Quarta-feira, 31 de Março de 2010

Deixar de viver, esperando algo que virá acontecer, também é uma forma de morrer. Nunca projete sua felicidade em  fatos externos a você. Concentre-se em seu ser, em seu potencial físico, mental, e espiritual.

Amplie sua luz, esteja cada vez mais conectado com o Grande Mistério, com a Mãe Terra, com o princípio da sua essência. Faça do seu coração o seu próprio templo.

Ao alimentar uma expectativa de felicidade alicerçada em atitudes de outras pessoas poderá ser muito frustrante. É sabido que todo Ser Humano é passível de erros e ainda somado a  isso “temperos” típicos, como o ego, a arrogância, a inveja, o ódio e outros atributos que consciente ou inconscientemente estão na espreita esperando uma oportunidade para se manifestar. Portanto invista muito em você mesmo.

Fica claro que você não deve buscar “Deuses” exteriores e sim buscar ao seu “Deus interior”... O eterno está em você!

Interagir  socialmente é necessário. É a vida, mas acredite e tenha certeza sempre que a verdadeira felicidade está pulsando em você, mantenha seu interior inabalável. Busque sempre encontrar a sua essência divina, mantenha ativado seu poder pessoal.

Viver é maravilhoso, é um mágico presente! As experiências, as relações, o tempo agindo e você aprendendo, crescendo espiritualmente, caminhando e usando o irmão tempo como um aliado nessa jornada, para que seu amor esteja sempre radiante, puro, amplo... incondicional!

Acredite em seu ser, assim fica muito mais leve e lindo viver...amar...superar...curar-se!
Quero sugerir a você um exercício bioenergético de visualização:
- De forma confortável , em silêncio ou ouvindo uma música apropriada, eleve seus pensamentos e acalme sua mente. Respire...

- Visualize que abaixo dos seus pés começa a surgir uma bela flor de lótus. Sinta que esse flor eleva suavemente você do chão; sinta como se você estivesse flutuando.

- Imagine que acima da sua cabeça surge uma estrela de cinco pontas. Perceba que um facho de luz branquinha começa a sair dessa estrela, passando pelo seu corpo até chegar ao lótus.

- Ao mesmo tempo, perceba que uma luz rosa começa a ser emanada da flor de lótus em direção à estrela. Você está dentro de uma coluna de luz alimentada pela energia do  Pai-Céu somada à energia da Mãe Terra.

- Para completar, visualize um grande arco dourado, radiante, envolvendo você, a estrela, o lótus, uma coluna de luz divina... Fique bem quietinho por um instante. Perceba o quanto esta prática faz bem e restabelece você. Concentre-se nessa alquimia da alma! Respire...



publicado por araretamaumamulher às 13:30 | link do post | comentar | favorito

O tema da violência esteve presente já nos primórdios da psicanálise e culmina com a concepção do complexo de Édipo, tendo o assassinato do pai se tornado o paradigma do ato violento na psicanálise clássica (temos aqui a violência no contexto familiar).
O texto em que Freud discute a violência com maior amplitude é sua “Carta a Einstein” (1933). Como atenuante para as situações de violência, ele destaca o reconhecimento de uma identidade de interesses entre os grupos e o surgimento de vínculos emocionais (Freud estabelece o contexto de aplicação da psicanálise à violência social).
Se Freud socorreu-se de Empédocles para, em 1920, formular o que acontece além do princípio do prazer e configurar as bases do conflito humano sobre a ambivalência entre Eros e Tânatos, e se também formulou uma complexa relação entre esses conflitos ambivalentes e os grupos sociais humanos em Totem e Tabu e Psicologia de Grupo socorrendo-se de Darwin e Le Bon, que formulações temos hoje que superem esses princípios fundamentais? Em minha opinião, até o momento nada parece haver que as supere.
As manifestações sobre o filme Tropa de Elite e os “A pedido” com retratos falados publicados nos jornais oferecendo recompensa pela denúncia de bandidos, bem nos moldes dos “Procura-se” dos faroestes americanos, extravasam o sentimento da sociedade diante da violência e nos pressionam a procurar soluções que, na verdade, terão efeito apenas a médio e longo prazo.
Com efeito, tanto as pesquisas que aproximam as teorias biológicas modernas da psicanálise quanto as concepções da psicanálise aplicada às teorias sociais acenam com hipóteses verificáveis em tempo incerto.
Além disso, a implementação de projetos, programas e pesquisas sobre a violência enfrenta obstáculos que atrasam a demonstração de sua eficácia.
O recente debate em torno da pesquisa em internos da ex-FEBEM, amplamente divulgado na mídia, atesta como os avanços e retrocessos, Eros e Tânatos, verdade e mentira, confundem-se e confundem nossas políticas.
Não se trata de ser apenas pessimista diante de um tema – a violência – que suscita esse sentimento com muita força, mas de fixar nosso olhar em uma realidade que tende a nos cegar, ou seja, o fato de que nós, seres humanos, somos complicados, contraditórios e cruéis e que nos incomoda saber que isso não vai mudar nunca.
A violência não é um flagelo apenas dos dias atuais.
Saramago, no seu livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo, repassa a violência cometida desde priscas eras em nome de Deus e de causas pretensamente civilizadoras e humanitárias. No diálogo com Deus, o Pastor previne Jesus do quanto de morte e sofrimento iria custar sua vitória sobre os outros deuses. Seguem se, então, por longas seis ou sete páginas, numa ladainha escabrosa, em ordem alfabética, de crucificados a esfolados, todas as violências hoje imagináveis, além de outras que só no futuro serão conhecidas.
Aprochegando-me a este nosso século recém-findo, deparei-me com as estatísticas das mortes havidas na Primeira e na Segunda Guerra Mundial. Somando-se a elas as pessoas mortas em revoluções, guerras civis e governos absolutistas no século XX, teremos um recorde histórico.
Este foi um século de violência. E de horror. E de medo. Os Tempos Sombrios de Brecht: “Realmente, vivemos tempos sombrios! A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas denota insensibilidade. Aquele que ri ainda não recebeu a terrível notícia que está para chegar.”
