Quinta-feira, 20.05.10
É comum o questionamento acerca das razões que levam uma mulher a permanecer em uma relação violenta. Alguns estudos realizados, dentre eles o do Ministério da Saúde
(BRASIL, 2001), demonstram não haver uma causa única, mas sim múltiplos fatores que corroboram esta situação. É imprescindível, entretanto, a tentativa de identificação dos principais aspectos envolvidos neste processo, no intuito de compreender a dinâmica de uma relação marcada pela violência.
Uma mulher pode permanecer durante anos vivenciando uma relação que lhe traz dor e sofrimento, sem nunca prestar queixa das agressões sofridas, ou mesmo, quando decide fazê-la, em alguns casos, é convencida ou até mesmo coagida a desistir de levar seu intento adiante. No que se refere a este aspecto, constatou-se que as vítimas permaneceram em média de 2 a 5 anos no relacionamento. A violência acaba sendo protegida como um segredo, em que agressor e agredida fazem um pacto de silêncio que o livra da punição. A mulher, então, passa a ser cúmplice das agressões praticadas contra si mesma.
Em face de tal realidade, desenvolvem-se concepções populares de que as mulheres “gostam de apanhar”, ou ainda de que “algo fizeram para merecerem isto”. Esta idéia nega a complexidade do problema e atribui à violência um caráter individual, oriundo de aspectos específicos da personalidade feminina.
Vários são os motivos pelos quais a primeira agressão sofrida, geralmente, não é denunciada: a mulher pode vivenciar um conflito, por não desejar separar se do companheiro ou, mesmo que ele seja preso, apenas pretende que cessem as agressões, procurando socorro, somente quando já está cansada de apanhar e se sente impotente.
Freqüentemente, as mulheres procuram justificar as atitudes do agressor, através de argumentos como o ciúme e a proteção, que acreditam ser demonstrações de amor. Atribuem ainda a fatores externos, como o estresse, decorrente principalmente do trabalho, das dificuldades financeiras e do cansaço. Também o álcool é um motivo alegado pela grande maioria das vítimas, para explicar o comportamento agressivo de seus parceiros. O álcool estimula este tipo de comportamento dos homens, mas age apenas como um catalisador de uma vontade pré-existente, havendo, portanto, uma intenção em ferir a integridade física da mulher.
Quando há o desejo de se separar do marido, esta idéia vem sempre acompanhada por sentimentos de culpa e vergonha pela situação em que vive, por medo, impotência, debilidade, além dos mitos sociais que afirmam o prazer da mulher em apanhar. Todas as mulheres, depois de tomada esta decisão, ainda enfrentavam uma situação de instabilidade ocasionada por ameaças de perder a casa, a guarda dos filhos e a realidade de sobreviver sozinha. Desta maneira, elas só tomam a decisão quando não têm mais alternativas e não suportam a dor. Ainda assim, muitas se mantêm em uma relação de dor para não verem a família destruída. Outro elemento que impede a separação entre vítima e agressor e contribui para o aumento do índice de violência é a falta de apoio social, refletido pelo escasso número de pessoas (parentes, amigos ou vizinhos) ou entidades (igreja, instituições), aos quais a mulher pode confiar o suficiente para relatar as agressões e acreditar que algo será feito para evitar sua incidência. Quando a mulher tem uma boa relação com familiares e amigos, permitindo-se contar-lhes sobre sua vida conjugal, suas casas passam a ser uma possibilidade de refúgio. No entanto, quando isto não é possível, devido à situação de isolamento provocada por seu parceiro, a única possibilidade encontrada é recorrer às casas-abrigo, que funcionam para acolher mulheres em situação de violência, mas que representam, para muitas, enfrentar um futuro desconhecido.
O fator financeiro foi o mais destacado por depender economicamente do companheiro e terem medo de não conseguir sustentar a si mesmas e/ou a seus filhos; outras, por receio de perderem suas residências, como confirma o depoimento seguinte: O que me faz permanecer nesta situação é que a casa é minha. Eu trabalho para sustentar eu, filho e casa. Eu não posso sair da minha casa com minhas filhas e viver de aluguel, ou então viver na rua pra deixar a casa pra ele [...] Agora, deixar minha casa pra ele, eu não vou deixar, porque eu não tenho condições de viver de aluguel. (36 anos, 4ª série, 9 anos de convivência, casada).
O caráter cíclico da violência, caracterizado através de momentos alternados de agressões e afetos, nutre uma esperança nas mulheres de que seu companheiro possa vir a se arrepender de suas atitudes e restabelecer um ambiente familiar harmônico. A gente pensa que vai mudar. Ao passar dos tempos, dos anos, a gente acha que aquele comportamento vai mudar, mas só piora; ele pensa que é nosso dono [...] (28 anos, 2º grau completo, 10 anos de convivência, separada).
As relações entre homem e mulher são marcadas por uma desigualdade de poder que favoreceu o estabelecimento de um modelo de família patriarcal, na qual à mulher cabe a submissão e o não questionamento dos comportamentos masculinos. Esta atitude é também reafirmada pela idéia de sacralidade da família, tida como uma entidade inviolável, devendo ser protegida de qualquer interferência externa. Esta realidade é expressa no cotidiano, por frases do tipo “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”. Nesta tentativa de preservação da imagem familiar, os filhos são tidos freqüentemente como elos de ligação da vítima a seu agressor. As mulheres persistem na relação conjugal por desejarem criar os filhos junto ao pai.
O que me fez permanecer foi meu filho de oito meses. Porque meus pais têm 37 anos de casados e criaram os filhos juntos. (19 anos, 2º grau incompleto, 1 ano e 6 meses de convivência, separada).
As ameaças de morte têm sido outro artifício bastante utilizados pelos homens, como meio de aprisionar suas companheiras. Eles utilizam-se do medo para impedir a desvinculação da mulher a ele, e, sobretudo, o estabelecimento de um novo relacionamento afetivo. O que me fez permanecer nesta situação foi porque gostava dele e tinha medo, pois ele me vigiava. Chegava bêbado e me ameaçava, dizendo que se eu não ficasse com ele também não ficaria com ninguém. (27 anos, 5ª série, 13 anos de convivência, separada).
POSTADO POR UMA MULHER
Quarta-feira, 28.04.10
A conversa de hoje possui uma forte tendência a se tornar polêmica, a partir do título deste artigo. Peço a (o) caro (a) leitor (a) que tenha calma e tente ler até o final.
Em nossa cultura, a violência contra a mulher é aceita; e normas não escritas sugerem que a mulher é a própria culpada da violência por ela sofrida, apenas pelo fato de ser mulher.
A origem, o pecado original, é a idéia falsa de que a mulher deve ser, porque sempre foi um ser inferior, uma subespécie humana, incapaz por natureza, pouco afeita aos fazeres públicos e intelectuais.
Lamentavelmente, este (pré) conceito cultural, construído historicamente, de que a mulher é um ser submisso, paradoxalmente, é assimilado, aceito e reproduzido também pela maioria das pessoas do sexo feminino.
Aliás, ele somente se tornou de difícil superação porque a maioria esmagadora das mulheres não possui condições de compreender esta contradição. Agem como seres submissos.
O outro lado da moeda, o machismo, igualmente é reproduzido - e até fortalecido - pela maioria das mães, tias, vizinhas e professoras; ou seja, aqueles segmentos sociais responsáveis pela educação lato sensu das nossas crianças em seus primeiros anos de vida.
A reprodução do preconceito começa na escolha das roupinhas do bebê, com ele ainda na barriga da mãe: rosa para as meninas e azul para os novos machinhos.
Logo que nascem, seguem as regras para brinquedos e brincadeiras: os meninos jogam futebol, aprendem lutas marciais, ganham carros, armas e roupas de super-heróis para brincar, coisas de machos que se preparam para dar porrada e impor suas vontades numa vida de aventuras, nas ruas. As mocinhas, ao contrário, são orientadas para o recato do lar, e ganham presentes de bonecas, produtos de beleza e cozinha, coisas de quem se prepara para uma vida dentro de casa, seguindo as normas vigentes, e pautadas pela opinião da vizinhança.
Ou seja, a violência exercida pelos homens contra as mulheres, no Brasil como em qualquer parte do mundo, é autorizada, sancionada, pela sociedade patriarcal.
Sociedade reforçada pelas religiões judaico-cristãs, nas quais a figura feminina é sempre uma figura subalterna ou de menor poder, a partir da própria idéia do Pai Salvador (Nossa Senhora não faz, apenas intercede junto ao seu Filho); mesma lógica estende-se a sua hierarquia dominada pelo sexo masculino (o Papa, Cardeais, Pastores, Rabinos, Sacerdotes, todos do sexo masculino). Aqui no patropi, exceção se faça, em respeito à verdade, aos orixás da Umbanda, os quais incorporam divindades dos dois gêneros.
