Quinta-feira, 08.04.10

Um profundo silêncio, ouvidos que se fecham e olhos que não querem ver rodeiam as milhares de violências cotidianas contra a mulher. A relação entre mulher e violência, na história e contexto atual, é um tema que a sociedade e a mídia quiseram aplacar de muitas maneiras. Ante sua presença se desvia o olhar, não só porque nos devolve uma imagem pouco comercial da mulher, senão porque nos interpela com crueza sobre as bases morais e éticas de nossa cultura. A compreensão de tudo o que impulsiona milhares de casos de violência contra a mulher, implica também o entendimento de traços centrais de nossa cultura.

Quando reconhecemos que o incesto é uma prática estendida, compreendemos que os casos de violência contra a mulher atravessam e marcam profundamente nossa cultura. Esta realidade é brutal, não só no corpo de milhares de meninas e adolescentes violentadas por seus pais, familiares, vizinhos ou estranhos; mas também vendidas, escravizadas sexualmente, maltratadas por seus maridos, assassinadas na rua, empobrecidas até a indignidade. A análise da relação entre mulher e violência deve levar-nos a olhar, desde os estilhaços na pele até a dor da alma ou o dano psicológico; passando pela mentira social e pelo silêncio forçado.
Num país onde a violência é constante nas ruas das cidades e no campo; na televisão, nos jornais e na linguagem; na qual identificam-se múltiplas formas que são estudadas e registradas pelos especialistas de várias disciplinas, escapa com freqüência uma forma de violência, não menos regular e daninha do que as demais. Ela está tão afiançada nos imaginários coletivos que a muitos lhes custa identificá-la, denunciá-la ou recusá-la: A violência contra as mulheres. Este silêncio é violência; a psicanálise mostra claramente que o não dito, é justamente o que gera o trauma em toda sua extensão. Se a palavra é curativa, como efetivamente é o silêncio é daninho. Se por meio da palavra somos mais humanos, designar então as violências contra a mulher hoje, é um passo adiante na visualização e construção de uma cultura na qual a violência e a força não sejam o "método" para resolver os conflitos. E não só os violentólogos e os políticos calam estes fatos senão que, em geral, as autoridades ignoram e não atendem as lesões e as seqüelas médicas e psicológicas geradas por esta violência.
A lei do silêncio não só rege entre a máfia ou nos povos e bairros inundados pela desconfiança; as mulheres sobreviventes da violência sexual enfrentam uma segunda e extenuante batalha, desta vez no seio de suas famílias e comunidades, que com freqüência culpam-nas e isolam-nas. Para muitas, sobreviver à violência sexual significa viver para não contá-la. Com freqüência se vêem forçadas a sair de suas comunidades, sem afastarem de suas vidas o medo a sofrer novos abusos. 
O violento silêncio que transmitem estas experiências tentamos preenchê-lo.
Como testemunhas em primeira mão do sofrimento de milhares de mulheres por causa da violência que persiste sob muitas formas, aspiramos a uma paz sustentável. O pensamento feminista, a partir da compreensão da interdependência entre as violências particulares e públicas, constrói uma conexão com o pacifismo, visto que, para nós, a guerra é a expressão maior do patriarcado, com sua expressão associada que é o autoritarismo de qualquer tipo. O feminismo e o pacifismo retomam isto para dar a conhecer o horror que implica o exercício da violência para eliminar as diferenças, para instaurar a intolerância.
Para a busca da paz, pensamos que às vezes, obvia-se o reconhecimento da condição conflitiva dos indivíduos e das sociedades e o que se tenta é gerar, em todos os casos, condições para um trâmite pacífico de qualquer conflito. Ademais, às vezes a busca da paz parece reduzida a um pacto entre atores mais do que um repensar no conjunto da sociedade. Em nossa postura contra essa guerra estão implicadas dimensões que têm a ver com as transformações das relações intersubjetivas, o que é uma condição da coabitação em qualquer circunstância.
Para nós a memória é fundamental para que a reconciliação seja vista como uma possibilidade real, principalmente, considerando a necessidade que temos de construir um futuro comum.
LÁGRIMAS OCULTAS

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida ...
E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago ...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim ...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
Florbela Espanca



publicado por araretamaumamulher às 13:03 | link do post | comentar | favorito

Quarta-feira, 07.04.10

http://araretamaumamulher.blogspot.com/2010/04/paz-sem-voz-nao-e-paz-e-medo.html
Mulheres que sofreram, apanharam dos próprios maridos. Quem são elas?
Não se sabe. Sabe-se apenas que mesmo depois da supra sugerida denúncia elas continuam com olhos fugidios, marcas das lembranças, das “cicatrizes da alma”, uma imagem em preto e branco, são as árduas memórias. Na esperança de motivar outras mulheres revivem os maus momentos e tornam-se vítimas anônimas, projetáveis a tantas outras se perde a unicidade de suas histórias, são histórias parecidas, emaranhadas e editadas ao molde do autor assim como nos retratos pintados pelo espanhol Pablo Picasso “especialmente os retratos de mulheres – (...) Jacqueline, Marie-Thérèse, Olga, Dora Maar perderam a identidade pessoal junto com seus sobrenomes; adquiriram em seu lugar as identidades que Picasso pintou para elas, quando entraram em seu universo fixo e fluido como Mulher sentada, Mulher lendo, Mulher com bola napraia, ou às vezes Retrato de Jacqueline, Retrato de Marie-Thérèse, nomes fictícios, inventados para a ocasião. (...), as mulheres de Picasso – suaves ou quebradas em pedaços irados, levemente esboçadas ou cortadas em ácido – não estão presentes por gestos de sua própria escolha” (MANGUEL, p. 206, 2001), ou seja, são maneiras artísticas utilizadas para expressar a dor alheia, elementos semióticos que a propagada se utilizará forma menos magistral e mais faceta. A superexposição de um exemplo para provocar comoção.
Como fechamento do anúncio, temos a presença de uma figura pública, uma atriz, que agora em cores vivas dará as diretrizes para sair da situação de violência. A mulher emancipada, o exemplo a ser seguido.
Mais uma vez tem-se no olho machucado a expressividade da dor e da opressão, mas desta feita envolto não apenas pela dor física, mas também as conseqüências dos outros tipos de violências contra mulher, que geram, além do hematoma e da cicatriz, a vergonha, apatia e a humilhação. Tudo aparece em forma textual e é repetidamente falado, é a violência recorrente que só terá fim se a mulher não se abater. A falta de respeito, a apatia, a humilhação, a vergonha, que junto com o medo, fazem com a mulher não procure ajuda, não apenas para denunciar, mas também para continuar lutando e não desistir de sua vida social.
Aqui não se tem o respaldo de uma figura pública e sim da entidade responsável pela aplicabilidade da Lei. Muito se fala em encorajar a mulher para a denúncia, mas pouco se diz nas propagandas, se o Estado está preparado para tirar a Lei do papel e garantir os direitos nela expressos, tais como a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher, oferecer defensoria pública ou programa oficial ou comunitário de proteção.
Ocorre que, dentre as formas de violência doméstica, encontra-se a primeira e mais fácil de evidenciar-se, a corporal. Basta um exame médico-legal para averiguar-se a existência da agressão física perpetrada pela ‘cara metade' da mulher. Isto não ocorre quando se está diante da violência psicológica. Esta se mostra difícil, tormentosa, no seu deslinde e revelação. Acredita-se que, não obstante ser de difícil comprovação deva existir uma busca incessante das provas e circunstâncias desta espécie de violência, por parte da que sofre tal abuso. A violência na psique na mulher ocorre, em essência, quando sua auto-estima é solapada pelas menores humilhações e picuinhas no universo da convivência doméstica, efemeridades estas que desembocam na conduta que a degrada, bem assim, quando é privada de agir de acordo com a sua própria vontade. Tais aspectos estão umbilicalmente ligados; de uma parte, estão às perversidades diárias por parte de quem seria, ou deveria ser o seu melhor amigo, companheiro para toda uma vida; de outra parte, estão às limitações impingidas sempre no seu cotidiano, no seu viver; ‘não faça isto', ‘não gosto disso', ‘não quero isto', ‘você está errada nisto'; daí surge aquela que, criada e ‘cultivada' em um universo machista, submete-se a estas violências sem querer admitir ser ela, a vítima, produtora do seu próprio algoz. Há uma simbiose, uma relação viciada, gerada, da parte da mulher, de ser considerada a guerreira, a que suporta tudo, em nome de uma convivência, convivência esta em muitos casos geradora de prole, e por esta prole, dizem, fazem de tudo para suportar tal estado degradante do seu ser, da sua psique. Não é tão somente por conta desta prole, é também por conta disto. Mas, é também por conta desta função que considera socialmente edificante: tentar mudar o outro para que ele saiba, lá no fundo, e venha à superfície, que se trata de uma mulher especial, que com ele está para ‘o que der e vier', ‘até que a morte os separe', ou até que um colapso nervoso ocorra. Nossas ancestrais, e aí entra o nosso amigo FREUD em campo, sempre se gabavam de que haviam agüentado todas as intempéries perpetradas por seus companheiros, maridos, até que um dia eles começaram a mudar, ‘a mudar para melhor', não mais as traíam, não mais as agrediam. Depois até de 45 anos de casados! Viu só, conseguiu-se finalmente ter aquele amigo, companheiro, para o crepúsculo da vida...
“O lugar que ela não deve ocupar, ou seja, o lugar de agressora”. E isso se deve ao fato da sua imagem estar atrelada ao cuidado, à proteção. Talvez essa seja uma das questões que torna difícil o reconhecimento das desordens que as violências geram, como restritos universos masculinos.
E para comemorar o grande feito, será ela agora a enfermeira que cuidará das doenças do corpo do pobre mortal, já que a mazela da alma suportou todas com invejável galhardia por quase uma existência inteira... Então surge a pergunta que tanto nos inquieta: que vitória é essa? A de Pirro?
A não expressividade, mesmo com todas as cicatrizes e todas as mentiras, abala ainda mais, pois percebemos a luta silenciosa de todas as vítimas de violência conjugal de não ter a quem recorrer. Com a omissão do choro a dor também pode ser expressa por detrás de um singelo sorriso.
Essa paralisia, resignação com a dor, reflete o medo de romper com o modelo imposto pela sociedade, pela igreja e pela família e, assim, viver fora das crenças e ideologias dominantes, mesmo que seja em nome de sua própria felicidade. Ao fim da hercúlea jornada, a mulher acaba descobrindo que passou pela vida e não viveu (ou viveu em função do outro, tentando mudá-lo, adaptando-se ao seu perfil, cuidando dele, respirando baixo para não incomodá-lo, etc.), foi um espectro de ser humano que se deixou esmagar pelo desamor e pelo desrespeito de seu parceiro, o qual, com essas indeléveis e silenciosas formas de violência, fez sucumbir à mulher e o amor que lhe sustentou por toda uma vida. Morreu. E não sabia.
Então, desesperadas e agredidas, num último sopro de vida, auto-estima e fé, as Marias, Beneditas, Imaculadas entre outras tantas vítimas da crueldade de seus ‘amados', buscam um ‘braço forte' que as ajudem a romper com esses grilhões, uma ‘mão amiga' que lhe mostre uma nova forma de recomeçar a vida com dignidade. 
Sejamos nós esse farol, prontos a dissipar as névoas dessas existências tão sofridas e sombrias......Oxalá possamos nós ensinar ao mundo o que mais precisamos aprender: o respeito ao próximo, à sua diversidade e, à sua liberdade de escolha.
Dificilmente o agressor deixará de agredir devido às bem intencionadas propagandas. Não se sabe o que a Lei prevê por meio das comerciais que falam diretamente às próprias vítimas. O medo deveria ser do agressor perante a Lei.
A violência doméstica contra a mulher é repudiável em qualquer instância, assim como o é o retrato da mulher na televisão, na música, os papéis lhe impostos e a continua descriminação e desconfiança em outros antros que não os cantos escuros e solitários da violência.