Quem interpreta corretamente este horror relacionando-o com o cotidiano de nossos dias é Renato Janine Ribeiro, filósofo, professor titular de Ética e
Filosofia Política na Universidade de São Paulo (USP).
Em dois artigos, “Razão e Sensibilidade” e “Dizer o Indizível”, extravasa sua indignação e horror diante da violência contra o menino João Hélio, no que denomina crime bárbaro e violento contra a humanidade. Afirma não ver diferença entre a crueldade desses bandidos e a dos nazistas: “Isto é escrever sobre o horror em estado puro. Como pensar no sofrimento da criança?”.
Pensar no nazismo entre nós e dentro de nós – esta é a idéia mais original do artigo – remete aos artigos sobre o tema publicados por psicanalistas: a comparação do horror das organizações patológicas internas com a máfia ou o nazismo.
Afinal, como continua Brecht: “Que tempos são estes, em que é quase um delito falar de coisa inocentes, pois isso implica silenciar sobre tantos horrores?”.
Creio que cabe lembrar a história da lenda do deus tebano Osíris, relacionada a antecedentes em que grassavam a violência e a selvageria. A condição para Osíris suceder seu pai era retirar os egípcios da barbárie, para o que era preciso, entre outras coisas, suprimir o canibalismo. Osíris editou leis que obrigavam os homens a respeitar princípios de convivência, em vez de fundamentar suas demandas e ações de acordo com seus caprichos e a violência. A persuasão, a razão e a música foram os principais instrumentos de sua missão civilizadora, que se estendeu por toda a terra. Dizem as más línguas que seu sucesso deve ser realmente atribuído a Ísis, que lhe ofereceu l´orge (planta cultivada como cereal e utilizada na produção de miçangas) e du blé (o trigo), cereal para produzir farinha de pão, como o trigo negro sarraceno.
Nessa mesma linha, mais recentemente, Luc Ferry, em conferência proferida no seminário Fronteiras do Pensamento, em Porto Alegre, traçou relações entre o bem-viver, a educação dos filhos e a filosofia. Ele considera que os pais – e aqui ele passa da esfera pública para a privada – podem se considerar realizados como educadores quando conseguem transmitir aos seus filhos três pontos fundamentais: o amor, pois nenhuma criança é feliz sem ser amada; a lei, que é a que ensina o limite em relação ao outro e à sociedade; e a cultura, que é o entendimento da verdade.
Afinal, haverá alguma forma de a psicanálise e os psicanalistas contribuírem para a transformação da violência? Como encarar o potencial de verdade contido na relação da violência com a sobrevivência de culturas e civilizações? Por que algumas sobrevivem e prosperam e outras desaparecem ou se destroem?
Algumas civilizações prosperam e perduram por fundamentar a autoridade sobre atitudes idealistas da mente, com predominância da persuasão e do diálogo. Outras trabalham pela preponderância de Eros sobre Tânatos e aprendem com a experiência: em vez de fazer vistas grossas para os graves problemas que as cercam, decidem enfrentálos e planejam ações de longo prazo, diminuem a onipotência e elaboram o luto pelas suas perdas e limitações.
No Brasil, talvez pudéssemos construir um projeto nacional baseado em sua esportividade, musicalidade, hospitalidade, ou seja, em atividades regidas pelo instinto de vida, e estabelecer um caráter de identificações baseadas nisso.
Poderemos nós, os psicanalistas, supostamente pacifistas e, portanto, com uma intolerância constitucional à violência, apresentar-nos como um contraponto à calamidade e destruição nesta trágica aproximação com a violência?
De acordo com Hanna Segal, em dois artigos – “Silêncio é o verdadeiro crime” e “A mente do terrorista fundamentalista: o não aprender da experiência” –, deveríamos primeiro olhar dentro de nós mesmos e, em vez de fazer vistas grossas para a realidade, encarar nosso medo e mobilizar nossas forças contra a violência. Em segundo lugar, pelos nossos conhecimentos da psicologia profunda, poderíamos dar contribuições específicas contra a apatia e a auto decepção presentes em nós e nos outros.
Particularmente, penso que o aprofundamento de estudos sobre uma psicologia psicanalítica da diferença pode revelar novos aportes aos nossos conhecimentos sobre fatores desencadeantes internos de violência.
Por outro lado, convém lembrar que a possibilidade de medidas preventivas contra a violência através da instituição de cuidados de prevenção primária de saúde mental, fundamentados em conceitos da psicanálise e com repercussão sobre a violência, já foi sugerida e discutida em nosso meio.
Apesar de tudo o que dissemos, estamos sujeitos ao risco de chegar ao final com o inquietante sentimento de não saber o que fazer, nem para onde ir. Com certeza, não queremos um governo de selvagens, que só gera selvagens no povo. Mesmo assim, é bom pensar sobre o poema de Brecht, “Sobre a Violência”: “A corrente impetuosa é chamada de violenta. Mas o leito do rio que a contém – ninguém chama de violento.”
E se nos perguntarmos “Que caminho devemos seguir?”, talvez devêssemos responder que não há caminho pior do que o de ficarmos narcisisticamente fixados num refúgio psíquico – como o que se estabelece entre Panchito e Pedro Juan –, dando as costas para a realidade.
Assumiríamos o risco de nos tornarmos tolerantes com Parteignossen, que ficam esculpindo feudos para governá-los a seu bel-prazer, onde a regra do jogo é buscar a verdade quando não se quer a verdade, mas uma vantagem política. E daí esperar que as benevolentes deusas da noite encontrem nosso rastro.
Mas temos que lembrar a imagem inquietante sugerida por Freud: para se ter farinha, é preciso moer os grãos no moinho; só que este pode moer tão devagar que as pessoas morrerão de fome antes de ele fornecer sua farinha. E, assim, retomamos o tema específico da violência e as medidas necessárias para aplacá-la, sem o uso de máscaras de suposta neutralidade.


















