Segunda-feira, 10.05.10
Eu tenho uma dor dentro de mim que não consigo me livrar. É como se uma parte minha estivesse sendo dilacerada. Presa dentro desta esfera conflitante, temo que serei dilacerada por minha dor. Partes do meu corpo, especialmente meu estômago e ventre, detém meu filho. É como se eu estivesse sofrendo um ataque contra o qual só posso lutar conflitantemente; como a morte do meu mundo; como a destruição do meu passado, presente e futuro. Tentei viver o presente como se você ainda estivesse vivo, mas fui derrotada. Depois tentei viver como se sua morte não tivesse alterado de maneira irremediável a minha vida, mas também fui derrotada nesse esforço. Então agora sei que estou sendo atacada pelo meu luto e pela morte...Sou forçada a viver num mundo que não inclui a sua presença viva, nem a possibilidade dessa presença posso ter. Posso escolher entre lamentar ou não esse fato, mas não tenho escolhas quanto a viver nesse mundo sem você. Sua morte para mim, não foi somente a morte do seu corpo, ou de um ser particular, não foi muito mais, foi a morte do meu mundo constituído. O meu mundo temporal vivido dia a dia, mês a mês... As coisas triviais que você gostava, que fazia, mesmo nossas brigas e discussões, que antes eram possibilidades, agora representam as impossibilidades. Ainda não consigo olhar para um doce de leite, suspiro, fazer chá matte, fazer massagens, e tantas outras coisas porque sei que você nunca mais vai esta aqui para apreciar. Eu sinto sua falta terrivelmente... No inicio estava abrigada pelo estado de choque, atordoada com a enormidade da minha perda, incrédula de que isso realmente tivesse acontecido comigo. Nunca mais você irá participar criativamente, surpreendentemente, ou mesmo previsivelmente de um diálogo comigo. Minha angústia em confrontar rejeitar, provisoriamente aceitar o significado desta finalidade estrutura meu luto. Incorporei a sua morte como um vazio que não posso preencher. A sua inexistência é meu vazio. Você sabe, nós brincávamos o tempo todo e isto tudo simplesmente se foi. Agora, qual é o meu sentimento? O que eu sinto? É somente um vazio... Você se foi... Assim. Eu penso às vezes também, se você tivesse ficado doente, ou se nós o tivéssemos visto, você sabe, sabendo que nunca ia melhorar, eu não sei se isso teria feito alguma diferença. Eu tenho sentido frio à noite. POSTADO POR UMA MULHER

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publicado por araretamaumamulher às 13:49 | link do post | comentar | favorito

