Quarta-feira, 12.05.10
As conseqüências das agressões sofridas no lar - se é se pode chamar assim uma casa onde há violência-requerem custos econômicos enormes, são despesas com médicos, apoio social e psicológico, abrigo, entre outros. Mas, o preço da violência ultrapassa o valor financeiro. Dinheiro não é o empecilho para que isso seja solucionado. Melhor se fosse. O custo a ser levado em consideração é o pessoal e o social do sofrimento das vítimas. Freqüentemente, a sociedade enxerga as agressões que acontecem dentro da casa do vizinho, por exemplo, como um problema localizado e, preferem não se interferir. Esse pensamento é bastante comum, já que não imaginam a ligação que há entre a violência daquela casa e a que ocorre na esquina. A agressão cometida num ambiente familiar não é menos grave, ou merece tão ou mais a atenção das pessoas. Além disso, as pessoas não costumam projetar as conseqüências da educação dada àquela criança agredida na casa do vizinho na sociedade. Pessoas que sofreram violência na infância, quando crescem, reproduzem essa atitude, tornando-se adultos violentos. A violência não é hereditária, mas sim aprendida. A família como base do desenvolvimento humano deveria ser o ponto de partida para uma criança receber orientação e amor. No entanto, diversas famílias proporcionam esse desenvolvimento moldado por agressões gratuitas ou ainda violência justificada supostamente pelo amor. A perpetuação da violência assegura e reforça as relações de poder historicamente desiguais e injustas entre os membros da família. Seja do homem sobre a mulher ou dos pais sobre os filhos. Reproduz, dessa maneira, uma atitude doente, de geração em geração, que se repete e se agrava através dos tempos. Esse comportamento está arraigado na cultura e, por conseqüência, na educação de todos; e, sem perceber, as pessoas encaram o problema como algo ‘aceitável’ e ‘comum’. É comum que não só as famílias que sofrem com a violência, mas também toda a sociedade fechem os olhos para as barbáries que estão por todos os lados gritando por socorro. As pessoas recusam-se a enfrentar tal realidade e, por conta dessa omissão - a qual pode ser chamada de cumplicidade -, permitem e até, por que não dizer, encorajam a violência. É importante ressaltar que a autoridade dos pais na família deve ser fundamentada no respeito e não nas relações de poder exercidas pelos mais fortes sobre os mais fracos. Os pais fazem uso da necessidade que os filhos têm de seus cuidados e, com esse poder, manipulam a relação. O pátrio poder em relação à criança cria uma dependência ainda mais cruel ao passo que o filho fica à espera de amor, mas os pais podem decidir por conceder ou retirar esse sentimento, ou ainda transformá-lo em algo bem perverso. Os pais são capazes de criar uma confusão imensa nos filhos quando maltratam e dizem que o fazem em nome do amor que sentem por eles. Nesse momento, as crianças chegam a relacionar a dor provocada pelos pais ao carinho que dizem sentir. A criança fica sem defesa pelo fato de tratar-se de alguém da família. Pois, se por um lado aprendeu a desconfiar de estranhos, por outro, disseram-lhe que ‘na família tudo é permitido’. O domínio sobre a criança pode ser exercido facilmente. Todos os caminhos que levam à discussão sobre como educar os filhos, num momento ou em outro, chegam à violência como ‘solução’. A punição é resultado de tolerância cultural, a sociedade já está acostumada ao castigo físico como procedimento educativo, dentro de uma estrutura de poder autoritária. Tal situação é mantida pela figura do pátrio-poder,que permanece intocável. Lamentavelmente, o que se ouve com grande freqüência é: ‘um tapinha não faz mal a ninguém’. Tal expressão não se justifica, já toda ação que causa dor física numa criança, varia desde um simples tapa até o espancamento fatal. Embora um tapa e um espancamento sejam diferentes, o princípio que rege os dois tipos de atitude é exatamente o mesmo: utilizar a força e o poder. Muitos pais dizem crer que uma ‘simples palmadinha’ não é violência e que pode ser um recurso eficiente. No entanto, bater não passa de uma atitude equivocada de descarregar a tensão e a raiva em alguém próximo e que não pode se defender. A mãe deixa sempre claro que o bebê que ela concebeu é ‘filho dela’ - o uso do indicativo de posse é inevitável e nem sempre traz uma conotação de orgulho e carinho. Muitas vezes, a expressão ‘o filho é meu’ carrega a intenção de mostrar a quem quer que seja que ‘faço o que quiser com ele, é meu’. Isso intimida a sociedade para que não haja interferência naquela relação de posse. A violência doméstica contra crianças assume contornos nem sempre brutais e evidentes, ou seja, nem sempre deixam marcas físicas. Muitas vezes, são constantes agressões ‘cuidadosas’ - para não marcar, atitudes que humilham, gestos de raiva, negligência e outras violências sutis que também deterioram, destroem, estraçalham, ou, no mínimo, atrapalham o desenvolvimento da criança e deixam conseqüências drásticas, não só no corpo, mas principalmente nas lembranças. POSTADO POR UMA MULHER


