Quarta-feira, 12.05.10
As conseqüências das agressões sofridas no lar - se é se pode chamar assim uma casa onde há violência-requerem custos econômicos enormes, são despesas com médicos, apoio social e psicológico, abrigo, entre outros. Mas, o preço da violência ultrapassa o valor financeiro. Dinheiro não é o empecilho para que isso seja solucionado. Melhor se fosse. O custo a ser levado em consideração é o pessoal e o social do sofrimento das vítimas. Freqüentemente, a sociedade enxerga as agressões que acontecem dentro da casa do vizinho, por exemplo, como um problema localizado e, preferem não se interferir. Esse pensamento é bastante comum, já que não imaginam a ligação que há entre a violência daquela casa e a que ocorre na esquina. A agressão cometida num ambiente familiar não é menos grave, ou merece tão ou mais a atenção das pessoas. Além disso, as pessoas não costumam projetar as conseqüências da educação dada àquela criança agredida na casa do vizinho na sociedade. Pessoas que sofreram violência na infância, quando crescem, reproduzem essa atitude, tornando-se adultos violentos. A violência não é hereditária, mas sim aprendida. A família como base do desenvolvimento humano deveria ser o ponto de partida para uma criança receber orientação e amor. No entanto, diversas famílias proporcionam esse desenvolvimento moldado por agressões gratuitas ou ainda violência justificada supostamente pelo amor. A perpetuação da violência assegura e reforça as relações de poder historicamente desiguais e injustas entre os membros da família. Seja do homem sobre a mulher ou dos pais sobre os filhos. Reproduz, dessa maneira, uma atitude doente, de geração em geração, que se repete e se agrava através dos tempos. Esse comportamento está arraigado na cultura e, por conseqüência, na educação de todos; e, sem perceber, as pessoas encaram o problema como algo ‘aceitável’ e ‘comum’. É comum que não só as famílias que sofrem com a violência, mas também toda a sociedade fechem os olhos para as barbáries que estão por todos os lados gritando por socorro. As pessoas recusam-se a enfrentar tal realidade e, por conta dessa omissão - a qual pode ser chamada de cumplicidade -, permitem e até, por que não dizer, encorajam a violência. É importante ressaltar que a autoridade dos pais na família deve ser fundamentada no respeito e não nas relações de poder exercidas pelos mais fortes sobre os mais fracos. Os pais fazem uso da necessidade que os filhos têm de seus cuidados e, com esse poder, manipulam a relação. O pátrio poder em relação à criança cria uma dependência ainda mais cruel ao passo que o filho fica à espera de amor, mas os pais podem decidir por conceder ou retirar esse sentimento, ou ainda transformá-lo em algo bem perverso. Os pais são capazes de criar uma confusão imensa nos filhos quando maltratam e dizem que o fazem em nome do amor que sentem por eles. Nesse momento, as crianças chegam a relacionar a dor provocada pelos pais ao carinho que dizem sentir. A criança fica sem defesa pelo fato de tratar-se de alguém da família. Pois, se por um lado aprendeu a desconfiar de estranhos, por outro, disseram-lhe que ‘na família tudo é permitido’. O domínio sobre a criança pode ser exercido facilmente. Todos os caminhos que levam à discussão sobre como educar os filhos, num momento ou em outro, chegam à violência como ‘solução’. A punição é resultado de tolerância cultural, a sociedade já está acostumada ao castigo físico como procedimento educativo, dentro de uma estrutura de poder autoritária. Tal situação é mantida pela figura do pátrio-poder,que permanece intocável. Lamentavelmente, o que se ouve com grande freqüência é: ‘um tapinha não faz mal a ninguém’. Tal expressão não se justifica, já toda ação que causa dor física numa criança, varia desde um simples tapa até o espancamento fatal. Embora um tapa e um espancamento sejam diferentes, o princípio que rege os dois tipos de atitude é exatamente o mesmo: utilizar a força e o poder. Muitos pais dizem crer que uma ‘simples palmadinha’ não é violência e que pode ser um recurso eficiente. No entanto, bater não passa de uma atitude equivocada de descarregar a tensão e a raiva em alguém próximo e que não pode se defender. A mãe deixa sempre claro que o bebê que ela concebeu é ‘filho dela’ - o uso do indicativo de posse é inevitável e nem sempre traz uma conotação de orgulho e carinho. Muitas vezes, a expressão ‘o filho é meu’ carrega a intenção de mostrar a quem quer que seja que ‘faço o que quiser com ele, é meu’. Isso intimida a sociedade para que não haja interferência naquela relação de posse. A violência doméstica contra crianças assume contornos nem sempre brutais e evidentes, ou seja, nem sempre deixam marcas físicas. Muitas vezes, são constantes agressões ‘cuidadosas’ - para não marcar, atitudes que humilham, gestos de raiva, negligência e outras violências sutis que também deterioram, destroem, estraçalham, ou, no mínimo, atrapalham o desenvolvimento da criança e deixam conseqüências drásticas, não só no corpo, mas principalmente nas lembranças. POSTADO POR UMA MULHER