publicado por araretamaumamulher às 12:56 | link do post | comentar | favorito

Domingo, 04.04.10

As raízes da violência, de natureza social, cultural e psicológica, são numerosas, tais como: os estereótipos sexuais, o desequilíbrio de poder entre mulheres e homens, a socialização e os comportamentos aprendidos, a violência como forma socialmente aprovada de solução de conflitos, os desequilíbrios socioeconômicos, as lacunas na lei e no sistema de justiça penal.
A violência contra as mulheres é uma manifestação do desequilíbrio histórico das relações de poder entre mulheres e homens. A violência faz parte de um processo, não é natural nem resulta de um determinismo biológico: a violência aprende-se. O sistema de domínio masculino tem raízes históricas e a sua função e suas manifestações tem variado ao longo dos tempos.
O estado é o primeiro responsável, no sentido não só de sensibilizar para a não violência, como de prevenir a sua efetivação e punir os infratores. É igualmente o principal instrumento na mudança de práticas legais, administrativas e judiciais que dão possibilidade às mulheres de reivindicar os seus direitos. A negligência do estado em agir pode ser a causa de aumento de violência contra as mulheres; por outro lado, a sua intervenção ativa pode ser o catalisador na reforma das relações de poder na sociedade.
A sexualidade feminina é outra fonte de grande violência contra as mulheres.
Para a controlarem, os homens, que detêm, tradicionalmente, o poder, têm criado todo o tipo de disposições - legais, religiosas, na área da saúde ou pseudo científicas – que retiram às mulheres o direito ao gozo da sua sexualidade, e a tentam controlar, colocando-a ao serviço dos seus interesses, quer individuais quer da sociedade: mulher esposa, mulher mãe ou mulher prostituta.
A existência de ideologias, nomeadamente filosóficas e religiosas, que tentam justificar a posição subordinada das mulheres é outra causa de violência.
O que caracteriza e distingue este fenômeno de outros comportamentos violentos, é o fato de ser perpetrado majoritariamente por homens contra mulheres, homens esses que mantêm muitas vezes uma relação de grande proximidade com a agredida. Com efeito, a maior parte dos atos de violência cometidos contra as mulheres, são praticados no seio da família e quase sempre pelo marido ou companheiro da mulher.
Existem várias formas de violência não física, tantas quantas a imaginação humana consiga inventar para fazer mal a alguém que, em princípio, não se pode defender.
A violência não física aparece com, pelo menos, três objetivos: assustar, isolar e ofender.
- Na primeira forma (assustar) o agressor recorre de: ameaças (de morte, com armas de fogo e armas brancas, de futuras sevícias, de desaparecer com os filhos); de comportamentos violentos, que podem envolver destruição da propriedade doméstica (móveis, portas, louças, alimentos confeccionados) de bens próprios da mulher (roupa, documentos, recordações, livros);
- Na segunda forma (isolar) o agressor atua de forma a dificultar ou impedir a mulher de conviver com amiga (o)s ou familiares, de ter vida social, dentro e fora de casa, de ter emprego, estudar, sair de casa ou, até, de falar ao telefone.
Em alguns casos o agressor prende a mulher em casa durante períodos mais ou menos longos, não permitindo que ela saia ou comunique com o exterior, sob pena de exercer represálias. Com este isolamento, o agressor, esta exercendo a violência, e está igualmente a tentando que o seu comportamento não seja conhecido de terceiros, para não afetar a sua «imagem», ou para poder continuar a maltratar impunemente. Em determinados meios sociais, são freqüentes os maus tratos cessarem quando passam a ser do domínio público.
- Na terceira forma (ofender), que costumo chamar de violência moral, o agressor utiliza insultos e expressões obscenas e ofensivas dirigindo-se à mulher,impondo comportamentos que a ofendem, compara-a, de forma negativa, com outras mulheres (a aparência física, a competência profissional ou como dona de casa, a sexualidade, o trato em sociedade, a cultura geral), relata encontros sexuais (verdadeiros ou inventados) para humilhar e magoar a mulher.
· violência econômica esta designação é relativamente atual, apesar da sua prática ser antiga: o homem não contribui para a economia do lar ou contribui muito deficientemente, e/ou controla todo o dinheiro do agregado, mantendo escondidas e inacessíveis à mulher, as finanças do casal. A mulher tem que se sujeitar a pedir-lhe constantemente dinheiro, não dispondo de qualquer direito sobre os bens.
Em numerosos casos, a imagem pública do indivíduo que maltrata a família aparece como sendo a de um «cidadão exemplar», uma vez que o terror permanente em que os elementos da família vivem o receio de novas agressões e o isolamento a que são sujeitos os impede de denunciar a violência.
• violência sexual esta forma de violência integra elementos de violência física e não física. Para lá de constituir uma violação da integridade física da vítima, constitui igualmente uma violação da sua integridade moral. A violência sexual, incluindo a violação, existe também dentro do casamento, na união de fato e entre namorados.
A violência sexual pode consistir também na exploração sexual da mulher, obrigada a prostitui-se pelo marido, companheiro ou outra pessoa de família, mediante ameaças ou atos de violência física.
As deficiências de uma lei, comprovadamente inadequada, e as dificuldades de prova, são acrescidas quando a violência sexual se verifica na família, por parte do pai, outro familiar, marido ou companheiro, o que faz que este crime fique largamente impune.
As conseqüências negativas para a saúde física e mental das vítimas, são, por vezes, irreversíveis.
A violência contra as mulheres é um crime grave com conseqüências graves. Mais de metade da população feminina portuguesa experimentou a violência. Milhares de crianças vivem aterradas na sua própria casa, testemunhando ou sofrendo violência.
Apesar da existência de leis e planos oficiais  para combater a violência contra as mulheres, esta continua a ser uma constante na vida das mulheres.
Muitas mulheres tem que bater a numerosas portas antes de conseguirem alguma ajuda - quando conseguem. A maneira como são encaminhadas ou apoiadas depende muitas vezes do local onde moram e das pessoas que conhecem: se em alguns locais conseguem obter ajuda ou informação, noutros estão totalmente desamparadas. Esta situação é inaceitável, porque, quando decidem pedir ajuda, quase sempre as mulheres já estão desesperadas.
As mulheres vítimas de violência têm direito a proteção rápida e adequada e a um sistema legal que as proteja e apóie.
A violência contra as mulheres tem que ser vista na perspectiva dos direitos humanos, da igualdade para homens e mulheres e da democracia. Nenhum estado se poderá considerar verdadeiramente democrático enquanto permitir, por ações ou omissões, que a violência, atual ou potencial, seja uma constante na vida das mulheres.
A negação da existência da violência doméstica contra as mulheres foi durante muito tempo à maneira de tratar o assunto.
Desde os tempos em que aos maridos era permitido maltratar, violar e mesmo matar as esposas, passando pelas diversas épocas em que a autorização para tais crimes foi sendo progressivamente limitada, até à época atual em que estes atos são punidos nos termos da lei penal, mulheres têm sido maltratadas por maridos e companheiros, em todos os quadrantes da sociedade. E, malgrado a lei, continuam a ser: espancadas, torturadas, permanentemente aleijadas ou mortas. Várias questões se levantam: porque violenta os homens a mulher que escolheram para partilhar a sua vida?
Porque permanecem as mulheres junto do seu carrasco? Porque se calam tantos dos que assistem, recusando-se a intervir contra um crime tão comum?
Este silêncio generalizado e denso que rodeia a violência doméstica faz-se sentir a diversos níveis: do indivíduo, da comunidade e das instituições.
nível individual torna-se extremamente visível quando a vítima de violência pretende defender-se: não aparece ninguém disposto a ajudá-la, a servir de testemunha: ninguém viu, ninguém ouviu, ninguém fala.
É o silêncio social, de todos, amigos, familiares, vizinhos, que sabem, mas calam e com o seu silêncio consentem.
A outra vertente não é menos grave, e é simultaneamente causa e efeito do silêncio individual: é o silêncio da comunidade e das instituições.
A violência contra as mulheres tem uma história à qual é deliberadamente negada documentação.
Através das consultas a estatísticas, nomeadamente da justiça, fica-se na total ignorância da incidência de maus tratos a cônjuge ou companheira.
As vítimas pouco falam. Logo, é fácil e cômodo deduzir que o assunto não deve ter importância especial - o que está profundamente errado
E porque não falam as mulheres espancadas?
