoje faremos um perfil da vitima de violência doméstica e familiar.
Os diferentes estudos sobre as mulheres vítimas de maus-tratos afirmam que não existe um perfil determinado de vítima e de agressor. Porém, as conclusões extraídas das diversas pesquisas analisadas mostram alguns padrões comportamentais que se exteriorizam freqüentemente nos casos de violência doméstica.
São eles: violência se manifesta de maneira reiterada, sendo um padrão de conduta continuado; os agressores são geralmente homens, maridos, ex-maridos, companheiros ou ex-companheiros das vítimas; os indivíduos que foram vítimas de maus-tratos na infância reproduzem estas condutas, e, por isso, têm mais possibilidades de serem agressores, agredindo sua própria companheira; as agressões sofridas não são conhecidas até transcorrer um longo período de tempo; o crime doméstico se manifesta como violência física,psicológica, sexual, patrimonial ou moral; às vítimas possuem baixa auto-estima e vários problemas de saúde, na maioria dos casos, as mulheres são chantageadas por seus maridos e freqüentemente cedem às pressões, sentindo-se incapaz de agir; às vítimas vivem em estado de pânico e temor. Precisam de ajuda externa para assumir seu problema e encontrar soluções alternativas .
A violência traz conseqüências gravíssimas para as vítimas, que vão muito além de traumas óbvios das agressões físicas. A violência conjugal tem sido associada com o aumento de diversos problemas de saúde como baixo peso dos filhos ao nascer, queixas ginecológicas, depressão, suicídio, entre outras .
No Brasil, como em vários outros países, a delimitação dos prejuízos psicológicos decorrentes de situações traumáticas é a matéria recente, e, portanto, não está claramente especificada na legislação. O que gera o dano psíquico é a ameaça à própria vida ou à integridade psicológica, uma lesão física grave, a percepção do dano com internacional, a perda violenta de um ente querido e a exposição ao sofrimento de outros, ainda que não seja próxima afetivamente .
Dentre as mais diversas pesquisas sobre as vítimas da violência doméstica e familiar quanto à caracterização da vítima percebe-se que:
a) a maioria das mulheres tem uma união consensual (57%);
b) 65% delas tem filhos com este parceiro;
c) cerca de 40% são do lar e 60% trabalham fora;
d) sua idade varia de 15 a 60 anos, mas a maioria é jovem (21 e 35 anos – 65%);
e)são brancas.
Em 88% dos casos em que essas agressões foram presenciadas pelos filhos, em 6% não presenciaram e 6% não souberam responder .
Estudos Brasileiros salientam, com maior ênfase, a baixa renda das mulheres vítimas de violência doméstica. Relatam que a renda familiar predominante é entre um a três salários – mínimos (42,6%), seguida pela faixa dos quatro a seis salários (36,1%) e uma categoria de 39,3% que não exercia atividades remuneradas .
As pesquisas também demonstraram que a mulher que trabalha fora de casa é mais consciente da situação. Isto porque o exercício de atividade profissional assegura-lhe independência econômica, encorajando-a a reagir e buscar soluções para o seu problema. As estatísticas da violência doméstica nas grandes cidades coincidem com as do interior do país. Está provado que a violência doméstica é um fenômeno global, presente tanto nos países desenvolvidos, como nos subdesenvolvidos e nos que estão em desenvolvimento. O caso brasileiro está correlacionado à pobreza, baixa escolaridade e dependência econômica das mulheres. Os homens aparecem como maiores agressores. Além disso, o preconceito e a discriminação estão na origem da violência contra a mulher. Muitas mulheres sentem-se envergonhadas de admitir, mesmo para amigos, que um membro de sua família (na maioria dos casos o companheiro) pratica violência, e em assim sendo, não o denunciam.
Os direitos humanos são os direitos e liberdades básicos de todos os seres humanos. Normalmente o conceito de direitos humanos tem a idéia também de pensamento e de expressão, e a igualdade perante a lei.
A expressão Direitos Humanos já diz, claramente, o que isto significa. Direitos Humanos são os direitos do homem, ou seja, são direitos que visam resguardar os valores mais preciosos da pessoa humana, direitos que visam resguardar a solidariedade, a igualdade, a fraternidade, a liberdade, e a dignidade da pessoa humana. No entanto, apesar de facilmente identificado, a construção de um conceito que o defina, não é uma tarefa fácil, em razão da amplitude do tema. Segundo alguns autores, os direitos humanos seriam como uma das previsões absolutamente necessárias a todas as Constituições, no sentido de consagrar o respeito à dignidade humana, garantir a limitação de poder e visar o pleno desenvolvimento da personalidade humana", ou ainda, direitos humanos seriam uma idéia política com base moral e estão intimamente relacionados com os conceitos de justiça, igualdade e democracia. Eles são uma expressão do relacionamento que deveria prevalecer entre os membros de uma sociedade e entre indivíduos e Estados. Os Direitos Humanos devem ser reconhecidos em qualquer Estado, grande ou pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema social e econômico que essa nação adota. "
