Quarta-feira, 23.09.09
E o amor um sentimento brutal, que leva uma pessoa a cometer um crime?
Tenho visto no país uma onda de assassinatos em nome do amor.
Na minha maneira de ver quem ama, cuida, protege, zela. Quem ama, não espanca, não humilha, não faz pressão psicológica, não induz o outro a fazer o que não quer, e principalmente não mata.
O crime passional não existe: ocorre em contexto sexista por homens incapazes de fazer o luto de relacionamento, diz Lopez. Os autores de crimes passionais não têm problemas psiquiátricos. Que esse crime não é um crime por amor, mas um crime de quem sofre de narcisismo. E ele lembra: não se deve nunca esquecer que o criminoso, acha, no sexismo, na lei do mais forte, na valorização da masculinidade e na desenfreada competição social, as razões que lhe servem para justificar o seu ato. "
Hoje estava olhando na internet sobre o crime ocorrido em Rondonópolis, e encontrei uma reportagem que muito me interessou: O repórter dizia que em um mês este é o terceiro caso de crime “passional, no estado do Mato Grosso, o primeiro foi em Alta Floresta, que uma mulher foi assassinada pelo ex namorado (eles namoram dois meses) amor rápido e literalmente fulminante. O segundo em Cuiabá, foi bem parecido com o de Rondonópolis, um ex marido não aceitando ter que ir a busca de outra para espancar, entrou na casa da mãe da ex mulher, matou a ex mulher, a mãe e o padrasto. Porque a amava muito, com certeza.
O pré conceito ainda é grande em relação à mulher. Quando entramos em uma delegacia para fazermos um boletim de ocorrência, sentimos como se fosse nós deveríamos ser presas.
Duvidam do que dizemos não nos levam a serio.
Não basta existir a Lei Maria da Penha, ela tem que ser cumprida com os rigores que lhe é devido.
Se Crisa Renata tivesse não só registrado um boletim de ocorrência, mas também sido levada a serio, ela não estaria morta, não teria um monstro a mais solto como temos hoje.
Infelizmente, não é só no Mato Grosso que isso vem ocorrendo.
Tenho lutado para que a educação pelo respeito, e pela igualdade, seja dada em nossas escolas.
Estou com um projeto para buscar nas escolas publicas aquelas crianças de doze a quinze anos, que são mais violentas, mais rebeldes, e começar a fazer um trabalho de base mesmo com essas crianças. Sabemos que uma criança criada em um lar violento, tem noventa por cento de chances de ser um adulto violento.
Meu projeto é começar a trabalhar a criança e aos poucos e dando sustenção a mulher que está em casa calada, sofrendo maus tratos e espancamentos.
Setenta por cento das mulheres que sofrem violência ainda não tem coragem de denunciar o seu agressor. E agressor sem denuncia e agressor livre para matar, para abusar dos filhos, e um sem limites de barbaridades.
Não conheço nenhum outro meio de deter um agressor, ou se denuncia, ou se espera que ele morra.
Creio que a segunda hipótese é inviável. Porque eu sonhei por muitos anos enquanto estava casada com o velório do meu ex marido. Ele saia e minha imaginação já começava a funcionar. Via cada detalhe, nunca adiantou nada, continua vivo até hoje e esbanjando saúde, para fazer com outras o que sabe fazer tão bem.
Ensinar o Ser a colocar para fora sua raiva e frustração, talvez seja mais importante do que fazer alguém grave a data do descobrimento do Brasil, pelo menos será bem mais útil. Dar a criança na pré adolescência o direito de sentir o que teme sentir, é um presente sem preço para o seu futuro.
Somos todos nós que já sofremos agressões e violências de qualquer tipo, pessoas que tem dificuldade em expressar seus sentimentos, em dizer o que pensa, em nos mostrarmos.