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Terça-feira, 11.05.10
Considero-me e aos outros responsáveis pela sua morte, e também sinto inveja e ciúme das mães com filhos vivos, ressinto-me daqueles que acho não merecedores da vida ou merecedores da morte e sinto raiva de você meu filho por ter morrido e de Deus por ter te levado. Ninguém consegue me dizer “nada de certo”, dias em que “grito para todos”. Estes sentimentos são tão estranhos só podem ser reconhecidos por via da negação. Eles são vividos como “não eu” não-possibilidades temidas que ameaçam transformar-me em uma “identidade negativa”, na pessoa que eu sempre evitei ser. Vejo como sinais da insanidade que se aproxima e se iludo a fim de escapar de meu caráter inerentemente conflitivos. Por exemplo, a fim de negar a sua morte. Tentei “escapar” por meio caminhadas, compras, ou mesmo viagens. Já que “escapar” envolve escapar de mim, dos meus auto enganos temporariamente bem sucedidos frequentemente culminam em experiências de desligamento da realidade e despersonalização. Como pode ser visto, os meus auto-enganos são bastante dolorosos; portanto, também são conflitivos. Eu, então, luto contra eles tanto quanto os gero. Sou inextricavelmente atraída para o momento e o dia da sua morte é perseguida pela imagem de seu corpo. Construí uma imagem a da cena da sua morte e empreendo uma vigília na qual espera pelo seu retorno em horas rotineiras do dia durante épocas tradicionais do ano. Repetidamente revejo a cena da sua morte e minha reação ao ser avisada a respeito dela, assim como várias cenas de nossas vidas juntos. Estas repetições são essenciais para mim; elas constituem minha luta para aceitar o fato e a finalidade da sua morte. Nunca vou compreender isto plenamente. Existe sempre uma outra situação que revela outro significado. Tenho que viver com os aspectos desconhecidos da vida, morte e do futuro prematuramente interrompido, com minhas fantasias sobre o que poderia ter sido. Vivencia esta frustração ao procurar uma razão para a morte, ingenuamente “reduzindo” o significado da vida ou da sua morte, ou persistentemente perguntando a Deus porque o filho morreu. Eu me pergunto, até onde você poderia ter ido... E, então, em uma fração de segundo, tudo aquilo que se foi.... Eu não estou furiosa com Deus, mas eu me pergunto por que você partiu... Assim mesmo... Eu sei que continuo me questionando.” Minha incapacidade em fugir do significado da sua morte resulta em incontroláveis ataques de choro que a esvaziam e esgotam e em sentimentos de fraqueza, solidão, ânsia, indiferença e incapacidade. Tristemente, entretanto, sinto me abandonada pelos outros. Eles retiram-se na crença de que a sua morte de é insuportável, é como se a dor deles, fosse maior do que a minha, vivo estas repulsas e concluo que somente outros pais enlutados podem entender-me. POSTADO POR UMA MULHER


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Segunda-feira, 10.05.10
Eu tenho uma dor dentro de mim que não consigo me livrar. É como se uma parte minha estivesse sendo dilacerada. Presa dentro desta esfera conflitante, temo que serei dilacerada por minha dor. Partes do meu corpo, especialmente meu estômago e ventre, detém meu filho. É como se eu estivesse sofrendo um ataque contra o qual só posso lutar conflitantemente; como a morte do meu mundo; como a destruição do meu passado, presente e futuro. Tentei viver o presente como se você ainda estivesse vivo, mas fui derrotada. Depois tentei viver como se sua morte não tivesse alterado de maneira irremediável a minha vida, mas também fui derrotada nesse esforço. Então agora sei que estou sendo atacada pelo meu luto e pela morte...Sou forçada a viver num mundo que não inclui a sua presença viva, nem a possibilidade dessa presença posso ter. Posso escolher entre lamentar ou não esse fato, mas não tenho escolhas quanto a viver nesse mundo sem você. Sua morte para mim, não foi somente a morte do seu corpo, ou de um ser particular, não foi muito mais, foi a morte do meu mundo constituído. O meu mundo temporal vivido dia a dia, mês a mês... As coisas triviais que você gostava, que fazia, mesmo nossas brigas e discussões, que antes eram possibilidades, agora representam as impossibilidades. Ainda não consigo olhar para um doce de leite, suspiro, fazer chá matte, fazer massagens, e tantas outras coisas porque sei que você nunca mais vai esta aqui para apreciar. Eu sinto sua falta terrivelmente... No inicio estava abrigada pelo estado de choque, atordoada com a enormidade da minha perda, incrédula de que isso realmente tivesse acontecido comigo. Nunca mais você irá participar criativamente, surpreendentemente, ou mesmo previsivelmente de um diálogo comigo. Minha angústia em confrontar rejeitar, provisoriamente aceitar o significado desta finalidade estrutura meu luto. Incorporei a sua morte como um vazio que não posso preencher. A sua inexistência é meu vazio. Você sabe, nós brincávamos o tempo todo e isto tudo simplesmente se foi. Agora, qual é o meu sentimento? O que eu sinto? É somente um vazio... Você se foi... Assim. Eu penso às vezes também, se você tivesse ficado doente, ou se nós o tivéssemos visto, você sabe, sabendo que nunca ia melhorar, eu não sei se isso teria feito alguma diferença. Eu tenho sentido frio à noite. POSTADO POR UMA MULHER

