O orgulho, o mais terrível sentimento negativo, baseia-se numa falsa avaliação que a criatura faz do seu sentimento de auto-estima. Ele é a porta de entrada para um grande número de sentimentos negativos, tais como a luxúria, a ira, a preguiça, a inveja, a cobiça e a gula, que, no seu conjunto, são conhecidos como "os sete pecados capitais", mas que preferimos chamar de "os sete vícios morais fundamentais" da criatura humana.
Isso decorre das reações impróprias que opomos a tais sentimentos quando nos sentimos ofendidos. Por exemplo, quando sofremos uma traição, ferindo a nossa auto-imagem e o amor-próprio, ativamos a nossa ira e revidamos, também traindo. Estamos sempre querendo pagar com a mesma moeda as ofensas que recebemos e nisso está o problema. Se, por uma razão qualquer, não conseguirmos pagar com a mesma moeda, procuramos outros artifícios de revide, como no mesmo exemplo, podemos assimilar a ira em outro sentimento também negativo como a mágoa. Mágoa e ira, terríveis sentimentos, caminham sempre juntos.
Então, a criatura procura alimentar a sua auto-imagem. É isto que dá sustentação aos demais sentimentos, baseando-se a criatura em falsos conceitos, totalmente equivocados a respeito de si mesma. Quando falamos em auto-imagem estamos nos referindo a uma pessoa que possua caráter impoluto, que seja gentil e respeitadora e que pratique suas boas ações, sempre cheia de boas intenções. É óbvio que muitas criaturas não procedem dessa forma com naturalidade e procuram esconder de si mesma o que realmente são. Por isso, dizemos que, para evitar o agravamento de certos problemas, devemos fazer uma auto-análise para descobrirmos o que realmente somos.
Os psicólogos costumam tratar o amor-próprio de forma um pouco diferenciada da auto-estima. Trata-se de uma afetação emocional causada por um sentimento ferido, que está enraizado em nível emocional. O amor próprio ferido normalmente é a causa principal de muitas atitudes inferiores. Podemos, portanto, conceituar o amor-próprio como sendo uma forma de apego que a criatura tem para consigo mesma. O amor-próprio diferencia-se do amor universal, que decorre daqueles que amam a todos os seres sem qualquer discriminação e sem se apegarem a nada. Do amor próprio ferido decorrem muitos outros sentimentos negativos, tais como a impaciência, o derrotismo, a frustração e até a vingança.
Toda criatura orgulhosa é, quase sempre, também arrogante. A arrogância caracteriza-se por uma maneira prepotente de ser e atuar, sendo uma atitude em que o ser se apresenta diante das demais pessoas com o objetivo de diminuí-las perante si mesmas. Daí, o arrogante tratar com indiferença os seus semelhantes, de uma maneira bem diferente de uma pessoa altruísta.
A criatura orgulhosa julga-se perfeita, auto-suficiente, infalível, sendo, pois, um sentimento enraizado em nível mental. Tais criaturas consideram-se capazes de fazer qualquer coisa, geralmente para ofender e humilhar seus semelhantes, dando-se muito valor às suas atitudes, com o que podem chegar à beira da obsessão.
Os orgulhosos gostam muito de chamar a atenção sobre si mesmos, isto é, procuram demonstrar e acentuar um mérito próprio que não têm, sempre que fazem algo um pouco fora do comum. Em outras palavras, tais criaturas acham-se sempre merecedoras de algo, bem além da realidade. Este viés está aliado à auto-importância e a auto-suficiência que os orgulhosos dão a si mesmos. São pessoas que se julgam boas em tudo que fazem e vivem momentos de glória que efetivamente não possuem. Pelo fato de valorizarem-se mais do que merecem, o mérito que o orgulhoso procura atribuir-se está aliado à auto-importância. São idéias, criações e conceitos equivocados que o orgulhoso tem de si mesmo, não passando de falsa avaliação mental.
Daí decorre que o orgulhoso tem um egoísmo muito acentuado e, por ser muito apegado a si mesmo, nada dá de si. Verifica-se, portanto, que o egoísmo e a vaidade que o orgulhoso carrega estão aliados à autoconsideração e ao ressentimento, sendo enraizado em nível emocional. Assim, o egocentrismo é a única atitude que lhe interessa, não tendo qualquer consideração para com as demais pessoas. Tais criaturas têm um ego exacerbado. Para o orgulhoso tudo deve girar ao seu redor e, fazendo-se o centro de tudo, gostam de chamar a atenção dos outros para si.