Como livre pensadora, ouso achar que a Lei de Deus deveria permitir que o ser humano estivesse sempre em condições de exercer seu livre arbítrio. Todavia, sou voto vencido.
Lamentavelmente, o espancamento de namoradas, esposas e amantes por seus companheiros é uma questão da vida privada, na qual a sociedade (patriarcal) "não deve intervir".
Diante de casos de violência contra mulheres, é comum que os comentários machistas predominem até mesmo sobre a natural rejeição ao ato de agressão. "Alguma ela fez" ou, na melhor das hipóteses, "melhor não tomar partido". Sem falar nos casos de estupro, quando, freqüentemente, se critica a sensualidade excessiva dos trajes das mulheres, responsabilizando-as e justificando o estuprador. Como propriedade do macho, "a mulher é a culpada".
Essas atitudes preconceituosas são exercidas também por profissionais de saúde e policiais, resultando algumas vezes em tratamento inadequado.
Ainda bem que, como diria Mahatma Gandhi, "Deus não tem religião".
Entendo Deus como um ser cuja única definição é que ele está além do poder do entendimento humano.
Resumo da ópera: a mulher, premida por circunstâncias que ela própria não compreende, na maioria das vezes, retira a queixa-crime contra o seu agressor, perdoa-o, e continua a viver com o mesmo e a conviver com sua dor. E quando essa mulher-mãe tem apenas nove anos de vida? Seria também a culpada?
Como diz o Chico em "Umas e Outras", "o acaso faz com que se cruzem pela mesma rua olhando-se com a mesma dor". Até quando?
POSTADO POR UMA MULHER
Terça-feira, 13.04.10
A idéia da família como uma entidade inviolável, protegida da interferência até da Justiça, faz com que a violência se torne invisível.
A violência é protegida pelo segredo; agressor e agredida fazem um pacto de silêncio, que o livra da punição. Estabelece-se um verdadeiro ciclo, a mulher não se sente vítima, o que faz desaparecer a figura do agressor. Mas o silêncio não gera nenhuma barreira. A falta de um limite faz com que a violência se exacerbe. O homem testa seus limites de dominação. Quando a agressão não gera reação, aumenta a agressividade. O vitimizador, para conseguir dominar, para manter a submissão, exacerba na agressão.
A ferida sara, os ossos quebrados se recuperam, o sangue seca, mas a perda da autoconfiança, a visão pessimista, a depressão, essas são feridas que não curam.
Por isso, é preciso romper o pacto de silêncio, não aceitar sequer um grito, denunciar a primeira agressão. É a única forma de estancar o ciclo da violência da qual a mulher é a grande vítima.
As relações familiares, em sua grande maioria, têm origem em um elo de afetividade. Surgem de um enlaçamento amoroso. A essa realidade evidente por si só cabe questionar, afinal, por que as relações afetivas migram para a violência em números tão chocantes e surpreendentes? O mais intrigante é que nem sempre é por necessidade de sustento ou por não terem condições de prover sozinhas a própria existência que as mulheres se submetem, calam e não denunciam as agressões de que são vítimas.
O desejo do agressor é submeter à mulher à vontade própria, é dominar a vítima, daí a necessidade de controlá-la. Para isso, busca destruir sua auto-estima. As críticas constantes a fazem acreditar que tudo que faz é errado, de nada entende, não sabe se vestir nem se comportar socialmente. É induzida a acreditar que não sabe administrar a casa nem cuidar dos filhos. A alegação de não ter um bom desempenho sexual leva ao afastamento da intimidade e à ameaça de abandono.
O silêncio passa à indiferença e às reclamações, reprimendas, reprovações. Depois vêm os castigos, as punições. Os gritos transformam-se em empurrões, tapas, socos, pontapés, num crescer sem fim. As agressões não se cingem à pessoa da vítima. O varão destrói seus objetos de estimação, a envergonha em público, a humilha diante dos filhos. Sabe que eles são o seu ponto fraco e os usa como massa de manobra, ameaçando maltratá-los.
Para dominar a mulher, procura isolá-la do mundo exterior, afastando-a da família. Proíbe as amizades, denigre a imagem dos amigos. No entanto, socialmente, o agressor é agradável, encantador. Em público se mostra um belo companheiro, a não permitir que alguma referência a atitudes agressivas mereça credibilidade.
Muitas vezes impede a esposa ou companheira de trabalhar, levando-a a se afastar de pessoas junto às quais poderia buscar apoio. Subtrai a possibilidade de ela ter contato com a sanidade e buscar ajuda. O medo da solidão a faz dependente e sua segurança resta abalada. A mulher não resiste e se torna prisioneira da vontade do par, o que gera uma situação propícia a uma verdadeira lavagem cerebral, campo fértil para o surgimento do abuso psicológico.
Assim, facilmente a vítima encontra explicações, justificativas para o comportamento do parceiro. Acredita que é uma fase, que vai passar, que ele anda estressado, trabalhando muito, com pouco dinheiro. Procura agradá-lo, ser mais compreensiva, boa parceira. Para evitar problemas, afasta-se dos amigos, submete-se à vontade do agressor, só usa as roupas que ele gosta, deixa de se maquiar para não desagradá-lo. Está constantemente assustada, pois não sabe quando será a próxima explosão, e tenta não fazer nada errado. Fica insegura e, para não zangar o companheiro, começa a perguntar a ele o que e como fazer, torna-se sua dependente. Anula a si própria, seus desejos, sonhos de realização pessoal, objetivos próprios.
O vitimizador sempre atribui a culpa à mulher, tenta justificar seu descontrole na conduta dela, suas exigências constantes de dinheiro, seu desleixo para com a casa e os filhos. Alega que foi ela quem começou, pois não faz nada certo, não faz o que ele manda. Ela acaba reconhecendo que ele tem razão, que em parte a culpa é sua. Assim o perdoa. Para evitar nova agressão, recua, deixando mais espaço para a agressão.
Nesse momento a mulher vira um alvo fácil. A angústia do fracasso passa a ser seu cotidiano, questiona o que fez de errado, sem se dar conta de que para o agressor não existe nada certo. Não há como satisfazer o que nada mais é do que desejo de dominação, de mando, fruto de um comportamento controlador.
Depois... Vem o arrependimento, pedidos de perdão, choro, flores, promessas. A vítima acredita que ele vai mudar e se sente protegida, amada, querida. As cenas de ciúmes são recebidas como prova de amor, e ela fica lisonjeada.
Tudo fica bom até a próxima cobrança, ameaça grito, tapa...
Forma-se um ciclo em espiral ascendente que não tem mais limite.
O homem não odeia a mulher, ele odeia a si mesmo. Muitas vezes ele foi vítima de abuso ou agressão e tem medo, precisa ter o controle da situação para se sentir seguro. A forma de se compensar é agredir.
A sociedade protege a agressividade masculina, constrói a imagem da superioridade do homem. Afetividade e sensibilidade não são expressões da masculinidade. O homem é retratado pela virilidade. Desde o nascimento, é encorajado a ser forte, não chorar, não levar desaforo para casa, não ser “maricas”. Os homens precisam ser super-homens, não lhes é permitido ser apenas humanos.
Domingo, 04.04.10
As raízes da violência, de natureza social, cultural e psicológica, são numerosas, tais como: os estereótipos sexuais, o desequilíbrio de poder entre mulheres e homens, a socialização e os comportamentos aprendidos, a violência como forma socialmente aprovada de solução de conflitos, os desequilíbrios socioeconômicos, as lacunas na lei e no sistema de justiça penal.
A violência contra as mulheres é uma manifestação do desequilíbrio histórico das relações de poder entre mulheres e homens. A violência faz parte de um processo, não é natural nem resulta de um determinismo biológico: a violência aprende-se. O sistema de domínio masculino tem raízes históricas e a sua função e suas manifestações tem variado ao longo dos tempos.
O estado é o primeiro responsável, no sentido não só de sensibilizar para a não violência, como de prevenir a sua efetivação e punir os infratores. É igualmente o principal instrumento na mudança de práticas legais, administrativas e judiciais que dão possibilidade às mulheres de reivindicar os seus direitos. A negligência do estado em agir pode ser a causa de aumento de violência contra as mulheres; por outro lado, a sua intervenção ativa pode ser o catalisador na reforma das relações de poder na sociedade.
A sexualidade feminina é outra fonte de grande violência contra as mulheres.
Para a controlarem, os homens, que detêm, tradicionalmente, o poder, têm criado todo o tipo de disposições - legais, religiosas, na área da saúde ou pseudo científicas – que retiram às mulheres o direito ao gozo da sua sexualidade, e a tentam controlar, colocando-a ao serviço dos seus interesses, quer individuais quer da sociedade: mulher esposa, mulher mãe ou mulher prostituta.
