Sexta-feira, 26 de Março de 2010
A mulher, com o término de sua capacidade reprodutiva, configurada pela menopausa, tende a se perceber entre dois momentos socialmente antagônicos: a juventude e a velhice. No entanto, se a jovem é exaltada, a mulher idosa, parafraseando Simone de Beauvoir, é sempre a outra. Pode-se perceber que mitos e preconceitos sobre as mudanças enfrentadas pela mulher que envelhece continuam presentes em nossa sociedade. No Brasil, parece ser precária a quantidade de serviços na rede pública de saúde e de estudos destinados à menopausa e à maturidade, o que contribui para uma visão estereotipada das dificuldades que as mulheres enfrentam nessa etapa da vida. Isto dificulta uma melhor compreensão de fatores que podem levá-las a adoecer e o incentivo ao desenvolvimento de mais espaços de atendimento condizentes com suas demandas.Tende-se a considerar que a depressão feminina na maturidade, durante e após a menopausa, seja decorrente de diversos fatores, como doenças físicas (exemplo: hipotiroidismo) e condições estressantes psicológicas, sociais e culturais. Há ainda muita polêmica sobre a relação entre depressão e menopausa, de modo que se faz necessário que mais estudos epidemiológicos e clínicos esclareçam essa relação. Assim, é preciso cautela ao se considerar a redução estrogênica como um evento responsável pela ocorrência de um conjunto de doenças, como a depressão. A mulher pode temer esta fase de seu ciclo vital, julgando que, além das mudanças em seu corpo, haverá mudanças negativas em sua personalidade e relações interpessoais. Sem a informação necessária, é provável que receie questionar essas mudanças.
Ainda é comum se detectar, na mídia e na sociedade como um todo, uma discriminação implícita pela propagação de uma visão negativa da mulher que envelhece. Essa visão pode ser reforçada pelo estímulo ao emprego da Terapia de Reposição Hormonal. No entanto, a reposição não é questão consensual na Medicina. É um tema polêmico na área médica e em outras áreas da saúde, em face dos possíveis riscos associados ao seu uso. Muitos sintomas presentes nessa etapa da vida feminina são atribuídos indevidamente à menopausa, dentre eles os depressivos. Apenas irregularidades menstruais, ondas de calor e secura vaginal podem ser, de fato, associados a esse fenômeno. Consideramos que, ao término da capacidade reprodutiva, são conferidos os mais diversos significados pela mulher, pela família e pela sociedade. Não é apenas a maternidade, vista como um destino feminino por natureza, que se coloca em questão com a chegada da menopausa, são todos os papéis culturalmente atribuídos à mulher. Desse modo, à redução hormonal somam-se mudanças psicossociais peculiares à maturidade, os quais tendem a trazer uma série de implicações para a auto-imagem da mulher que envelhece.
Tradicionalmente, as mulheres sempre desempenharam um papel central nas famílias, mas a idéia de que têm uma vida à parte de seus papéis como esposa e mãe é algo relativamente recente e ainda não amplamente aceito em nossa sociedade. Quando se rebelam contra a responsabilidade total pelos vínculos familiares e pela conservação das tradições e rituais, podem se sentir culpadas por não mais exercerem essas funções. Podem sentir ainda que a solidariedade familiar está sucumbindo e que a responsabilidade por isso pertence unicamente a elas.Mulheres que nunca trabalharam fora de casa podem se sentir defasadas no que se refere às capacidades necessárias para lidar com o mundo externo, caso decidam ou necessitem enfrentar o mercado de trabalho. No momento em que os filhos não dependem mais delas como antes e quando estão começando a ser definidas como "velhas demais", é que precisam aventurar-se lá fora. A organização do trabalho remunerado ainda "não reconhece seus esforços de maneira proporcional às suas contribuições. E as mulheres, tipicamente, não foram socializadas para esperar ou exigir o reconhecimento que merecem". Contudo, muitas mulheres, após a dificuldade inicial diante do novo contexto, adquirem confiança e prazer com sua nova independência. Podem descobrir em si competências que até então não puderam desenvolver em razão do tempo dedicado aos filhos ou a outras atividades, com a valorização de seu potencial. Desse