Apesar de algumas mudanças importantes operadas nos últimos anos, as mulheres são ainda frequentemente educadas com a idéia que o casamento é o seu destino natural: cuidar da casa, ter filhos, criá-los, cuidar do marido, ser mãe e esposa modelo são as suas “funções naturais”. E quando esta ficção idílica não acontece à mulher é levada a sentir que falhou que errou.
A violência de que é alvo é muitas vezes vista como culpa dela: algo fez para merecer, não cumpriu como devia. Em vez de ser vítima passa a ser acusada e culpabilizada. E a reação da mulher, como defesa, é calar-se; ela sabe que a sociedade a julgará e condenará não lhe perdoará ter “falhado”.
Para lá do estigma social, da vergonha, existem outros motivos que levam a calar as agressões:
a) O receio do agressor
Os homens são habitualmente mais fortes que as mulheres e não hesitam em brutalizá-las ainda mais para que não apresentem queixa ou para que retirem a que já interpuseram.
b) A dependência econômica
Os homens têm quase sempre maiores possibilidades materiais e sociais, numa sociedade fortemente marcada pela não igualdade de oportunidades. As mulheres ainda têm menos escolaridade ou formação profissional, têm empregos inferiores, ganham menos, além de que assumem muito mais que os homens, as responsabilidades na criação dos filhos. Assim, num confronto violento em que a sua normal reacção seria fugir, as mulheres constatam que não têm para onde ir nem dispõem de recursos que as ajudem a afastar-se e aos filhos pois raramente as mulheres deixam os filhos para trás. E, sem apoios e com leis que não funcionam, são frequentemente obrigadas a regressar para junto do agressor.
c) 0 alheamento dos que a rodeiam
Um dos grandes obstáculos na abordagem do problema da violência doméstica é a sua aceitação tácita, o esconder deste crime por parte dos que o observam.
Há sempre alguém que ativamente ou pela passiva indiferença, tenta correr uma cortina sobre o caso, escondê-lo do público, decidindo “não lavar roupa suja” – para usar uma expressão corrente - como forma de não ter que se envolver.
E se a vítima não consegue suscitar-nos que com ela convive de perto o impulso cívico de ajudá-la servindo de testemunhas, fica sem possibilidade de apresentar queixa, de procurar defesa e proteção legal.
E, nunca é demais repeti-lo, a impunidade do agressor é o melhor argumento que ele tem para continuar a violência.
d) O silêncio da comunidade e das instituições
«Ninguém faz nada». E, na realidade, a forma como o problema da violência doméstica é abordado, mostra tendencialmente não só uma certa indiferença no tratamento deste crime, como uma tentativa de silenciar a sua existência.
Pode dizer-se que, de uma maneira geral, as comunidades ignoram a extensão do problema, com todas as graves conseqüências que ele traz.
Os meios de comunicação social não se interessam ou usam o tema de forma sensacionalista; os serviços públicos que são colocados em contato com o problema. (como é o caso de hospitais, polícias e serviços de assistência social) têm limitados poderes para abordar publicamente o assunto e, por vezes, não fazem uso do pouco que tem.
Os hospitais por onde passam mulheres espancadas, não dispõem de estruturas que permitam a identificação e encaminhamento destes casos;
No que respeita às polícias, o seu âmbito de intervenção está tão limitado que nem sempre é eficaz.
Os tribunais, extremamente morosos, não oferecem a ajuda rápida de que a vítima precisa e quase nunca fazem justiça. As disposições legais nesta área ou são inadequadas, ou são ineficazes ou, simplesmente, não são aplicadas.
Os meios de comunicação social são um elo importante que une as centenas de mulheres que os vêem, escutam ou lêem e que estão demasiado assustadas para procurar ajuda. Pode prestar um tremendo serviço público difundido informação correta, sensibilizando a opinião pública e encorajando as mulheres maltratadas a procurar ajuda, a divulgar o seu problema, a sair do seu isolamento sem sentir vergonha ou culpa.
Perante este esmagador silêncio do indivíduo, da comunidade, das instituições – este total alheamento, este conformismo egoísta, é de espantar que as mulheres se fechem sobre o seu sofrimento?
Que ajuda podem esperar? Que apoios para poderem mudar a sua vida e dos seus filhos?
A falta de alternativas leva-as muitas vezes, em desespero de causa, a auto convencerem- se que o problema não é assim tão mau, que devem é esforçar-se e agüentar - tudo isto servindo apenas para manter uma situação violenta que, sendo,na aparência, consentida pela vítima, passa a ser tolerada pela comunidade e ignorada pelas instituições.
Através deste pequeno roteiro de silêncios, consegue-se perceber que existe uma cadeia de causa efeito entre os diversos elos: as mulheres não tornam pública a violência de que são alvo, porque não existem apoios que as ajudem a sair da situação violenta; as instituições não criam apoios porque o problema, sendo escondido e calado, é desvalorizado e torna-se oficialmente como que não-existente; a comunidade perante uma vítima que não fala e um conjunto de instituições que não age, fecha-se num silêncio, que não direi indiferente, mas meramente egoísta e não cooperativo. E a mulher agredida, que observa toda esta conspiração de silêncio deliberado, sente-se muito justificadamente só, sem ajuda e continua calada.
Esta negação, este silêncio e aceitação do fato não são uma forma de transmitir às crianças a violência como um valor aceitável? Como uma forma aceitável de resolução de conflitos? Elas, não só, vêem este crime passar impune nos seus lares, como tomam o silêncio geral como forma de aprovação e autorização para repetir e perpetuar.
Que preço estamos todos pagando com o nosso silêncio?
E que preço continuaremos a pagar quando os filhos e filhas de agressores e agredidas forem repetir os padrões de vida familiar que lhes foram ensinados, sem alternativas, na infância e juventude?



publicado por araretamaumamulher às 19:48 | link do post | comentar | favorito

Segunda-feira, 22.03.10

 O conceito de violência doméstica e contra a mulher abrange pequenos atos que não são óbvios, pequenas ações que passam despercebidas se não estivermos atentos.

Todavia é um assunto que merece maior divulgação uma vez que as vítimas não são apoiadas. Uma vítima de agressão sofre a vergonha de ser agredida e a vergonha de ter que pedir ajuda da mesma forma alguém que tente ajudar um agredido não sabe como o fazer devido à falta de informação.
O que encontro sobre este assunto é que o ser humano tende a afastar-se da vítima. Em algumas sociedades a culpa desta barbaridade da violência doméstica está dividida na cabeça das pessoas entre a vítima e o agressor. Noutras um pouco mais evoluídas, mas nem por isso suficientemente evoluída e sensata, consideram a vítima, vítima inevitável para sempre, uma espécie de "pessoa sem sorte" que não sairá nunca de um círculo vicioso, e o estigma acontece rapidamente. Outras ainda, considera a prioridade do bem estar duma mulher vítima e/ou filhos, completamente igual á do criminoso, e a consciência que a vítima toma pela prioridade do seu bem estar e dos filhos uma desigualdade de gênero.
Muita confusão há neste assunto, muita conveniência, muito interesse individualista. A violência doméstica é um assunto de TODOS, porque empobrece literalmente a sociedade e compromete o seu futuro. Cada vítima precisa do apoio de TODOS. A causa precisa de uma luta muito unida e forte para a irradiação.
Deixando de parte a violência e focando-nos apenas na agressividade é incrível o poder que a persuasão tem. A mera consciência de que tal instinto existe permite que haja um maior controle sobre as nossas ações.
A agressividade negativa tem a característica de deixar uma marca, um trauma que não pode ser esquecido e que com o passar do tempo à pessoa nunca esquecerá alguém que tenha lhe causado danos, sejam estes físicos ou psicológicos.
 A sociedade atual não está fechando os olhos à violência e é essa a questão.
Infelizmente vemos ambos os prismas. Á base legal vários progressos foram feitos, as leis abrangem novas modalidades de agressão e os meios de combate a essas agressões são mais eficazes e rápidos. No entanto não se incentiva a participação de casos de violência e há pouca informação de como ajudar uma mulher que é agredida.
Muitos dos casos de agressão não são participados, porque a vitima é completamente subjugada pelo agressor, de uma forma tão complexa que ela acredita realmente ser impotente face ao poder superior do outro.
Além das dificuldades em convencer alguém a apresentar queixa à polícia as próprias forças da lei muitas vezes são impotentes porque sem provas não podem formar um caso e se o agressor descobre que foi feita queixa à polícia as conseqüências são devastadoras para o agredido.
 Apesar da sociedade esta abrindo os olhos para a violência que a rodeia não consegue proteger-se dela, ainda. As mulheres estão sendo privadas de executar o seu direito básico à felicidade sem medo de serem agredidas.
 