A existência de ideologias, nomeadamente filosóficas e religiosas, que tentam justificar a posição subordinada das mulheres é outra causa de violência.
O que caracteriza e distingue este fenômeno de outros comportamentos violentos, é o fato de ser perpetrado majoritariamente por homens contra mulheres, homens esses que mantêm muitas vezes uma relação de grande proximidade com a agredida. Com efeito, a maior parte dos atos de violência cometidos contra as mulheres, são praticados no seio da família e quase sempre pelo marido ou companheiro da mulher.
Existem várias formas de violência não física, tantas quantas a imaginação humana consiga inventar para fazer mal a alguém que, em princípio, não se pode defender.
A violência não física aparece com, pelo menos, três objetivos: assustar, isolar e ofender.
- Na primeira forma (assustar) o agressor recorre de: ameaças (de morte, com armas de fogo e armas brancas, de futuras sevícias, de desaparecer com os filhos); de comportamentos violentos, que podem envolver destruição da propriedade doméstica (móveis, portas, louças, alimentos confeccionados) de bens próprios da mulher (roupa, documentos, recordações, livros);
- Na segunda forma (isolar) o agressor atua de forma a dificultar ou impedir a mulher de conviver com amiga (o)s ou familiares, de ter vida social, dentro e fora de casa, de ter emprego, estudar, sair de casa ou, até, de falar ao telefone.
Em alguns casos o agressor prende a mulher em casa durante períodos mais ou menos longos, não permitindo que ela saia ou comunique com o exterior, sob pena de exercer represálias. Com este isolamento, o agressor, esta exercendo a violência, e está igualmente a tentando que o seu comportamento não seja conhecido de terceiros, para não afetar a sua «imagem», ou para poder continuar a maltratar impunemente. Em determinados meios sociais, são freqüentes os maus tratos cessarem quando passam a ser do domínio público.
- Na terceira forma (ofender), que costumo chamar de violência moral, o agressor utiliza insultos e expressões obscenas e ofensivas dirigindo-se à mulher,impondo comportamentos que a ofendem, compara-a, de forma negativa, com outras mulheres (a aparência física, a competência profissional ou como dona de casa, a sexualidade, o trato em sociedade, a cultura geral), relata encontros sexuais (verdadeiros ou inventados) para humilhar e magoar a mulher.
· violência econômica esta designação é relativamente atual, apesar da sua prática ser antiga: o homem não contribui para a economia do lar ou contribui muito deficientemente, e/ou controla todo o dinheiro do agregado, mantendo escondidas e inacessíveis à mulher, as finanças do casal. A mulher tem que se sujeitar a pedir-lhe constantemente dinheiro, não dispondo de qualquer direito sobre os bens.
Em numerosos casos, a imagem pública do indivíduo que maltrata a família aparece como sendo a de um «cidadão exemplar», uma vez que o terror permanente em que os elementos da família vivem o receio de novas agressões e o isolamento a que são sujeitos os impede de denunciar a violência.
• violência sexual esta forma de violência integra elementos de violência física e não física. Para lá de constituir uma violação da integridade física da vítima, constitui igualmente uma violação da sua integridade moral. A violência sexual, incluindo a violação, existe também dentro do casamento, na união de fato e entre namorados.
A violência sexual pode consistir também na exploração sexual da mulher, obrigada a prostitui-se pelo marido, companheiro ou outra pessoa de família, mediante ameaças ou atos de violência física.
As deficiências de uma lei, comprovadamente inadequada, e as dificuldades de prova, são acrescidas quando a violência sexual se verifica na família, por parte do pai, outro familiar, marido ou companheiro, o que faz que este crime fique largamente impune.
As conseqüências negativas para a saúde física e mental das vítimas, são, por vezes, irreversíveis.
A violência contra as mulheres é um crime grave com conseqüências graves. Mais de metade da população feminina portuguesa experimentou a violência. Milhares de crianças vivem aterradas na sua própria casa, testemunhando ou sofrendo violência.
Apesar da existência de leis e planos oficiais para combater a violência contra as mulheres, esta continua a ser uma constante na vida das mulheres.
Muitas mulheres tem que bater a numerosas portas antes de conseguirem alguma ajuda - quando conseguem. A maneira como são encaminhadas ou apoiadas depende muitas vezes do local onde moram e das pessoas que conhecem: se em alguns locais conseguem obter ajuda ou informação, noutros estão totalmente desamparadas. Esta situação é inaceitável, porque, quando decidem pedir ajuda, quase sempre as mulheres já estão desesperadas.
As mulheres vítimas de violência têm direito a proteção rápida e adequada e a um sistema legal que as proteja e apóie.
A violência contra as mulheres tem que ser vista na perspectiva dos direitos humanos, da igualdade para homens e mulheres e da democracia. Nenhum estado se poderá considerar verdadeiramente democrático enquanto permitir, por ações ou omissões, que a violência, atual ou potencial, seja uma constante na vida das mulheres.
A negação da existência da violência doméstica contra as mulheres foi durante muito tempo à maneira de tratar o assunto.
Desde os tempos em que aos maridos era permitido maltratar, violar e mesmo matar as esposas, passando pelas diversas épocas em que a autorização para tais crimes foi sendo progressivamente limitada, até à época atual em que estes atos são punidos nos termos da lei penal, mulheres têm sido maltratadas por maridos e companheiros, em todos os quadrantes da sociedade. E, malgrado a lei, continuam a ser: espancadas, torturadas, permanentemente aleijadas ou mortas. Várias questões se levantam: porque violenta os homens a mulher que escolheram para partilhar a sua vida?
Porque permanecem as mulheres junto do seu carrasco? Porque se calam tantos dos que assistem, recusando-se a intervir contra um crime tão comum?
Este silêncio generalizado e denso que rodeia a violência doméstica faz-se sentir a diversos níveis: do indivíduo, da comunidade e das instituições.
A nível individual torna-se extremamente visível quando a vítima de violência pretende defender-se: não aparece ninguém disposto a ajudá-la, a servir de testemunha: ninguém viu, ninguém ouviu, ninguém fala.
É o silêncio social, de todos, amigos, familiares, vizinhos, que sabem, mas calam e com o seu silêncio consentem.
A outra vertente não é menos grave, e é simultaneamente causa e efeito do silêncio individual: é o silêncio da comunidade e das instituições.
A violência contra as mulheres tem uma história à qual é deliberadamente negada documentação.
Através das consultas a estatísticas, nomeadamente da justiça, fica-se na total ignorância da incidência de maus tratos a cônjuge ou companheira.
As vítimas pouco falam. Logo, é fácil e cômodo deduzir que o assunto não deve ter importância especial - o que está profundamente errado
E porque não falam as mulheres espancadas?
Apesar de algumas mudanças importantes operadas nos últimos anos, as mulheres são ainda frequentemente educadas com a idéia que o casamento é o seu destino natural: cuidar da casa, ter filhos, criá-los, cuidar do marido, ser mãe e esposa modelo são as suas “funções naturais”. E quando esta ficção idílica não acontece à mulher é levada a sentir que falhou que errou.
A violência de que é alvo é muitas vezes vista como culpa dela: algo fez para merecer, não cumpriu como devia. Em vez de ser vítima passa a ser acusada e culpabilizada. E a reação da mulher, como defesa, é calar-se; ela sabe que a sociedade a julgará e condenará não lhe perdoará ter “falhado”.
Para lá do estigma social, da vergonha, existem outros motivos que levam a calar as agressões:
a) O receio do agressor
Os homens são habitualmente mais fortes que as mulheres e não hesitam em brutalizá-las ainda mais para que não apresentem queixa ou para que retirem a que já interpuseram.
b) A dependência econômica
Os homens têm quase sempre maiores possibilidades materiais e sociais, numa sociedade fortemente marcada pela não igualdade de oportunidades. As mulheres ainda têm menos escolaridade ou formação profissional, têm empregos inferiores, ganham menos, além de que assumem muito mais que os homens, as responsabilidades na criação dos filhos. Assim, num confronto violento em que a sua normal reacção seria fugir, as mulheres constatam que não têm para onde ir nem dispõem de recursos que as ajudem a afastar-se e aos filhos pois raramente as mulheres deixam os filhos para trás. E, sem apoios e com leis que não funcionam, são frequentemente obrigadas a regressar para junto do agressor.
c) 0 alheamento dos que a rodeiam
Um dos grandes obstáculos na abordagem do problema da violência doméstica é a sua aceitação tácita, o esconder deste crime por parte dos que o observam.
Há sempre alguém que ativamente ou pela passiva indiferença, tenta correr uma cortina sobre o caso, escondê-lo do público, decidindo “não lavar roupa suja” – para usar uma expressão corrente - como forma de não ter que se envolver.