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Quarta-feira, 05.05.10
Ainda me lembro de quando estava grávida de você, lembro-me de que foi uma época especialmente difícil para mim. Foi a confrontação da realidade que minhas escolhas foram totalmente erradas, baseadas em desespero, em erros que me levaram a outros erros... Quando fiquei grávida de você, não pude mais deixar de enxergar que o pai que eu escolhi para vocês, que o homem que eu escolhi para viver ao meu lado, era na realidade um monstro. Uma pessoa sem a menor sensibilidade ou empatia pelos problemas do outro, mesmo que esse outro fosse eu, sua irmã ou você. Alias para ser realista, não mesmo que se fosse, é principalmente se fossemos nós. Um homem capaz de caluniar, de fazer com que minha vida se tornasse um verdadeiro inferno, pelo simples fato de que isso lhe dava prazer, ainda não sei o que dói mais, se o fato de ter sofrido tanta violência durante minhas gravidez, ou se o fato de ter descoberto que elas foram muito bem planejadas..., talvez isso tenha começado a influenciar você, ficávamos sozinhos sua irmã, eu com você dentro de mim, o dia todo, tendo como comida arroz e tomate, outras vezes ovos e arroz, o pão era comprado nas promoções e vinha de cinquenta ou até mais e ai tínhamos que come-lo ao longo do tempo do jeito que tivesse....mas não era por falta de dinheiro, dinheiro esse monstro sempre teve muito, era por pura crueldade...meu Deus como demorei para descobrir isso, como eu me achava poderosa a ponto de acreditar que eu tinha o poder de mudar uma mente tão demoníaca... Lembro do dia que você foi nascer eu e sua irmã, fomos ao ginecologista, porque já fazia dias que eu não estava me sentindo muito bem. Ela disse que você já estava passando da hora de nascer, que teríamos que fazer o parto o mais rápido possível, quando sai da clínica e fui descendo a rua, sua irmã disse que já estava cansada... Ela tinha apenas quatro aninhos, eu a peguei no colo, nesse momento seu pai passou de carro, parou perguntou por que tínhamos saído de casa, eu disse, disse que tinha que ir urgente para o hospital, você já estava querendo vir ao mundo a muito, ele simplesmente me disse então vai pra casa com a menina, que mais tarde eu vou lá te pegar... Meu Deus, quanta falta de consideração, quanta falta de humanidade... Muito tempo depois eu fui saber que naquele momento estava indo temperar uma carne para um churrasquinho com os amigos de pescaria... Lembro-me que quando você tinha vinte dias tive que te deixar com uma empregada e sair para buscar trabalho, porque não aguentava mais aquela vida de miséria, de calunia de difamação, de descaso... Sabe “Vi” uma cena que não me sai da cabeça é quando você fez um aninho, eu consegui comprar um velotrol para você, fiquei tão feliz, e você quando recebeu o presente, lembro até agora da sua felicidade montado naquele velotrol azul, que comprei com o meu salário, seu pai estava em uma pescaria como sempre, quando chegou nervoso, ele estava “nervoso” com a gente, ele chutou o velotrol até quebrar o guidon, lembro da tristeza estampada em seu rostinho, da dor que você deve ter visto espada em meu rosto... Uma semana depois ele arrumou um pedaço de pau e arrumou o guidon, mas eu sempre que olhava para o velotrol me lembrava dos coices, e acredito que você também. Você aprendeu muito cedo meu filho a violência, a mais extrema e cruel forma de violência, a que é cometida com os seus, a violência silenciosa que não podia sair de dentro de nossa casa, a violência que tinha que ser fingida, escondida, engolida... Talvez por isso você roía sua unhas, assim como eu comia muito para esconder dentro do excesso de gordura o medo, a humilhação, a dor, você roía suas unhinhas para não externar a barbaridade que estávamos todos nós vivendo, experimentando...foram anos terríveis aqueles, alias você meu filho teve uma vida difícil muito difícil, tenho que admitir isso, fico me perguntando porque só agora tenho consciência de tudo isso? POSTADO POR UMA MULHER


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Quinta-feira, 29.04.10
O que se passou com o Vi? Porque ele não conseguiu acreditar em outra saída senão a de ir para o caminho que ele estava trilhando? Eu sabia de sua agressividade, muitas vezes de uma freqüência assustadora, passando a ocupar territórios essenciais na idade ainda em transição e que se apresentavam em seus abalos e turbulências muitas vezes incontornáveis. Dos seus adoecimentos, sentidos e sofridos. Havia em você meu filho uma impulsividade que é própria do adolescente. Mas os conflitos estavam, presentes, e produziu seus efeitos desastrosos e devastadores, que irrompem de uma maneira traumática, irrisória, drástica, assustadora e, até mesmo, insana. Foi um movimento por demais agressivo, inconsciente, mas que apresentou força suficiente capaz de promover danos irreparáveis. A sua violência era desencontrada, contra você mesmo. Perdi as contas de quantas vezes eu fiquei a noite pensando nessa sua raiva interna, nessa violência que você trazia dentro de você. Filho você se comia em vida, roia suas unhas, comia suas sobrancelhas. Era uma violência surda, que acredito que você mesmo tinha medo do poderia acontecer. Hoje eu acredito que você estava sofrendo os embaraços da dor herdada, da violência que você presenciou durante toda a sua infância, não só presenciou como também foi vitima. Por alguma razão, você não conseguiu reverter o rumo da história recebida, daí, sofreu os efeitos devastadores dos ideais contrariados de seus ancestrais. Por alguma fragilidade psíquica você não conseguiu se dar a chance de assumir e se apropriar de sua própria história retificando a má sorte que uma equação de vida lhe impôs como algo tão maldito. Não há culpados na história. De algum modo tenho que me tornar responsável pela história que você recebeu. Foi o peso desta história recebida que te levou a não suportar viver? Uma história que se estrutura pelo viés dos efeitos de inconsciente – de uma boa ou má sorte – que ela mesma instaura. A herança simbólica que cada um de nós recebe, até mesmo antes do nascimento, com a interrupção de uma vida, cessará de ser transmitida para filhos e netos, restando, nesse vazio, nada mais que um ponto de sacrifício habitado por interrogações silenciadas. Herdamos uma vida por onde florescem todos os pecados do mundo, vale dizer, do pai, da mãe, dos nossos antepassados. Votos de vida e votos de morte. Cada um de nós terá que aprender a lidar com a sua história de uma maneira particular, a partir de um estilo de vida. Mas temos oportunidades e meios para mudar os rumos de uma má sorte. Eu desejava que você vivesse cada vez mais. Queria ter podido te dar uma boa infância, e que você pudesse ter tido a chance de participar das brincadeiras com outras crianças. que crescesse e se tornasse independente que estudasse e cursasse uma universidade, que encontrasse um caminho vitorioso na vida amorosa e profissional. Queria mais ainda, deseja, verdadeiramente, que você estivesse presente quando eu morresse que você enfrentasse e superasse as dificuldades. Mas tenho que admitir o medo, a covardia, e a mascara da vitima coitadinha, não me deixaram tomar uma atitude que pudesse ter proporcionado a você e a seus irmãos, tudo isso que qualquer criança tem como direito nato. Eu os privei de uma vida normal, os privei quando não tive atitude para mudar o rumo de nossas vidas. Eu não te perdi, eu perdi, perdi tudo. O buraco que ficou é um rombo. Você carregou algo de cada um de nós, que, por sua vez, algo de você está em mim, em sua irmã e no seu irmão, para sempre. Também nas vizinhanças, há ressonâncias dos estilhaços de perdas que promovem feridas por vezes não cicatrizáveis. A perda de um filho. Eis, aí, a dor maior que habita a alma humana. O que se passa aqui? Não somos mais os mesmos, logicamente. A sua morte provocou uma desestruturação, uma quebra dos vínculos, uma ruptura dos laços que sustentava uma então cumplicidade necessária para se viver em família. Mas alguma coisa ainda vive aqui para além do que se poderia imaginar. O tempo não curou. Não há mais lugar para a alegria, para o diálogo. Ela está pesada, pesarosa. Estamos fechados em nós mesmos. Não podemos respirar vida. Eis o problema maior. Não há lugar para a palavra, ela não circula. Você está posto, alocado em proporções distintas em cada um, de nós, fazendo parte, impedindo que a falta se coloque, que possa circular, dando a ver lugar para a fala e para a palavra. Desejos amortecidos, ninguém se autoriza desejar. Estou imersa num gozo culposo e lamentador. Caindo na ressente da dor da perda, não faço outra coisa senão ruminar dentro de mim o peso de um fracasso. Questiono-me sobre o acontecido, sobre minha parte nisso tudo. POSTADO POR UMA MULHER