Até hoje em pleno século XXI continuamos sem certezas absolutas acerca da posição da sociedade face às crescentes necessidades das pessoas. As forças policiais ajudam, mas existem os limites, os amigos ou conhecidos de uma vitima também tentam auxiliar, mas a maior dificuldade é a de ser ouvido sem ter provas concretas. Não é possível legalmente apresentar uma queixa completa e formal sem que o agressor seja informado, sem que se apresentem provas concretas de que foi cometida agressão contra a vítima e muitas vezes as queixas não são completamente apresentadas, por isso talvez as vítimas desistem porque não é um pedaço de papel que vai protegê-las contra os punhos fortes do seu agressor ou contra o poder do seu opressor.
 
Tao Te Chig disse que “ao conhecer os outros demonstra inteligência, conhecer-se a si próprio é verdadeira sabedoria.”.
Mas alguém que comete atos cruéis contra a felicidade, contra a liberdade de outra pessoa demonstra que não tem a menor sabedoria, porque não consegue compreender que apesar de momentaneamente parecer que tal ato lhe proporciona um enorme prazer com o passar do tempo esse prazer dissipa-se e a culpa permanece.
 Wharton defendia que “Se ao menos pudéssemos parar de tentar ser felizes, poderíamos diverti-nos muito mais.”.
Um agressor não entende que se cessar de tentar submeter outra pessoa a humilhação para ter a sua dose de felicidade pode encontrar essa mesma felicidade em diversos outros locais.
Henry Boyle uma vez disse que “A viagem mais importante que fazemos na vida é a de encontrar com os outros o meio-termo.”.
 Esperamos que através do nosso trabalho consigamos ver que há violência nos dias atuais é cada vez mais praticada e já não se esconde. Numa sociedade em que muitas liberalidades não são permitidas a violência implícita é vendida publicamente sem que se tomem medidas.
Não podemos nos deixar levar por este tipo de situações que, de dia a dia se tornam mais evidentes e mais vulgarizados. Não podemos ficar calados perante estas situações.
 



publicado por araretamaumamulher às 13:02 | link do post | comentar | favorito

O conceito de violência doméstica e contra a mulher abrange pequenos atos que não são óbvios, pequenas ações que passam despercebidas se não estivermos atentos.
Todavia é um assunto que merece maior divulgação uma vez que as vítimas não são apoiadas. Uma vítima de agressão sofre a vergonha de ser agredida e a vergonha de ter que pedir ajuda da mesma forma alguém que tente ajudar um agredido não sabe como o fazer devido à falta de informação.
O que encontro sobre este assunto é que o ser humano tende a afastar-se da vítima. Em algumas sociedades a culpa desta barbaridade da violência doméstica está dividida na cabeça das pessoas entre a vítima e o agressor. Noutras um pouco mais evoluídas, mas nem por isso suficientemente evoluída e sensata, consideram a vítima, vítima inevitável para sempre, uma espécie de "pessoa sem sorte" que não sairá nunca de um círculo vicioso, e o estigma acontece rapidamente. Outras ainda, considera a prioridade do bem estar duma mulher vítima e/ou filhos, completamente igual á do criminoso, e a consciência que a vítima toma pela prioridade do seu bem estar e dos filhos uma desigualdade de gênero.
Muita confusão há neste assunto, muita conveniência, muito interesse individualista. A violência doméstica é um assunto de TODOS, porque empobrece literalmente a sociedade e compromete o seu futuro. Cada vítima precisa do apoio de TODOS. A causa precisa de uma luta muito unida e forte para a irradiação.
Deixando de parte a violência e focando-nos apenas na agressividade é incrível o poder que a persuasão tem. A mera consciência de que tal instinto existe permite que haja um maior controle sobre as nossas ações.
A agressividade negativa tem a característica de deixar uma marca, um trauma que não pode ser esquecido e que com o passar do tempo à pessoa nunca esquecerá alguém que tenha lhe causado danos, sejam estes físicos ou psicológicos.
 A sociedade atual não está fechando os olhos à violência e é essa a questão.
Infelizmente vemos ambos os prismas. Á base legal vários progressos foram feitos, as leis abrangem novas modalidades de agressão e os meios de combate a essas agressões são mais eficazes e rápidos. No entanto não se incentiva a participação de casos de violência e há pouca informação de como ajudar uma mulher que é agredida.
Muitos dos casos de agressão não são participados, porque a vitima é completamente subjugada pelo agressor, de uma forma tão complexa que ela acredita realmente ser impotente face ao poder superior do outro.
Além das dificuldades em convencer alguém a apresentar queixa à polícia as próprias forças da lei muitas vezes são impotentes porque sem provas não podem formar um caso e se o agressor descobre que foi feita queixa à polícia as conseqüências são devastadoras para o agredido.
 Apesar da sociedade esta abrindo os olhos para a violência que a rodeia não consegue proteger-se dela, ainda. As mulheres estão sendo privadas de executar o seu direito básico à felicidade sem medo de serem agredidas.

Até hoje em pleno século XXI continuamos sem certezas absolutas acerca da posição da sociedade face às crescentes necessidades das pessoas. As forças policiais ajudam, mas existem os limites, os amigos ou conhecidos de uma vitima também tentam auxiliar, mas a maior dificuldade é a de ser ouvido sem ter provas concretas. Não é possível legalmente apresentar uma queixa completa e formal sem que o agressor seja informado, sem que se apresentem provas concretas de que foi cometida agressão contra a vítima e muitas vezes as queixas não são completamente apresentadas, por isso talvez as vítimas desistem porque não é um pedaço de papel que vai protegê-las contra os punhos fortes do seu agressor ou contra o poder do seu opressor.

Tao Te Chig disse que “ao conhecer os outros demonstra inteligência, conhecer-se a si próprio é verdadeira sabedoria.”.
Mas alguém que comete atos cruéis contra a felicidade, contra a liberdade de outra pessoa demonstra que não tem a menor sabedoria, porque não consegue compreender que apesar de momentaneamente parecer que tal ato lhe proporciona um enorme prazer com o passar do tempo esse prazer dissipa-se e a culpa permanece.
 Wharton defendia que “Se ao menos pudéssemos parar de tentar ser felizes, poderíamos diverti-nos muito mais.”.
Um agressor não entende que se cessar de tentar submeter outra pessoa a humilhação para ter a sua dose de felicidade pode encontrar essa mesma felicidade em diversos outros locais.
Henry Boyle uma vez disse que “A viagem mais importante que fazemos na vida é a de encontrar com os outros o meio-termo.”.
 Esperamos que através do nosso trabalho consigamos ver que há violência nos dias atuais é cada vez mais praticada e já não se esconde. Numa sociedade em que muitas liberalidades não são permitidas a violência implícita é vendida publicamente sem que se tomem medidas.
Não podemos nos deixar levar por este tipo de situações que, de dia a dia se tornam mais evidentes e mais vulgarizados. Não podemos ficar calados perante estas situações.


publicado por araretamaumamulher às 05:38 | link do post | comentar | favorito

Sexta-feira, 19.03.10

 Se os meios de comunicação se interessaram pouco ou quase nada por divulgar dados da pesquisa disponível no Instituto Patrícia Galvão sobre os índices de violência contra a mulher nos estados de Pernambuco e de São Paulo, não foi por acaso. Se os dados da OMS sobre a violência contra a mulher no Japão, a mais alarmante entre os países desenvolvidos -- atinge mais da metade da população feminina--, não espantaram as editoras das revistas e cadernos femininos, e nem viraram manchetes, também não foi por acaso, mas por linha editorial.

Para nossa mídia especializada em assuntos femininos, a bofetada em si interessa menos do que o pancake para disfarçá-la. É um assunto espinhoso e delicado vincular a vaidade feminina-- especialmente num país como o Brasil, repleto de mulheres batalhadoras e pobres que apanham diariamente --, ao alto índice de violência contra mulher. Mas daí a ficarmos presos aos índices, ignorando a patologia das relações sadomasoquistas, já seria ingenuidade. Rever o papel da mídia na banalização do feminismo, que chegou sem gordura, completamente light ao cérebro das leitoras, ouvintes, telespectadoras e internautas, as formadoras de opinião, é direito da mulher e até uma questão de cidadania.