E se a vítima não consegue suscitar-nos que com ela convive de perto o impulso cívico de ajudá-la servindo de testemunhas, fica sem possibilidade de apresentar queixa, de procurar defesa e proteção legal.
E, nunca é demais repeti-lo, a impunidade do agressor é o melhor argumento que ele tem para continuar a violência.
d) O silêncio da comunidade e das instituições
«Ninguém faz nada». E, na realidade, a forma como o problema da violência doméstica é abordado, mostra tendencialmente não só uma certa indiferença no tratamento deste crime, como uma tentativa de silenciar a sua existência.
Pode dizer-se que, de uma maneira geral, as comunidades ignoram a extensão do problema, com todas as graves conseqüências que ele traz.
Os meios de comunicação social não se interessam ou usam o tema de forma sensacionalista; os serviços públicos que são colocados em contato com o problema. (como é o caso de hospitais, polícias e serviços de assistência social) têm limitados poderes para abordar publicamente o assunto e, por vezes, não fazem uso do pouco que tem.
Os hospitais por onde passam mulheres espancadas, não dispõem de estruturas que permitam a identificação e encaminhamento destes casos;
No que respeita às polícias, o seu âmbito de intervenção está tão limitado que nem sempre é eficaz.
Os tribunais, extremamente morosos, não oferecem a ajuda rápida de que a vítima precisa e quase nunca fazem justiça. As disposições legais nesta área ou são inadequadas, ou são ineficazes ou, simplesmente, não são aplicadas.
Os meios de comunicação social são um elo importante que une as centenas de mulheres que os vêem, escutam ou lêem e que estão demasiado assustadas para procurar ajuda. Pode prestar um tremendo serviço público difundido informação correta, sensibilizando a opinião pública e encorajando as mulheres maltratadas a procurar ajuda, a divulgar o seu problema, a sair do seu isolamento sem sentir vergonha ou culpa.
Perante este esmagador silêncio do indivíduo, da comunidade, das instituições – este total alheamento, este conformismo egoísta, é de espantar que as mulheres se fechem sobre o seu sofrimento?
Que ajuda podem esperar? Que apoios para poderem mudar a sua vida e dos seus filhos?
A falta de alternativas leva-as muitas vezes, em desespero de causa, a auto convencerem- se que o problema não é assim tão mau, que devem é esforçar-se e agüentar - tudo isto servindo apenas para manter uma situação violenta que, sendo,na aparência, consentida pela vítima, passa a ser tolerada pela comunidade e ignorada pelas instituições.
Através deste pequeno roteiro de silêncios, consegue-se perceber que existe uma cadeia de causa efeito entre os diversos elos: as mulheres não tornam pública a violência de que são alvo, porque não existem apoios que as ajudem a sair da situação violenta; as instituições não criam apoios porque o problema, sendo escondido e calado, é desvalorizado e torna-se oficialmente como que não-existente; a comunidade perante uma vítima que não fala e um conjunto de instituições que não age, fecha-se num silêncio, que não direi indiferente, mas meramente egoísta e não cooperativo. E a mulher agredida, que observa toda esta conspiração de silêncio deliberado, sente-se muito justificadamente só, sem ajuda e continua calada.
Esta negação, este silêncio e aceitação do fato não são uma forma de transmitir às crianças a violência como um valor aceitável? Como uma forma aceitável de resolução de conflitos? Elas, não só, vêem este crime passar impune nos seus lares, como tomam o silêncio geral como forma de aprovação e autorização para repetir e perpetuar.
Que preço estamos todos pagando com o nosso silêncio?
E que preço continuaremos a pagar quando os filhos e filhas de agressores e agredidas forem repetir os padrões de vida familiar que lhes foram ensinados, sem alternativas, na infância e juventude?
Segunda-feira, 22.03.10
O conceito de violência doméstica e contra a mulher abrange pequenos atos que não são óbvios, pequenas ações que passam despercebidas se não estivermos atentos.
Todavia é um assunto que merece maior divulgação uma vez que as vítimas não são apoiadas. Uma vítima de agressão sofre a vergonha de ser agredida e a vergonha de ter que pedir ajuda da mesma forma alguém que tente ajudar um agredido não sabe como o fazer devido à falta de informação.
O que encontro sobre este assunto é que o ser humano tende a afastar-se da vítima. Em algumas sociedades a culpa desta barbaridade da violência doméstica está dividida na cabeça das pessoas entre a vítima e o agressor. Noutras um pouco mais evoluídas, mas nem por isso suficientemente evoluída e sensata, consideram a vítima, vítima inevitável para sempre, uma espécie de "pessoa sem sorte" que não sairá nunca de um círculo vicioso, e o estigma acontece rapidamente. Outras ainda, considera a prioridade do bem estar duma mulher vítima e/ou filhos, completamente igual á do criminoso, e a consciência que a vítima toma pela prioridade do seu bem estar e dos filhos uma desigualdade de gênero.
Muita confusão há neste assunto, muita conveniência, muito interesse individualista. A violência doméstica é um assunto de TODOS, porque empobrece literalmente a sociedade e compromete o seu futuro. Cada vítima precisa do apoio de TODOS. A causa precisa de uma luta muito unida e forte para a irradiação.
Deixando de parte a violência e focando-nos apenas na agressividade é incrível o poder que a persuasão tem. A mera consciência de que tal instinto existe permite que haja um maior controle sobre as nossas ações.
A agressividade negativa tem a característica de deixar uma marca, um trauma que não pode ser esquecido e que com o passar do tempo à pessoa nunca esquecerá alguém que tenha lhe causado danos, sejam estes físicos ou psicológicos.
A sociedade atual não está fechando os olhos à violência e é essa a questão.
Infelizmente vemos ambos os prismas. Á base legal vários progressos foram feitos, as leis abrangem novas modalidades de agressão e os meios de combate a essas agressões são mais eficazes e rápidos. No entanto não se incentiva a participação de casos de violência e há pouca informação de como ajudar uma mulher que é agredida.
Muitos dos casos de agressão não são participados, porque a vitima é completamente subjugada pelo agressor, de uma forma tão complexa que ela acredita realmente ser impotente face ao poder superior do outro.
Além das dificuldades em convencer alguém a apresentar queixa à polícia as próprias forças da lei muitas vezes são impotentes porque sem provas não podem formar um caso e se o agressor descobre que foi feita queixa à polícia as conseqüências são devastadoras para o agredido.
Apesar da sociedade esta abrindo os olhos para a violência que a rodeia não consegue proteger-se dela, ainda. As mulheres estão sendo privadas de executar o seu direito básico à felicidade sem medo de serem agredidas.
Até hoje em pleno século XXI continuamos sem certezas absolutas acerca da posição da sociedade face às crescentes necessidades das pessoas. As forças policiais ajudam, mas existem os limites, os amigos ou conhecidos de uma vitima também tentam auxiliar, mas a maior dificuldade é a de ser ouvido sem ter provas concretas. Não é possível legalmente apresentar uma queixa completa e formal sem que o agressor seja informado, sem que se apresentem provas concretas de que foi cometida agressão contra a vítima e muitas vezes as queixas não são completamente apresentadas, por isso talvez as vítimas desistem porque não é um pedaço de papel que vai protegê-las contra os punhos fortes do seu agressor ou contra o poder do seu opressor.
Tao Te Chig disse que “ao conhecer os outros demonstra inteligência, conhecer-se a si próprio é verdadeira sabedoria.”.
Mas alguém que comete atos cruéis contra a felicidade, contra a liberdade de outra pessoa demonstra que não tem a menor sabedoria, porque não consegue compreender que apesar de momentaneamente parecer que tal ato lhe proporciona um enorme prazer com o passar do tempo esse prazer dissipa-se e a culpa permanece.
Wharton defendia que “Se ao menos pudéssemos parar de tentar ser felizes, poderíamos diverti-nos muito mais.”.
Um agressor não entende que se cessar de tentar submeter outra pessoa a humilhação para ter a sua dose de felicidade pode encontrar essa mesma felicidade em diversos outros locais.
Henry Boyle uma vez disse que “A viagem mais importante que fazemos na vida é a de encontrar com os outros o meio-termo.”.
Esperamos que através do nosso trabalho consigamos ver que há violência nos dias atuais é cada vez mais praticada e já não se esconde. Numa sociedade em que muitas liberalidades não são permitidas a violência implícita é vendida publicamente sem que se tomem medidas.
Não podemos nos deixar levar por este tipo de situações que, de dia a dia se tornam mais evidentes e mais vulgarizados. Não podemos ficar calados perante estas situações.
O conceito de violência doméstica e contra a mulher abrange pequenos atos que não são óbvios, pequenas ações que passam despercebidas se não estivermos atentos.