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Terça-feira, 20.04.10
A morte de um filho deixa uma dor eterna Vazio absoluto. Um nada sem chão, teto ou paredes. Mais que um poço fundo, o fundo sem o poço. A falta de ar. O desespero. A desesperança. Irracional, ilógico, inaceitável. As palavras e imagens mais fortes não são capazes de definir, o luto de uma mãe que perde um filho. A morte de um filho deixa cicatriz indelével, uma dor eterna. É a pior situação humana, não há perda maior. Não tem nada de simbólico para que eu possa elaborar essa perda. Eu morri junto mesmo! Mas é “antinatural”, a morte imprevisível de um filho é a que nos desestabiliza. O “To sem chão” é hoje uma frase que especifica muito bem o que sinto nesse um ano de três meses, de vazio absoluto. Angústia, revolta, dor, desespero, impotência, tristeza. Não existem palavras para definir a perda inesperada de um filho na adolescência. Diante de tanto sofrimento, esquecer jamais. Reinvestir amor e esperança na vida é um caminho a ser alcançado, por mais impossível que possa parecer. POSTADO POR UMA MULHER

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Terça-feira, 23.03.10

É difícil o relato de violência sofrida por mulheres. Trata-se da invisibilidade da violência que afeta as relações usuais da mulher essa violência é silenciosa e a vítima a sofre de maneira silenciosa, porque se trata de uma violência velada e insidiosa, não assumida pelo agressor, negada e denegada por ele, que sutilmente inverte a relação acusando o outro de ser o culpado pela situação.
O assédio moral é uma forma característica e peculiar de violação dos direitos da personalidade, à integridade psíquica, em especial, que se protrai no tempo; é marcado pela sutileza das ações, é sempre bilateral, pois estão, de um lado, o  assediado (vítima) e, de outro, o assediador, ambos vinculados por uma relação hierárquica ou de dominação deste último em relação ao primeiro.
Trata-se de um modo de agir, individual ou coletivo, contínuo e repetitivo, que tende a violar os direitos da personalidade, atingindo a dignidade e, especialmente, a integridade psíquica da pessoa assediada, independentemente da ocorrência de um dano e da intencionalidade do agente individual ou coletivo.
Assim, o assédio moral é a prática sutil e repetitiva, de um agressor em posição de dominação com relação à vítima, que, por palavras, gestos e atitudes destrói sua autoconfiança e a “aprisiona”, minando, aos poucos, importantes feições de sua personalidade.
As principais características destacadas são: permanência no tempo (continuidade de agressões), sutileza (mecanismos de comunicação que o agressor estabelece, para que os outros não percebam a violência dirigida à vítima) e bilateralidade (posição de dominação do agressor com relação à vítima).
O assédio moral se inicia por meio da sedução perversa. Essa é a etapa em que a vítima sofrerá um processo denominado enredamento: “O enredamento consiste na influência intelectual e moral que se estabelece em uma relação de dominação. O poder leva o outro a segui-lo por dependência, isto é, por aquiescência e adesão” .
Nas relações entre marido e mulher (ou relações entre casais de um modo geral), a autora prevê que “o movimento perverso instala-se quando o afetivo falha, ou então quando existe uma proximidade excessivamente grande com o objeto amado”. É justamente a proximidade que causa no assediador o temor de que a mulher invada seu íntimo e, por isso, ele constrói “uma relação de dependência, ou mesmo de propriedade, para comprovar a própria onipotência”.
Entre as quatro paredes de um casamento, é nas palavras, no tom, no olhar, na ironia, na indiferença e na humilhação que se descobrem os primeiros sinais da crueldade psicológica. As cicatrizes, às vezes, são mais profundas do que as de uma agressão física. O jogo do poder se instala insidiosamente nas refeições, nos passeios de fim de semana, na educação dos filhos, no aproveitamento maldoso das confidências...
Diante da vítima, destarte, o homem desenvolve a voraz capacidade de imobilização, subtraindo da mesma todo o conteúdo que lhe interessa, enquanto aquela remanesce desprovida de qualquer potencial de reação. O resultado: uma vitima, coisificada, que obedece “primeiro, para dar prazer a seu parceiro, para compensá-lo, pois ele tem um ar infeliz. Depois, obedece por ter medo”. Ou seja, o processo só se instala, na realidade, porque a atitude da mulher chega a ser pacífica. A vítima duvida da existência do assédio moral e, logo que o fenômeno se inicia, prefere acreditar que é exagero seu, ou que o agressor precisa de ajuda e que poderá modificá-lo.