Sentimos vergonha do que passamos como se fossemos os culpados. Não conseguimos ver que a culpa não está em nós, mas no agressor. E muitas vezes é o agressor quem é o mantenedor da família, e ai a coisa complica um pouco mais. Porque ao mesmo tempo em que existe um crescente ódio, uma crescente vontade de não mais ver aquela pessoa, existe também, o medo de passar privação, o medo de não ter com quem contar, porque não podemos negar que o vinculo afetivo existe, mesmo sendo um vinculo afetivo negativo, confuso, ele existe, se não existisse não existiria a situação de agressão.
As vitimas começam a se sentirem culpadas, por esta desejando que o agressor suma, morra, desapareça, não volte mais.
Quando um agressor diz que sua esposa esta louca, ele não esta mentindo não, a vitima de agressão pode até não ser louca, mas com toda a certeza ela está louca, está avariada, assim como os filhos e todos que vivem em torno de um monstro desses.
Ser louco é uma coisa, está louco é outra. Eu estive louca, enquanto aceitei que um monstro me manipulação, usasse minha inteligência, usasse meu trabalho, meu dinheiro, e ainda saísse me caluniando, e na época nada fiz para me defender, por medo. Medo de quem? Quem é o devedor da historia?Quem tem que ter medo?
Vitimas não precisam ter medo de abrir a boca. Mais infelizmente tem. O medo é um defeito paralisante.
Por isso o meu projeto. De ensinar nossas crianças a deixar de ter medo. A pararem de temer o que não tem que ser temido.
Por outro lado, temos que ter a certeza que nossas denuncias sejam ouvidas, e verificadas.
Porque senão teremos que ter é terror.
Fiquem na paz e na luz.
Fátima Jacinto
Uma Mulher.
Terça-feira, 15.09.09
Conselho da Mulher em Rondonópolis
Estivemos conversando com a Presidente do conselho da Mulher de Rondonópolis, Sandra Raquel Mendes.
Sandra não foge a regra, todas as mulheres que conheço que “compraram a briga”, é porque de alguma forma sofreram violência.
Hoje Sandra realmente trabalha em prol de fazer com que nós mulheres, tenhamos uma vida digna, e honrada. Se preocupando não só com a violência, mas também com o abandono, ou até mesmo com o fato de não termos em Rondonópolis uma cadeia feminina.
Apesar das condições precárias de suas instalações, o Conselho da Mulher de Rondonópolis está fazendo valer nossos direitos perante a sociedade.
Não temos ainda uma casa de abrigo, a vitima em situação de ameaça, dependendo das entidades beneficentes, que nos ajude a acolher a mulher que teve a coragem de denunciar o agressor, isso está muito longe de ser o ideal.
Mas Sandra não para está sempre procurando à melhor forma de adequar as condições que tem as exigências do momento.
Hoje o conselho da mulher está criando um projeto de prevenção, será começado a fazer nos bairros de Rondonópolis, uma capacitação de alguns moradores, para que eles possam está atuando junto a suas comunidades, como conselheiros e mediadores.
Fazendo assim um trabalho de prevenção, e de educação.
Sim educação, volto a afirmar, essa é a única via para acabar com a violência doméstica.
Porque hoje não temos mais o problema de não termos uma lei que nos proteja. Nós temos uma lei que nos protege. Hoje nós temos o problema que a grande maioria das mulheres que sofrem violência em seus lares, prefere a lei do silêncio a Lei Maria da Penha. O medo sela nossos lábios, o medo nos paralisa, o medo nos faz ver fantasmas, onde eles não estão.
E medo é uma coisa que não falta a uma mulher em estado de violência: Ela tem medo que seus filhos e ela fiquem desamparada, ela tem medo de ser assassinada, ela tem medo e vergonha da opinião publica medo e vergonha da sua família, de seus amigos, da sociedade em que está inserida. Ela se sente isolada em sua dor. E seu agressor lhe parece ser uma pessoa muito, mais muito poderosa mesmo. É assim que as grandes maiorias das mulheres em estado de violência se encontram.