Todavia é um assunto que merece maior divulgação uma vez que as vítimas não são apoiadas. Uma vítima de agressão sofre a vergonha de ser agredida e a vergonha de ter que pedir ajuda da mesma forma alguém que tente ajudar um agredido não sabe como o fazer devido à falta de informação.
O que encontro sobre este assunto é que o ser humano tende a afastar-se da vítima. Em algumas sociedades a culpa desta barbaridade da violência doméstica está dividida na cabeça das pessoas entre a vítima e o agressor. Noutras um pouco mais evoluídas, mas nem por isso suficientemente evoluída e sensata, consideram a vítima, vítima inevitável para sempre, uma espécie de "pessoa sem sorte" que não sairá nunca de um círculo vicioso, e o estigma acontece rapidamente. Outras ainda, considera a prioridade do bem estar duma mulher vítima e/ou filhos, completamente igual á do criminoso, e a consciência que a vítima toma pela prioridade do seu bem estar e dos filhos uma desigualdade de gênero.
Muita confusão há neste assunto, muita conveniência, muito interesse individualista. A violência doméstica é um assunto de TODOS, porque empobrece literalmente a sociedade e compromete o seu futuro. Cada vítima precisa do apoio de TODOS. A causa precisa de uma luta muito unida e forte para a irradiação.
Deixando de parte a violência e focando-nos apenas na agressividade é incrível o poder que a persuasão tem. A mera consciência de que tal instinto existe permite que haja um maior controle sobre as nossas ações.
A agressividade negativa tem a característica de deixar uma marca, um trauma que não pode ser esquecido e que com o passar do tempo à pessoa nunca esquecerá alguém que tenha lhe causado danos, sejam estes físicos ou psicológicos.
A sociedade atual não está fechando os olhos à violência e é essa a questão.
Infelizmente vemos ambos os prismas. Á base legal vários progressos foram feitos, as leis abrangem novas modalidades de agressão e os meios de combate a essas agressões são mais eficazes e rápidos. No entanto não se incentiva a participação de casos de violência e há pouca informação de como ajudar uma mulher que é agredida.
Muitos dos casos de agressão não são participados, porque a vitima é completamente subjugada pelo agressor, de uma forma tão complexa que ela acredita realmente ser impotente face ao poder superior do outro.
Além das dificuldades em convencer alguém a apresentar queixa à polícia as próprias forças da lei muitas vezes são impotentes porque sem provas não podem formar um caso e se o agressor descobre que foi feita queixa à polícia as conseqüências são devastadoras para o agredido.
Apesar da sociedade esta abrindo os olhos para a violência que a rodeia não consegue proteger-se dela, ainda. As mulheres estão sendo privadas de executar o seu direito básico à felicidade sem medo de serem agredidas.
Até hoje em pleno século XXI continuamos sem certezas absolutas acerca da posição da sociedade face às crescentes necessidades das pessoas. As forças policiais ajudam, mas existem os limites, os amigos ou conhecidos de uma vitima também tentam auxiliar, mas a maior dificuldade é a de ser ouvido sem ter provas concretas. Não é possível legalmente apresentar uma queixa completa e formal sem que o agressor seja informado, sem que se apresentem provas concretas de que foi cometida agressão contra a vítima e muitas vezes as queixas não são completamente apresentadas, por isso talvez as vítimas desistem porque não é um pedaço de papel que vai protegê-las contra os punhos fortes do seu agressor ou contra o poder do seu opressor.
Tao Te Chig disse que “ao conhecer os outros demonstra inteligência, conhecer-se a si próprio é verdadeira sabedoria.”.
Mas alguém que comete atos cruéis contra a felicidade, contra a liberdade de outra pessoa demonstra que não tem a menor sabedoria, porque não consegue compreender que apesar de momentaneamente parecer que tal ato lhe proporciona um enorme prazer com o passar do tempo esse prazer dissipa-se e a culpa permanece.
Wharton defendia que “Se ao menos pudéssemos parar de tentar ser felizes, poderíamos diverti-nos muito mais.”.
Um agressor não entende que se cessar de tentar submeter outra pessoa a humilhação para ter a sua dose de felicidade pode encontrar essa mesma felicidade em diversos outros locais.
Henry Boyle uma vez disse que “A viagem mais importante que fazemos na vida é a de encontrar com os outros o meio-termo.”.
Esperamos que através do nosso trabalho consigamos ver que há violência nos dias atuais é cada vez mais praticada e já não se esconde. Numa sociedade em que muitas liberalidades não são permitidas a violência implícita é vendida publicamente sem que se tomem medidas.
Não podemos nos deixar levar por este tipo de situações que, de dia a dia se tornam mais evidentes e mais vulgarizados. Não podemos ficar calados perante estas situações.
Quinta-feira, 18.03.10
Os casos de violência doméstica dizem respeito a todos.
Deixaram de ser assunto privado, passaram a ser considerados crime público, um atentado
aos direitos humanos.
Designa-se por “violência doméstica” todo o tipo de agressões que existem no seio de uma
relação familiar,dentro do lar ou espaço simbólico representado pelo lar (relações de
vínculos consangüíneos, de afetividade, de afinidade ou de amizade). O agressor se vale da
condição privilegiada de uma relação de casamento, convívio, confiança, amizade, namoro,
intimidade, privacidade que tenha ou tenha tido.
Não é necessário que aconteça dentro do âmbito do lar, mas sim que ocorra entre pessoas
que mantém vínculos permanentes de parentesco e amizade.
Diferente da violência cometida por estranhos, pois volta a repetir.
A violência doméstica atinge crianças, mulheres, idosas, deficientes ou doentes. Também
se registam outros casos de violência doméstica, como em casais homossexuais e em
casais heterossexuais em que a vítima é o homem.
No entanto, é nas mulheres que se concentram os esforços de erradicação da violência
doméstica porque é sobre elas que recai a esmagadora maioria dos casos de violência. Ela
vem da escalada dos conflitos que naturalmente ocorrem entre todas as pessoas, mas,
quando mal gerenciados, podem enveredar para ataque, tanto moral como físico.
Nos casos de violência psicológica e moral, a auto-estima da mulher é atingida por
agressões verbais constantes: ameaças, insultos, comparações, humilhações, ironias, ou
então, a mulher é proibida de se expressar, estudar, sair de casa, trabalhar, escolher o que
vestir. Essa forma de violência é, em geral, mais sutil, mas não menos prejudicial, pois
enfraquece a capacidade de reagir ante a agressão.
A violência física é feita por meio de socos, empurrões, beliscões, mordidas, chutes, ou atos
mais graves, como queimaduras, cortes e perfurações feitas com armas brancas ou de
fogo, podendo chegar à morte.
Fases do ciclo de violência doméstica
1 – Fase de “acumulação de tensão”
A irritabilidade do homem vai aumentando sem razão compreensível e aparente para com a
mulher. Intensificam-se as discussões por questões irrelevantes e as agressões verbais.
2 – Fase de “explosão violenta”
O homem descontrola-se e concretiza os atos violentos. Insulta e bate na companheira, atira
e parte objetos, embebeda-se, permanece calado vários dias, agride emocionalmente. O
homem trata de demonstrar a sua total superioridade em relação à mulher.
3 – Fase da “lua-de-mel”
Na verdade não é correto chamar a este período de “lua-de-mel”, já que este bom momento
pode não ser tão idílico: “ele” decide quando começa e quando é que termina. Pode ser o
tempo mais difícil para a mulher, que se sente confusa e desorientada.
Seria mais adequado chamar-lhe período de “manipulação afetiva” porque o agressor se
sente contrariado depois de cometer o abuso.Neste momento de “desdobramento
emocional”, sente remorsos pelas suas atitudes. Pede perdão, chora, promete mudar, ser
amável, bom marido e bom pai. Esta atitude costuma ser convincente porque o agressor se
sente culpado. A vítima tende a acreditar numa mudança.
4 – Fase de “escalada e reinício do ciclo”
Uma vez perdoado pela companheira, começa de novo a fase da irritabilidade, a tensão
aumenta e termina a fase relativamente agradável. Quando ela tenta exercer a autonomia
recém-conquistada, ele sente de novo a perda de controle sobre ela. Tem início uma nova
discórdia e com ela o reiniciar do ciclo da violência.
Algumas questões:
Como se reconhece um agressor?
Se inflige maus tratos físicos ou psicológicos não há dúvidas. Mas pode ser detectado muito
antes de chegar a esta fase. São homens, fundamentalmente possessivos que exercem
muito controle sobre a mulher: se entra, se sai; com quem vai; como veste; quanto dinheiro
gasta; se faz ou recebe chamadas – seja de amigos ou familiares – e que a desvaloriza,
desautoriza ou insulta em público. E inclusivamente antes, na fase de namoro, há sintomas
que podem ser um alerta para a mulher: antecedentes de condutas violentas com outras
mulheres, familiares ou amigos; acessos de cólera repentinos e sem sentido; atitudes de
crueldade (por exemplo com animais); falta de arrependimento ante os seus próprios erros,
uma forma de pensar excessivamente rígida, convencido de que está sempre do lado da
razão…
O que é o síndrome da dependência afetiva?