publicado por araretamaumamulher às 04:45 | link do post | comentar | favorito

Terça-feira, 30 de Março de 2010

Nesta nossa sociedade industrial contemporânea e pós-moderna, algumas regras conservadoras implicam uma sociedade ainda machista onde o papel da mulher continua sendo o de objeto de consumo e isso acaba instigando a comercialização de produtos eróticos.
Assim como o Hino Nacional, a bandeira verde e amarela, o futebol e o carnaval, a bunda tornou-se um símbolo nacional brasileiro, a partir de sua superexposição na mídia. Mas o que são símbolos? São signos representativos que variam de acordo com cada época, com a moldura política - econômica de uma nação e pela consciência coletiva, ou seja, tudo aquilo que representa algo por meio de um sinal, que pode ser uma imagem ou uma palavra.
A constante visibilidade do corpo feminino, praticada cotidianamente nos diversos meios midiáticos, além de ser concebido como aspecto simbólico, que são tão influentes no comportamento e no imaginário do brasileiro, é, também, necessária para estabilizar um discurso social, neste caso, o discurso machista.
Aceitamos o culto à bunda como algo cultural, naturalizando suas “performances” (rebolado em festas e exposição nas praias, em piscinas, nas mídias impressas), seus vestuários e as músicas que enfatizam as nádegas.
Essa exaltação exacerbada é bem mais visível nas mídias eletrônicas, como a televisão, já que ela é um influente meio, que se aproveita de manifestações artísticas populares e as transforma em grandes espetáculos, através de imagens, estimulando os sentidos dos telespectadores.
O carnaval carioca de sambódromo, que já foi uma expressão coletiva e espontânea de diversão, hoje, passou a ser explorado pelas revistas, pelos jornais, pelo cinema e, essencialmente, pela TV, como algo a ser consumido pelas massas.
Na década de 30, as autoridades municipais passaram a ser responsáveis pelos grupos carnavalescos e pelas escolas de samba. O carnaval foi, gradualmente, se convencionando num espetáculo. Nas apresentações atuais, é natural a aparição de mulheres totalmente ou parcialmente desnudas, o que provoca estranhamento aos olhos de estrangeiros que visitam o Brasil em épocas carnavalescas, com o intuito de conhecer uma realidade “liberal”.
Alguns especialistas afirmam que, biologicamente, os homens são mais instintivos e mais estimulados sexualmente pela visão. Muniz Sodré, em sua obra A Máquina de Narciso(1994:10), afirma que o olhar, desde a Antiguidade grega, tem um laço imaginário com a sexualidade. É na televisão que essa sexualidade é bastante explorada, pois esse meio audiovisual tem sua essência nas imagens, o que torna um forte instrumento sensibilizador.
Partindo dessa teoria, para muitos turistas, a prática do “turismo sexual”, ao qual eles são levados em função dessa “liberdade”, parece-lhes normal, o que contribui para a crescente prostituição, principalmente, de crianças e adolescente, nas cidades brasileiras.
A mídia tem grande importância na propagação de eventos culturais massificados. E não é só no caráter artístico, mas também na exploração do corpo feminino como parte essencial do espetáculo. Essa exploração é feita, por exemplo, em programações que exigem a presença da mulher de corpo malhado, como os programas de auditório (bailarinas), os concursos de beleza, as novelas, as revistas (femininas e masculinas), sites de ensaios sensuais, reality shows. Nessa exploração do exibicionismo feminino, os meios de comunicação percebem a eficácia desses programas na aquisição de valores simbólicos (para mulheres, a ânsia de ser aquele corpo tão visto na mídia; enquanto para os homens, o desejo sexual estimulado) e valores financeiros (lucro), e continuam propagando essa imagem de mulher.
Essa bundalização é estimulada pela supervalorização da mulher pós-moderna ainda como objeto sexual e de moda. Essa padronização da mulher na mídia, para estimular os desejos do homem, é cada vez mais explorada, e assim o ser humano mulher fica restrito à sua aparência.
A mulher não almeja ficar bonita para sua satisfação pessoal, mas sim para o outro (e outra) admirar. É uma maneira de conquistar homens, causar inveja nas mulheres e até mesmo como forma de obter benefícios materiais.
Mas para obter sucesso e, conseqüentemente, a audiência, esses programas não hesitam em tirar proveito dessa imagem depreciativa das mulheres. Permanece o velho chavão dito pelos produtores de televisão, principalmente da televisão brasileira: “dar ao público o que ele deseja”. É aí que pensamos se são os desejos dos telespectadores que estão postos na TV ou se a TV dita o que os telespectadores têm que desejar. Não vamos nos deter nisso, pois nossa pesquisa é referente aos efeitos que a linguagem, fundamentalmente televisiva, causam na realidade brasileira. Independente da resposta, esse desejo é medido, quantitativamente, pelo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública). A busca incansável para ser o número 1 deixa as questões éticas e morais em último plano. E essa depreciação é esteticamente camuflada de tal forma que, os que não têm consciência crítica, não enxergam as mensagens “subliminares” presentes nos discursos midiáticos. E entendem que tudo o que é dito na mídia é certo. É a tal da “credibilidade”.
Há sempre a presença dos meios de comunicação, de mulheres e homens, incentivando esse tipo de representação social. Tais mulheres adotam os “personagens” criados para elas: vestem-se como o “personagem”, comportam-se como o “personagem”, falam como o “personagem”. Agem assim porque querem estar visíveis a qualquer preço. É o retrato da sociedade midiática que vivemos.
Dessa forma, as pessoas que são influenciadas por esses comportamentos assumem esses personagens não só para parecem com as celebridades e assim fazer “sucesso” no seu mundo real, como também para aparecerem na mídia e conquistarem seus 15 minutos de fama. É aí que observamos, mais uma vez, o poder que a mídia tem na vida social de pessoas comuns. A reprodução desses modelos continua generalizando as mulheres à categoria de “bunda arrebitada”.
Depois da participação da mídia na espetacularização do corpo feminino, em que as mulheres se tornam cúmplices da difusão dos estereótipos e dos preconceitos sociais sobre elas, tem-se como conseqüência a construção do perfil “mulher objeto”.
Mas o que é um objeto? Pelo dicionário Larousse Cultural, é um bem material fabricado para atender a determinado uso. E é dessa forma que as mulheres passam a ser vistas. Não mais como um ser humano pensante, mas como algo que não tem vida, não tem sentimento, não tem opinião. A aparência feminina é o que resume esses valores pessoais. A mulher só tem serventia para usar o corpo instintivamente, já que racionalmente não tem nada a oferecer. É reconhecida e auto-reconhecida pelas partes do seu próprio corpo, em que depois de ser usado pode ser guardado ou descartado, perante as regras que são postas pela mídia – “Seja magra, tenha cabelos lisos, olhos claros, porque é assim que será considerada bonita”.
Esses estereótipos são muito usados em propagandas de produtos de beleza. Os estereótipos são, na verdade, ótimos instrumentos de persuasão, já que mexem com toda uma história de vida de uma sociedade, com o conhecimento de mundo que ela tem. Quanto mais se chega perto da intimidade de uma mulher, mais fácil de convencê-la a fazer a novidade do momento: o alisamento japonês, por exemplo. É uma prática que deixa o cabelo liso por mais tempo, já que, ter o cabelo liso é imprescindível para estar inserida no grupo das belas mulheres brasileiras. É a tecnologia avançando para facilitar a vida dessas mulheres, tornando-as cada vez mais lindas e cada vez mais “coisificadas”. “A mulher sempre foi uma classe dominada na ordem masculina tradicional”.
Tornam-se descartáveis, principalmente para o sexo. Usou, não quer mais? Joga fora. Existem mais corpos disponíveis nesse mercado “bundalizado”. Não se valoriza o conteúdo.
É a mulher como produto de consumo. É o erotismo estimulado nos discursos publicitários, tendo como exemplos clássicos as propagandas de cerveja.
Ela mesma se orgulha de sua função (“mulher objeto”) dentro desses espaços de propagação ideológica, pois se orgulha do que é valorizado (a bunda). Não está como um ser pensante e sim como um objeto de decoração apreciado por homens e mulheres.  Trecho retirado da obra A Máquina de Narciso de Muniz Sodré.
Mas esquecem que objetos não mudam, não envelhecem, não engordam. E quando se dão conta de que a “perfeição” não dura para sempre, apelam para as cirurgias plásticas.
No Brasil, isso é alarmante, pois as mulheres, em desespero para continuarem a ser admiradas e invejadas, retardam o envelhecimento, fazem super dietas. A revista Época assinala:
São as mulheres as mais preocupadas com os padrões de beleza. Graças a elas, o Brasil ocupa o primeiro lugar em cirurgias plásticas com fins estéticos a cada ano - 400 mil operações, sem falar em implantes de silicone e aplicações de toxina botulínica (Botox) e ácido hialurônico (Restylane), a febre do momento no combate às rugas.
Um corpo almejado. Um corpo “perfeito”.
O domínio, a consciência de seu próprio corpo só puderam ser adquiridos pelo efeito do investimento do corpo pelo poder: a ginástica, os exercícios, o desenvolvimento muscular, a nudez, a exaltação do belo corpo. Tudo isto conduz ao desejo do seu próprio corpo através de um trabalho insistente, obstinado, meticuloso, que o poder exerceu sobre o corpo das crianças, dos soldados, sobre o corpo sadio. Foucault (1988:146)
O poder dos mass-media, com destaque a televisão, em construir e disseminar os discursos sociais faz com que se consolidem aspectos culturais de um país. No caso brasileiro, a cultura machista que ainda impera em pleno século XXI, sob a atuação dos atores sociais (homens, mulheres e mídia) citados na música que escolhemos porque reforça os estereótipos femininos que são, geralmente, depreciativos.
É dessa forma que surgem as “mulheres objetos”, identificadas por suas bundas, generalizadas pelos seus atos, discriminadas pelas próprias mulheres e descartadas pelos homens e pela sociedade.