publicado por araretamaumamulher às 13:49 | link do post | comentar | favorito

Quarta-feira, 14.04.10

O lar muitas vezes não é aquele paraíso seguro e de felicidade que muitos idealizam, a violência doméstica, no contexto do lar faz parte do dia a dia de muitas mulheres. Não é um mal social novo. Nos tempos Medievais e no início da Era da Industrialização, a violência contra as mulheres era um aspecto tido como normal no casamento. 

Nos finais do século XIX não existiam leis que proibissem a uma pessoa espancar o seu parceiro, desde que daí não resultassem ferimentos graves. 

O recurso à lei por parte de pessoas sujeita a violência e maus-tratos é bastante difícil, ainda que se fale muito sobre o assunto e em teoria elas tenham acesso à proteção. Na realidade, apesar de terem melhorado de estatuto, o recurso à lei nestes casos é bastante difícil. De um modo geral a atitude da polícia é a de não intervenção em “disputas domésticas” e revela-se muitas vezes inútil.

Quando a polícia é chamada a intervir num caso de violência doméstica, tende a restringir a sua ação no sentido de acalmar os ânimos, em vez de incentivar a que a vítima proceda a uma queixa contra o agressor.
As mulheres que são vítimas de violência doméstica têm muita dificuldade em abandonar o lar e estas vão desde as econômicas, sociais, até à responsabilidade que sentem perante os filhos.
Estas mulheres, embora sendo agredidas sistematicamente, continuam a coabitar com o agressor, pois no nosso país existem poucas estruturas de apoio para estes casos. Saem de casa e vão viver onde? E os filhos, quem é que cuida deles? Existem casas de acolhimento suficientes para o número de casos existentes no Brasil?
A tendência do poder publico, é achar que existe um certo exagero por parte da mulher, com o objetivo de conseguir um alojamento alternativo.
Na realidade constata que a vítima, para provar o quanto é maltratada, passa por inúmeras humilhações: primeiro dirige-se à policia onde para fazer queixa, tem que relatar em pormenor todo o sofrimento e atos de violência de que foi vítima, tem que se submeter a exames médicos, para comprovar a veracidade dos maus-tratos físicos que lhe foram infringidos, aí mais uma vez se sente humilhada, tanto nos hospitais como na polícia, pois nem sempre há pessoal especializado para tomar conta deste tipo de ocorrências, o que dificulta muito a vida da vítima.

A violência doméstica é inaceitável e uma conduta que afeta todos os membros de uma família, é ilegal e ocorre em todas as classes sociais.
Dependência, controle e poder. 
Muitos homens proíbem terminantemente a mulher de trabalhar fora de casa, de falar com amigos, familiares, vizinhos. Desta forma o abusador transforma-se na única fonte afetiva e financeira, criando assim a dependência absoluta da vítima em relação a ele.