Comparar uma revista Cláudia do início dos anos 1980 a uma revista Cláudia atual, é o melhor atestado do desempoderamento interno que sofreram as mulheres. Na década de 1980 os direitos das mulheres eram pautas de matérias e de artigos, os índices de separações saltavam, nascia à nova mulher, que podia trabalhar sem culpa, viver sozinha com os filhos, exigir pensão, casar de novo e demonizar os homens à vontade. Depois disso, ali pelos anos 1990, a nova mulher já era um ser humano bem esquisito, estava pouco se lixando para as causas de seus condicionamentos e nem de longe olhava para as Marias do morro com fraternidade.

Hoje, como se fosse questão resolvida, a que foi abortada assim que o mercado se abasteceu com a nova força de trabalho; o assunto é beleza, caça aos machos, como cuidar dos filhos sem ter que conviver com eles e outras idéias marqueteiras, ineficientes e egotistas. A demonização dos homens, entre todas as bandeiras, é a única que flameja, já aparece nas escolinhas de ensino infantil em meninos frágeis ou raivosos e meninas superpoderosas e vaidosas ao extremo. Mas o que isso tem a ver com os índices alarmantes de violência contra a mulher? Tudo, tudo o que ficou para trás quando o feminismo virou a casaca na década de 1990.

Na pesquisa disponível no Instituto patrícia Galvão surpreende um dado sobre a violência contra a mulher: ela não se reduz aos lares mais pobres, ocorre na classe média e na alta. Caberia à mídia especializada questionar o que basicamente separa a mulher que apanha daquela que não apanha, o homem que bate do que nunca bateu. Há mulheres que nunca apanharam aqui ou no Japão. Elas são encontradas entre profissionais de várias áreas e entre donas-de-casa que nunca trabalharam fora. Há homens pedreiros que nunca bateram e há médicos, engenheiros, advogados, professores, jornalistas, empresários e bancários que espancam suas mulheres. O terreno é argiloso, engloba subjetividades e certamente não cabe à mídia vitimar ainda mais as mulheres que apanham ou demonizar os homens que batem. Seria mais interessante e produtivo questionar as pautas que dengam as mulheres, fragilizando-as diante de seus próprios corpos, portadores de seios que já não servem para a função biológica, que têm deixado de ser livres, cheios de artérias que causam prazer sexual, mesmo molenguinhos, para se transformarem unicamente em objetos fálicos de provocação do desejo masculino.

Para entendermos melhor a vitimização da mulher, que só aumenta os índices de apanhadoras, seria urgente que as editoras e repórteres que cobrem a área, se interessassem um pouco menos por cremes e tinturas, roupas, grifes e fugas do relacionamento humano com o companheiro e os filhos e investissem mais no resgate do corpo feminino, uma fonte de vida e de prazer, capaz de suportar dores das condições femininas, que servem para torná-lo mais forte, que engrandecem o caráter da mulher a ponto de jamais ser violado sem o desejo ou a vontade de sua dona.
Mas quando a mídia violenta o corpo da mulher, banalizando-o como objeto de desejo masculino em primeiro plano, quando denga a mulher perdoando seu medo de viver as dores inerentes dos processos maternos, e aí entram o obstetra e o pediatra; quando em nome da manutenção de um corpo eternamente jovem, a mídia especializada arranja soluções plásticas e hormonais; e aí entram os cirurgiões e os endocrinologistas, então temos a fabricação em série de mulheres fragilizadas, vítimas em potencial, que não sabem ao que vieram nesse mundo além de adorar seus machos e submeterem-se à violência. Fica a impressão de que as nobres editoras e repórteres nunca folhearam um livro de Simone de Bevoir, nunca ouviram falar de Carmem da Silva, Marina Colasanti e nem ao menos sabem do que se trata coisa menor, como o Complexo de Cinderela, livro digestivo escrito pela americana Collete Dowling, que sozinho já engrossaria o caldo de uma matéria melhorzinha. 
Não deveriam os meios de comunicação apenas revelar os números e jamais cair no erro de vitimar as mulheres que apanham, deixando-as no lugar de coitadinhas. O sadismo só funciona com o outro lado da gangorra: o masoquismo. A mulher que apanha não precisa só de delegacia da mulher, precisa de informação, precisa compreender seu comportamento masoquista, formado a partir de prazeres genuínos que ela própria abdicou em troca de prazeres banais, que não a alimentam de fato, não a fortalecem como indivíduo diferenciado do homem. O beicinho, a provocação, a sedução, os chiliques, o lado mau da mulher precisa emergir, do mesmo modo que é preciso resgatar -- e a mídia deveria exercer um papel fundamental nisso -- os direitos femininos, abortados no meio do caminho da revolução feminista, que começou bem, mas virou uma espécie de fascismo da vaidade.
Falta muito aos meios de comunicação que cobrem o universo feminino, falta divulgação de dados e fatos, mas falta principalmente sair de fora e entrar para dentro do corpo feminino, uma grande fonte de riqueza, amor e poder humanístico. As perdas são talvez irreparáveis e as crianças tenham sido as maiores vítimas dessas guerrilhas entre as coitadas e os demônios. A divulgação de dados referentes à violência contra a mulher é apenas um fio da meada e se os meios de comunicação ficarem presos às conseqüências, sem entrar fundo nas causas e no como eles mesmos fabricaram essa involução, nenhum passo será dado, além da bateção na eterna tecla do homem demonizado, o homem-objeto. Esse homem que foi produzido midiaticamente para viver ao lado da nova mulher, que não nasceu de fato, pouco resolveu de seu machismo ancestral e nem poderia; mal estava saindo da casca, deu de cara com o poder do silicone, é enfrentado diariamente por deusas turbinadas das capas de revistas, que ele não pode ter porque não tem como pagar. A mulher virou um bem de consumo e pobre ou rica, ela está voltada para fora de seu corpo, insatisfeita, subjugada por ela mesma em primeiro lugar. Morreu de vaidade a nova mulher que prometia emergir; está mais ignorante e menos sensível, mais competitiva e menos corajosa.
Se a dama da sociedade só pensa em plásticas e as realiza, retaliando-se inteira para conseguir mais um up grade nas armas de sedução; as Marias estão pregadas nas novelas, economizam para comprar creme de aveia barato, se ressentem com o descascado do esmalte de quinta categoria, sonham em não ser elas mesmas, também aviltadas pelas capas que exibem a tez macia das celebridades.
O que sobrou do feminismo além de um certo direito a um empreguinho, uma tripla jornada e um total desentendimento das relações humanas afetuosas, foi depurado pela peruíce generalizada das formadoras de opinião, elas próprias preocupadas com creminhos e soluções milagrosas para reter o tempo a fim de não perder as armas que derrubam os peludos neandhertais. Tratado como objeto, castrado em seu poder ancestral de perseguir a fêmea, transformado em caça e presa fácil, o homem menos apto corticalmente e mais primário emocionalmente, faz jus ao modelo demonizado. De fato existe, precisa responder por isso judicialmente, mas caberia à mídia dar uma destrinchada básica no papel da mulher nessa história. A submissão, esse masoquismo típico da mulher que abriu mão de lutar pelo direito de ser, anda de mão dadas com o sadismo, mas o sádico machista, em casa ou no trabalho, nos consultórios médicos ou no meio da rua, não encontraria continência na mulher dona do próprio corpo.
Agora, caberia à mídia, que em conluio com a indústria médica e cosmética, conseguiu fabricar uma mulher que se dá o direito de não menstruar, não parir, não amamentar, não amadurecer hormonalmente e afetivamente, desfazer esse novelo que fragilizou a mulher trancando-a a sete chaves no lugar mais primário da evolução feminina: o da submissão aos homens.

 
 