Quinta-feira, 29.04.10
O que se passou com o Vi? Porque ele não conseguiu acreditar em outra saída senão a de ir para o caminho que ele estava trilhando? Eu sabia de sua agressividade, muitas vezes de uma freqüência assustadora, passando a ocupar territórios essenciais na idade ainda em transição e que se apresentavam em seus abalos e turbulências muitas vezes incontornáveis. Dos seus adoecimentos, sentidos e sofridos. Havia em você meu filho uma impulsividade que é própria do adolescente. Mas os conflitos estavam, presentes, e produziu seus efeitos desastrosos e devastadores, que irrompem de uma maneira traumática, irrisória, drástica, assustadora e, até mesmo, insana. Foi um movimento por demais agressivo, inconsciente, mas que apresentou força suficiente capaz de promover danos irreparáveis. A sua violência era desencontrada, contra você mesmo. Perdi as contas de quantas vezes eu fiquei a noite pensando nessa sua raiva interna, nessa violência que você trazia dentro de você. Filho você se comia em vida, roia suas unhas, comia suas sobrancelhas. Era uma violência surda, que acredito que você mesmo tinha medo do poderia acontecer. Hoje eu acredito que você estava sofrendo os embaraços da dor herdada, da violência que você presenciou durante toda a sua infância, não só presenciou como também foi vitima. Por alguma razão, você não conseguiu reverter o rumo da história recebida, daí, sofreu os efeitos devastadores dos ideais contrariados de seus ancestrais. Por alguma fragilidade psíquica você não conseguiu se dar a chance de assumir e se apropriar de sua própria história retificando a má sorte que uma equação de vida lhe impôs como algo tão maldito. Não há culpados na história. De algum modo tenho que me tornar responsável pela história que você recebeu. Foi o peso desta história recebida que te levou a não suportar viver? Uma história que se estrutura pelo viés dos efeitos de inconsciente – de uma boa ou má sorte – que ela mesma instaura. A herança simbólica que cada um de nós recebe, até mesmo antes do nascimento, com a interrupção de uma vida, cessará de ser transmitida para filhos e netos, restando, nesse vazio, nada mais que um ponto de sacrifício habitado por interrogações silenciadas. Herdamos uma vida por onde florescem todos os pecados do mundo, vale dizer, do pai, da mãe, dos nossos antepassados. Votos de vida e votos de morte. Cada um de nós terá que aprender a lidar com a sua história de uma maneira particular, a partir de um estilo de vida. Mas temos oportunidades e meios para mudar os rumos de uma má sorte. Eu desejava que você vivesse cada vez mais. Queria ter podido te dar uma boa infância, e que você pudesse ter tido a chance de participar das brincadeiras com outras crianças. que crescesse e se tornasse independente que estudasse e cursasse uma universidade, que encontrasse um caminho vitorioso na vida amorosa e profissional. Queria mais ainda, deseja, verdadeiramente, que você estivesse presente quando eu morresse que você enfrentasse e superasse as dificuldades. Mas tenho que admitir o medo, a covardia, e a mascara da vitima coitadinha, não me deixaram tomar uma atitude que pudesse ter proporcionado a você e a seus irmãos, tudo isso que qualquer criança tem como direito nato. Eu os privei de uma vida normal, os privei quando não tive atitude para mudar o rumo de nossas vidas. Eu não te perdi, eu perdi, perdi tudo. O buraco que ficou é um rombo. Você carregou algo de cada um de nós, que, por sua vez, algo de você está em mim, em sua irmã e no seu irmão, para sempre. Também nas vizinhanças, há ressonâncias dos estilhaços de perdas que promovem feridas por vezes não cicatrizáveis. A perda de um filho. Eis, aí, a dor maior que habita a alma humana. O que se passa aqui? Não somos mais os mesmos, logicamente. A sua morte provocou uma desestruturação, uma quebra dos vínculos, uma ruptura dos laços que sustentava uma então cumplicidade necessária para se viver em família. Mas alguma coisa ainda vive aqui para além do que se poderia imaginar. O tempo não curou. Não há mais lugar para a alegria, para o diálogo. Ela está pesada, pesarosa. Estamos fechados em nós mesmos. Não podemos respirar vida. Eis o problema maior. Não há lugar para a palavra, ela não circula. Você está posto, alocado em proporções distintas em cada um, de nós, fazendo parte, impedindo que a falta se coloque, que possa circular, dando a ver lugar para a fala e para a palavra. Desejos amortecidos, ninguém se autoriza desejar. Estou imersa num gozo culposo e lamentador. Caindo na ressente da dor da perda, não faço outra coisa senão ruminar dentro de mim o peso de um fracasso. Questiono-me sobre o acontecido, sobre minha parte nisso tudo. POSTADO POR UMA MULHER


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Terça-feira, 20.04.10
A morte de um filho deixa uma dor eterna Vazio absoluto. Um nada sem chão, teto ou paredes. Mais que um poço fundo, o fundo sem o poço. A falta de ar. O desespero. A desesperança. Irracional, ilógico, inaceitável. As palavras e imagens mais fortes não são capazes de definir, o luto de uma mãe que perde um filho. A morte de um filho deixa cicatriz indelével, uma dor eterna. É a pior situação humana, não há perda maior. Não tem nada de simbólico para que eu possa elaborar essa perda. Eu morri junto mesmo! Mas é “antinatural”, a morte imprevisível de um filho é a que nos desestabiliza. O “To sem chão” é hoje uma frase que especifica muito bem o que sinto nesse um ano de três meses, de vazio absoluto. Angústia, revolta, dor, desespero, impotência, tristeza. Não existem palavras para definir a perda inesperada de um filho na adolescência. Diante de tanto sofrimento, esquecer jamais. Reinvestir amor e esperança na vida é um caminho a ser alcançado, por mais impossível que possa parecer. POSTADO POR UMA MULHER

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publicado por araretamaumamulher às 21:37 | link do post | comentar | favorito