É um nexo emocional que impede a vítima de se separar do seu agressor. É muito frequente
em mulheres maltratadas que vivem isoladas porque o agressor não as deixa relacionar-se
com ninguém. Ele é todo o seu mundo, é o pai dos seus filhos, ela continua a acreditar que
o ama. Uma espécie de síndrome de Estocolmo que a leva a justificar e perdoar
continuamente as agressões e vexames do seu agressor e lhe paralisa a capacidade de
agir e romper com a relação violenta.
Bate-me mas depois pede-me perdão, jura que me ama e que vai mudar. É possível?
Não. As promessas de mudança são mais uma fase do ciclo da violência. Um homem bate,
maltrata, pede perdão, inclusivamente oferece prendas. Fica calmo um certo tempo, depois
repete os maus tratos e volta a pedir perdão. De cada vez as temporadas tranquilas são
mais curtas. Regra geral, os agressores não mudam os seus comportamentos violentos.
É possível reabilitar um agressor?
É possível, segundo especialistas que trabalham em terapias de reabilitação de
agressores. Mas o êxito da reabilitação requer várias condições: que o agressor se
reconheça como tal, que tome consciência dos efeitos do seu comportamento e mostre
motivação para mudar a sua atitude. Em muitos casos a reabilitação é impossível porque o
agressor perde toda a capacidade de racionalizar os seus comportamentos e de se
responsabilizar por eles, tornando-se num potencial homicida de grande periculosidade,
que persegue a mulher mesmo após muitos anos de separação ou divórcio.
A reabilitação do agressor deve ser acompanhada de um programa paralelo de proteção da
vítima, que por vezes obriga a sua mudança para outra cidade ou país.
Como a violência doméstica afeta as crianças?
‘‘A violência doméstica é uma epidemia que contamina todo o tecido familiar. Estatísticas
mostram que homens que espancam suas parceiras também são violentos com as
crianças dentro de casa’’, explica a psicóloga Maria Luíza Aboim.
Estudo feito entre 2000 e 2001 pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo mostrou que os filhos de 5 a 12 anos criados em
famílias em que a mulher é submetida à violência apresentam mais problemas, como
pesadelos, chupar dedo, urinar na cama, ser tímido ou agressivo. Na cidade de São Paulo,
as mães que declararam violência relataram maior repetência escolar de seus filhos de 5 a
12 anos; e na Zona da Mata de Pernambuco houve maior abandono da escola.
O que se pode fazer para prevenir a violência doméstica?
Mudar os estereótipos e valores vigentes. A violência é uma realidade social e cultural: ao
longo da história – e ainda hoje – o homem foi identificado com a força e a mulher com a
submissão. Mudar os estereótipos atuais supõe uma intervenção de longo prazo, a
começar na educação das crianças e jovens como forma de investimento social na criação
de uma nova mentalidade, de respeito pela igualdade. Essa sensibilização visa esclarecer a
população sobre as diversas manifestações da agressão doméstica. “Culturalmente, ela
está banalizada. Desqualificar, ofender e ameaçar são formas sutis de agredir, mas com
impacto psicológico muito sério para a mulher”, afirma Célia Regina Zapparolli, presidente
da ONG Pró-Mulher Família e Cidadania, criada em 1977 com o objetivo de diminuir o
impacto da violência doméstica e prestar atendimento às famílias.
Ajudando as vítimas
Escutar cuidadosamente a vítima, apoiando e acreditando nela, para que ela possa falar
abertamente.
Ajudar a vítima a procurar apoio especializado, a fim de minimizarem os danos. Em geral,
elas têm medo de buscar ajuda, entretanto, quanto antes os maus tratos forem identificados
e resolvidos, maiores serão as chances de se evitar mais violências e danos.
Não pedir à vítima para ignorar ou esquecer o que aconteceu. Ela não pode simplesmente
perdoar o agressor e deixar que a violência se perpetue. O perdão é necessário, mas o
problema deverá ser enfrentado.
Nunca deixar a vítima pensar que é culpada pelo que aconteceu. A vergonha e a culpa estão
entre os sentimentos mais comuns entre as vítimas de violência doméstica. Elas pensam
que ninguém as pode compreender.
Se houver suspeita de maus tratos, não ignore. No interesse da vítima, investigue e procure
ajuda.
Sugestões para as vítimas
Esteja preparada para a violência e tenha um plano de ação. Por exemplo, corra para um
canto e agache-se, protegendo o rosto e a cabeça, cobrindo-os com os braços e as mãos.
Não corra para onde seus filhos estão, pois eles podem acabar sendo feridos também.
Evite fugir sem os filhos, pois eles podem ser usados como chantagem emocional.
Ensine seus filhos a pedir ajuda e a fugir do local em caso de violência.
Evite locais onde haja armas. Jamais use armas contra o agressor. Ele poderá usá-la para
atacá-la.
Mantenha uma agenda com possíveis contatos para pedido de ajuda, bem como busque
um lugar de fuga em momentos críticos. Deixe documentos e roupas em locais seguros,
para fugas posteriores.
Não esconda o fato de que você é vítima de violência.
Procure ajuda, não se isole. Há pessoas que podem ajudá-la.
Quarta-feira, 17.03.10
A violência e as suas expressões sociais parecem ter invadido a vida e o cotidiano das pessoas.
Não podemos deixar de pensar nesse problemas, como questão social – expressando antagonismos de classe e colocando em relevo, as condições gerais de existência de parcelas significativas da população.
Embora o desenho da violência como objeto de estudo seja recente, seu papel é importante na história e nas atividades da humanidade. Especialmente, esse tema vem ganhando corpo no Brasil, pelos acontecimentos ocorridos nos grandes centros, pelo medo social instaurado e pelo questionamento aos valores, inclusive dos estudiosos do assunto. Se antes, falava-se em Direitos Humanos referentes aos responsáveis pela violência, hoje fala-se dos Direitos das Vítimas.
Frente a esta realidade que a todos inquieta e desafia, é hora de perguntar o que mudou? O quantitativo ou o qualitativo da violência? A violência mesma ou sua representação social? O comportamento delituoso ou as marcas político-ideológicas do sistema? Também é tempo de compreender as determinações sociais da violência, entendendo que a pobreza, em si, não leva nem conduz ao caminho inexorável da criminalidade
Segundo Hannah Arendt, a violência objetiva a anulação da vontade do outro, mantendo a realização da dominação, faz a “distinção entre a violência vermelha, que leva à morte (relação de força) e a violência branca, que mantém a vida física e marca indelevelmente a vida social e psicológica”
Historicamente a violência contra a mulher é uma ofensa à dignidade humana e manifestação das relações de poder desiguais, entre homens e mulheres. Constitui uma violência contra os Direitos Humanos e as liberdades fundamentais pois limita total ou parcialmente à mulher, o reconhecimento e o exercício de direitos e liberdades. Baseada no gênero, a violência contra a mulher transcende todos os setores da sociedade, ocorre independentemente de classe, raça ou grupo étnico, nível de salário, cultura, educação, idade ou religião. Ela se dá nos lares, nos locais de trabalho, nas ruas. É física e/ou sexual, e/ou psicológica, psicológica e/ou física, ou tudo isto junto!
Entre os tipos de violência mais comuns, estão aquelas ocorridas dentro do espaço doméstico, as ameaças, o abandono material, o atentado violento ao pudor, o estupro. A violência contra a mulher geralmente ocorre no âmbito do privado, no isolamento do doméstico e das relações mais pessoais, gerando agressões e mascaramento de conflitos. Em muitos casos, situações reprimidas podem até vir à tona em forma de somatizações importantes, gerando doenças misteriosas e dificultando o enfrentamento do problema.
Mulheres jovens podem tomar consciência de seu próprio problema quando percebem que este pode não ser um problema pessoal, isolado de um contexto social mais amplo, geralmente originado de condições culturais adversas e naturalizado pela prática. Esta percepção pode ajudar as pessoas e a comunidade mais ampla a se mobilizar em torno da questão da violência, sensibilizando instituições, o poder público local e a sociedade de modo geral.
A violência contra a mulher é um fenômeno generalizado que alcança grande número de mulheres. “ Dados da ONU demonstram que a violência doméstica é a principal causa de lesões em mulheres entre 15 e 44 anos, no mundo.