Assim como no Direito Brasileiro existe a proteção dos direitos humanos, há também no Direito Internacional esta proteção, sendo recente na história contemporânea. Surgiu no Pós – Guerra como resposta às atrocidades cometidas durante o nazismo . É naquele cenário que se desenvolve o esforço de reconstrução dos direitos humanos como paradigma e referencial ético a orientar a ordem internacional contemporânea.
Os direitos humanos fundamentais visam a resguardar os valores mais preciosos da pessoa humana, ou seja, a vida, a igualdade, a liberdade e a dignidade humana.
A atual Constituição da República Federativa do Brasil conferiu dignidade e proteção especiais aos direitos fundamentais, sendo considerada um verdadeiro marco histórico nesta seara. As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata, conforme o artigo 5º, § 1º , permitindo inclusive a conclusão de que os direitos fundamentais estão protegidos não apenas diante do legislador ordinário, mas também contra o poder constituinte reformador, por integrarem o rol das denominadas cláusulas de irredutibilidade ou mínimas.
O artigo 5º, § 2º, estabelece que os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ele adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Essa norma possibilita que outros direitos, ainda não expressamente previstos na Constituição, sejam considerados direitos fundamentais, este que pode ser entendido como o conjunto de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana .
Dignidade da Pessoa Humana e Violência Doméstica.
Os Direitos Fundamentais e a dignidade da pessoa humana são conceitos correlativos e interdependentes, seja no âmbito do direito público, seja no âmbito do direito privado, onde o ser humano é o grande protagonista das sociedades organizadas e o reconhecimento e proteção a sua dignidade são considerados a grande meta das nações democráticas. A idéia de dignidade está na origem de todos os direitos fundamentais que se sucederam a partir da Revolução Francesa. Mesmo hoje em dia é ela que dá o substrato necessário à concretização dos direitos de liberdade, igualdade e solidariedade, pois está subjacente a todas as normas que integram o catálogo de direitos fundamentais da Constituição Brasileira .
Atualmente, coexistem dois sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos, o sistema universal, de que fazem parte os Estados integrantes das Nações Unidas - ONU e o sistema regional em que são associados vários países. São eles: o sistema Europeu (No Conselho da Europa), o sistema americano ( na Organização dos Estados Americanos – OEA), o sistema africano ( na Organização para a Unidade Africana) e o sistema árabe ( na Liga dos Estados Árabes). Somente os países asiáticos encontram-se desprovidos de uma convenção regional de direitos humanos. Tais sistemas agrupam países que se relacionam entre si política, econômica e culturalmente ou que compartilham uma mesma declaração de princípios. Cada sistema é autônomo em relação aos demais, embora se estruturem, com base nos princípios instituídos pela Declaração Universal e pelos Pactos Internacionais das Nações Unidas.
A violência doméstica praticada contra a mulher é um concreto exemplo de violação da dignidade da pessoa humana e dos direitos fundamentais. Tão verdade é, que a recente lei 11.340 de 07/08/2006 (Lei Maria da Penha), teve de se adequar aos documentos internacionais de proteção aos direitos das mulheres, em seu artigo 6º, onde afirma taxativamente que “a violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos”.
Provadas empiricamente a situação de hipossuficiência e discriminação sofrida pelas mulheres em vários países do mundo, foi necessário a elaboração de um sistema especial de proteção dos seus direitos humanos, através de convenções e pactos internacionais. São eles: A Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a mulher; a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, a chamada “Convenção de Belém do Pará”; a Declaração e Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial da Mulher “Beijing”, que constituem alguns dos mais relevantes instrumentos voltados à proteção dos direitos humanos da mulher na ordem jurídica internacional.