publicado por araretamaumamulher às 13:40 | link do post | comentar | favorito















Se os meios de comunicação se interessaram pouco ou quase nada por divulgar dados da pesquisa disponível no Instituto Patrícia Galvão sobre os índices de violência contra a mulher nos estados de Pernambuco e de São Paulo, não foi por acaso. Se os dados da OMS sobre a violência contra a mulher no Japão, a mais alarmante entre os países desenvolvidos -- atinge mais da metade da população feminina--, não espantaram as editoras das revistas e cadernos femininos, e nem viraram manchetes, também não foi por acaso, mas por linha editorial.
Para nossa mídia especializada em assuntos femininos, a bofetada em si interessa menos do que o pancake para disfarçá-la. É um assunto espinhoso e delicado vincular a vaidade feminina-- especialmente num país como o Brasil, repleto de mulheres batalhadoras e pobres que apanham diariamente --, ao alto índice de violência contra mulher. Mas daí a ficarmos presos aos índices, ignorando a patologia das relações sadomasoquistas, já seria ingenuidade. Rever o papel da mídia na banalização do feminismo, que chegou sem gordura, completamente light ao cérebro das leitoras, ouvintes, telespectadoras e internautas, as formadoras de opinião, é direito da mulher e até uma questão de cidadania.
Comparar uma revista Cláudia do início dos anos 1980 a uma revista Cláudia atual, é o melhor atestado do desempoderamento interno que sofreram as mulheres. Na década de 1980 os direitos das mulheres eram pautas de matérias e de artigos, os índices de separações saltavam, nascia à nova mulher, que podia trabalhar sem culpa, viver sozinha com os filhos, exigir pensão, casar de novo e demonizar os homens à vontade. Depois disso, ali pelos anos 1990, a nova mulher já era um ser humano bem esquisito, estava pouco se lixando para as causas de seus condicionamentos e nem de longe olhava para as Marias do morro com fraternidade.
Hoje, como se fosse questão resolvida, a que foi abortada assim que o mercado se abasteceu com a nova força de trabalho; o assunto é beleza, caça aos machos, como cuidar dos filhos sem ter que conviver com eles e outras idéias marqueteiras, ineficientes e egotistas. A demonização dos homens, entre todas as bandeiras, é a única que flameja, já aparece nas escolinhas de ensino infantil em meninos frágeis ou raivosos e meninas superpoderosas e vaidosas ao extremo. Mas o que isso tem a ver com os índices alarmantes de violência contra a mulher? Tudo, tudo o que ficou para trás quando o feminismo virou a casaca na década de 1990.
Na pesquisa disponível no Instituto patrícia Galvão surpreende um dado sobre a violência contra a mulher: ela não se reduz aos lares mais pobres, ocorre na classe média e na alta. Caberia à mídia especializada questionar o que basicamente separa a mulher que apanha daquela que não apanha, o homem que bate do que nunca bateu. Há mulheres que nunca apanharam aqui ou no Japão. Elas são encontradas entre profissionais de várias áreas e entre donas-de-casa que nunca trabalharam fora. Há homens pedreiros que nunca bateram e há médicos, engenheiros, advogados, professores, jornalistas, empresários e bancários que espancam suas mulheres. O terreno é argiloso, engloba subjetividades e certamente não cabe à mídia vitimar ainda mais as mulheres que apanham ou demonizar os homens que batem. Seria mais interessante e produtivo questionar as pautas que dengam as mulheres, fragilizando-as diante de seus próprios corpos, portadores de seios que já não servem para a função biológica, que têm deixado de ser livres, cheios de artérias que causam prazer sexual, mesmo molenguinhos, para se transformarem unicamente em objetos fálicos de provocação do desejo masculino.
Para entendermos melhor a vitimização da mulher, que só aumenta os índices de apanhadoras, seria urgente que as editoras e repórteres que cobrem a área, se interessassem um pouco menos por cremes e tinturas, roupas, grifes e fugas do relacionamento humano com o companheiro e os filhos e investissem mais no resgate do corpo feminino, uma fonte de vida e de prazer, capaz de suportar dores das condições femininas, que servem para torná-lo mais forte, que engrandecem o caráter da mulher a ponto de jamais ser violado sem o desejo ou a vontade de sua dona.
Mas quando a mídia violenta o corpo da mulher, banalizando-o como objeto de desejo masculino em primeiro plano, quando denga a mulher perdoando seu medo de viver as dores inerentes dos processos maternos, e aí entram o obstetra e o pediatra; quando em nome da manutenção de um corpo eternamente jovem, a mídia especializada arranja soluções plásticas e hormonais; e aí entram os cirurgiões e os endocrinologistas, então temos a fabricação em série de mulheres fragilizadas, vítimas em potencial, que não sabem ao que vieram nesse mundo além de adorar seus machos e submeterem-se à violência. Fica a impressão de que as nobres editoras e repórteres nunca folhearam um livro de Simone de Bevoir, nunca ouviram falar de Carmem da Silva, Marina Colasanti e nem ao menos sabem do que se trata coisa menor, como o Complexo de Cinderela, livro digestivo escrito pela americana Collete Dowling, que sozinho já engrossaria o caldo de uma matéria melhorzinha. 
Não deveriam os meios de comunicação apenas revelar os números e jamais cair no erro de vitimar as mulheres que apanham, deixando-as no lugar de coitadinhas. O sadismo só funciona com o outro lado da gangorra: o masoquismo. A mulher que apanha não precisa só de delegacia da mulher, precisa de informação, precisa compreender seu comportamento masoquista, formado a partir de prazeres genuínos que ela própria abdicou em troca de prazeres banais, que não a alimentam de fato, não a fortalecem como indivíduo diferenciado do homem. O beicinho, a provocação, a sedução, os chiliques, o lado mau da mulher precisa emergir, do mesmo modo que é preciso resgatar -- e a mídia deveria exercer um papel fundamental nisso -- os direitos femininos, abortados no meio do caminho da revolução feminista, que começou bem, mas virou uma espécie de fascismo da vaidade.
Falta muito aos meios de comunicação que cobrem o universo feminino, falta divulgação de dados e fatos, mas falta principalmente sair de fora e entrar para dentro do corpo feminino, uma grande fonte de riqueza, amor e poder humanístico. As perdas são talvez irreparáveis e as crianças tenham sido as maiores vítimas dessas guerrilhas entre as coitadas e os demônios. A divulgação de dados referentes à violência contra a mulher é apenas um fio da meada e se os meios de comunicação ficarem presos às conseqüências, sem entrar fundo nas causas e no como eles mesmos fabricaram essa involução, nenhum passo será dado, além da bateção na eterna tecla do homem demonizado, o homem-objeto. Esse homem que foi produzido midiaticamente para viver ao lado da nova mulher, que não nasceu de fato, pouco resolveu de seu machismo ancestral e nem poderia; mal estava saindo da casca, deu de cara com o poder do silicone, é enfrentado diariamente por deusas turbinadas das capas de revistas, que ele não pode ter porque não tem como pagar. A mulher virou um bem de consumo e pobre ou rica, ela está voltada para fora de seu corpo, insatisfeita, subjugada por ela mesma em primeiro lugar. Morreu de vaidade a nova mulher que prometia emergir; está mais ignorante e menos sensível, mais competitiva e menos corajosa.
Se a dama da sociedade só pensa em plásticas e as realiza, retaliando-se inteira para conseguir mais um up grade nas armas de sedução; as Marias estão pregadas nas novelas, economizam para comprar creme de aveia barato, se ressentem com o descascado do esmalte de quinta categoria, sonham em não ser elas mesmas, também aviltadas pelas capas que exibem a tez macia das celebridades.
O que sobrou do feminismo além de um certo direito a um empreguinho, uma tripla jornada e um total desentendimento das relações humanas afetuosas, foi depurado pela peruíce generalizada das formadoras de opinião, elas próprias preocupadas com creminhos e soluções milagrosas para reter o tempo a fim de não perder as armas que derrubam os peludos neandhertais. Tratado como objeto, castrado em seu poder ancestral de perseguir a fêmea, transformado em caça e presa fácil, o homem menos apto corticalmente e mais primário emocionalmente, faz jus ao modelo demonizado. De fato existe, precisa responder por isso judicialmente, mas caberia à mídia dar uma destrinchada básica no papel da mulher nessa história. A submissão, esse masoquismo típico da mulher que abriu mão de lutar pelo direito de ser, anda de mão dadas com o sadismo, mas o sádico machista, em casa ou no trabalho, nos consultórios médicos ou no meio da rua, não encontraria continência na mulher dona do próprio corpo.
Agora, caberia à mídia, que em conluio com a indústria médica e cosmética, conseguiu fabricar uma mulher que se dá o direito de não menstruar, não parir, não amamentar, não amadurecer hormonalmente e afetivamente, desfazer esse novelo que fragilizou a mulher trancando-a a sete chaves no lugar mais primário da evolução feminina: o da submissão aos homens.


publicado por araretamaumamulher às 05:44 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Quarta-feira, 17.03.10

 A violência e as suas expressões sociais parecem ter invadido a vida e o cotidiano das pessoas.