Segundo alguns especialistas o perfil psicológico do agressor é o de um indivíduo emocionalmente imaturo e possessivo. Exalta-se facilmente, briga por motivos fúteis e reage com muita freqüência como se fosse uma criança, que “destrói” o brinquedo, quando este o desagrada. 

É freqüente o agressor mostrar um perfil psicótico, demonstrando medos diversos e a mania da perseguição.
Durante a crise a vítima é barbaramente espancada, pois é a válvula de escape para os seus “fantasmas”.
Em alguns casos possuem o complexo de Édipo exacerbado, são do tipo “bate e pede desculpa”. A relação de amor-ódio que sente pela mãe é transportada para a mulher. A seguir a uma monumental culpa, confessa-se arrependido, jura que não lhe volta a bater. Demonstra através de palavras e carícias que a ama muito e deseja fazer amor com ela, como uma forma de reconciliação. Muitas mulheres são apanhadas nesta armadilha, depois dos maus-tratos, vem à relação sexual. Toda esta situação faz subir a adrenalina e as pessoas ficam dependentes física e mentalmente desta situação. É por isso que muitas mulheres levam a culpa com freqüência, mas não conseguem viver sem o agressor, ficaram presas física e psicologicamente, neste jogo de amor – ódio. 

Estas mulheres só conseguiram quebrar este ciclo doentio, com a ajuda de pessoas especializadas nesta área específica. 
De um modo geral o agressor sente que tem sempre razão, é muito autoritário e sente-se ameaçado sempre que a companheira dá a sua opinião. No caso desta ter razão, a situação agrava-se, pois ele não aceita que está errado, agride o outro como uma forma de se impor. 

Outros são movidos a álcool, sob o efeito da bebida fazem o que lhes passar pela cabeça. Desta forma libertam-se das inseguranças, incompetência e insatisfação, sejam elas devido ao trabalho ou das suas relações de amizade ou amorosas. Em casa, a bebida age de uma forma impulsionadora da agressividade, dando-lhes a falsa sensação de poder. O companheiro é o bode expiatório de todos os seus sentimentos reprimidos. 

Quando o casal tem uma vida sexual insatisfatória e o homem tem dificuldade em manter a ereção ou tem ejaculação precoce, não se satisfazendo a si próprio nem à sua companheira, a frustração que sente dá lugar à violência, acusa a mulher destes fatos. Existem também alguns homens que no momento do orgasmo, agridem a mulher física e verbalmente, como meio de atingirem um maior prazer e desta forma submeter e humilhar a mulher ao seu poder superior. 
Há também homens que agridem a mulher por se sentirem socialmente inferiores a esta. Inseguros em relação à sua masculinidade devido a insucessos na vida profissional ou por se sentirem muito a quem das expectativas que têm deles próprios. Em casa uma opinião da mulher, ou até uma pequena brincadeira faz sentir-se ofendido. A única maneira que encontra para impor os seus pontos de vista e desejos é através da violência.
As mulheres que apanham do companheiro, de uma forma repetida, são, de certa forma, cúmplices da situação. Normalmente desde a infância que viveu com cenas de violência e castigos físicos. De uma forma inconsciente, na vida adulta, repete as relações que viveram e vivenciaram em criança. Quando chega a hora de escolher um parceiro, opta normalmente pelo tipo agressivo, por aquele que demonstra mais “força” para enfrentar os problemas que a vida lhe ponha.

É o tipo de pessoa que admira um companheiro brigão, isto para ela representa proteção. De um modo geral este tipo de casamento acaba na relação amor-ódio e em cenas de pancadaria quando a relação começa a se desgastar. 
Para outras vítimas pode ser uma herança educacional, elas podem ter sido acostumadas a ver a agressão como forma de afeto, proteção e carinho. Estas pessoas podem interpretar uma agressão, como um ato de amor e proteção.
Há também o caso das pessoas que apanham por estarem acomodadas financeiramente, estes casos dão-se, sobretudo com mulheres, uma vez que estas têm tendência a ficar em casa, limitando-se a criar os filhos. Estas mulheres sentem-se incapazes de se sustentarem a si próprias e aos seus filhos e assim não rompem com o parceiro. São em muitos casos impedidas de trabalhar pelo seu companheiro, para desta forma mais facilmente as manterem como reféns. Provavelmente em crianças foram educadas de forma a sentirem-se incapazes de viver sem a proteção econômica de um homem. 