Segunda-feira, 19.04.10
Talvez seja um convite do tipo “vamos falar da morte”, esta que é tabu maior que o sexo; maior ainda quando se trata da morte de um filho - dor que se recobre em silêncio, por se tratar de uma dor inominável. COMO OPERAR A PARTIR DO NÃO-SENTIDO DO REAL QUE A MORTE EVOCA E CONSEQÜENTE FALTA DE REPOSTAS QUE ADVÉM EM MOMENTOS COMO ESTE? O luto é um longo caminho, que começa com a dor viva da perda de um ser querido e que segundo alguns, pode ser visto como um lento e penoso processo de desamor em relação a quem se foi, ou seja, a pessoa enlutada não esquece nem deixa de amar o morto, mas passa a amá-lo de outra forma; amor esse, permeado por uma saudade enorme e envolta por uma dor indizível devido à perda abrupta e inesperada. É quando duas situações se encontram absolutamente inseparáveis: o amor e a dor. Amor pelo excesso de investimento colocado na pessoa que se foi, e dor porque esse suporte real nos deixou. O sentimento de abandono e o caráter definitivo de sua ausência são o que posso chamar de mais devastadores que se tem ao se deparar com a realidade da mais pura falta, do mais enorme vazio. Assim escreve Nasio: “As manifestações da dor - abatimento, grito e lágrimas - a mantêm como se a pessoa que sofre estivesse arrastada pelo desejo inconsciente - um desejo que nada tem a ver com masoquismo - de viver a prova dolorosa (...) Querem sofrer porque a sua dor é uma homenagem ao morto, uma prova de amor” (O livro da dor e do amor; pág. 65). As perdas costumam ser nomeadas para que possam ser minimamente suportáveis. Ao perder uma mulher, alguém passa a ser viúvo; aquele que perde os pais, órfãos; os que chegam a se separar, divorciados; mas as mães que perdem seus filhos não encontram sequer algo para nomeá-las. Lembro de uma amiga, psicanalista a quem sou muito grata por todo apoio recebido nesse período de luto, que me contava sobre os pacientes que sofriam da dor fantasma, que se trata de uma dor que acomete os pacientes que perderam um membro: tal dor é um dos maiores desafios para os médicos, estes não encontram um anestésico capaz de aliviar o sofrimento dos pacientes. O membro perdido, seja uma perna, enfim, não está mais no corpo, porém, o “membro fantasma” lateja, coça, aquece, esfria, dói, enfim a dor é viva presente embora o membro esteja ausente, morto... Com o tempo os pacientes podem aprender a conviver com a ausência que lateja. Penso que a dor da perda de um filho é próxima dessa, vivido por esses pacientes sofridos, me dizia ela. Ora, estamos falando de um membro do corpo, que dirá de um filho saído de nossas entranhas que como diz o poeta Chico Buarque: “Oh,pedaço de mim, oh ,pedaço amputado de mim”. É uma mutilação. Quando falava disso na minha análise, o analista interveio: “Daniel não era um pedaço de você, ele era uma pessoa com personalidade própria, fez seu próprio caminho”. Senti-me desautorizada na minha dor. E pensava: os analistas homens que nunca portaram um filho no seu ventre podem dizer alguma coisa sobre isso? A perda de um filho no desabrochar da juventude de forma trágica e inesperada coloca qualquer sujeito diante de uma dor inominável e indizível. O estranhamento e distanciamento do mundo sob a forma de uma dor alucinante derivado do próprio trabalho de luto não parecem combinar com a posição que o analista deve em circunstâncias normais,fora do circuito traumático. Não raro algumas pessoas deixam de lado a sua dor jogando-se no trabalho de forma obsessiva quando este trabalho ritualista opera ações repetitivas e mecanizadas. Outras buscam na religião, um consolo possível. O que dizer do ofício de analista que não é uma profissão como outra qualquer e que exige que ali o sujeito dê provas de sua análise? No período mais nebuloso da dor do luto que possibilidade há - se há alguma - de ouvir um outro, de se disponibilizar a escutar queixas comezinhas como, por exemplo, medo de se afogar no chuveiro enquanto o analista atravessa uma dor imensurável? No filme “O quarto do filho” que relata a experiência da morte de um filho de um psicanalista, este se vê na condição de se afastar da clínica por tempo indeterminado. A reação dos pacientes neste filme italiano, muito bem dirigido, nada piegas e verdadeiro, é a mais diferente possível a partir do percurso de análise de cada um e da transferência estabelecida com esse analista em particular. O osso mais duro de roer por certo. Quando perdi meu filho a sensação era de que o mundo havia caído sobre a minha cabeça e que eu não conseguiria suportar. A vida se torna realmente impossível diante deste sofrimento. Sentia-me no dever de aparentar "força" quando não a tinha, pois estava dilacerada e devastada pela dor. Como poderia mostrar fragilidade, chorar em público, no meio da rua, pudesse eu superar com dignidade a dor de existir? Como esconder a indiferença ao mundo, o