publicado por araretamaumamulher às 14:01 | link do post | comentar | favorito

Nesta nossa sociedade industrial contemporânea e pós-moderna, algumas regras conservadoras implicam uma sociedade ainda machista onde o papel da mulher continua sendo o de objeto de consumo e isso acaba instigando a comercialização de produtos eróticos.
Assim como o Hino Nacional, a bandeira verde e amarela, o futebol e o carnaval, a bunda tornou-se um símbolo nacional brasileiro, a partir de sua superexposição na mídia. Mas o que são símbolos? São signos representativos que variam de acordo com cada época, com a moldura política - econômica de uma nação e pela consciência coletiva, ou seja, tudo aquilo que representa algo por meio de um sinal, que pode ser uma imagem ou uma palavra.
A constante visibilidade do corpo feminino, praticada cotidianamente nos diversos meios midiáticos, além de ser concebido como aspecto simbólico, que são tão influentes no comportamento e no imaginário do brasileiro, é, também, necessária para estabilizar um discurso social, neste caso, o discurso machista.
Aceitamos o culto à bunda como algo cultural, naturalizando suas “performances” (rebolado em festas e exposição nas praias, em piscinas, nas mídias impressas), seus vestuários e as músicas que enfatizam as nádegas.
Essa exaltação exacerbada é bem mais visível nas mídias eletrônicas, como a televisão, já que ela é um influente meio, que se aproveita de manifestações artísticas populares e as transforma em grandes espetáculos, através de imagens, estimulando os sentidos dos telespectadores.
O carnaval carioca de sambódromo, que já foi uma expressão coletiva e espontânea de diversão, hoje, passou a ser explorado pelas revistas, pelos jornais, pelo cinema e, essencialmente, pela TV, como algo a ser consumido pelas massas.
Na década de 30, as autoridades municipais passaram a ser responsáveis pelos grupos carnavalescos e pelas escolas de samba. O carnaval foi, gradualmente, se convencionando num espetáculo. Nas apresentações atuais, é natural a aparição de mulheres totalmente ou parcialmente desnudas, o que provoca estranhamento aos olhos de estrangeiros que visitam o Brasil em épocas carnavalescas, com o intuito de conhecer uma realidade “liberal”.
Alguns especialistas afirmam que, biologicamente, os homens são mais instintivos e mais estimulados sexualmente pela visão. Muniz Sodré, em sua obra A Máquina de Narciso (1994:10), afirma que o olhar, desde a Antiguidade grega, tem um laço imaginário com a sexualidade. É na televisão que essa sexualidade é bastante explorada, pois esse meio audiovisual tem sua essência nas imagens, o que torna um forte instrumento sensibilizador.
Partindo dessa teoria, para muitos turistas, a prática do “turismo sexual”, ao qual eles são levados em função dessa “liberdade”, parece-lhes normal, o que contribui para a crescente prostituição, principalmente, de crianças e adolescente, nas cidades brasileiras.
A mídia tem grande importância na propagação de eventos culturais massificados. E não é só no caráter artístico, mas também na exploração do corpo feminino como parte essencial do espetáculo. Essa exploração é feita, por exemplo, em programações que exigem a presença da mulher de corpo malhado, como os programas de auditório (bailarinas), os concursos de beleza, as novelas, as revistas (femininas e masculinas), sites de ensaios sensuais, reality shows. Nessa exploração do exibicionismo feminino, os meios de comunicação percebem a eficácia desses programas na aquisição de valores simbólicos (para mulheres, a ânsia de ser aquele corpo tão visto na mídia; enquanto para os homens, o desejo sexual estimulado) e valores financeiros (lucro), e continuam propagando essa imagem de mulher.
Essa bundalização é estimulada pela supervalorização da mulher pós-moderna ainda como objeto sexual e de moda. Essa padronização da mulher na mídia, para estimular os desejos do homem, é cada vez mais explorada, e assim o ser humano mulher fica restrito à sua aparência.
A mulher não almeja ficar bonita para sua satisfação pessoal, mas sim para o outro (e outra) admirar. É uma maneira de conquistar homens, causar inveja nas mulheres e até mesmo como forma de obter benefícios materiais.
Mas para obter sucesso e, conseqüentemente, a audiência, esses programas não hesitam em tirar proveito dessa imagem depreciativa das mulheres. Permanece o velho chavão dito pelos produtores de televisão, principalmente da televisão brasileira: “dar ao público o que ele deseja”. É aí que pensamos se são os desejos dos telespectadores que estão postos na TV ou se a TV dita o que os telespectadores têm que desejar. Não vamos nos deter nisso, pois nossa pesquisa é referente aos efeitos que a linguagem, fundamentalmente televisiva, causam na realidade brasileira. Independente da resposta, esse desejo é medido, quantitativamente, pelo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública). A busca incansável para ser o número 1 deixa as questões éticas e morais em último plano. E essa depreciação é esteticamente camuflada de tal forma que, os que não têm consciência crítica, não enxergam as mensagens “subliminares” presentes nos discursos midiáticos. E entendem que tudo o que é dito na mídia é certo. É a tal da “credibilidade”.
Há sempre a presença dos meios de comunicação, de mulheres e homens, incentivando esse tipo de representação social. Tais mulheres adotam os “personagens” criados para elas: vestem-se como o “personagem”, comportam-se como o “personagem”, falam como o “personagem”. Agem assim porque querem estar visíveis a qualquer preço. É o retrato da sociedade midiática que vivemos.
Dessa forma, as pessoas que são influenciadas por esses comportamentos assumem esses personagens não só para parecem com as celebridades e assim fazer “sucesso” no seu mundo real, como também para aparecerem na mídia e conquistarem seus 15 minutos de fama. É aí que observamos, mais uma vez, o poder que a mídia tem na vida social de pessoas comuns. A reprodução desses modelos continua generalizando as mulheres à categoria de “bunda arrebitada”.
Depois da participação da mídia na espetacularização do corpo feminino, em que as mulheres se tornam cúmplices da difusão dos estereótipos e dos preconceitos sociais sobre elas, tem-se como conseqüência a construção do perfil “mulher objeto”.
Mas o que é um objeto? Pelo dicionário Larousse Cultural, é um bem material fabricado para atender a determinado uso. E é dessa forma que as mulheres passam a ser vistas. Não mais como um ser humano pensante, mas como algo que não tem vida, não tem sentimento, não tem opinião. A aparência feminina é o que resume esses valores pessoais. A mulher só tem serventia para usar o corpo instintivamente, já que racionalmente não tem nada a oferecer. É reconhecida e auto-reconhecida pelas partes do seu próprio corpo, em que depois de ser usado pode ser guardado ou descartado, perante as regras que são postas pela mídia – “Seja magra, tenha cabelos lisos, olhos claros, porque é assim que será considerada bonita”.
Esses estereótipos são muito usados em propagandas de produtos de beleza. Os estereótipos são, na verdade, ótimos instrumentos de persuasão, já que mexem com toda uma história de vida de uma sociedade, com o conhecimento de mundo que ela tem. Quanto mais se chega perto da intimidade de uma mulher, mais fácil de convencê-la a fazer a novidade do momento: o alisamento japonês, por exemplo. É uma prática que deixa o cabelo liso por mais tempo, já que, ter o cabelo liso é imprescindível para estar inserida no grupo das belas mulheres brasileiras. É a tecnologia avançando para facilitar a vida dessas mulheres, tornando-as cada vez mais lindas e cada vez mais “coisificadas”. “A mulher sempre foi uma classe dominada na ordem masculina tradicional”.
Tornam-se descartáveis, principalmente para o sexo. Usou, não quer mais? Joga fora. Existem mais corpos disponíveis nesse mercado “bundalizado”. Não se valoriza o conteúdo.
É a mulher como produto de consumo. É o erotismo estimulado nos discursos publicitários, tendo como exemplos clássicos as propagandas de cerveja.
Ela mesma se orgulha de sua função (“mulher objeto”) dentro desses espaços de propagação ideológica, pois se orgulha do que é valorizado (a bunda). Não está como um ser pensante e sim como um objeto de decoração apreciado por homens e mulheres.  Trecho retirado da obra A Máquina de Narciso de Muniz Sodré.
Mas esquecem que objetos não mudam, não envelhecem, não engordam. E quando se dão conta de que a “perfeição” não dura para sempre, apelam para as cirurgias plásticas.
No Brasil, isso é alarmante, pois as mulheres, em desespero para continuarem a ser admiradas e invejadas, retardam o envelhecimento, fazem super dietas. A revista Época assinala:
São as mulheres as mais preocupadas com os padrões de beleza. Graças a elas, o Brasil ocupa o primeiro lugar em cirurgias plásticas com fins estéticos a cada ano - 400 mil operações, sem falar em implantes de silicone e aplicações de toxina botulínica (Botox) e ácido hialurônico (Restylane), a febre do momento no combate às rugas.
Um corpo almejado. Um corpo “perfeito”.
O domínio, a consciência de seu próprio corpo só puderam ser adquiridos pelo efeito do investimento do corpo pelo poder: a ginástica, os exercícios, o desenvolvimento muscular, a nudez, a exaltação do belo corpo. Tudo isto conduz ao desejo do seu próprio corpo através de um trabalho insistente, obstinado, meticuloso, que o poder exerceu sobre o corpo das crianças, dos soldados, sobre o corpo sadio. Foucault (1988:146)
O poder dos mass-media, com destaque a televisão, em construir e disseminar os discursos sociais faz com que se consolidem aspectos culturais de um país. No caso brasileiro, a cultura machista que ainda impera em pleno século XXI, sob a atuação dos atores sociais (homens, mulheres e mídia) citados na música que escolhemos porque reforça os estereótipos femininos que são, geralmente, depreciativos.
É dessa forma que surgem as “mulheres objetos”, identificadas por suas bundas, generalizadas pelos seus atos, discriminadas pelas próprias mulheres e descartadas pelos homens e pela sociedade.



