Sexta-feira, 30.04.10
Sentimos frustração, raiva, em alguns momentos a dor é tão grande que é necessário o auxílio de alguém, pois não dá pra carregar sozinha.
Existe uma experiência que todo ser humano compartilha que é a PERDA de alguém ou de algo muito próximo. Esta situação repentina, súbita, mas o que também há de comum é que jamais temos o poder de controlá-la. Isto faz com que soframos muito. Lembranças e sentimentos permeiam este momento e muitas vezes nos sentimos derrubados e até mesmo incapazes de conseguir continuar respirando. São sensações físicas, emocionais e espirituais desagradáveis e que se alternam de forma a não conseguirmos controlar.
Perguntamos o motivo daquela PERDA e daquele sofrimento, mas no momento exato da PERDA não conseguimos tirar nenhum ensinamento... Apenas sofremos. O sofrimento, a dor é a finalidade! Há uma realidade indiscutível: o ser humano aprende na dor e não no amor. O sofrimento expressa nossa insegurança básica e nosso medo do abandono, a certeza de que vivemos num mundo no qual controlamos muito pouco ou quase nada. Sentimos o desamparo e a vulnerabilidade, somos obrigados a encarar todas as emoções sem anestesia. Na verdade não queremos nos deparar com tudo isso, pois nosso instinto básico é “evitar a dor”, digo, “evitar o desprazer”.
Vivemos no mundo dos opostos, assim como existe o dia, existe à noite; existe em cima e em baixo; existe o positivo e o negativo para nos sentirmos humanos. Não é possível usufruir as emoções positivas sem conhecermos as negativas, até para que possamos ter termos comparativos. Por esse motivo é tão importante enfrentar e experimentar as emoções negativas, sem negações ou repressões, para que não retardemos nosso crescimento emocional, psicológico e espiritual. Sentir a nossa maneira, pois não existe a forma certa ou a errada de sofrer.
Infelizmente vivemos numa sociedade hipócrita em que os verdadeiros sentimentos devem ser escondidos e comedidos dentro da expectativa do outro. Não é saudável reprimir nossos sentimentos, quanto mais à dor da PERDA. Quando morre alguém que amamos, perdemos o emprego ou uma amizade, perdemos um pouco da esperança tristeza e perplexidade. Sofremos pelo que não foi feito ou dito, ficamos nos perguntando o que mais poderíamos ter feito ou o porquê de morrer os bons e os maus não... Ou porque morrer uma criança de 16 anos, cheio de vida, com todo um futuro para frente, com tantas coisas a fazer, a aprender, a doar, como o meu filho e não um doente em fase terminal que está sofrendo em um leito de hospital?
A maioria de nós não está preparada para ter arrancado de si alguém ou algo importante, portanto toda perda nos remete a determinadas fases. Nossa primeira reação a uma perda é o “choque”, a descrença total. Por não estarmos preparados, quase sempre somos apanhados de surpresa. O mundo vira de cabeça para baixo e perdemos completamente o controle de tudo. Não conseguimos entender o ocorrido e ficamos meio que anestesiados. O impacto nos impede de reconhecer como fato real. Ficamos entorpecidos, as pessoas falam conosco e nada compreendemos. O choque é um mecanismo de defesa quando o sofrimento é demais e não somos capazes de lidar com as consequências da PERDA. Quando o choque começa a diminuir, passamos entender a realidade.
A “negação” está diretamente ligada à etapa anterior e as duas ocorrem quase que simultaneamente e são defesas. Quando negamos, evitamos o confronto com a realidade. O tempo que cada fase demora na vida de alguém não dá para prever.
A raiva e a tristeza são sentimentos que fazem parte do que sentimos no momento que perdemos algo ou alguém. Corremos o risco do afastamento da realidade de que a dor é parte da vida e não há vacina contra PERDAS. Senti raiva da forma como perdi o meu filho um acidente, e se tinha mais dois amigos dele com ele, porque só ele morreu, por quê? Não consigo até agora assimilar isso direito. Contudo sei que esse sentimento de raiva prolongado mina o meu emocional e o meu físico, assim como a tristeza desmedida que sinto pode tornar-se uma depressão.
