Domingo, 11.10.09
"Enquanto você está ciente do anseio que tem pelo amor perfeito de seus pais, e das mágoas e ressentimentos que sofreu você está condenado a tentar remediar a situação mais tarde. Você tenta reproduzir a situação da infância para poder corrigi-la. Essa compulsão inconsciente é um fator muito forte, mas normalmente está muito afastado da compreensão consciente...
Todo esse procedimento é absolutamente destrutivo. Em primeiro lugar, a derrota é ilusória. Portanto, a possibilidade de vitoria também é ilusória. Além disso, é ilusório que, por mais triste que a falta de amor tenha sido na sua infância, ela represente a tragédia que o seu subconsciente ainda sente. “A única tragédia reside no fato de que você obstrui a felicidade futura ao continuar a reproduzir a situação, e depois tentar dominá-la.” Palestra do Guia do Pathwork 73
Um indicador primário de uma imagem é um senso difuso de vergonha de nós mesmos, uma sensação de que não temos valor ou merecimento. Uma vergonha especifica vive na criança interior de todos nós, e deriva da época em que descobrimos chocados, que nossos pais e o nosso mundo não eram perfeitos. A criança tem uma grande necessidade de acreditar que seus pais são perfeitos, já que eles são tudo o que a separa do caos ou da morte. Quando a criança descobre que não é amada perfeitamente ou é até maltratada, ela supõe que a culpa deve ser sua, porque normalmente não conhece a intimidade de outras famílias para fazer uma comparação. A criança, então fica profundamente envergonhada da sua característica, seja qual for que merece – como ela erradamente acredita- ser castigada ou abandonada. Na época em que a criança em crescimento entende que os pais e outros adultos são imperfeitos e têm problemas, a vergonha já criou profundas raízes, a auto-estima já foi danificada.
Sabemos agora que esse processo ocorre em casos de abuso infantil. A criança geralmente é incapaz de perceber a verdadeira origem do comportamento destrutivo das pessoas, que também são seus protetores e guardiões, e, portanto conclui que é a culpada pelo mal que lhe é feito, seja ele qual for. Criando defesas para não ser magoada outra vez, e abrigando uma vergonha secreta cada vez maior, a criança acha muito difícil expor a verdade.
Assim todo o processo – a descoberta de alguma coisa errada na família, a crença de ser a causa desse mal, concomitantemente com a generalização de que as pessoas não merecem confiança, e a criação de defesa contra as magoas e indignidades sofridas – tudo isso vai para o inconsciente. Como a planta que é constantemente mantida no escuro, grande parte da personalidade não pode crescer. A luz da percepção precisa penetrar no medo, no ressentimento e na vergonha da criança, com o intuito de revelar as imagens que foram reprimidas na mente inconsciente. Precisamos estar dispostos a encarar a verdade sobre o tratamento errado que dispensamos ás crianças inclusive os defeitos de nossos pais, sem ter de erradicar o bem que também pode estar presente.
Como adultos, os sentimentos de vergonha ou de decepções decorrentes de situações atuais podem nos levar de volta aos traumas ocultos da infância. Os sentimentos atuais são equivalentes aos infantis. Se sentirmos integralmente a dor atual, ela nos levará outra vez ás experiências iniciais formadoras. Podemos aprender a nos perguntar a que fato do passado podemos estar reagindo quando descobrimos um padrão negativo persistente ou uma profunda vergonha interior. Toda vez que “descobrimos” as imperfeições dos parceiros, dos chefes ou da própria vida, reexperimentamos o choque inicial da infância. Toda vez que sentimos vergonha ou nos culpamos pelas falhas dos outros, podemos ter certeza de que estamos reagindo com base numa imagem da infância.
Foi isso o que aconteceu comigo: Tive uma infância baseada no medo, nas agressões nas humilhações. Como sou a filha mais velha, eu ainda trazia a obrigação de ser o exemplo. Não preciso nem dizer que não fui capaz disso, assim como não fui capaz de seguir a religião dos meus pais.
Mas carreguei comigo essa culpa. Tudo o que acontecia de errado ao meu redor, eu me sentia culpada, responsável. E merecedora de todo o sofrimento para expurgar essa culpa. Então hoje vendo os fatos de outro prisma, eu vejo que procurei um agressor na minha vida.