publicado por araretamaumamulher às 05:15 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Segunda-feira, 29 de Março de 2010

O presente artigo visa abordar estas questões partindo da premissa que a gordura leva a uma exclusão socialmente validada, fazendo com que aqueles que a experienciam recorram a inúmeras práticas, saudáveis ou não, para fugir do preconceito, da intolerância e em última análise da invisibilidade social.
As recentes sucessivas e dramáticas mortes de jovens com transtornos alimentares demandam de todos nós uma reflexão mais profunda acerca do que significa a ditadura estética a qual uma parcela significativa de jovens mulheres parece estar submetida. Vale lembrar que, a prevenção destes quadros clínicos é dificultada, sobretudo nos extratos menos favorecidos da população, na medida em que não são entendidos como uma doença, mas como um estilo de vida, socialmente reforçado, como característico das pessoas de sucesso - traduzido muitas vezes no sonho de virar modelo e com isso conseguir: ascensão social, fama, sucesso, visibilidade e dinheiro.

Antes de qualquer análise mais acurada é preciso que fique claro que, óbvia e felizmente, nem todos estamos passivos e submetidos a esta ditadura, uma vez que, como sujeitos de desejo, a singularidade de cada um deve estar sempre presente ao analisarmos um fenômeno da cultura. Generalizações são sempre perigosas e a presente reflexão não deixa de lado as saudáveis resistências e a não passividade de todos aos ditames impostos pela cultura do body fitness ou do body modification. Elegemos, também, por uma questão metodológica, uma análise pela via da cultura, enfatizando, contudo, que mecanismos psíquicos, altamente complexos e singulares estão em jogo.
Não há como deixar de lado o aumento exponencial de casos de anorexia e bulimia (presentes desde a antiguidade) e tentar entender, também por este viés, como as representações da beleza foram mudando ao longo do tempo e seus efeitos no agenciamento da subjetividade.
De desígnio divino ou de limitações anatômicas, a beleza passou a ser um 'ato de vontade', 'de esforço' e um 'denotativo do caráter'. Como aponta Baudrillard, a sociedade de consumo traz a mensagem de que 'só é feio quem quer', "moralizando o corpo feminino" nas palavras do próprio autor. Processo semelhante ocorre com a medicina como veremos mais adiante. Se o corpo até a sociedade industrial era o corpo ferramenta, observamos agora que o mesmo passou a ser o principal objeto de consumo. Das academias de ginástica, dos anabolizantes, esteroides e anfetaminas que são consumidos como jujubas, das inúmeras e infindáveis técnicas de correção corporal, o corpo 'malhado' entrouem cena.
Beleza é artigo de primeira necessidade. Mas por ela você pagará um alto preço!
E quais os padrões de beleza da contemporaneidade? Seco, sarado e, definitivamente, magro! Nas palavras de Carla Reston (modelo de 21 anos que faleceu em dezembro de 2006 de anorexia), "vovó eu prefiro morrer a ser gorda". Mas esta fala não é única: "eu sei que vou morrer, mas até lá eu vivo magra", "quando me olho no espelho, não saio de casa".
Não à toa o termo empregado é 'malhar' - malha-se como se malha o ferro, marca-se o corpo numa busca que, muitas vezes, escapa dos limites do humano, ignora-se o biótipo brasileiro em busca de uma androginia que praticamente anula as características femininas. Também não é acidental que a gíria usada seja 'sarado' -, o que, em realidade quer dizer curado. Mas 'curado' de que? 
Curado de si mesmo pensamos ser a mensagem subjacente ou ainda, curado da grande fobia social - ser gordo numa cultura lipofóbica!
A medicina moderna, espelhando o imaginário social individualista, culpabiliza o doente pela grande maioria de suas doenças: se seu colesterol é alto, quem manda comer gorduras? Se você é diabético, a culpa é sua por não largar os doces. Está com hipertensão? Ora, mude seu ritmo de vida e leve uma vida menos estressante -, como se isto fosse possível!
Certamente se você for dotado de uma bela voz, pertencer ao mundo artístico e for abençoado com um talento especial talvez escape da discriminação. Contudo, de forma alguma isto invalida o argumento de que somos profundamente cruéis com aqueles que fogem dos padrões estéticos definidos como ideais.
Qualquer menina gordinha vai poder relatar as incríveis maldades que sofreu na escola,(o bullying está aí para nos provar a veracidade da afirmação), os apelidos horríveis que lhe foram dados e, frequentemente, como se sentiram excluídas. Mais grave ainda, somos absolutamente tolerantes com esta forma de discriminação. Como aponta Maisonauve (1981) em seu livro, a gordura é a forma mais socialmente validade de preconceito o que nos permitir criticar as pessoas gordas atribuindo-lhes a culpa por sua condição.
Não se trata aqui de culpar esta ou aquela agência de modelos - ideal de tantas meninas, mas de refletir como o corpo tornou-se um objeto persecutório para grande parte das mulheres. Do sonho de Cinderela surge com freqüência a perseguição da Moura-Torta.(Novaes 2001)
Em um interessante trabalho intitulado O Belo e a Morte, Medeiros (2005) vai destacar o lugar do corpo na vida psíquica das mulheres, como algo, nada trivial. Segundo o autor: "este é o palco e o cenário que descortina um drama tão antigo e arrebatador quanto as epopéias. Não por acaso foi a beleza de uma mulher, a causa da Ilíada, do destino dos Argonautas e do triunfo de Ulisses em sua Odisséia. 
Mas se o corpo é o palco deste drama onde o sujeito feminino interpreta sua inquietação diante das vicissitudes da beleza, quem estaria na platéia? Para quem ele representaria sua dor? De quem ele teria prazer em ouvir aplausos? "(pg 167)
Se há, felizmente, as que escapam, não podemos negar que temos uma longa tradição de negar nossos preconceitos - construímos em nosso imaginário a idéia de que não somos violentos, não somos racistas e somos extremamente cordiais. Isto nos levou a esta profunda situação de desigualdade em que nos encontramos. Ao invés de enfrentarmos o que de preconceituoso existe em nós, afirmamos nossa individualidade dizendo tratar-se de casos isolados e que, em realidade, não existe o preconceito.
Ora, sabemos que existem concursos que já estão solicitando o IMC (índice de massa corporal) de seus candidatos e que inúmeras empresas não contratam pessoas gordas - certamente a alegação é outra, mas o raciocínio segue pela seguinte linha - como a gordura é apenas uma questão de 'força de vontade', deixando-se de lado todos os outros aspectos envolvidos - da genética ao psíquico -, atribui-se ao sujeito a impossibilidade de agenciar seu próprio corpo. Ora, se você não é capaz de gerir sua própria vida com competência, como o fará em seu trabalho? E se o leitor pensa que estamos tratando apenas dos casos de obesidade engana-se. 
Não ter visibilidade social ou ser visto de forma negativa/pejorativa no imaginário social são os dois lados da mesma moeda, qual seja: retirar do sujeito uma das condições fundamentais para que o mesmo tenha garantida a sua cidadania, bem como sua saúde psíquica. Pois bem, é notória e consensual no campo das ciências humanas e sociais a afirmação sobre os riscos que corre o ser humano caso seja privado do contato e da interação com seus pares ou tenha a sua mobilidade nos espaços públicos e de sociabilidade limitada - todas experiências que conferem certa dose de reconhecimento da alteridade em relação ao sujeito.(Novaes e Vilhena,2003).
A situação fica ainda mais dramática numa cultura imagética como a nossa, onde, nos grandes centros urbanos, a visibilidade, reconhecidamente, assumiu um lugar de prestígio na obtenção do reconhecimento. Chegando ao ponto de podermos afirmar que este reconhecimento legitima/reitera para o sujeito a confirmação de sua existência, tirando-o, dessa forma, do anonimato da metrópole. A ausência do sentimento de pertencimento e a angústia da invisibilidade podem levar a uma experiência de aniquilamento da existência fazendo com que o sujeito se sinta excluído do todo social, como um pária que não participa das regras do jogo, cujo final, indubitavelmente, resulta numa experiência muito dolorosa para o sujeito. Existir é, antes de mais nada, apresentar a imagem para o Outro.
Mas retomemos os inúmeros distúrbios na imagem corporal - o crescente aumento da 'vigorexia' nos homens (situações onde jamais atingem o corpo ideal, percebendo-se sempre franzinos) apontam para a prevalência de uma estética 'apolínea' que em muito nos faz lembrar o filme de Leni Riffenstal Arquitetura da Destruição. Temos aqui, os ideais estéticos nazistas que apregoavam a perfeição dos deuses e a eliminação de tudo aquilo que era considerado 'imperfeito'. Sabemos aonde isto nos levou.
Quem define o 'imperfeito' - quem determina a estética? O mercado? O mercado não é uma entidade em si mesma - ele  é construído e apoiado em todos nós. Estamos, pois, no terreno da ética.
Termo bastante complexo, no momento, vai tomá-lo pela via da tolerância. Tolerância não no sentido de suportar, mas de acolher o diferente, a diversidade e o respeito ao outro.
Nada trará de volta as jovens (e, infelizmente, as que mais virão!) nem eliminará o horrível sofrimento de suas famílias - por isto mesmo temos uma dívida com elas. Denunciar o preconceito e as inúmeras pressões a que tantas mulheres e jovens são submetidos; parar de banalizar Ana e Mia (anorexia e bulimia nas páginas do Orkut). Longe de amigas, Ana e Mia são presenças mortíferas na vida de tantas jovens; questionar a sociedade em que vivemos onde o consumo desenfreado leva-nos, frequentemente, a abdicar de valores que sempre sustentaram nossa integridade; gritar cada vez mais alto que cada um de nós é dono de seu corpo e que este foi feito para nos servir e não para nos aprisionar. Enfim, reconhecer na diferença do outro a sua riqueza e singularidade, uma vez que é esta diferença que enriquece nosso convívio em sociedade.