publicado por araretamaumamulher às 14:04 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Quinta-feira, 03.09.09
Houve momentos em que eu sabia exatamente o que fazer, para solucionar um conflito ou para acabar com uma situação insuportável. Eu tinha clareza sobre o que devia fazer, mas não tinha disposição para fazer. Com grande freqüência, eu tinha medo dos resultados. Creio que essa é uma reação típica de quem sofre violência no lar, estamos sempre tão machucadas que temos medo de magoar o outro. Eu não queria me zangar ou desagradar os outros. Não me dispunha a dar o primeiro passo, sobretudo se não soubesse direito onde estava pisando ou se tivesse medo da reação do meu ex-marido. E verdade seja dita eu sempre tinha medo, muito medo dele. Para ser bem sincera eu tinha era pavor dele. Eu não queria correr o risco de estar errada. Eu não estava disposta ou preparada para me defender se me desafiassem. É isso mesmo, eu sabia o que precisava fazer, mas resistia. A resistência em fazer aquilo que deve ser feito vem do medo.


O medo é a ferramenta do ego. Espertamente disfarçado de resistência e, ele apóia a omissão e a fuga. Nós não nos dispomos a errar, a parecermos incapazes, a sermos desafiados ou derrotados. Ironicamente, quando estamos sofrendo tudo isso, nos apegamos mais na mascara de que somos superiores.

Ter coragem de dizer o que pensa e de dizer a verdade através da ótica do amor e não do rancor, da raiva ou do medo, abrir-se para aceitar o ponto de vista dos outros sem sentimentos de ameaça ou de derrota, abrir mão da necessidade de ter tudo sempre sob controle, dispondo-se a fazer o que for preciso para estabelecer a paz, são formas de crescimento. Você cresce em agilidade mental, em força espiritual, e em vigor divino.

Mas acreditamos que podemos descartar a nossa culpa sempre que quisermos e dessa forma podemos adquirir a paz, e assim o pagamento não parece ser feito por nós. Não estamos dispostos a reconhecer quão traiçoeiro é essa forma de pensamento, porque nele está a formula básica de todos os nossos pesadelos: Que o amor exige sacrifícios e é, portanto inseparável do ataque e do medo, e a culpa é o preço do amor que tem que ser pago pelo medo.

E assim Deus veio a ser amedrontador para nós.

Porque a exigência do sacrifício é tão selvagem e tão amedrontadora que você não aceita onde ela realmente está, que é dentro de você.

Você acredita que o sacrifício é o amor, mas o sacrifício traz a culpa.

O poder da santidade e a fraqueza do ataque estão ambos sendo trazidos a sua consciência, e isso estão sendo realizadas por uma mente firmemente convencida de que a santidade é fraqueza e o ataque é poder.

Todos nós começamos como crianças que eram mais fracas e menos poderosas do que os adultos era simplesmente natural para nós tentar agir de modo a não sermos feridos.

Ser ferido geralmente é uma questão de poder, os impotentes não estão em posição para ofender ou antagonizar com os mais poderosos. Essa realidade foi demonstrada para nós no jardim de infância, há muito tempo, e o habito da contensão é tentar ser bonzinho.

Sendo bonzinhos esperamos que as pessoas também sejam boazinhas conosco aplacando alguém que nos ameaça, esperamos afastar as agressões, para não sermos feridos continuamos numa postura defensiva.

Vivi esse padrão grande parte da minha vida.

E sei que não funciona.

Amanha falamos mais.

Fique em paz e na Luz.

Ararêtama uma Mulher.


publicado por araretamaumamulher às 15:54 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Quarta-feira, 26.08.09
Todo agressor conta com o silêncio da sua vitima, para que tenha sucesso em sua empreitada.
Esse silêncio só é conseguido através do medo. Um medo tão terrível que nos paralisa, nos deixa sem raciocínio lógico, nos faz ficar totalmente sem ação.
E é ai que o agressor ganha, ele não te deixa falar. Você começa a achar que ele está com a razão que você realmente é louca, não merece nada.
Vivi doze anos nesse clima, e até hoje trago em mim as marcas dessa violência.
Eu trabalhava e entregava o meu salário para ele, ele gastava meu salário na rua., e eu tinha que fazer dividas´para comer e dar o que comer para os meus filhos. Era um circulo vicioso, de torturas psicológicas, de humilhações, de espancamentos. Minha auto estima não existia, eu passei a acreditar que realmente não tinha outra saída. Tinha três filhos pequenos, sabia que tinha que ter responsabilidade para com eles, mas não conseguia.
Apanhava por qualquer motivo, virou um habito eu ser espancada, apanhava porque era segunda feira, porque estava sol, porque chovia......Bem tudo era motivo para que eu fosse espancada.
Um dia tomei uma atitude louca peguei meus três filhos e fiz três malas de roupa e fui embora.
Não conseguia mais raciocinar direito, qualquer coisa seria melhor do que viver daquela forma. Mas eu estava muito machucada, muito ferida, humilhada, sem rumo, e com três crianças pequenas.
Eu tinha medo um medo que na realidade era pavor, de que me descobrissem, de soubessem.
Na minha cabeça eu era uma fraude, eu não valia nada, eu não daria conta, eu só sabia fazer dividas.
È incrível em nenhum momento eu parei para raciocinar que eu não tinha roupas, meus filhos não tinha roupas, morávamos mal, comíamos mal , então eu fazia dividas para sobreviver.
O fato de ter ouvido incansavelmente, que eu não prestava tinha dado certo era assim que eu me sentia.
Foi assim que me senti até bem pouco tempo.
Tinha medo de chegar perto das pessoas, de me aproximar e que elas descobrissem que eu não valia nada, que eu não prestava.
Acho muito difícil uma vitima da violência no lar conseguir sair do buraco negro onde fica, sem uma ajuda profissional seria.
É assim que é feita a manipulação.
Amanha falo mais.
Que a luz esteja com todos.
Fátima


publicado por araretamaumamulher às 05:44 | link do post | comentar | favorito

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