Não podemos deixar de pensar nesse problemas, como questão social – expressando antagonismos de classe e colocando em relevo, as condições gerais de existência de parcelas significativas da população.
     Embora o desenho da violência como objeto de estudo seja recente, seu papel é importante na história e nas atividades da humanidade. Especialmente, esse tema vem ganhando corpo no Brasil, pelos acontecimentos ocorridos nos grandes centros, pelo medo social instaurado e pelo questionamento aos valores, inclusive dos estudiosos do assunto. Se antes, falava-se em Direitos Humanos referentes aos responsáveis pela violência, hoje fala-se dos Direitos das Vítimas.
     Frente a esta realidade que a todos inquieta e desafia, é hora de perguntar o que mudou? O quantitativo ou o qualitativo da violência? A violência mesma ou sua representação social? O comportamento delituoso ou as marcas político-ideológicas do sistema? Também é tempo de compreender as determinações sociais da violência, entendendo que a pobreza, em si, não leva nem conduz ao caminho inexorável da criminalidade
     Segundo Hannah Arendt, a violência objetiva a anulação da vontade do outro, mantendo a realização da dominação, faz a “distinção entre a violência vermelha, que leva à morte (relação de força) e a violência branca, que mantém a vida física e marca indelevelmente a vida social e psicológica”
     Historicamente a violência contra a mulher é uma ofensa à dignidade humana e manifestação das relações de poder desiguais, entre homens e mulheres. Constitui uma violência contra os Direitos Humanos e as liberdades fundamentais pois limita total ou parcialmente à mulher, o reconhecimento e o exercício de direitos e liberdades. Baseada no gênero, a violência contra a mulher transcende todos os setores da sociedade, ocorre independentemente de classe, raça ou grupo étnico, nível  de salário, cultura, educação, idade ou religião. Ela se dá nos lares, nos locais de trabalho, nas ruas. É física  e/ou sexual, e/ou psicológica, psicológica e/ou física, ou tudo isto junto!
     Entre os tipos de violência mais comuns, estão aquelas ocorridas dentro do espaço doméstico, as ameaças, o abandono material, o atentado violento ao pudor, o estupro. A violência contra a mulher geralmente ocorre no âmbito do privado, no isolamento do doméstico e das relações mais pessoais, gerando agressões e mascaramento de conflitos. Em muitos casos, situações reprimidas podem até vir à tona em forma de somatizações importantes, gerando doenças misteriosas e dificultando o enfrentamento do problema.
     Mulheres jovens podem tomar consciência de seu próprio problema quando percebem que este pode não ser um problema pessoal, isolado de um contexto social mais amplo, geralmente originado de condições culturais adversas e naturalizado pela prática. Esta percepção pode ajudar as pessoas e a comunidade mais ampla a se mobilizar em torno da questão da violência, sensibilizando instituições, o poder público local e a sociedade de modo geral.
     A violência contra a mulher é um fenômeno generalizado que alcança grande número de mulheres. “ Dados da ONU demonstram que a violência doméstica é a principal causa de lesões em mulheres entre 15 e 44 anos, no mundo.
     A gravidade dos problemas da violência contra a mulher, pode resultar em muitos casos, em índices absurdos de morbidade e mortalidade maternas, altos índices de gravidezes precoces, de gravidez por estupro, de abortos, etc. Isto exige posicionamentos oficiais por parte das instituições públicas, provendo serviços e orientações à grande parcela da população feminina.. Políticas de atenção à mulher podem e devem ser adotadas, contemplando amplos segmentos da população direta ou indiretamente afetados. Afinal, a mulher não é a única vítima numa família onde a violência pode representar uma forma de comunicação. È importante atender nos programas oferecidos, a própria mulher, os familiares, mas também o agressor.
     Relatório do Banco Mundial, como subsídio ao evento da ONU afirma que países que diminuem as desigualdades entre mulheres e homens, têm índices menores de corrupção, e taxas de crescimento mais altas. Importante lembrar que entre os exemplos de políticas de desenvolvimento condicionadas por questões de gênero, estão a garantia de direitos iguais, o desenho de sistemas de saúde, educação, assistência e mais – que levem em conta as condições e os interesses das mulheres.
 
  Pensar e melhorar a atenção à mulher vítima de violência, poderá contribuir para diminuir desigualdades e melhorar a condição das mulheres.
     A violência doméstica contra a mulher tem pontos importantes: quando a violência é crônica, a mulher não é a única vítima; todos os membros da família sofrem as conseqüências ... a violência tende a se cronificar porque as mulheres se sentem ambivalentes em relação a confrontar seus maridos, devido ao prejuízo sofrido na formação de sua identidade no que diz respeito à socialização do seu papel sexual. Outras razões mais objetivas podem ser: medo do empobrecimento que virá seguramente após o divórcio, perda de status e até sentimento de culpa que as mulheres referem pelos sentimentos de fracasso em relação às suas expectativas de desempenho como mãe e mulher.
    A violência como um problema social é conceito do século XX. É a partir da década de 1960, com o surgimento do movimento de mulheres que o problema passa a ser encarado como patologia social. “ Não apenas por suas preocupações quantitativas mas também pela gravidade de   suas conseqüências “ ( Azevedo, 1985:37 ).
     Atualmente a mulher não precisa mais ser anulada permanecendo dentro de um casamento frustrado/violento, pois existe uma rede de apoio preparada para recebê-la e orientá-la, tais como: casa abrigo de mulheres vítimas de violência, delegacias de defesa da mulher, ONGs especializadas na atenção à mulher, conselhos de direitos.
Na internet atualmente existe um grande numero de grupos e redes de apoio a mulher, pesquisas comprovam ser a internet o primeiro lugar onde mulheres da classe A e B, procuram ajuda, já que contam com o anonimato.  Em todas estas instancias, podemos observar o atendimento ou a busca do atendimento interdisciplinar pelo menos como uma interface do trabalho técnico profissional. Vejamos um exemplo: as casas abrigo são lugares que oferecem proteção e moradia provisória dentro de um clima residencial e com atendimento técnico para pequenos grupos de mulheres e seus filhos, sem estarem apartados da vida da comunidade e utilizando recursos sociais básicos, como escolas, centros médicos, áreas de lazer e outros. Estas moradias são projetos sociais em geral sob a responsabilidade do poder público ou com a sua supervisão. Tem na sua coordenação profissionais da área de Serviço social, psicologia ou outros profissionais da área das ciências humanas e sociais. O trabalho de atenção às mulheres, é feito de forma articulada entre profissionais de diversas áreas, destacando-se a interface do trabalho técnico  profissional. ( É obvio que ainda não existem tantas casas de apoio as mulheres com deveriam)
     Intervenções são ações profissionais com o intuito de modificar, alterar uma dada situação social. No Brasil, falamos de intervenção de maneira indistinta – tanto quando nos referimos a abordagem individual como quando nos referimos às práticas com dimensão coletiva ou ao trabalho em rede. Um exame das práticas desenvolvidas pelos assistentes sociais na área de atenção à mulher vítima de violência e desenvolvimento de políticas de atenção, mostra sempre que a gravidade das situações e o alcance coletivo dos problemas, demonstram que as situações enfrentadas uma a uma, não levam a reais conquistas efetivas, daí a necessidade de trabalhar a perspectiva interdisciplinar.

 É necessário que todas as mulheres saibam que é um crime. E é necessário poder receber apoio por parte das autoridades sociais, desde a polícia aos magistrados. ..Gostaria de dizer a todas as mulheres que vivem atualmente uma relação violenta que é possível partir e construir uma vida nova. Eu sei o que isso significa. Culpabilizamo-nos, ele tem o controle de tudo e nós estamos sempre com medo, de dia e de noite. Imagine o que é ter medo da pessoa com quem vivemos, por quem nos apaixonámos, de quem temos filhos. A pessoa mais importante da nossa vida transforma-se numa ameaça. É preciso entender que não é aceitável e partir para construir uma vida nova.
 



publicado por araretamaumamulher às 13:44 | link do post | comentar | favorito

   