publicado por araretamaumamulher às 14:08 | link do post | comentar | favorito

O presente artigo visa abordar estas questões partindo da premissa que a gordura leva a uma exclusão socialmente validada, fazendo com que aqueles que a experienciam recorram a inúmeras práticas, saudáveis ou não, para fugir do preconceito, da intolerância e em última análise da invisibilidade social.
As recentes sucessivas e dramáticas mortes de jovens com transtornos alimentares demandam de todos nós uma reflexão mais profunda acerca do que significa a ditadura estética a qual uma parcela significativa de jovens mulheres parece estar submetida. Vale lembrar que, a prevenção destes quadros clínicos é dificultada, sobretudo nos extratos menos favorecidos da população, na medida em que não são entendidos como uma doença, mas como um estilo de vida, socialmente reforçado, como característico das pessoas de sucesso - traduzido muitas vezes no sonho de virar modelo e com isso conseguir: ascensão social, fama, sucesso, visibilidade e dinheiro.
Antes de qualquer análise mais acurada é preciso que fique claro que, óbvia e felizmente, nem todos estamos passivos e submetidos a esta ditadura, uma vez que, como sujeitos de desejo, a singularidade de cada um deve estar sempre presente ao analisarmos um fenômeno da cultura. Generalizações são sempre perigosas e a presente reflexão não deixa de lado as saudáveis resistências e a não passividade de todos aos ditames impostos pela cultura do body fitness ou do body modification. Elegemos, também, por uma questão metodológica, uma análise pela via da cultura, enfatizando, contudo, que mecanismos psíquicos, altamente complexos e singulares estão em jogo.
Não há como deixar de lado o aumento exponencial de casos de anorexia e bulimia (presentes desde a antiguidade) e tentar entender, também por este viés, como as representações da beleza foram mudando ao longo do tempo e seus efeitos no agenciamento da subjetividade.
De desígnio divino ou de limitações anatômicas, a beleza passou a ser um 'ato de vontade', 'de esforço' e um 'denotativo do caráter'. Como aponta Baudrillard, a sociedade de consumo traz a mensagem de que 'só é feio quem quer', "moralizando o corpo feminino" nas palavras do próprio autor. Processo semelhante ocorre com a medicina como veremos mais adiante. Se o corpo até a sociedade industrial era o corpo ferramenta, observamos agora que o mesmo passou a ser o principal objeto de consumo. Das academias de ginástica, dos anabolizantes, esteroides e anfetaminas que são consumidos como jujubas, das inúmeras e infindáveis técnicas de correção corporal, o corpo 'malhado' entrou em cena.
 Beleza é artigo de primeira necessidade. Mas por ela você pagará um alto preço!
E quais os padrões de beleza da contemporaneidade? Seco, sarado e, definitivamente, magro! Nas palavras de Carla Reston (modelo de 21 anos que faleceu em dezembro de 2006 de anorexia), "vovó eu prefiro morrer a ser gorda". Mas esta fala não é única: "eu sei que vou morrer, mas até lá eu vivo magra", "quando me olho no espelho, não saio de casa".
Não à toa o termo empregado é 'malhar' - malha-se como se malha o ferro, marca-se o corpo numa busca que, muitas vezes, escapa dos limites do humano, ignora-se o biótipo brasileiro em busca de uma androginia que praticamente anula as características femininas. Também não é acidental que a gíria usada seja 'sarado' -, o que, em realidade quer dizer curado. Mas 'curado' de que? 
Curado de si mesmo pensamos ser a mensagem subjacente ou ainda, curado da grande fobia social - ser gordo numa cultura lipofóbica!
A medicina moderna, espelhando o imaginário social individualista, culpabiliza o doente pela grande maioria de suas doenças: se seu colesterol é alto, quem manda comer gorduras? Se você é diabético, a culpa é sua por não largar os doces. Está com hipertensão? Ora, mude seu ritmo de vida e leve uma vida menos estressante -, como se isto fosse possível!
Certamente se você for dotado de uma bela voz, pertencer ao mundo artístico e for abençoado com um talento especial talvez escape da discriminação. Contudo, de forma alguma isto invalida o argumento de que somos profundamente cruéis com aqueles que fogem dos padrões estéticos definidos como ideais.
Qualquer menina gordinha vai poder relatar as incríveis maldades que sofreu na escola,(o bullying está aí para nos provar a veracidade da afirmação), os apelidos horríveis que lhe foram dados e, frequentemente, como se sentiram excluídas. Mais grave ainda, somos absolutamente tolerantes com esta forma de discriminação. Como aponta Maisonauve (1981) em seu livro, a gordura é a forma mais socialmente validade de preconceito o que nos permitir criticar as pessoas gordas atribuindo-lhes a culpa por sua condição.
Não se trata aqui de culpar esta ou aquela agência de modelos - ideal de tantas meninas, mas de refletir como o corpo tornou-se um objeto persecutório para grande parte das mulheres. Do sonho de Cinderela surge com freqüência a perseguição da Moura-Torta.(Novaes 2001)
Em um interessante trabalho intitulado O Belo e a Morte, Medeiros (2005) vai destacar o lugar do corpo na vida psíquica das mulheres, como algo, nada trivial. Segundo o autor: "este é o palco e o cenário que descortina um drama tão antigo e arrebatador quanto as epopéias. Não por acaso foi a beleza de uma mulher, a causa da Ilíada, do destino dos Argonautas e do triunfo de Ulisses em sua Odisséia. 
Mas se o corpo é o palco deste drama onde o sujeito feminino interpreta sua inquietação diante das vicissitudes da beleza, quem estaria na platéia? Para quem ele representaria sua dor? De quem ele teria prazer em ouvir aplausos? "(pg 167)
Se há, felizmente, as que escapam, não podemos negar que temos uma longa tradição de negar nossos preconceitos - construímos em nosso imaginário a idéia de que não somos violentos, não somos racistas e somos extremamente cordiais. Isto nos levou a esta profunda situação de desigualdade em que nos encontramos. Ao invés de enfrentarmos o que de preconceituoso existe em nós, afirmamos nossa individualidade dizendo tratar-se de casos isolados e que, em realidade, não existe o preconceito.
Ora, sabemos que existem concursos que já estão solicitando o IMC (índice de massa corporal) de seus candidatos e que inúmeras empresas não contratam pessoas gordas - certamente a alegação é outra, mas o raciocínio segue pela seguinte linha - como a gordura é apenas uma questão de 'força de vontade', deixando-se de lado todos os outros aspectos envolvidos - da genética ao psíquico -, atribui-se ao sujeito a impossibilidade de agenciar seu próprio corpo. Ora, se você não é capaz de gerir sua própria vida com competência, como o fará em seu trabalho? E se o leitor pensa que estamos tratando apenas dos casos de obesidade engana-se. 
Não ter visibilidade social ou ser visto de forma negativa/pejorativa no imaginário social são os dois lados da mesma moeda, qual seja: retirar do sujeito uma das condições fundamentais para que o mesmo tenha garantida a sua cidadania, bem como sua saúde psíquica. Pois bem, é notória e consensual no campo das ciências humanas e sociais a afirmação sobre os riscos que corre o ser humano caso seja privado do contato e da interação com seus pares ou tenha a sua mobilidade nos espaços públicos e de sociabilidade limitada - todas experiências que conferem certa dose de reconhecimento da alteridade em relação ao sujeito.(Novaes e Vilhena,2003).
A situação fica ainda mais dramática numa cultura imagética como a nossa, onde, nos grandes centros urbanos, a visibilidade, reconhecidamente, assumiu um lugar de prestígio na obtenção do reconhecimento. Chegando ao ponto de podermos afirmar que este reconhecimento legitima/reitera para o sujeito a confirmação de sua existência, tirando-o, dessa forma, do anonimato da metrópole. A ausência do sentimento de pertencimento e a angústia da invisibilidade podem levar a uma experiência de aniquilamento da existência fazendo com que o sujeito se sinta excluído do todo social, como um pária que não participa das regras do jogo, cujo final, indubitavelmente, resulta numa experiência muito dolorosa para o sujeito. Existir é, antes de mais nada, apresentar a imagem para o Outro.
Mas retomemos os inúmeros distúrbios na imagem corporal - o crescente aumento da 'vigorexia' nos homens (situações onde jamais atingem o corpo ideal, percebendo-se sempre franzinos) apontam para a prevalência de uma estética 'apolínea' que em muito nos faz lembrar o filme de Leni Riffenstal Arquitetura da Destruição. Temos aqui, os ideais estéticos nazistas que apregoavam a perfeição dos deuses e a eliminação de tudo aquilo que era considerado 'imperfeito'. Sabemos aonde isto nos levou.
Quem define o 'imperfeito' - quem determina a estética? O mercado? O mercado não é uma entidade em si mesma - ele  é construído e apoiado em todos nós. Estamos, pois, no terreno da ética.
Termo bastante complexo, no momento, vai tomá-lo pela via da tolerância. Tolerância não no sentido de suportar, mas de acolher o diferente, a diversidade e o respeito ao outro.
Nada trará de volta as jovens (e, infelizmente, as que mais virão!) nem eliminará o horrível sofrimento de suas famílias - por isto mesmo temos uma dívida com elas. Denunciar o preconceito e as inúmeras pressões a que tantas mulheres e jovens são submetidos; parar de banalizar Ana e Mia (anorexia e bulimia nas páginas do Orkut). Longe de amigas, Ana e Mia são presenças mortíferas na vida de tantas jovens; questionar a sociedade em que vivemos onde o consumo desenfreado leva-nos, frequentemente, a abdicar de valores que sempre sustentaram nossa integridade; gritar cada vez mais alto que cada um de nós é dono de seu corpo e que este foi feito para nos servir e não para nos aprisionar. Enfim, reconhecer na diferença do outro a sua riqueza e singularidade, uma vez que é esta diferença que enriquece nosso convívio em sociedade.






publicado por araretamaumamulher às 05:38 | link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