alheamento, a falta de interesse pelo mundo e a própria falta de lugar de uma mãe diante de tal acontecimento? O luto não é terapeutizável, não há remédio para essa dor. Lembro de uma revista que li, cujo título da reportagem era: “A dor que não termina”. São relatos de pais que perderam seus filhos de maneira trágica e os relatos da reação particular que cada um teve. Desde aquele que ao ver seu filho morto por atropelamento e que o carrega nos braços para ser morto pelos carros que passavam, como aquela mãe que se recusou a comer desde a perda de sua criança vindo a falecer 4 meses depois de inanição. A reportagem começa justamente falando que o luto de quem perde filho é diferente de qualquer outro... e pode tornar-se insuportável o peso de tocar a vida adiante. A morte é sempre motivo de angústia e tristeza, mas a morte de um filho é uma tragédia contra a natureza, um desastre além da razão. Vivemos em um período desbussolado onde não se pode mais, como antigamente, encarar a tragédia como vontade de Deus. Diante de uma determinação superior, restava apenas se conformar. As mães, no passado eram poupadas de qualquer tarefa por um período de no mínimo um ano para se recolherem. Não há mais tempo para resguardo, nem para recolhimento. A licença de uma semana (até o sétimo dia) é o que é amparado por lei. Os tempos modernos, onde impera a ditadura da alegria não oferece espaço nem lugar para a dor, especialmente uma dor como essa. “Reaja!”, “Seja forte!”, “Não fale mais no assunto!”, “Aprenda uma lição com sua dor!”, “Não fique paralisado pela dor!” “Enfrente!”, são imperativos ouvidos a toda hora e só posso aqui dar meu testemunho de como essas frases me incomodavam. Portanto, nada de fórmulas, ou de dizer como alguém deve reagir... ou fazer... ou dizer... Aliás, não há muito o que dizer. Aliás, não há nada o que dizer. A morte é tabu, e ninguém quer falar dela. A morte ninguém sabe o que ela é. A morte assusta e horroriza. A morte de um filho é algo de difícil materialização. O seu desaparecimento súbito provocou em mim uma série de questionamentos acerca de tudo à minha volta. Com a morte de seu filho, é imperativo voltar a viver! Essa dor da perda de um filho não é uma dor qualquer. Implica numa longa travessia de luto, reinventar a vida a cada dia e conviver diariamente com a ausência de respostas, e sair em busca de algumas outras que estejam ao alcance de quem passa por isso. Tudo se tornava de um dia para o outro insuportável e qualquer mínimo detalhe me fazia lembrar do meu filho. Não conseguia me envolver com nenhuma atividade que realizava e tampouco poderia “volver” atrás, trazendo meu filho de volta. Essa certeza implacável tornou-se um tormento a ponto de meus familiares se incomodarem com meu recolhimento e isolamento, posições essas que me eram possíveis naqueles tempos tão doloridos e sem palavras. Outro ponto que quero marcar é sobre a seguinte questão: que tempo para o luto? É sabido que o luto é muito parecido com a depressão-afetivamente falando - mas esta é sem a perda real do objeto.Há uma cobrança diante do luto estrondosa no que diz respeito ao tempo. “Você ainda está chorando deste jeito”; ou: “não chore, pois seu filho vai sofrer ainda mais”... Parece que só nessas horas aprendemos o que não dizer a alguém que perde um filho. Há um jogo social no sentido de quererem lhe empurrar goela abaixo uma fórmula, que não há; há de ser reinventada caso a caso. Que lugar para uma mãe sem o seu rebento? Não reintegrarás o seu produto está no texto bíblico, mas como se desfazer de tantos sonhos ao mesmo tempo, de tantos projetos, de tantos investimentos? Como lidar o que nunca mais será? Ou com aquilo que jamais poderemos entender ou explicar dia após dia, noite após noite. Como suportar a falta de luz, que não há, e sem um dedo apontando o caminho, posto que essa destituição é própria da morte em si mesmo? COMO DIZER COMO OUTRORA: “SOU FELIZ O BASTANTE” ?!? O provérbio judaico que prega “cuidado com o que desejas, pois isto pode realizar-se” aqui é fora de questão, pois é impensável para uma mãe enterrar seus filhos.Isto é anti-natural. As mães não deveriam chorar a morte de seus filhos. Ao concebê-los, deveriam receber, com carimbo do céu e assinado por Deus, uma certidão de garantia, para vê-los crescer, sempre saudáveis e felizes. Ao lado deles, poderiam comemorar suas vitórias, suas conquistas, e depois de muito tempo, quando sentissem a conclusão de seu ciclo de vida, elas teriam o direito de serem veladas por seus filhos, todos eles, a fim de seguir feliz sua viagem de reencontro ao Criador. Os filhos, para as mães, deveriam ser sempre vivos, pois não foram concebidos para a morte, mas para a vida. Nada neste mundo é mais triste, mais doloroso do que choro de mãe que perde um filho. Elas não merecem isto. Nunca mereceram. Jamais merecerão.