Porque a religião que fui criada ensinava que era preciso fazer sacrifício para pagar os pecados. Como sempre me senti uma grande pecadora, é obvio que precisava de um grande sacrifício. Na verdade creio que todo caso de agressão que perdura por vários anos, como o meu, é esse o sentimento da vitima o de que merece estar naquela situação.
Por isso é tão difícil, sair. Quebrar o circulo vicioso, modificar uma estrutura onde você acha que apesar de não estar de fazendo bem, você é merecedora dela.
Fomos criadas a grande maioria de nós pelo menos, para sofrer caladas, para agüentar em silencio, a dor, a vergonha e a humilhação.
As agressões e humilhações que sofria me faziam sentir mais próxima da minha infância, dentro do mesmo cenário, onde eu também era agredida por minha mãe e humilhada pelo meu pai. Tudo isso em nome da “boa educação”.
No meu casamento era tudo em nome também da “boa educação”, já que o argumento do meu ex marido sempre foi o de que eu não o obedecia o que significava: que pegava o meu salário e comprava comida para mim e os meus filhos. Não entregando todo para ele ir curtir com as meninas ou pescar com os amigos...
Foi preciso as coisas chegar a um ponto onde eu não suportava mais, para ter a coragem de fugir.
Só trazendo á consciência as decepções originais, podemos enfrentar a realidade da imperfeição de nossos pais e passar conscientemente pela inevitável dor, raiva e ressentimento que fazem parte da experiência humana universal. Enquanto não dermos esse passo deliberadamente, vamos continuar tentando forçar os outros a serem nossos “pais perfeitos” nas situações da vida adulta- e sofreremos uma serie de decepções. Na verdade ninguém é perfeito, ninguém nos ama perfeitamente, e é assim que as coisas são. Não é nossa culpa, e não podemos fazer nada para forçar os outros a serem mais perfeitos. Todos são imperfeitos. E todos são perdoáveis
Quarta-feira, 26.08.09
Todo agressor conta com o silêncio da sua vitima, para que tenha sucesso em sua empreitada.
Esse silêncio só é conseguido através do medo. Um medo tão terrível que nos paralisa, nos deixa sem raciocínio lógico, nos faz ficar totalmente sem ação.
E é ai que o agressor ganha, ele não te deixa falar. Você começa a achar que ele está com a razão que você realmente é louca, não merece nada.
Vivi doze anos nesse clima, e até hoje trago em mim as marcas dessa violência.
Eu trabalhava e entregava o meu salário para ele, ele gastava meu salário na rua., e eu tinha que fazer dividas´para comer e dar o que comer para os meus filhos. Era um circulo vicioso, de torturas psicológicas, de humilhações, de espancamentos. Minha auto estima não existia, eu passei a acreditar que realmente não tinha outra saída. Tinha três filhos pequenos, sabia que tinha que ter responsabilidade para com eles, mas não conseguia.
Apanhava por qualquer motivo, virou um habito eu ser espancada, apanhava porque era segunda feira, porque estava sol, porque chovia......Bem tudo era motivo para que eu fosse espancada.
Um dia tomei uma atitude louca peguei meus três filhos e fiz três malas de roupa e fui embora.
Não conseguia mais raciocinar direito, qualquer coisa seria melhor do que viver daquela forma. Mas eu estava muito machucada, muito ferida, humilhada, sem rumo, e com três crianças pequenas.
Eu tinha medo um medo que na realidade era pavor, de que me descobrissem, de soubessem.
Na minha cabeça eu era uma fraude, eu não valia nada, eu não daria conta, eu só sabia fazer dividas.
È incrível em nenhum momento eu parei para raciocinar que eu não tinha roupas, meus filhos não tinha roupas, morávamos mal, comíamos mal , então eu fazia dividas para sobreviver.
O fato de ter ouvido incansavelmente, que eu não prestava tinha dado certo era assim que eu me sentia.
Foi assim que me senti até bem pouco tempo.
Tinha medo de chegar perto das pessoas, de me aproximar e que elas descobrissem que eu não valia nada, que eu não prestava.
Acho muito difícil uma vitima da violência no lar conseguir sair do buraco negro onde fica, sem uma ajuda profissional seria.
É assim que é feita a manipulação.
Amanha falo mais.
Que a luz esteja com todos.
Fátima