Domingo, 28 de Março de 2010

No filme Tudo Sobre Minha Mãe, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar, ilustra bem a idéia do sujeito que deseja mudar sua aparência para ficar cada vez mais único, de acordo com o que queria parecer. Assim, o personagem do filme, um transexual chamado Agrado, que já havia realizado inúmeras intervenções plásticas, dizia: Uma pessoa pode se dizer mais autêntica quanto mais se aproxima de como sonhou ser.
Mas com o que sonha grande parte das mulheres em nossos tempos? A gordura acabou com minha vida, dizia uma entrevistada, em uma matéria da Folha de S. Paulo. Cadernos de saúde, academias de ginástica, lojinhas de produtos naturais e cirurgias plásticas cada vez mais numerosas, parecem nos dizer que a moda do corpo magro, esbelto, sarado e cuidado chegou para ficar.
Mais ainda –, ai de quem desses parâmetros se afastar!!! Em recentes pesquisas que vimos realizando e cujas falas reproduziremos ao longo deste trabalho, pudemos observar, não apenas o caráter impositivo de uma estética que nada tem a ver com o biótipo brasileiro, como o profundo preconceito que as mulheres feias (leia-se gordas) sofrem.
Sem caráter, sem força de vontade e vistas como desleixadas, a anatomia feminina deixou de ser um destino para ser uma questão de disciplina: se não conseguimos agenciar nossos corpos, como seremos capazes de agenciar nossas vidas ou nossos empregos? Recente pesquisa feita pelo New York Times aponta para uma enorme diferença salarial (quando são contratadas!) entre mulheres bonitas e feias.
moralização do corpo feminino, como aponta Baudrillard em seu livro A sociedade de consumo, nos leva a encarar a ditadura da beleza, da magreza e da saúde como se fosse algo da ordem de uma escolha pessoal. Deixam-se de lado todos os mecanismos de regulação social presentes em nossa sociedade, que transformam o corpo, cada vez mais, em uma prisão ou em um inimigo a ser constantemente domado.
Malhado, como se malha o ferro, não é sem razão que tal expressão é utilizada nas academias de ginástica, na tentativa de adquirir a estética desejada. Tais técnicas, apreendidas, inicialmente, como uma disciplina, com o passar do tempo são incorporadas ao cotidiano do sujeito e sem que o mesmo perceba, acaba por reproduzi-las, sem que haja uma dimensão crítica ou reflexiva sobre essas atividades/comportamentos: a Pastoral do suor de que nos fala Jean-Jacques Courtine.
Se a contemporaneidade pode ser definida exatamente pela sua liquidez, como aponta ZygmuntBaumann em vários de seus escritos, ou pela sua evanescência – tudo que é sólido desmancha no ar, o culto ao corpo, demanda do sujeito exatamente o inverso – permanência e imutabilidade.
Como sabemos, a regulação social dos padrões estéticos sofreu variações históricas em torno dos ideais de beleza de algumas décadas atrás, até à atualidade, no qual seu imperativo exige a perfeição das formas conseguida por meio de inúmeras intervenções corporais e cujo exemplo mais representativo são as modelos e atrizes.
Todo esse percurso histórico deixa bastante clara a ênfase que vem sendo dada, cada vez mais, às práticas de culto ao corpo, bem como às técnicas de aperfeiçoamento da imagem corporal. As interferências, transformações e todos os métodos de disciplinização do corpo, acompanhados da moralização da beleza, buscam esse caráter de permanência do belo corporal.
Trata-se dessa forma, de comer com a disciplina imposta pela nutricionista e, num segundo momento, anular os efeitos da ingestão, através de rigorosos exercícios físicos. Carregado de um sentimento de culpa infalível, fruto das advertências de ambos profissionais, nas quais comer não deve ser, senão, o ato de alimentar-se, destitui-se, dessa forma, a alimentação de toda a sua dimensão de prazer, fazendo com que o sujeito acredite que deva alimentar-se do olhar que equivale à aprovação social e que, por conseqüência, legitima e estimula tais práticas na obtenção desse corpo.
O que é ser bela? Acho que a sociedade nos cobra e nos sufoca demais com isso. Gostaria de dar menos valor à aparência, mas não consigo, pois vivo num mundo onde os valores estão em segundo plano e o físico em primeiro. Se eu quiser conquistar algo aqui neste mundo, sem dúvida nenhuma, a minha aparência influenciará 90%. É triste, mas é a mais pura verdade, pois comprovei isso na pele – precisei me livrar de todo o meu recheio.
As técnicas de reversão do processo de envelhecimento nos remetem ao tão sonhado projeto evolucionista do corpo. Atingida a sua maturidade, o corpo estaria livre de todas as enfermidades e intempéries – , o corpo anseia por não mais fenecer. A tentativa pós-moderna parece ser a subversão da condição humana de mortal.
Não se trata, certamente, de negar os avanços da ciência e, sim, de estar atento à dimensão de controle e regulação de nossos corpos. Como jocosamente aponta Ximenes Braga no jornal O GloboMundo afora, o estado quer controlar cada vez mais o que as pessoas fazem consigo mesma, e impedir crianças de engordar é mais um degrau de ridículo nesse Zeitgeist. Qual o próximo passoA criminalização da aspirina, do sushi e do steak tartar?
Mas retornemos à nossa afirmação acerca do preconceito contra a gordura – estando aí incluído até a gravidez.
Historicamente, à mulher é associado o binômio beleza e fertilidade, estando o último aspecto referido a tudo que difere a sua anatomia da masculina, ou seja, aquilo que em suas entranhas é produzido. Entretanto, a cultura atual parece demonstrar que nem mesmo a gravidez justifica as marcas de envelhecimento deixadas pela natureza, logo, os traços remanescentes do processo da maternidade devem ser extirpados do corpo feminino.
Ressignificados e afastados do ideal de juventude, esses traços são interpretados pela cultura como feios e, portanto, devem ser eliminados, reiterando mais uma vez a máxima de que só é feio quem quer. Nesse sentido, vale lembrar a propaganda da linha de cosméticos Helena Rubinstein: Nos tempos atuais, é imperdoável que a gravidez faça com que a mulher perca a sua silhueta… A mulher deve ter um belo corpo para mostrar após os filhos estarem criados.
O fenômeno observado, tal qual descrito, parece indicar um corpo análogo ao corpo andrógino referido por Baudrillard, no qual houve o apagamento dos signos de diferença. Não é à toa, que a maioria de nossas entrevistadas associa a necessidade da cirurgia à gravidez e aos processos ulteriores de maternagem, como a amamentação, e justificam seu desejo de anulação dessas marcas dizendo tratar-se de um excesso desnecessário. Ironicamente, a amamentação é o exemplo prototípico de um excesso interno do corpo feminino que produz a satisfação do bebê.
Depois da gravidez mudou tudo... os peitos desabaram. Já ouviu falar nas termas de Caracalla?
Não adianta, porque quando você engravida as marcas estão lá mesmo – então por que não consertar?
De que corpos, então, estão falando essas mulheres? Será um corpo sem marcas ou inscrições: um corpo em branco? Quem ou o que contaria então a sua história? Será ousado pensar tratar-se da valorização de um corpo oco? Como um corpo virtual, que só possui duas dimensões, aquelas que os olhos alcançam. Ou ainda, como o corpo publicitário: para sempre diante do seu olhar!
Freqüentemente associado ao corpo que “atrai”, a cirurgia é buscada como uma forma de se manter atraente aos olhos do outro. Permanecer jovem, seduzir, manter o interesse do companheiro são justificativas muitas vezes empregadas. Não é de se espantar que muitas vezes ninguém possa tocar esse corpo. Ele está/existe apenas para a visão, ou seja, para ser admirado – os seios Pão de Açúcar nas palavras de uma entrevistada.
Frases que são proferidas com o intuito de estimular ou mesmo reforçar positivamente as pessoas gordas a persistirem com dietas e/ou rotina de exercícios, ilustram bem a idéia do corpo magro como um ideal a ser atingido, bem como a representação social do gordo como um imperfeito que deve ser reeducado, de forma eficiente à moralização do bom comportamento. Neste sentido, nada espelha melhor a moral do culto ao corpo do que a disciplina, a perseverança e a obstinação.
Vejamos alguns exemplos ouvidos em academias: vai gordinha que você chega ou, no caso de demonstração de cansaço, o seu corpo é um reflexo do seu comportamento – se for paradona, preguiçosa do tipo que só gosta de comer e dormir, fatalmente será gorda, caidaça e toda flácida. (fala de um personal trainer).
Finalmente, um dos relatos que melhor afirma a idéia da exclusão social infligida às mulheres gordas - a negação da sexualidade:
Um amigo meu uma vez me disse: se quiser ser desejada emagreça, pois é óbvio que ninguém vai olhar para gordinha “cocota” e sim para a saradona “cascuda”.
Parece que a fala do amigo diz à nossa entrevistada que ela é menos mulher por ser gorda, logo, feia. Ser gorda lança-a na condição de apenas amiga dos homens, ou seja, só as magras podem exercer sua feminilidade plenamente, pois conseguem despertar o desejo dos “carinhas”. Feiúra é índice de menos-ser.
Contudo, não se trata como alguns colegas apontam, de reduzir a busca por um corpo ideal, a uma falha, uma falta, um defeito, uma patologia ou um processo de alienação. Trata-se, a nosso ver, de poder pensar por quais processos discursivos e de socialização estas e outras práticas fortemente instituídas e difundidas colaboraram para anular as resistências ao que nelas existe de opressão.
É preciso pensar na forma pela qual os agentes interiorizam/incorporam o discurso dominante e na sua conseqüente reprodução no seio da sociedade. É importante notar que os mecanismos que regem a dinâmica das relações, tais como sujeição e dominação, obediência e imposição, não devem ser encarados como algo que vem de cima para baixo, e sim como um processo dialético, horizontal, encenado por todos os membros de uma sociedade, assimilado como uma tática inerente ao jogo, e que permeia todos os âmbitos e espaços indo da família à escola, dos locais de trabalho às instituições públicas, retornando ao convívio social.
Por isso, torna-se fundamental refletir acerca da sociedade de imagens na qual vivemos. O corpo, ao entrar em cena, e ocupar agora um espaço que dá ao indivíduo a visibilidade necessária aos poderes disciplinares, torna-se o principal alvo das estratégias de controle. Por essa mesma razão ele deve ser pensado e visto como uma possibilidade de resistência.
Este mundo é feito para os magros, jovens, brancos, caucasianos e sem nenhum tipo de deficiência física. Quem não pertencer a um desses grupos, com certeza ficará à margem sofrendo inúmeros preconceitos.
Joana V. Novaes é doutora em psicologia clínica. Coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social – Lipis da PUC-Rio. E-mail joananovaes@terra.com.br.
Junia de Vilhena é doutora em psicologia clínica, é psicanalista, professora do Departamento de Psicologia da PUC-Rio; coordenadora do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social – Lipis da PUC-Rio e pesquisadora da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental. E-mail vilhena@psi.puc-rio.br