Em razão da sutileza das agressões, que se perpetuam por comentários sarcásticos, ironia, ou até mesmo pelo descaso, as pessoas alheias à agressão dificilmente percebem a situação da mulher. Todavia, caso percebam e incentivem-na a buscar ajuda, provocam no homem assediador o ódio em seu estado mais puro: O ódio já existia desde a fase inicial, de enredamento e controle, mas estava desviado, mascarado pelo perverso, de modo a manter a relação estacionária. Tudo aquilo que já existia de forma subterrânea aparece agora claramente. A tarefa de demolição torna-se sistemática.
Por isso, a reação da mulher é tão ou mais difícil do que em casos de violência física.
Afinal, “se ela reage, é geradora do conflito; se não reage, deixa desenvolver-se uma destruição letal”.
Dentre relatos transcritos no livro “Assédio Moral: A violência perversa no cotidiano”, no capítulo que trata da violência privada, grande parte é de mulheres que se destacavam profissionalmente, situação esta que incomodava os parceiros e acabava gerando um conflito que desembocava na prática do assédio.
Deve-se compreender, todavia, que há um perfil próprio do assediador. Este, geralmente, é marcado pela perversidade e tem traços de caráter e comportamento que variam entre a crueldade e a malignidade, além de acreditar, insistentemente, que está acima de tudo e de todos. O psicólogo Flávio Carvalho Ferraz conceitua o agressor como alguém que “não se encontra sujeito às insatisfações, inibições, ruminações de culpa, dúvidas, medos e todas as demais formas de tormento psíquico”. Desta forma, “a perversidade implica estratégia de utilização e depois de destruição do outro, sem a menor culpa”.
É perverso, pois anti-social, é falso, mentiroso, irritável. Não tem preocupação com  a segurança dos demais e não tem nenhum remorso dos atos que pratica. Nega a existência do conflito para impedir a reação da vítima. É incapaz de considerar os outros como seres humanos. É narcisista porque se acha um ser único e especial. É arrogante. Ávido de admiração, holofotes. Dissimula sua incompetência. Acha que tudo lhe é devido e tem fantasias ilimitadas de sucesso. Nunca é responsável por nada e ataca os outros para se defender. Projeta no (a) assediado (a) as falhas que não pode admitir serem suas.
Apesar de ser possível identificar o perfil próprio do homem assediador, não são todas as mulheres que se enquadram na qualidade de vítima.
A vítima é vítima porque foi designada como tal pelo perverso. Torna-se o bode expiatório, responsável por todo o mal. Será daí em diante o alvo da violência, evitando o seu agressor a depressão ou o questionamento. [...] Por que foi escolhida? Porque estava à mão e, de um modo ou de outro, tornara-se incômoda. Entretanto, acredita-se que “a vítima ideal é uma pessoa conscienciosa que tenha propensão natural a culpar-se” . Assim, quando o “jogo perverso” suplanta a capacidade de resistência da mulher e os que com ela convivem passam a acreditar que é exagero seu dizer que está sendo assediada, surgirá nela o sentimento de culpa. Afinal, em nome da tolerância e da cultura da lealdade familiar, ela acredita que deve suportar sem nada dizer. É desse sentimento que o assediador irá se aproveitar, incitando ainda mais a crença de que a culpa é da própria vítima.
As implicações de todo este fenômeno variam do isolamento ao medo, à depressão, ao estresse, além de quadros clínicos mais graves. Em recente pesquisa, Margarida Barreto identificou que 60% das mulheres vítimas sofrem de depressão; 40%, de aumento da pressão arterial; 40% têm dores de cabeça; 40% são acometidas por distúrbios digestivos e, surpreendentemente, 16,2% têm idéias de suicídio. Isso tudo, até que a própria identidade da mulher seja destruída, momento este em que nem mesmo ela se reconhecerá: “Vemos que o assédio moral é um processo singular, no qual a pessoa se transforma naquilo de que é acusada. Dizem-lhe: ‘você é uma nulidade’ e ela perde a capacidade e se sente uma nulidade”.
Essa situação culmina com um prejuízo irreparável à integridade psicológica da mulher, restando justificada a preocupação com o resguardo deste bem jurídico.
Contudo, a maior dificuldade enfrentada durante todo o processo de assédio diz respeito à coleta de provas. Não raro inclusive o juiz se mostra cético diante da prática. O depoimento de uma vítima exprime, exatamente, esta realidade:
Depois da separação, mesmo tendo tido um consultório cheio por mais de 25 anos, me senti incapaz de atender qualquer cliente por quase três anos. Em quatro meses, perdi 8 quilos. Senti o desespero do isolamento. Eu havia sido a luz da vida daquele homem e, da noite para o dia, ele me ignorava e dizia aos amigos que me evitava para que eu sofresse menos ou, se contradizendo, que eu devia estar feliz porque, afinal, não gostava mais dele e ele me fizera o favor de sumir da minha existência.
Não quis advogado na separação. Para mim, só valeria a pena entrar na Justiça se desse para provar o assédio moral, a lenta e gradual destruição da auto-estima.
Mas isso ainda é um tabu no Brasil. Ninguém fala, ninguém vê, ninguém reconhece.