Hoje eu estava dizendo a Sandra, que quando um agressor diz diante de uma delegada ou mesmo de um juiz, que sua mulher está com problemas mentais, talvez está seja a única verdade que ele esteja dizendo. Como ela não vai ter problemas mentais? Ela está vivendo com um monstro. E parte dela sabe disso, e outra parte que quer se livrar do problema, mas tem também aquela voz que diz que ela não é capaz de se manter, de manter seus filhos, que vai perder a família, os amigos, que a sociedade vai lhe virar as costas.
Agora o mais triste, seus amigos, sua família, e a sociedade, com raras exceções vão realmente te virar as costas, vão muito provavelmente ficar com o lado mais forte da situação, e não tenha a menor duvida que não será o seu lado.
Mas você terá apoio de pessoas que você jamais imaginou que teria.
Hoje em Rondonópolis, apesar de todas as dificuldades que enfrenta o Conselho da Mulher, está preparado, para te ouvir, para entender o seu problema, para te orientar.
Temos vinte e oito conselheiras, preparadas, para entender o que está ocorrendo com você, sem fazer nenhum julgamento.
Ninguém vai parar uma investigação porque seu agressor é o fulano ou o sicrano.
O Conselho da Mulher quando acionado, acolher qualquer denuncia. Citamos o caso de um político de nossa cidade, conhecido há muitos anos pelos atos de violência que cometia contra sua ex-mulher. E o Conselho assim que recebeu a denuncia formal, tomou todas as atitudes cabíveis ao caso.
E isso que a Maria da Penha sempre sonhou, que nós mulheres, tivéssemos alguém que nos ouvisse, que nos desse as mãos, sem nos julgar.
Antes, quando você entrava em uma delegacia da mulher para fazer uma denuncia, está se ariscando a ser presa no lugar do agressor. Eu estou falando porque foi assim que aconteceu comigo há uns quinze anos atrás, quase que eu fiquei presa.
A mudança é radical, nesse quesito. Temos hoje todo apoio, temos a garantia de nossas vidas, de nossa integridade física, psicológica, e principalmente, temos a orientação psicológica, que no nosso caso é de suma importância.
Denuncie Ana Maria Bruni costuma dizer: “O silêncio é o trovão dos omissos”.
Omitir significa condenar há você e aos seus filhos a uma vida de medo, e violência.
Amanhã falamos mais.
Fique na paz e na luz.
Araretama uma mulher
Domingo, 13.09.09
A violência não começa na hora da agressão, ela é algo que se inicia muito antes, mas muito antes mesmo.
É isso é algo que deveria ser matéria no colégio, para que nossas filhas, não cometessem os mesmos erros.
Temos que começar a educar nossos filhos para que eles tenham uma visão mais critica sobre o ser humano. Isso não significa preconceito, é algo completamente diferente. Significa ensina-los a ver que se alguém te trata bem e trata uma pessoa mal, na sua frente, você pode ser a próxima a ser mal tratada.
São nas pequenas coisas que vamos aprender a reconhecer o futuro agressor, o futuro pedófilo, e assim poder nos defender deles. Alias futuro para nós, porque já está provado por psicólogos e psiquiatras, que um agressor, um pedófilo, já nasce com essa predisposição.
São tipos psicológicos, que precisam ser evitados, para nossa saúde física, mental e espiritual. Isso não é de forma alguma preconceito. Isso é preservação do Ser.
Estava lendo a entrevista da Maria da Penha, e fiquei pensando, é assim que foi comigo, é assim que é com a grande maioria das mulheres que são violentadas, espancadas, mal tratadas, humilhadas. A conversa é sempre a mesma: “Ele era tão bom, tão querido pela minha família, tão querido pelos meus amigos, me tratava tão bem,... que eu não poderia imaginar que isso ia acontecer...”.
Vamos ser sinceras, não imaginamos, porque estávamos carentes precisando de uma tabua de salvação... Não imaginamos porque o nosso inconsciente (nosso ego) nos dizia bem lá no fundo que não éramos capazes de arranjar coisa melhor.
