Muitas famílias têm a violência como forma de estabelecerem vínculos. No ponto de vista destas famílias, não existiria outra forma de se comunicarem, e, em decorrência desta forma de comunicação, muitas vezes nos re-contextualizarmos e ao resumirmos, nos surpreendemos com a raiva que demonstramos ter do nosso agressor.
Isto normalmente acontece porque todo sistema tende à um equilíbrio como forma de manter sua existência. Há uma resistência à mudança.
A mudança é ameaçadora, geradora de insegurança e desconforto, visto que o sistema funciona daquela forma a muito tempo, independentemente de ser uma mudança positiva ou não.Em nossos discursos nos, surpreendemos falando com freqüência frases como “eu vivia bem com ele, apesar disto”(sic), ”pensando bem, ele tem o lado bom”(sic). E quando ouvimos de nós mesmos, esse tipo de frase, percebemos claramente o temor à mudança, às conseqüências que ocorreriam para este sistema que já estava organizado desta forma, que, sendo nociva ou não, era o jeito que tínhamos de nos organizar para viver, pois era esse o nosso estilo de interação familiar que esta sendo ameaçado. Se um membro de nossa família participante deste ciclo (levando-se em consideração o conceito de circularidade que a teoria sistêmica propõe) resolvesse mudar o comportamento e os outros não concordassem, a tendência é de que desistíssemos de mudar e permanecêssemos no circulo vicioso, porque precisaria existir um compromisso de mudança do conjunto dos elementos, de todos os participantes do ciclo, e não só de uma pessoa.
Percebo claramente as resistências nas falas dos meus filhos,que me dizem em tom de voz amargurado, como era difícil pensar em qualquer mudança. Outro fato que percebo é que não compreendem como nossas relações estão desgastadas já há bastante tempo. Eles refletem a respeito de a quanto tempo estamos vivenciando este contexto de violência, a partir de minhas colocações.
A partir daí consigo fazer com que organizem melhor suas idéias a respeito de suas próprias relações com a família a ver o quanto estas relações originavam a violência. No meu caso , verifiquei o quanto a minha história de vida pregressa contribuiu para o surgimento da violência como forma de comunicação na minha família e então, com essa descoberta feita ,foi possível mobilizar meus recursos internos, identificando minhas reações e sentimentos que surgiram ao longo da história e também explorar qual seria as minhas expectativa diante destas novas descobertas e diante de toda a situação.
Entendi que não sabíamos escutar uns aos outros, eu não escutava meus filhos, e eles não me escutavam, ficávamos presos ao medo terrível de não saber a reação do agressor, sempre que entrava em casa, ou mesmo em quando isso ia acontecer, vivíamos em suspense constante, e portanto em estado de total estresse que o suspense e o medo acarreta a uma pessoa. As nossas novas conclusões, tem feito com que nos reposicione, ou pelo menos, a que entendamos as razões de estarmos com sentimentos confusos e contraditórios .