Outras são agredidas por sentimento de culpa, sentem-se culpadas de não terem sido capazes de realizarem um casamento perfeito. Estas de uma forma geral sofrem a violência doméstica em silêncio, escondem da família, dos amigos e dos vizinhos os sofrimentos que o companheiro lhes impõe. Como o objetivo era ter um casamento feliz, recusa-se a admitir que escolheu a pessoa errado.
Apesar de ser maltratada física e verbalmente, depois de cenas de grande violência, ainda se mostra dócil e carinhosa para com o companheiro.
Alimenta a secreta esperança de que ele mude de atitude, estas pessoas levam muito tempo a tomar consciência da realidade, pois ninguém muda ninguém.

Romper com o silêncio é sem duvida o caminho para ajudar a acabar esta situação infame em que muitas mulheres se encontram.
Há mulheres que são agredidas, que se calam e que escondem a agressão, por sentirem vergonha. Outras se afastam gradualmente de amigos, familiares e vizinhos, isolam-se para desta forma esconder os maus-tratos de que são vítimas. Mas ao procederem assim, tornam-se mais vulneráveis e ficam à mercê do agressor. Outras são dependentes economicamente e têm medo de novas agressões, reduzindo-se ao silêncio. Esta atitude só encoraja o agressor a que se sinta impune e à vontade para repetir as agressões que muito bem lhe aprouverem. 
Estes e outros preconceitos, a dependência econômica em relação ao agressor, a dificuldade em aceitar que um casamento acabou e o medo de novas agressões, são alguns dos motivos que impedem as vítimas de tornar o seu problema público e tomarem medidas para se protegerem.
O primeiro passo para acabarem com estas situações é romper a barreira do silêncio.



publicado por araretamaumamulher às 19:44 | link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
Maio 2010
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
13
14
15

16
17
18
22

23
25
26
27
28
29

30
31


posts recentes

As consequencias das agre...

Muitas vezes o lar não é ...

arquivos

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

tags

a desvalorização da mulher

a morte de um filho

a mulher e acultura da desvalorização

agressão da mulher

agressão psicologica

agressor

amor

anorexia

aprendizado

baixa auto estima

baixa auto estima origem da dor.

baixa auto-estima

beleza

bulimia

circulo vicioso.

como agir em caso de violência

comotratar a violência

comportamento machista

consentimento silencioso.

criança ferida

cristianismo e o preconceito ao feminino

crueldade na familia

culpa

denuncia

depressão

desejo sexual

deus

dia da mulher

direitos humanos

direitos humanos para a mulher vitima.

dor

dor humilhação

educação

educação de filhos

emoções

envelhecer

falta de amor

familia

familia desestruturada.

feminismo

filho

gordura

humilhação

infância

infancia de dor

inveja

lar

lei maria da penha

luto

machismo

mãe

manipulação.

máscara

medo

medos

menopausa

mentira

mídia

mídia especializada

mitos verdades

morte

morte de um filho

morte prematura

mulher

mulheres

mulheres violentadas.

oração

orgulho

patriarcado

perda

perda de um filho

perdão

perversão

preconceito

rede social

relacionamentos

sagrado

silencio

silêncio

sociedade

sociedade machista

solidão

sonhos

suicidio

velhice

verdade

vergonha

violência

violencia

violência aceita

violência contra a mulher

violência da mulher

violencia da mulher

violência doméstica

violência emocional

violencia emocional

violência psicologica

violência sexual

vitima

vitimas de violencia.

todas as tags

blogs SAPO
subscrever feeds