Tudo o que passamos foi o que escolhemos passar. Estejamos ou não conscientes disso.
Não há como fugir da realidade. Nós fomos de encontro com o agressor, porque alguma coisa em nós precisava daquela experiência.
Ninguém se torna violento do dia para noite, uma pessoa é violenta, e esconde isso quando lhe convém, e deixa de esconder quando deixa de lhe convir. Essa é a realidade.
Meu ex-marido era um homem maravilhoso, até eu engravidar da minha filha, na minha gravidez, fui espancada mais três vezes. Por quê? Porque ele viu que estava seguro, que já tinha-me “pegado”.
Mas tenho que admitir se quiser ser honesta, que ele só era maravilhoso comigo, que ele era violento com seus familiares, com os empregados, no transito, que sua ex-mulher, dizia ter sido espancada por eles varias vezes, que suas filhas também diziam que ele espancava a mãe delas, que eu ouvia dizer que ele havia batido na mãe dele, e que por isso ela faleceu uma semana depois da surra. Então vamos ser realistas: O que me fez pensar que eu era tão especialíssima assim, que ia viver com um monstro desses e ia sair impunemente? “O medo, o meu ego que me dizia que se não fosse ele, eu não teria ninguém para me amar.”
Aceitar essa realidade é muito difícil, porque isso nos faz passar de vitimas, a donas da situação. Mas infelizmente não existe outro caminho para cura.
Falo isso, porque creio ser uma das pessoas que mais procurou que tentou achar uma solução, sem ter que enfrentar a realidade. Mas felizmente eu descobri que teria que enfrentar a verdade.
A verdade, não nos condena, ela nos faz ser responsáveis por nossas vidas, pelo nosso corpo, por nossa cabeça, e por nossa alma. A verdade de que somos responsáveis não nos faz culpadas, e não diminui em nada a culpa do agressor. Ela nos liberta da mentira de que não podemos ser responsáveis por nossas vidas, e nos faz donas de nossa alma.
Sei que chegar nesse ponto não é fácil. Mesmo porque todos que estão nessa situação, encontram-se tão avariadas, tão machucadas, com tanto medo, que beira ao terror... Que não é de forma alguma fácil.
E o que piora muito a situação é que em um estado desse você fica sem ação, e não consegue acreditar em ninguém.
O medo é um sentimento paralisante. Ele não te deixa agir, ele não te deixa raciocinar, nem enxergar a realidade. Aprendemos a ver o mundo sob a ótica do nosso medo, o nosso problema passa a ser o maior problema do mundo. Nada mais tem importância, vivemos em torno do agressor, e pensamos o dia todo em como vamos fazer. Na verdade essa passa a ser a nossa vida, o agressor. Deixamos de ter vida própria, e passamos a viver em função do agressor, é ai que somos “fisgadas”.
E assim é com a maioria dos casos de agressão, o agressor só age quando sente que está em segurança.
Aprendemos muito cedo, a sermos frágeis, vitimam coitadinhas, a nos sacrificarmos. E é ai que mora o perigo... Porque quanto mais vitimas, quanto mais coitadinhas, melhor para o agressor. Alias ele conta exatamente com isso, com o nosso medo, com a nossa bondade, com a nossa capacidade de perdoar.
Um dia ouvi em um seminário na Unipaz, facilitado pela Lydia Rebouças, que: “Paz não é ausência de guerra, paz é inteireza” Que grande verdade, e como eu ia precisar dessa verdade logo em seguida...
Ser bom não é ser capacho, perdoar, não é deixar de denunciar que você está sendo vitima de um psicopata.
Isso é totalmente o contrario de bondade, de amor, de paz... Isso é falta de auto-estima, e se você não se ama não se respeita, e não se aceita você vai mesmo aceitar ser agredida, humilhada, roubada, explorada, e tudo mais que uma mente doentia pode fazer com outro ser humano.