Mas não consigo controlar a culpa. Imagine uma mãe que perde seu filho em um acidente?
A aceitação é a fase que estou tentando aprender agora nesse processo de perda. Quando aceitamos efetivamente a situação como ela é, com dor e tudo, quando reconhecemos que nada poderia ser feito e que tinha que acontecer e que nos resta “catar” os pedaços, aprender com tudo aquilo e recomeçar. Recomeçar dolorido, porém mais forte.
Não há regras estabelecidas ou limite de tempo, mas a força da vida estará atuando sempre ao tomarmos consciência de que a vida nos é dada com um determinado número de situações que não podemos controlar ou mudar. Neste momento podemos reinvestir em nós mesmos e em nosso futuro, somos capazes de aos poucos ir optando pela vida, revendo valores e tomando decisões que nos beneficiam.
Seja qual for à decisão, será sempre uma oportunidade surgida do que PERDEMOS e, embora a vida não possa mais voltar ao que foi um dia, ela tem a capacidade fabulosa de renovação e de descoberta de novos caminhos. Certamente há sempre coisas a fazer enquanto habitamos esta sala de aula que se chama Terra.
POSTADO POR UMA MULHER
Quarta-feira, 10.03.10
Muitas famílias têm a violência como forma de estabelecerem vínculos. No ponto de vista destas famílias, não existiria outra forma de se comunicarem, e, em decorrência desta forma de comunicação, muitas vezes nos re-contextualizarmos e ao resumirmos, nos surpreendemos com a raiva que demonstramos ter do nosso agressor.
Isto normalmente acontece porque todo sistema tende à um equilíbrio como forma de manter sua existência. Há uma resistência à mudança.
A mudança é ameaçadora, geradora de insegurança e desconforto, visto que o sistema funciona daquela forma a muito tempo, independentemente de ser uma mudança positiva ou não.Em nossos discursos nos, surpreendemos falando com freqüência frases como “eu vivia bem com ele, apesar disto”(sic), ”pensando bem, ele tem o lado bom”(sic). E quando ouvimos de nós mesmos, esse tipo de frase, percebemos claramente o temor à mudança, às conseqüências que ocorreriam para este sistema que já estava organizado desta forma, que, sendo nociva ou não, era o jeito que tínhamos de nos organizar para viver, pois era esse o nosso estilo de interação familiar que esta sendo ameaçado. Se um membro de nossa família participante deste ciclo (levando-se em consideração o conceito de circularidade que a teoria sistêmica propõe) resolvesse mudar o comportamento e os outros não concordassem, a tendência é de que desistíssemos de mudar e permanecêssemos no circulo vicioso, porque precisaria existir um compromisso de mudança do conjunto dos elementos, de todos os participantes do ciclo, e não só de uma pessoa.
Percebo claramente as resistências nas falas dos meus filhos,que me dizem em tom de voz amargurado, como era difícil pensar em qualquer mudança. Outro fato que percebo é que não compreendem como nossas relações estão desgastadas já há bastante tempo. Eles refletem a respeito de a quanto tempo estamos vivenciando este contexto de violência, a partir de minhas colocações.
A partir daí consigo fazer com que organizem melhor suas idéias a respeito de suas próprias relações com a família a ver o quanto estas relações originavam a violência. No meu caso , verifiquei o quanto a minha história de vida pregressa contribuiu para o surgimento da violência como forma de comunicação na minha família e então, com essa descoberta feita ,foi possível mobilizar meus recursos internos, identificando minhas reações e sentimentos que surgiram ao longo da história e também explorar qual seria as minhas expectativa diante destas novas descobertas e diante de toda a situação.
Entendi que não sabíamos escutar uns aos outros, eu não escutava meus filhos, e eles não me escutavam, ficávamos presos ao medo terrível de não saber a reação do agressor, sempre que entrava em casa, ou mesmo em quando isso ia acontecer, vivíamos em suspense constante, e portanto em estado de total estresse que o suspense e o medo acarreta a uma pessoa. As nossas novas conclusões, tem feito com que nos reposicione, ou pelo menos, a que entendamos as razões de estarmos com sentimentos confusos e contraditórios .