A gravidade dos problemas da violência contra a mulher, pode resultar em muitos casos, em índices absurdos de morbidade e mortalidade maternas, altos índices de gravidezes precoces, de gravidez por estupro, de abortos, etc. Isto exige posicionamentos oficiais por parte das instituições públicas, provendo serviços e orientações à grande parcela da população feminina.. Políticas de atenção à mulher podem e devem ser adotadas, contemplando amplos segmentos da população direta ou indiretamente afetados. Afinal, a mulher não é a única vítima numa família onde a violência pode representar uma forma de comunicação. È importante atender nos programas oferecidos, a própria mulher, os familiares, mas também o agressor.
Relatório do Banco Mundial, como subsídio ao evento da ONU afirma que países que diminuem as desigualdades entre mulheres e homens, têm índices menores de corrupção, e taxas de crescimento mais altas. Importante lembrar que entre os exemplos de políticas de desenvolvimento condicionadas por questões de gênero, estão a garantia de direitos iguais, o desenho de sistemas de saúde, educação, assistência e mais – que levem em conta as condições e os interesses das mulheres.
Pensar e melhorar a atenção à mulher vítima de violência, poderá contribuir para diminuir desigualdades e melhorar a condição das mulheres. A violência doméstica contra a mulher tem pontos importantes: quando a violência é crônica, a mulher não é a única vítima; todos os membros da família sofrem as conseqüências ... a violência tende a se cronificar porque as mulheres se sentem ambivalentes em relação a confrontar seus maridos, devido ao prejuízo sofrido na formação de sua identidade no que diz respeito à socialização do seu papel sexual. Outras razões mais objetivas podem ser: medo do empobrecimento que virá seguramente após o divórcio, perda de status e até sentimento de culpa que as mulheres referem pelos sentimentos de fracasso em relação às suas expectativas de desempenho como mãe e mulher.
A violência como um problema social é conceito do século XX. É a partir da década de 1960, com o surgimento do movimento de mulheres que o problema passa a ser encarado como patologia social. “ Não apenas por suas preocupações quantitativas mas também pela gravidade de suas conseqüências “ ( Azevedo, 1985:37 ).
Atualmente a mulher não precisa mais ser anulada permanecendo dentro de um casamento frustrado/violento, pois existe uma rede de apoio preparada para recebê-la e orientá-la, tais como: casa abrigo de mulheres vítimas de violência, delegacias de defesa da mulher, ONGs especializadas na atenção à mulher, conselhos de direitos.
Na internet atualmente existe um grande numero de grupos e redes de apoio a mulher, pesquisas comprovam ser a internet o primeiro lugar onde mulheres da classe A e B, procuram ajuda, já que contam com o anonimato. Em todas estas instancias, podemos observar o atendimento ou a busca do atendimento interdisciplinar pelo menos como uma interface do trabalho técnico profissional. Vejamos um exemplo: as casas abrigo são lugares que oferecem proteção e moradia provisória dentro de um clima residencial e com atendimento técnico para pequenos grupos de mulheres e seus filhos, sem estarem apartados da vida da comunidade e utilizando recursos sociais básicos, como escolas, centros médicos, áreas de lazer e outros. Estas moradias são projetos sociais em geral sob a responsabilidade do poder público ou com a sua supervisão. Tem na sua coordenação profissionais da área de Serviço social, psicologia ou outros profissionais da área das ciências humanas e sociais. O trabalho de atenção às mulheres, é feito de forma articulada entre profissionais de diversas áreas, destacando-se a interface do trabalho técnico profissional. ( É obvio que ainda não existem tantas casas de apoio as mulheres com deveriam)
Intervenções são ações profissionais com o intuito de modificar, alterar uma dada situação social. No Brasil, falamos de intervenção de maneira indistinta – tanto quando nos referimos a abordagem individual como quando nos referimos às práticas com dimensão coletiva ou ao trabalho em rede. Um exame das práticas desenvolvidas pelos assistentes sociais na área de atenção à mulher vítima de violência e desenvolvimento de políticas de atenção, mostra sempre que a gravidade das situações e o alcance coletivo dos problemas, demonstram que as situações enfrentadas uma a uma, não levam a reais conquistas efetivas, daí a necessidade de trabalhar a perspectiva interdisciplinar.
É necessário que todas as mulheres saibam que é um crime. E é necessário poder receber apoio por parte das autoridades sociais, desde a polícia aos magistrados. ..Gostaria de dizer a todas as mulheres que vivem atualmente uma relação violenta que é possível partir e construir uma vida nova. Eu sei o que isso significa. Culpabilizamo-nos, ele tem o controle de tudo e nós estamos sempre com medo, de dia e de noite. Imagine o que é ter medo da pessoa com quem vivemos, por quem nos apaixonámos, de quem temos filhos. A pessoa mais importante da nossa vida transforma-se numa ameaça. É preciso entender que não é aceitável e partir para construir uma vida nova.
A violência e as suas expressões sociais parecem ter invadido a vida e o cotidiano das pessoas.
Não podemos deixar de pensar nesse problemas, como questão social – expressando antagonismos de classe e colocando em relevo, as condições gerais de existência de parcelas significativas da população.
Embora o desenho da violência como objeto de estudo seja recente, seu papel é importante na história e nas atividades da humanidade. Especialmente, esse tema vem ganhando corpo no Brasil, pelos acontecimentos ocorridos nos grandes centros, pelo medo social instaurado e pelo questionamento aos valores, inclusive dos estudiosos do assunto. Se antes, falava-se em Direitos Humanos referentes aos responsáveis pela violência, hoje fala-se dos Direitos das Vítimas.
Frente a esta realidade que a todos inquieta e desafia, é hora de perguntar o que mudou? O quantitativo ou o qualitativo da violência? A violência mesma ou sua representação social? O comportamento delituoso ou as marcas político-ideológicas do sistema? Também é tempo de compreender as determinações sociais da violência, entendendo que a pobreza, em si, não leva nem conduz ao caminho inexorável da criminalidade
Segundo Hannah Arendt, a violência objetiva a anulação da vontade do outro, mantendo a realização da dominação, faz a “distinção entre a violência vermelha, que leva à morte (relação de força) e a violência branca, que mantém a vida física e marca indelevelmente a vida social e psicológica”
Historicamente a violência contra a mulher é uma ofensa à dignidade humana e manifestação das relações de poder desiguais, entre homens e mulheres. Constitui uma violência contra os Direitos Humanos e as liberdades fundamentais pois limita total ou parcialmente à mulher, o reconhecimento e o exercício de direitos e liberdades. Baseada no gênero, a violência contra a mulher transcende todos os setores da sociedade, ocorre independentemente de classe, raça ou grupo étnico, nível de salário, cultura, educação, idade ou religião. Ela se dá nos lares, nos locais de trabalho, nas ruas. É física e/ou sexual, e/ou psicológica, psicológica e/ou física, ou tudo isto junto!
Entre os tipos de violência mais comuns, estão aquelas ocorridas dentro do espaço doméstico, as ameaças, o abandono material, o atentado violento ao pudor, o estupro. A violência contra a mulher geralmente ocorre no âmbito do privado, no isolamento do doméstico e das relações mais pessoais, gerando agressões e mascaramento de conflitos. Em muitos casos, situações reprimidas podem até vir à tona em forma de somatizações importantes, gerando doenças misteriosas e dificultando o enfrentamento do problema.
Mulheres jovens podem tomar consciência de seu próprio problema quando percebem que este pode não ser um problema pessoal, isolado de um contexto social mais amplo, geralmente originado de condições culturais adversas e naturalizado pela prática. Esta percepção pode ajudar as pessoas e a comunidade mais ampla a se mobilizar em torno da questão da violência, sensibilizando instituições, o poder público local e a sociedade de modo geral.
A violência contra a mulher é um fenômeno generalizado que alcança grande número de mulheres. “ Dados da ONU demonstram que a violência doméstica é a principal causa de lesões em mulheres entre 15 e 44 anos, no mundo.
A gravidade dos problemas da violência contra a mulher, pode resultar em muitos casos, em índices absurdos de morbidade e mortalidade maternas, altos índices de gravidezes precoces, de gravidez por estupro, de abortos, etc. Isto exige posicionamentos oficiais por parte das instituições públicas, provendo serviços e orientações à grande parcela da população feminina.. Políticas de atenção à mulher podem e devem ser adotadas, contemplando amplos segmentos da população direta ou indiretamente afetados. Afinal, a mulher não é a única vítima numa família onde a violência pode representar uma forma de comunicação. È importante atender nos programas oferecidos, a própria mulher, os familiares, mas também o agressor.
Relatório do Banco Mundial, como subsídio ao evento da ONU afirma que países que diminuem as desigualdades entre mulheres e homens, têm índices menores de corrupção, e taxas de crescimento mais altas. Importante lembrar que entre os exemplos de políticas de desenvolvimento condicionadas por questões de gênero, estão a garantia de direitos iguais, o desenho de sistemas de saúde, educação, assistência e mais – que levem em conta as condições e os interesses das mulheres.