O mais grave, porém, a realçar no orgulhoso é a prepotência, já que o prepotente é aquele que impõe sua vontade sobre os seus semelhantes, sendo sempre autoritário. Assim é o ego do orgulhoso; se não consegue fazer valer suas idéias pela força física, mentalmente o faz por meio de cenas imaginárias. Dá mais valor à pompa e às aparências. Por exemplo, acredita que um diploma conseguido sem grande esforço vale mais que a experiência daquele que o conseguiu estudando e batalhando muito.
Numerosas são as atitudes dos orgulhosos, sendo fáceis de ser identificadas na vida prática de todos os dias, revelando até mesmo aos olhares menos sensíveis, sua identificação com os sentimentos do orgulho e da vaidade. Destacamos a sua forma exagerada de considerar-se a si mesmo frente aos seus semelhantes.
Dessa forma, sentem-se sempre melhores e mais importantes que os outros (complexo de superioridade); sentem-se sempre merecedores de algo mais do que valem; identificam-se pelas qualidades que pretendem demonstrar sem as ter; autovalorizam-se em demasia; gostam de exibir seus bens materiais e exagerar-se nas aparências e no modo de vestir, mostrando-se vaidosos; supervalorizam os seus serviços profissionais; olham com indiferença os seus semelhantes, principalmente pobres e mendigos, quase nunca os ajudando; nunca agem de forma altruísta, por lhes ser contrário ao seu modo de agir este nobre sentimento.
O orgulhoso utiliza-se principalmente dos sentimentos e emoções mais fracas ou negativas do ser, já que a criatura orgulhosa sempre acha que vale mais que o seu semelhante, tendo uma visão bem materializada da vida. Fazem de tudo que podem, quase sempre usando expedientes moralmente condenáveis, para fazerem triunfar a sua prepotência, empáfia, vaidade e orgulho.
Um desejo desordenado de glória e superioridade
Quem já não – ao ser tomado pelo ímpeto e na certeza de estar fazendo a coisa certa – feriu aquela pessoa com quem se convive? Seja numa resposta “atravessada” ou numa atitude grosseira contribuímos de alguma forma com a divisão ou o isolamento das amizades. Passado algum tempo, já com a “cabeça fria”, percebemos que procedemos de maneira equivocada – ferindo pessoas ou até mesmo nos ferindo.
Refletir sobre o nosso ato nos ajuda a perceber o momento em que agimos precipitadamente; e dessa reflexão vem o remorso, o qual nos prepara para o pedido de desculpas. Reconhecer que fomos precipitados nos argumentos, significa, muitas vezes, humilhar-se e se fazer pequeno, reconhecer que errou. Perdoar ou liberar perdão não é ter “amnésia” sobre o ocorrido, mas sim, disponibilizar-se a restabelecer o relacionamento abalado.
Do remorso ao perdão há uma pequena distância, mas o espaço é grande o bastante para residir o orgulho. Sentimento este que nos tentará convencer de que o ato de se desculpar ou reconhecer seu erro é atitude dos fracos.
Por outro lado, infelizmente, há pessoas que não aceitam as nossas desculpas. Preferem romper com os laços afetivos em vez de crescer e amadurecer por meio dos exercícios apresentados pela vida. Insistem em manter a irredutibilidade e a prepotência, que pensam possuir, em vez de dar o passo que romperá com as cadeias que as prendem. Talvez querendo cumprir a lei do “olho por olho, dente por dente”, esperam por um momento de revanche. Enquanto isso, desperdiçam tempo e amargam seus dias, remoendo o que já está resolvido para aquele que se dispôs a se desculpar. A vida é muito curta para se gastar o precioso tempo com comportamentos que não trazem a sustentabilidade de nossas convivências. Pedir ou conceder perdão não nos exige mais do que podemos agüentar. Sabemos de pessoas que gastam muito tempo buscando motivos para justificar suas infelizes atitudes, fazendo-se de injustiçadas, em vez de adotar gestos de humildade e agir de maneira diferente. Na verdade, elas são vítimas do orgulho, que mata pessoas e sentimentos! Mais importante – do que lembrar que não devemos desculpar – seria fazer uso da faculdade de reflexão e reconhecer que ninguém está acima dos lapsos e erros. Pois aquele, que errou hoje, poderá ser você amanhã…
Não percamos tempo monopolizando picuinhas, ressentimentos ou retendo perdão. Se uma situação especial o faz refletir – levando-o ao ato da reconciliação –, peça ou dê o perdão e continue a viver com a experiência adquirida.
Situações mal resolvidas afetam outras áreas de nossa vida. Talvez por isso existam ainda alguns problemas não “equacionados” em nossas vidas pois, esses, são reflexos dos fragmentos dos “elos” que deixamos se perder ao longo do caminho.