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Quinta-feira, 04.03.10

 Somos todos curadores feridos. Todos relutamos muito em nos tornar vulneráveis, em levantar o véu que nos recobre e mostrar o que temos dentro de nós, sejam coisas positivas ou negativas. Hesitamos em revelar a dor ou o ferimento que cada um de nós, á sua maneira, traz em si. Sentimos vergonha e nos escondemos. Achamos que somos os únicos ou que a nossa dor é mais desprezível que a de qualquer outra pessoa. Isso é muito difícil para nós, a não ser que nos sintamos seguros. Essa é a nossa condição humana. Cada um de nós precisará de algum tempo e de muito amor para se mostrar. Devemos dar uns aos outros bastante tempo, espaço e apoio com amor. É ´por meio desse ferimento que todos estamos aprendendo a amar. Esse ferimento interno que todos temos é o nosso maior mestre. Devemos reconhecer quem realmente somos por dentro.Somos a bela essência do nosso Eu Superior, apesar das camadas de dor e de raiva que nos encobrem. Cada um de nós é único na sua individualidade, e é muito bom que seja assim. Devemos nos tornar curadores feridos, ajudando-nos mutuamente a compartilhar a verdade de nosso ser interior.

Podemos descobrir que estamos num universo benigno, rico, propicio á vida e sagrado. Somos carregados nos braços do universo. Sonos rodeados por um campo de saúde universal que garante e mantém a vida, e ao qual podemos nos ligar. Podemos ser e, de fato, sempre somos, nutridos por ele. Fazemos parte dele e ele faz parte de nós. O mistério divino da vida está dentro de nós e em toda a nossa volta.
As vezes, quando não estamos alertas, nós nos soltamos, e surge a força criativa!
Um súbito gesto de bondade, ou uma expressão de amor ou de amizade que se manifestam antes que possamos pensar nisso é uma expressão do eu Superior. Cria-se um momento d estreita ligação, e o amor é liberado.
Então, não podemos tolerar a luz e o amor, nós nos tornamos tímidos e nos afastamos. Basta alguns segundos para ficarmos constrangidos e nos "fecharmos" um pouco. Um medo súbito surge aparentemente do nada, e diz: "Oh, talvez eu tenha agido mal". Essa é a voz dos nossos pais falando, substituindo o Eu Superior. Sob ela, está a defesa. Ela na verdade quer dizer: "Se não detiver esse fluxo d energia, provavelmente vai sentir tudo, incluindo a dor que estou escondendo de você ". Assim interrompemos e refreamos o fluxo de nossa força vital. Nós nos conduzimos de volta ao nível "normal" de "segurança", em que não colocaremos em risco a boa ordem da nossa vida.
Essa é a condição humana.Vivemos a dualidade da escolha, não importando quais sejam as circunstância de nossa vida. A cada momento, escolhemos entre dizer sim a uma vulnerabilidade natural, rica e sem riscos, que dá origem á nossa plena experiência de vida, ou dizer não a tudo isso. quando optamos pelo não, nós nos defendemos da experiência de uma vida verdadeiramente equilibrada e bloqueamos a nossa vitalidade.
A maioria de nós prefere matar um pouco da nossa vitalidade durante a maior parte do tempo. Por quê? Porque, inconscientemente, sabemos que deixar a força vital fluir irá liberar a antiga dor, e temos medo dela. Não sabemos como lidar com isso. Por esse motivo, adotamos uma atitude defensiva e voltamos para as velhas e aparentemente apropriadas definições falsas a respeito de quem realmente somos. As vozes de nossos pais ficam mais forte e continuamos a nos afastar. "Quem você pensa que é? Deus?" "Você realmente acha que pode mudar as coisas?"Hora seja realista! As pessoas não mudam. Aceite aquilo que você tem." "Você é ganancioso." "Você não dá valor ao que tem." Ou então: "Se você tivesse nascido mais bonita." "Se os seus pais tivessem tratado melhor você..." "Se o seu marido não tivesse feito isso...". E assim por diante! Existem milhões de maneira por meio das quais a máscara pode falar para conserva-lo no seu lugar. Em certa medida ela impede que você sinta a sua dor. A longo prazo porém ela gera mais, dor e, posteriormente, doença.
Cabe a cada um de nós retornar o contato com o nosso Eu Superior e curar a nós mesmo.