  A violência e as suas expressões sociais parecem ter invadido a vida e o cotidiano das pessoas.
Não podemos deixar de pensar nesse problemas, como questão social – expressando antagonismos de classe e colocando em relevo, as condições gerais de existência de parcelas significativas da população.
     Embora o desenho da violência como objeto de estudo seja recente, seu papel é importante na história e nas atividades da humanidade. Especialmente, esse tema vem ganhando corpo no Brasil, pelos acontecimentos ocorridos nos grandes centros, pelo medo social instaurado e pelo questionamento aos valores, inclusive dos estudiosos do assunto. Se antes, falava-se em Direitos Humanos referentes aos responsáveis pela violência, hoje fala-se dos Direitos das Vítimas.
     Frente a esta realidade que a todos inquieta e desafia, é hora de perguntar o que mudou? O quantitativo ou o qualitativo da violência? A violência mesma ou sua representação social? O comportamento delituoso ou as marcas político-ideológicas do sistema? Também é tempo de compreender as determinações sociais da violência, entendendo que a pobreza, em si, não leva nem conduz ao caminho inexorável da criminalidade
     Segundo Hannah Arendt, a violência objetiva a anulação da vontade do outro, mantendo a realização da dominação, faz a “distinção entre a violência vermelha, que leva à morte (relação de força) e a violência branca, que mantém a vida física e marca indelevelmente a vida social e psicológica”
     Historicamente a violência contra a mulher é uma ofensa à dignidade humana e manifestação das relações de poder desiguais, entre homens e mulheres. Constitui uma violência contra os Direitos Humanos e as liberdades fundamentais pois limita total ou parcialmente à mulher, o reconhecimento e o exercício de direitos e liberdades. Baseada no gênero, a violência contra a mulher transcende todos os setores da sociedade, ocorre independentemente de classe, raça ou grupo étnico, nível  de salário, cultura, educação, idade ou religião. Ela se dá nos lares, nos locais de trabalho, nas ruas. É física  e/ou sexual, e/ou psicológica, psicológica e/ou física, ou tudo isto junto!
     Entre os tipos de violência mais comuns, estão aquelas ocorridas dentro do espaço doméstico, as ameaças, o abandono material, o atentado violento ao pudor, o estupro. A violência contra a mulher geralmente ocorre no âmbito do privado, no isolamento do doméstico e das relações mais pessoais, gerando agressões e mascaramento de conflitos. Em muitos casos, situações reprimidas podem até vir à tona em forma de somatizações importantes, gerando doenças misteriosas e dificultando o enfrentamento do problema.
     Mulheres jovens podem tomar consciência de seu próprio problema quando percebem que este pode não ser um problema pessoal, isolado de um contexto social mais amplo, geralmente originado de condições culturais adversas e naturalizado pela prática. Esta percepção pode ajudar as pessoas e a comunidade mais ampla a se mobilizar em torno da questão da violência, sensibilizando instituições, o poder público local e a sociedade de modo geral.
     A violência contra a mulher é um fenômeno generalizado que alcança grande número de mulheres. “ Dados da ONU demonstram que a violência doméstica é a principal causa de lesões em mulheres entre 15 e 44 anos, no mundo.
     A gravidade dos problemas da violência contra a mulher, pode resultar em muitos casos, em índices absurdos de morbidade e mortalidade maternas, altos índices de gravidezes precoces, de gravidez por estupro, de abortos, etc. Isto exige posicionamentos oficiais por parte das instituições públicas, provendo serviços e orientações à grande parcela da população feminina.. Políticas de atenção à mulher podem e devem ser adotadas, contemplando amplos segmentos da população direta ou indiretamente afetados. Afinal, a mulher não é a única vítima numa família onde a violência pode representar uma forma de comunicação. È importante atender nos programas oferecidos, a própria mulher, os familiares, mas também o agressor.
     Relatório do Banco Mundial, como subsídio ao evento da ONU afirma que países que diminuem as desigualdades entre mulheres e homens, têm índices menores de corrupção, e taxas de crescimento mais altas. Importante lembrar que entre os exemplos de políticas de desenvolvimento condicionadas por questões de gênero, estão a garantia de direitos iguais, o desenho de sistemas de saúde, educação, assistência e mais – que levem em conta as condições e os interesses das mulheres.
  Pensar e melhorar a atenção à mulher vítima de violência, poderá contribuir para diminuir desigualdades e melhorar a condição das mulheres.
     A violência doméstica contra a mulher tem pontos importantes: quando a violência é crônica, a mulher não é a única vítima; todos os membros da família sofrem as conseqüências ... a violência tende a se cronificar porque as mulheres se sentem ambivalentes em relação a confrontar seus maridos, devido ao prejuízo sofrido na formação de sua identidade no que diz respeito à socialização do seu papel sexual. Outras razões mais objetivas podem ser: medo do empobrecimento que virá seguramente após o divórcio, perda de status e até sentimento de culpa que as mulheres referem pelos sentimentos de fracasso em relação às suas expectativas de desempenho como mãe e mulher.
    A violência como um problema social é conceito do século XX. É a partir da década de 1960, com o surgimento do movimento de mulheres que o problema passa a ser encarado como patologia social. “ Não apenas por suas preocupações quantitativas mas também pela gravidade de   suas conseqüências “ ( Azevedo, 1985:37 ).
     Atualmente a mulher não precisa mais ser anulada permanecendo dentro de um casamento frustrado/violento, pois existe uma rede de apoio preparada para recebê-la e orientá-la, tais como: casa abrigo de mulheres vítimas de violência, delegacias de defesa da mulher, ONGs especializadas na atenção à mulher, conselhos de direitos.
Na internet atualmente existe um grande numero de grupos e redes de apoio a mulher, pesquisas comprovam ser a internet o primeiro lugar onde mulheres da classe A e B, procuram ajuda, já que contam com o anonimato.  Em todas estas instancias, podemos observar o atendimento ou a busca do atendimento interdisciplinar pelo menos como uma interface do trabalho técnico profissional. Vejamos um exemplo: as casas abrigo são lugares que oferecem proteção e moradia provisória dentro de um clima residencial e com atendimento técnico para pequenos grupos de mulheres e seus filhos, sem estarem apartados da vida da comunidade e utilizando recursos sociais básicos, como escolas, centros médicos, áreas de lazer e outros. Estas moradias são projetos sociais em geral sob a responsabilidade do poder público ou com a sua supervisão. Tem na sua coordenação profissionais da área de Serviço social, psicologia ou outros profissionais da área das ciências humanas e sociais. O trabalho de atenção às mulheres, é feito de forma articulada entre profissionais de diversas áreas, destacando-se a interface do trabalho técnico  profissional. ( É obvio que ainda não existem tantas casas de apoio as mulheres com deveriam)
     Intervenções são ações profissionais com o intuito de modificar, alterar uma dada situação social. No Brasil, falamos de intervenção de maneira indistinta – tanto quando nos referimos a abordagem individual como quando nos referimos às práticas com dimensão coletiva ou ao trabalho em rede. Um exame das práticas desenvolvidas pelos assistentes sociais na área de atenção à mulher vítima de violência e desenvolvimento de políticas de atenção, mostra sempre que a gravidade das situações e o alcance coletivo dos problemas, demonstram que as situações enfrentadas uma a uma, não levam a reais conquistas efetivas, daí a necessidade de trabalhar a perspectiva interdisciplinar.

 É necessário que todas as mulheres saibam que é um crime. E é necessário poder receber apoio por parte das autoridades sociais, desde a polícia aos magistrados. ..Gostaria de dizer a todas as mulheres que vivem atualmente uma relação violenta que é possível partir e construir uma vida nova. Eu sei o que isso significa. Culpabilizamo-nos, ele tem o controle de tudo e nós estamos sempre com medo, de dia e de noite. Imagine o que é ter medo da pessoa com quem vivemos, por quem nos apaixonámos, de quem temos filhos. A pessoa mais importante da nossa vida transforma-se numa ameaça. É preciso entender que não é aceitável e partir para construir uma vida nova.


publicado por araretamaumamulher às 06:30 | link do post | comentar | ver comentários (4) | favorito

Terça-feira, 16.03.10




O IMPORTANTE É NÃO DEIXAR QUE NENHUMA MULHER TENHA DE VIVER SOZINHA O DRAMA DE SER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA.
Mulheres que sente a estranha dor de ser vitima de gente, de uma forma brutal e, mesmo assim, ficam desamparada. O Estado não as conhece. A polícia tem dificuldade em enxergá-las, resta a essas mulheres, silenciosa e invisível, uma dor que não cessa.
Aprendi a entender que no peito essas mulheres carregavam uma dor igualzinha a minha. 
A violência contra a mulher é um tema melindroso de tratar porque se trata de algo que ofende e fere, muitas vezes mortalmente, quem dele é vítima.
E porque ofende, no mais íntimo do seu ser e da sua auto-estima, muito poucas ainda são às vezes em que as vítimas saem num ato de denúncia contra o agressor, dirigindo-se.
às autoridades competentes para que lhe garantam a integridade física, já que a psíquica é um tema ainda mais delicado de aferir e difícil de garantir.
Tratando-se de um problema tão sensível e que, ao contrário do que muitos pensam, é transversal a todos os escalões sociais, pois dos mais pobres aos mais ricos esses comportamentos se registram, torna-se urgente definir políticas de combate a tal atitude.
Se no patamar legislativo elas são importantes, desde logo ao nível da justiça, necessitando-se de uma cada vez maior evolução e formação, também os agentes de segurança e o pessoal hospitalar - que são os primeiros, depois da vítima, a contatar com o problema - devem estar habilitados.
Também não é menos verdade que as autarquias têm um papel de grande importância a desempenhar ao nível do apoio e do acompanhamento. Apoio abrindo portas onde se atendem e em caso limite se acolhem mulheres em desespero, no tal momento e estado limite em que não agüentando mais, se vêem na necessidade de recorrer a terceiros. E depois constituindo serviços de apoio técnico, com assistentes de acompanhamento familiar, psicólogos e juristas. O mais importante é não deixar que nenhuma mulher tenha de viver sozinha o drama de ser vítima de violência.
Só a terminar volto a sublinhar o fato de muitas vezes a violência sobre as mulheres ser exercida não só ao nível físico, em que as marcas são bem visíveis, mas também ao nível psíquico e sexual. Aí tudo se agrava porque há marcas que não sendo negras são bem mais difíceis de ultrapassar.
É urgente caminhar para um estado de alerta em relação a este problema que envolva toda a sociedade e onde o Governo faça a sua obrigação a de se comprometer, a dar segurança e estabilidade aos cidadãos.



publicado por araretamaumamulher às 12:29 | link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
Maio 2010
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
13
14
15

16
17
18
22

23
25
26
27
28
29

30
31


posts recentes

Um profundo silêncio, ouv...

Paz sem voz não é paz. É ...

Que preço estamos pagando...

A violência contra a mulh...

A violência contra a mulh...

Porque a mídia especializ...

Porque a mídia especializ...

A violência contra a mulh...

A violência contra a mulh...

Porque abri uma rede de p...

arquivos

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

tags

a desvalorização da mulher

a morte de um filho

a mulher e acultura da desvalorização

agressão da mulher

agressão psicologica

agressor

amor

anorexia

aprendizado

baixa auto estima

baixa auto estima origem da dor.

baixa auto-estima

beleza

bulimia

circulo vicioso.

como agir em caso de violência

comotratar a violência

comportamento machista

consentimento silencioso.

criança ferida

cristianismo e o preconceito ao feminino

crueldade na familia

culpa

denuncia

depressão

desejo sexual

deus

dia da mulher

direitos humanos

direitos humanos para a mulher vitima.

dor

dor humilhação

educação

educação de filhos

emoções

envelhecer

falta de amor

familia

familia desestruturada.

feminismo

filho

gordura

humilhação

infância

infancia de dor

inveja

lar

lei maria da penha

luto

machismo

mãe

manipulação.

máscara

medo

medos

menopausa

mentira

mídia

mídia especializada

mitos verdades

morte

morte de um filho

morte prematura

mulher

mulheres

mulheres violentadas.

oração

orgulho

patriarcado

perda

perda de um filho

perdão

perversão

preconceito

rede social

relacionamentos

sagrado

silencio

silêncio

sociedade

sociedade machista

solidão

sonhos

suicidio

velhice

verdade

vergonha

violência

violencia

violência aceita

violência contra a mulher

violência da mulher

violencia da mulher

violência doméstica

violência emocional

violencia emocional

violência psicologica

violência sexual

vitima

vitimas de violencia.

todas as tags

blogs SAPO
subscrever feeds