Pensar e melhorar a atenção à mulher vítima de violência, poderá contribuir para diminuir desigualdades e melhorar a condição das mulheres. A violência doméstica contra a mulher tem pontos importantes: quando a violência é crônica, a mulher não é a única vítima; todos os membros da família sofrem as conseqüências ... a violência tende a se cronificar porque as mulheres se sentem ambivalentes em relação a confrontar seus maridos, devido ao prejuízo sofrido na formação de sua identidade no que diz respeito à socialização do seu papel sexual. Outras razões mais objetivas podem ser: medo do empobrecimento que virá seguramente após o divórcio, perda de status e até sentimento de culpa que as mulheres referem pelos sentimentos de fracasso em relação às suas expectativas de desempenho como mãe e mulher.
A violência como um problema social é conceito do século XX. É a partir da década de 1960, com o surgimento do movimento de mulheres que o problema passa a ser encarado como patologia social. “ Não apenas por suas preocupações quantitativas mas também pela gravidade de suas conseqüências “ ( Azevedo, 1985:37 ).
Atualmente a mulher não precisa mais ser anulada permanecendo dentro de um casamento frustrado/violento, pois existe uma rede de apoio preparada para recebê-la e orientá-la, tais como: casa abrigo de mulheres vítimas de violência, delegacias de defesa da mulher, ONGs especializadas na atenção à mulher, conselhos de direitos.
Na internet atualmente existe um grande numero de grupos e redes de apoio a mulher, pesquisas comprovam ser a internet o primeiro lugar onde mulheres da classe A e B, procuram ajuda, já que contam com o anonimato. Em todas estas instancias, podemos observar o atendimento ou a busca do atendimento interdisciplinar pelo menos como uma interface do trabalho técnico profissional. Vejamos um exemplo: as casas abrigo são lugares que oferecem proteção e moradia provisória dentro de um clima residencial e com atendimento técnico para pequenos grupos de mulheres e seus filhos, sem estarem apartados da vida da comunidade e utilizando recursos sociais básicos, como escolas, centros médicos, áreas de lazer e outros. Estas moradias são projetos sociais em geral sob a responsabilidade do poder público ou com a sua supervisão. Tem na sua coordenação profissionais da área de Serviço social, psicologia ou outros profissionais da área das ciências humanas e sociais. O trabalho de atenção às mulheres, é feito de forma articulada entre profissionais de diversas áreas, destacando-se a interface do trabalho técnico profissional. ( É obvio que ainda não existem tantas casas de apoio as mulheres com deveriam)
Intervenções são ações profissionais com o intuito de modificar, alterar uma dada situação social. No Brasil, falamos de intervenção de maneira indistinta – tanto quando nos referimos a abordagem individual como quando nos referimos às práticas com dimensão coletiva ou ao trabalho em rede. Um exame das práticas desenvolvidas pelos assistentes sociais na área de atenção à mulher vítima de violência e desenvolvimento de políticas de atenção, mostra sempre que a gravidade das situações e o alcance coletivo dos problemas, demonstram que as situações enfrentadas uma a uma, não levam a reais conquistas efetivas, daí a necessidade de trabalhar a perspectiva interdisciplinar.
É necessário que todas as mulheres saibam que é um crime. E é necessário poder receber apoio por parte das autoridades sociais, desde a polícia aos magistrados. ..Gostaria de dizer a todas as mulheres que vivem atualmente uma relação violenta que é possível partir e construir uma vida nova. Eu sei o que isso significa. Culpabilizamo-nos, ele tem o controle de tudo e nós estamos sempre com medo, de dia e de noite. Imagine o que é ter medo da pessoa com quem vivemos, por quem nos apaixonámos, de quem temos filhos. A pessoa mais importante da nossa vida transforma-se numa ameaça. É preciso entender que não é aceitável e partir para construir uma vida nova.
Quinta-feira, 28.01.10
A organização da sociedade tem como principio a diferença biológica dos sexos que são interpretadas culturalmente, como já foi mencionado. Essa definição social dos órgãos sexuais é produto de uma construção efetuada à custa de uma série de escolhas através da acentuação de certas diferenças, ou do obscurecimento de certas semelhanças, já que a diferença sexual é comprovada visivelmente, concretizando a definição estabelecida socialmente entre sexo forte e sexo frágil.
A relação de gênero tem sido marcada por uma relação de dominação onde a mulher assume um papel de submissão ao homem. A dominação masculina tem suas origens num comportamento histórico de forças materiais e simbólicas que atuam tanto na unidade doméstica como também em unidades maiores como o Estado, a escola, a igreja e outras instituições que orientam a conduta dos indivíduos na sociedade. O homem desde criança aprende a representar a imagem de virilidade que é passada tanto pelo pai (dominador) quanto pela mãe (dominada), possibilitando que ambos reproduzam a relação de dominação.
O poder simbólico da dominação está presente também na imagem do corpo desejado. A mulher tende a se transformar buscando o padrão que é estabelecido pelo outro. A mulher, , é levada a se instituir na posição de ser-percebido, condenado a se ver através das categorias masculinas dominantes.
Contrapondo-se a dominação masculina, o movimento feminista, além de reivindicatório, também procurou estudar a relação de poder vinculada ao gênero como forma de mudar essa concepção. As pesquisas em geral consideram mais o estudo sobre a mulher e menos as relações sociais entre os sexos.
De modo geral, os estudos de gênero têm contribuído para mostrar e denunciar as injustiças sociais que muitas mulheres enfrentam no seu dia a dia. Recentes dados estatísticos divulgados pela Organização dos Direitos Humanos sobre a violência de gênero mostraram que a cada seis mulheres no mundo uma já sofreu algum tipo de violência. Estes dados alarmantes contribuíram para a realização da campanha internacional: "Está em Suas Mãos: Pare a Violência Contra as Mulheres" organizada pela Anistia Internacional com o intuito de modificar as atitudes que levam mulheres a se manterem em relações de violência. Estas fontes de interesse cientifico surgem com a intenção de questionar a imagem que a sociedade construiu ao longo dos anos sobre a mulher e sua atuação.
As pesquisas indicam que a mulher é alvo de todo tipo de violência, seja física, simbólica ou sexual que geralmente parte de parentes próximos da vítima. Quando a mulher agredida internaliza o medo através de um processo educativo repressor, inibe todo tipo de iniciativa, até mesmo a iniciativa de denunciar o agressor e buscar alternativas de mudança para a sua própria vida, sendo aprisionada em seu próprio medo.
A ruptura com o agressor leva tempo e um intenso trabalho de regaste dos valores das mulheres que foram agredidas. A conquista de independência econômica e psicológica é o passo principal para autonomia dessas mulheres.
A rede social pessoal na sociedade capitalista e industrial tem como base à família nuclear onde geralmente ocorrem as primeiras relações sociais. Conforme vão aparecendo novos vínculos com quem interagimos de maneira regular, a rede social pessoal aumenta proporcionando uma certa estrutura para o indivíduo. A rede social pessoal pode ser definida como a soma de todas as relações que um indivíduo percebe como significativas ou define como diferenciadas da massa anônima da sociedade. Na dimensão desses quadrantes apresentam-se três áreas. Estas áreas são classificadas por um círculo interno que corresponde às relações íntimas geralmente sendo familiares com contato cotidiano e amigos próximos; um círculo intermediário que são as relações pessoais com menor grau de compromisso tais como familiares intermediários, relações sociais ou profissionais com contato pessoal, porém sem intimidade; e por último um círculo externo de conhecimentos e relações ocasionais como por exemplo conhecidos do trabalho ou escola, bons vizinhos, familiares distantes, ou freqüentadores de uma mesma comunidade.
Conforme, a avaliação da rede pode ser realizada com base nas características estruturais: tamanho, composição, dispersão e densidade.Funcionais: companhia social, apoio emocional, guia cognitivo e ajuda material. Atributos do vínculo: função predominante, versatilidade, freqüência dos contatos e a história dos relacionamentos.
A rede de narrativas é o campo de histórias comuns a uma família ou a uma rede social mais ampla onde "o foco da atenção já não é o indivíduo, ou a família, ou a rede como tal, mas as histórias encaixadas no espaço virtual da conversação entre pessoas, ou seja, a narrativa" Sluzki (1997: 131). Considera que para o indivíduo se sentir parte de uma família não são levadas em conta apenas os aspectos biológicos, mas também o compartilhamento de histórias, descrições, valores e os relatos que fazem referencia aos aspectos particulares de uma determinada rede familiar.
A narrativa apresenta três elementos: os atores que são os personagens da narrativa, os roteiros, que são conversas e ações, e por último os contextos, que são cenários onde transcorrem as ações, as histórias. Estes elementos são ligados entre si e podem variar de acordo com as disposições de cada um deles.