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sinto-me

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Quinta-feira, 01.10.09
Falo muito em imagem, em mascara, então hoje resolvi explicar o que é uma imagem, o que é uma mascara:
A imagem nasce da crença dualista ta de que alguns aspectos da vida são inseguros e que é preciso defender-se deles. A criança que um dia fomos passou por uma decepção e uma dor especifica e fez uma generalização sobre a vida com base nessa experiência peculiar.
A criança não tem nada com que comparar sua experiência ela conhece apenas a realidade de sua família. Assim é natural que conclua que a vida deve ser assim para todo o mundo.
Muitas imagens têm origem na infância, período de intensificação e permanente vulnerabilidade da alma.
Cada um de nós reage às experiências negativas da infância de modo muito diferente, de acordo com a predisposição. Algumas experiências infantis realmente colocam em risco o bem estar físico mental e emocional da criança. Um fato como o divorcio dos pais pode ser sentido como muito mais devastador do que de fato é.
A criança pensa em termos gerais e absolutos. Essas conclusões ajudam-na a tentar entender e, portanto, são uma forma de defesa para ela não ser arrasada pelas experiências dolorosas. O adulto, com um ego mais forte, é capaz de abrir-se ás suposições inconsciente sobre a vida e investigar mais minuciosamente essas generalizações. Ele procurar localizar as experiências pessoais verdadeiras e especificas que deram origem ás imagens. E depois, com seu ego mais forte, pode reviver e assimilar a dor não sentida da infância que está por trás da falsa generalização.
As imagens podem ser simples generalizações. Com base nas experiências tidas com um pai cruel, concluímos: “Todos os homens são cruéis”. Com base nas muitas brigas familiares por causa de dinheiro, concluímos: “O dinheiro só traz problemas.”
“Sempre que fazemos generalizações, em especial em relação a alguém com quem mantemos um relacionamento intimo, do tipo “os homens sempre”-ou” Os homens nunca “- ou ainda “Você sempre”-ou “Você nunca”- estamos no território das imagens de infância, e não estamos reagindo de fato á situação atual. Estamos vendo o presente através das generalizações feitas com base em experiências infelizes do passado, que usamos para nos defender da dor da situação atual.
O “raciocínio” envolvido no processo de criação de imagens não é racional, mas tem lógica emocional própria. Precisamos entrar na cabeça da criança interior para entender como essas falsas crenças se consolidaram como base de nossas reações emocionais aos outros, mesmo que nossa inteligência adulta nos diga que essas conclusões, racionalmente, não tem sentido.
Muitas vezes nos envergonhamos da criança que vive em nós. Podemos já não se lembrar dos processos de raciocínio infantis, e podemos ter esquecido há muito as experiências ou impressões que levaram a essas conclusões erradas. Mas a sensação de vergonha permanece.
Precisamos “perceber que o sentimento de culpa nada mais é do que a rejeição do estado em que você se encontra neste momento, indicando que você não esta disposto a aceitar a si mesmo como é agora.” Todo o crescimento começa com a aceitação do que é verdadeiro agora o nosso respeito, incluindo nossas emoções e nossos comportamentos irracionais e limitadores, e as imagens subjacentes que determinam essa forma desorientada e travada de reagir à vida.
Fiquem na luz e na paz
Fátima Jacinto
Uma Mulher