publicado por araretamaumamulher às 14:08 | link do post | comentar | favorito

Sexta-feira, 27.11.09
Essa postagem foi feita em 23/08/09.
Foi corrigida agora e postada novamente.

Essas semanas tenho vivido num estado doentio, uma espécie de morte interior. Dores pelo corpo, nauseas constantes e gases, tenho vivido numa desolação de um cinza-escuro absoluto, parece que eu também quero morrer. Eu estou com raiva, raiva de Deus, da morte, do Vi por ter morrido, (não consigo assimilar o porquê dele não ter me ouvido,) e de todos que já morreram e de todos que vão morrer. Nada tem importância, eu vivo na mais profunda solidão, pensando na morte e com medo do nada. A morte é. Está é a verdade espiritual mais profunda que eu já conheci, mais é um passo que eu omiti do meu caminho, até aqui. Dar a luz ao Vi não me poupou de vê-lo morto. A morte é. E Deus não me pourará da morte. Não poupará a minha mãe, não poupará os meus irmãos e com certeza não poupará a Amanda e o Neto. É minha raiva e revolta a esse respeito não altera a veracidade desse fato.
Sinto um ceticismo tão grande como raramente senti. Uma profunda falta de confiança no eu e na vida. O que me faz pensar que estou ligada a Deus? Será que a espiritualidade não passa de ilusão ou superstição e da minha vontade de que as coisas sejam como eu quero?
Sinto ondas de amargura e duvidas sobre tudo o que vivi sobre tudo o que acreditei até aqui. O que é? O que é? O que estou fazendo aqui? Talvez eu nunca venha á saber. O que me faz pensar que sei o que estou fazendo aqui? Não sei.
E, além disso, não preciso saber. Tudo o que posso fazer é seguir os meus instintos mais profundos, o mais profundo senso de orientação que tenho sobre o que devo fazer neste período de minha vida. Nada mais posso fazer.
Só agora compreendo os poetas e suas palavras sobre o vazio. Não um vazio qualquer, vazio, pedaço arrancado de mim, mutilação do meu corpo. Exercício de saudade, tornar de novo presente o passado que já se foi. Saudade é o revés de um parto, é a vontade de arrumar um quarto para o filho que já morreu. Acontece que depois da partida só fica a ferida, ferida que não se deseja curar. Pois ela traz de novo a memória, o belo que uma vez foi. Saber que cedo ou tarde tudo o que está presente ficará ausente. A tristeza testemunha que o mistério da despedida está gravado em nossa própria carne.
Como Cecília Meirelles disse de sua avó morta e eu nunca esqueci: Tudo em ti era uma ausência que se demorava uma despedida pronta a cumprir-se “
Que verdade! Você sempre viveu tão intensamente, tão apressadamente, tão sem tempo para o planejamento que eu devia ter adivinhado...
Pra que estudar mãe? Porque não posso fazer dois esportes ao mesmo tempo mãe? Eu quero aprender tudo agora! Como eu não adivinhei? Por que Deus não me deixou saber? Ele me mostra tanta coisa, não me mostrou que você ia longo? Quantos abraços eu deixei de te dar? Quantos beijos? Quantas vezes tive vontade de dizer eu te amo e não disse. Parece que as vezes que te beijei, que te abracei e te coloquei no colo e disse que te amo eu esqueci todas elas, só ficou a vontade desesperadora de fazê-lo mais e o enorme vazio de não ter feito.
O que eu vou fazer agora? Dá pra me dizer? Você sempre tinha uma resposta para tudo, meu Vi, me responde como nós, a Amanda o Neto e eu vamos continuar.
Já faz dez meses e nós ainda não sabemos a resposta...
Será que um dia vamos conseguir saber? Sentimos como se a vida nos tivesse levado um pedaço nosso sem nem ao menos pedir licença para isso. É desesperador...


publicado por araretamaumamulher às 04:34 | link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

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