modo, percebe-se que as mulheres tendem a enfrentar muitos desafios na maturidade. Na literatura específica, destacam-se os seguintes eventos:a) Cuidado ou perda dos pais - à medida que os pais envelhecem, a mulher freqüentemente passa a cuidar deles, sobretudo quando apresentam enfermidades que limitam a sua autonomia. Muitas mulheres entre 55 e 59 anos de idade cuidam, em casa, de um parente idoso. Essa tendência foi recentemente confirmada por Coelho e Diniz (2005), quando discutem a assistência familiar à pessoa idosa com demência. Esposas, filhas e noras permanecem como as principais cuidadoras. O cuidado de pais idosos pode trazer conflitos familiares para a mulher, fazendo com que se sinta dividida entre sua atual família, seus pais e suas necessidades pessoais.Como cada vez mais as mulheres ingressam no mercado de trabalho, cuidar do parente enfermo pode aumentar suas atribuições cotidianas para as quais não encontra suporte familiar. A cobrança para que zele pelos familiares pode levá-la a se considerar egoísta por buscar uma auto-realização. A morte dos pais também pode ocorrer nesse período, lembrando-a de sua própria finitude.b) Divórcio ou viuvez - além das próprias mudanças biológicas e psicossociais que a mulher experiência, seu parceiro de mesma faixa etária provavelmente enfrenta dificuldades similares. Lidar com essas mudanças pessoais e, conseqüentemente conjugais, pode ser penoso, em especial para aqueles casais que, ao longo do relacionamento, não estabeleceram uma comunicação mais íntima.c) Crescimento dos filhos: ninho vazio? - Na literatura sobre maturidade, é comum a referência à "Síndrome do ninho vazio" para caracterizar o processo enfrentado pelas mulheres diante da percepção do crescimento dos filhos. Tal expressão precisa ser questionada, pois o termo síndrome, enquanto um conjunto de sinais e sintomas, remete a uma concepção de doença que não nos auxilia a compreender o necessário trabalho de luto que realizam.As mulheres que não tinham uma atividade profissional fora do contexto familiar podem ser as mais atingidas nesse aspecto. Ao reconhecerem que seus filhos estão saindo de casa para seguir seus próprios caminhos, elas podem se ver estagnadas no papel familiar materno. A convivência com filhos adolescentes e adultos jovens traz novos desafios. Além disso, a gravidez não esperada das filhas ou namoradas dos filhos pode transportar a mulher mais cedo do que talvez desejasse ao status de avó. Isto contribui para o aumento de suas responsabilidades, principalmente se os netos ficarem sob sua guarda ou cuidado.Em conseqüência dessas mudanças, a mulher tende a realizar uma revisão de sua vida e do papel que passa a ocupar na dinâmica familiar e em suas demais relações interpessoais. Ela poderá se questionar sobre suas escolhas, considerando-as desfavoráveis a si e a sua família, depreciando seu valor pessoal. A menopausa, o crescimento dos filhos, a sobrecarga em suas responsabilidades quando necessita cuidar de seus pais e a aposentadoria são eventos que lhe indicam as perdas inevitáveis da maturidade. As perdas refletem a proximidade de sua velhice, um tempo que exige outras elaborações. Com a apresentação desse suporte teórico, cabe agora discutir como algumas mulheres falam de possíveis eventos da maturidade que associam à depressão.
OLha amei viu essa postagem!Realmente td aqui é verdadeiro. Eu amanhã estarei fazendo aniversário, isso quer dizer, caminhando para a "velhice".rsrsrs...Mas td bem! O mundo evoluiu. As coisas mudaram e se não acompanharmos essas mudanças, aí sim, ficaremos "velhos". O importante é receber a velhice com o mesmo vigor da juventude, é? Assim, fica tranquilo, eu acho..rsrsrs.Beijos
Olá, gostei dessa postagem, e achei muito bem colocado o suporte teórico a respeito da maturidade versus depressão. Eu, sinceramente não vejo como relacionar, a priori, esses dois "estados", pois parto sempre do pressuposto que a depressão é uma doença que se diferencia em muito do estado depressivo que por vezes acomete os idosos quando se entristecem pela falta de seus afetos e por outras coisas que lhes magoam. Mas isso é assunto para muitos posts, não, é mesmo?
Por enquanto, fico por aqui. Beijo grande ,amiga.
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