publicado por araretamaumamulher às 16:08 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Quinta-feira, 24.09.09
A sensação que me da e que vc esta falando comigo, mas infelizmente a maioria das mulheres vivem nesta situação. Denunciar realmente já o fiz,eu queria realmente era me livrar deste sofrimento, queria poder acordar sem sentir dor,medo nojo angustia...
Poderia sim haver uma solução para a violência, já pensei em matar meu marido antes que ele me mate, hoje estou num cárcere sinto que não tenho mais forças para lutar.queria que alguém chegasse ate mim e dissesse vim te ajudar vamos comigo.Não posso denunciar novamente, queria fugir para longe dele somente para seguir vivendo só isso.
ate conseguir a liberdade viverei assim violentada e agredida todo o tempo, ate morrer...
não consigo mais me defender..
Este é um comentário que foi postado aqui no blog, hoje.
Amiga não é a maioria das mulheres que vivem essa situação. Existe outra forma de se ter uma relação baseada no respeito, no amor, na amizade e na cumplicidade.
Sei e como sei que quando se esta em uma situação dessas, tudo parece negro, não conseguimos ver a luz que dizem existir no fim do túnel. Mas ela existe, e está ai, é você que tem que mudar o foco para vê-la.
Vou fazer uma brincadeirinha bem seria: Pare de desejar a morte desse monstro, quanto mais se deseja que eles morram mais saudáveis e cruéis eles ficam...
Existe uma solução para a violência, só não sei se vai te agradar nesse momento. A solução é você parar de ter pena de si mesma, parar de achar que é uma pobre vitima da situação, e reagir, não com violência, mais com atitudes.
O maior medo de uma vitima de violência além do de ser espancada, é o medo de não ter o suficiente para a subsistência dela e dos filhos. Advogados existem para isso minha amiga. Para garantir nossos direitos perante a sociedade.
Na fase que parece que você está não é fácil sair, é complicado, mesmo porque o agressor, se cerca de todo o apoio possível da sociedade em que está inserido, como forma de precaução para não ser “pego”
A primeira coisa que eles fazem, normalmente é que a vitima se passe por uma pessoa mentalmente doente. Alguém que não está em seu juízo perfeito. Isso é quase praxe, entre os agressores contumazes. O que não deixa de ter um fundo de verdade, alguém em situação de risco não esta em seu juízo perfeito, nem poderia. Tem um monstro querendo matá-la e ele está fazendo isso da forma mais cruel que existe, aos poucos diariamente.
Ai começa o inferno: Porque toda a sociedade olha para você com desconfiança, e você esta com auto estima tão abalada que realmente parece louca. O ódio que aflora de uma situação dessas nos deixa realmente loucas, avariadas, sem nenhuma noção do que fazer, em que se apegar.
Matá-lo só irá servir para colocá-lo em um pedestal maior ainda perante a sociedade, não é isso que te interessa. Ou que interessa a qualquer mulher que esta sendo vitima desse tipo de violência. O que nos interessa é a justiça, a verdade. E que sejamos ouvidas e que nos dêem credito de ao menos se investigar o que estamos dizendo. Que nos devolvam nossa dignidade, nosso direito de sermos ouvidas, quanto seres humanos que somos não somos nós as rés, somos as vitimas, então é claro que somos nós que precisamos de apoio, de ajuda, de conforto.
Normalmente não é o que acontece.
Não sei como é sua situação nem financeira, nem social, mas te aconselho a procurar um conselho da mulher. A pensar seriamente em um psicólogo, não que você esteja louca, alias psicólogos não é para loucos. Mas fazer terapia, com toda a certeza ira aumentar e muito sua auto-estima, falar do seu problema, e saber que quem esta te ouvindo não vai te julgar, ira fazer com você veja a situação de outra forma, por outro ângulo, e isso com certeza te levaram a uma saída.
Estou te aconselhando em base do que eu fiz. Não tenho hoje outros parâmetros que não as minhas experiências para te aconselhar, minha amiga.
Sei e com sei o que você está passando. Sei que é desesperador ninguém nos ouvir, ninguém nos amparar. Porque foi assim que me senti nos momentos mais loucos da minha vida.
Fui espancada e humilhada nas minhas três gravidezes, é não podia contar para ninguém, mesmo porque ninguém acreditaria. Tão bom era o monstro em dissimular.
Todo agressor, é um manipulador social, eu ainda me lembro de ouvir aquele monstro, falando para os outros: como uma mulher fica sensível na gravidez.
Em como uma mulher deve ser tratada na gravidez.
Quando meu filho caçula nasceu, eu fiz uma cesariana, ele foi me buscar no hospital, três dias depois do parto. Deixou-me em casa, sem açúcar para adoçar a mamadeira do meu outro filho, sem óleo para fazer uma comida, e foi para Cuiabá (era época de carnaval) e ele foi com um casal de amigos dele se divertir. Não deixou nem um centavo. Voltou dez dias depois, porque a amiga dele havia sofrido um acidente, e não podia tomar sol no braço.
Eu imagino de que tipo de pessoa é essa amiga, ela sabia que eu havia acabado de dar a luz, ela sabia que não tinha ninguém comigo, e mesmo assim não fez nada. Ou melhor, fez, o convidou para irem se divertir.
Não é que as pessoas não sabem a verdade, mais elas preferem agir como se não soubessem, é mais cômodo, mais fácil. E por isso que só a denuncia acaba com uma situação dessas.
Não é que as pessoas não estão vendo o seu sofrimento, elas vêem sim, mais isso as incomoda de uma forma tal, que é melhor fazer de conta que não é verdade. Porque para assumir que é verdade, temos que ter a coragem para olhar, e isso mexe de uma forma absurda com nossa consciência, com o nosso EU, então fica mais fácil brincar de “faz de conta que ta tudo bem.”
E assim passamos a ser excluídas, porque nós somos o que eles não querem ver neles mesmos. Passamos a ser incômodos, a ser um peso para o grupo que freqüentamos.
Nossa sociedade vive muito de faz de conta. As pessoas acham que se fazer de conta o problema vai passar.
Não passa, ele só se agrava! Sinto informar. Sinto informar, também que o fato de fazerem de conta que uma mulher e seus filhos estão vivendo uma situação de risco, não vai de forma alguma melhorar a situação.
Minha situação e dos meus filhos nunca foi melhorada porque pessoas da sociedade, sempre preferiram fazer de conta que estava tudo bem, fingir que o amigo deles, o puxa saco, era um pai amoroso, e eu uma louca, isso nunca trouxe comida para nossa mesa, isso nunca nos trouxe nem uma cadeira para sentarmos, isso nunca nos trouxe uma casa decente para morar, isso nunca nos trouxe dignidade para se viver com um mínimo de decência.
Isso nos trouxe a mim um filho morto, e aos meus filhos a perda de um irmão. Perdas são irreparáveis, por mais que os monstros digam que não são nada, a perda de um filho de um irmão não tem reparação. Não adianta dizer que isso vai passar, não vai, é uma situação absurda, e um absurdo sem graça. Não existe graça em uma criança de dezesseis anos que estava sendo induzida a trabalhar e assumir a responsabilidade do sustento de uma casa, de uma família para que um monstro pudesse ter mais dinheiro para se divertir.
Essa sociedade tem sim consciência do que esta acontecendo com seus membros. Os grandes amigos do pai do meu filho, aqueles inseparáveis, não tiveram nem a coragem de vir nos dar os pêsames. É consciência existe sim, Graças a Deus. Levaram o “grande amigo” para espairecer na praia. Seu filho morre de uma forma absurda e uma semana depois você vai curtir uma praia com seus amigos. Não consigo entender.
Fingir que um problema desses não está acontecendo é leviano, e estúpido, e de uma maldade sem tamanho.
E por isso que é tão difícil parar a agressão, porque a sociedade, nossos políticos ainda não se conscientizaram de verdade da gravidade da situação. Discurso não resolve o que resolve é começar a denunciar. E começar primeiro no circulo em que se vive é obvio, quando um político aceita que uma pessoa faça parte de seu circulo de amizades próximo,bem próximo, mesmo tendo consciência de que essa pessoa faz tudo o que foi dito acima, e faz com sua total conivência e até incentivo, o que nos resta fazer? Rezar?
Eu atualmente estou fazendo cada dia mais do que rezar. Estou denunciando. Já disse e volto a repetir: Meu medo está enterrado desde o dia 11 de janeiro de 2009. Parar-me agora só tem um jeito, e eu quero ver, quem terá coragem.
Fique na luz e na paz.
Fátima Jacinto
Uma Mulher.


publicado por araretamaumamulher às 11:46 | link do post | comentar | favorito

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