publicado por araretamaumamulher às 19:53 | link do post | comentar | favorito

No filme Tudo Sobre Minha Mãe, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar, ilustra bem a idéia do sujeito que deseja mudar sua aparência para ficar cada vez mais único, de acordo com o que queria parecer. Assim, o personagem do filme, um transexual chamado Agrado, que já havia realizado inúmeras intervenções plásticas, dizia: Uma pessoa pode se dizer mais autêntica quanto mais se aproxima de como sonhou ser.
Mas com o que sonha grande parte das mulheres em nossos tempos? A gordura acabou com minha vida, dizia uma entrevistada, em uma matéria da Folha de S. Paulo. Cadernos de saúde, academias de ginástica, lojinhas de produtos naturais e cirurgias plásticas cada vez mais numerosas, parecem nos dizer que a moda do corpo magro, esbelto, sarado e cuidado chegou para ficar.
Mais ainda –, ai de quem desses parâmetros se afastar!!! Em recentes pesquisas que vimos realizando e cujas falas reproduziremos ao longo deste trabalho, pudemos observar, não apenas o caráter impositivo de uma estética que nada tem a ver com o biótipo brasileiro, como o profundo preconceito que as mulheres feias (leia-se gordas) sofrem.
Sem caráter, sem força de vontade e vistas como desleixadas, a anatomia feminina deixou de ser um destino para ser uma questão de disciplina: se não conseguimos agenciar nossos corpos, como seremos capazes de agenciar nossas vidas ou nossos empregos? Recente pesquisa feita pelo New York Times aponta para uma enorme diferença salarial (quando são contratadas!) entre mulheres bonitas e feias.
A moralização do corpo feminino, como aponta Baudrillard em seu livro A sociedade de consumo, nos leva a encarar a ditadura da beleza, da magreza e da saúde como se fosse algo da ordem de uma escolha pessoal. Deixam-se de lado todos os mecanismos de regulação social presentes em nossa sociedade, que transformam o corpo, cada vez mais, em uma prisão ou em um inimigo a ser constantemente domado.
Malhado, como se malha o ferro, não é sem razão que tal expressão é utilizada nas academias de ginástica, na tentativa de adquirir a estética desejada. Tais técnicas, apreendidas, inicialmente, como uma disciplina, com o passar do tempo são incorporadas ao cotidiano do sujeito e sem que o mesmo perceba, acaba por reproduzi-las, sem que haja uma dimensão crítica ou reflexiva sobre essas atividades/comportamentos: a Pastoral do suor de que nos fala Jean-Jacques Courtine.
Se a contemporaneidade pode ser definida exatamente pela sua liquidez, como aponta ZygmuntBaumann em vários de seus escritos, ou pela sua evanescência – tudo que é sólido desmancha no ar, o culto ao corpo, demanda do sujeito exatamente o inverso – permanência e imutabilidade.
Como sabemos, a regulação social dos padrões estéticos sofreu variações históricas em torno dos ideais de beleza de algumas décadas atrás, até à atualidade, no qual seu imperativo exige a perfeição das formas conseguida por meio de inúmeras intervenções corporais e cujo exemplo mais representativo são as modelos e atrizes.
Todo esse percurso histórico deixa bastante clara a ênfase que vem sendo dada, cada vez mais, às práticas de culto ao corpo, bem como às técnicas de aperfeiçoamento da imagem corporal. As interferências, transformações e todos os métodos de disciplinização do corpo, acompanhados da moralização da beleza, buscam esse caráter de permanência do belo corporal.
Trata-se dessa forma, de comer com a disciplina imposta pela nutricionista e, num segundo momento, anular os efeitos da ingestão, através de rigorosos exercícios físicos. Carregado de um sentimento de culpa infalível, fruto das advertências de ambos profissionais, nas quais comer não deve ser, senão, o ato de alimentar-se, destitui-se, dessa forma, a alimentação de toda a sua dimensão de prazer, fazendo com que o sujeito acredite que deva alimentar-se do olhar que equivale à aprovação social e que, por conseqüência, legitima e estimula tais práticas na obtenção desse corpo.
O que é ser bela? Acho que a sociedade nos cobra e nos sufoca demais com isso. Gostaria de dar menos valor à aparência, mas não consigo, pois vivo num mundo onde os valores estão em segundo plano e o físico em primeiro. Se eu quiser conquistar algo aqui neste mundo, sem dúvida nenhuma, a minha aparência influenciará 90%. É triste, mas é a mais pura verdade, pois comprovei isso na pele – precisei me livrar de todo o meu recheio.
As técnicas de reversão do processo de envelhecimento nos remetem ao tão sonhado projeto evolucionista do corpo. Atingida a sua maturidade, o corpo estaria livre de todas as enfermidades e intempéries – , o corpo anseia por não mais fenecer. A tentativa pós-moderna parece ser a subversão da condição humana de mortal.
Não se trata, certamente, de negar os avanços da ciência e, sim, de estar atento à dimensão de controle e regulação de nossos corpos. Como jocosamente aponta Ximenes Braga no jornal O Globo: Mundo afora, o estado quer controlar cada vez mais o que as pessoas fazem consigo mesma, e impedir crianças de engordar é mais um degrau de ridículo nesse Zeitgeist. Qual o próximo passo? A criminalização da aspirina, do sushi e do steak tartar?
Mas retornemos à nossa afirmação acerca do preconceito contra a gordura – estando aí incluído até a gravidez.
Historicamente, à mulher é associado o binômio beleza e fertilidade, estando o último aspecto referido a tudo que difere a sua anatomia da masculina, ou seja, aquilo que em suas entranhas é produzido. Entretanto, a cultura atual parece demonstrar que nem mesmo a gravidez justifica as marcas de envelhecimento deixadas pela natureza, logo, os traços remanescentes do processo da maternidade devem ser extirpados do corpo feminino.
Ressignificados e afastados do ideal de juventude, esses traços são interpretados pela cultura como feios e, portanto, devem ser eliminados, reiterando mais uma vez a máxima de que só é feio quem quer. Nesse sentido, vale lembrar a propaganda da linha de cosméticos Helena Rubinstein: Nos tempos atuais, é imperdoável que a gravidez faça com que a mulher perca a sua silhueta… A mulher deve ter um belo corpo para mostrar após os filhos estarem criados.
O fenômeno observado, tal qual descrito, parece indicar um corpo análogo ao corpo andrógino referido por Baudrillard, no qual houve o apagamento dos signos de diferença. Não é à toa, que a maioria de nossas entrevistadas associa a necessidade da cirurgia à gravidez e aos processos ulteriores de maternagem, como a amamentação, e justificam seu desejo de anulação dessas marcas dizendo tratar-se de um excesso desnecessário. Ironicamente, a amamentação é o exemplo prototípico de um excesso interno do corpo feminino que produz a satisfação do bebê.
Depois da gravidez mudou tudo... os peitos desabaram. Já ouviu falar nas termas de Caracalla?
Não adianta, porque quando você engravida as marcas estão lá mesmo – então por que não consertar?
De que corpos, então, estão falando essas mulheres? Será um corpo sem marcas ou inscrições: um corpo em branco? Quem ou o que contaria então a sua história? Será ousado pensar tratar-se da valorização de um corpo oco? Como um corpo virtual, que só possui duas dimensões, aquelas que os olhos alcançam. Ou ainda, como o corpo publicitário: para sempre diante do seu olhar!
Freqüentemente associado ao corpo que “atrai”, a cirurgia é buscada como uma forma de se manter atraente aos olhos do outro. Permanecer jovem, seduzir, manter o interesse do companheiro são justificativas muitas vezes empregadas. Não é de se espantar que muitas vezes ninguém possa tocar esse corpo. Ele está/existe apenas para a visão, ou seja, para ser admirado – os seios Pão de Açúcar nas palavras de uma entrevistada.
Frases que são proferidas com o intuito de estimular ou mesmo reforçar positivamente as pessoas gordas a persistirem com dietas e/ou rotina de exercícios, ilustram bem a idéia do corpo magro como um ideal a ser atingido, bem como a representação social do gordo como um imperfeito que deve ser reeducado, de forma eficiente à moralização do bom comportamento. Neste sentido, nada espelha melhor a moral do culto ao corpo do que a disciplina, a perseverança e a obstinação.
Vejamos alguns exemplos ouvidos em academias: vai gordinha que você chega  ou, no caso de demonstração de cansaço, o seu corpo é um reflexo do seu comportamento – se for paradona, preguiçosa do tipo que só gosta de comer e dormir, fatalmente será gorda, caidaça e toda flácida. (fala de um personal trainer).
Finalmente, um dos relatos que melhor afirma a idéia da exclusão social infligida às mulheres gordas - a negação da sexualidade:
Um amigo meu uma vez me disse: se quiser ser desejada emagreça, pois é óbvio que ninguém vai olhar para gordinha “cocota” e sim para a saradona “cascuda”.
Parece que a fala do amigo diz à nossa entrevistada que ela é menos mulher por ser gorda, logo, feia. Ser gorda lança-a na condição de apenas amiga dos homens, ou seja, só as magras podem exercer sua feminilidade plenamente, pois conseguem despertar o desejo dos “carinhas”. Feiúra é índice de menos-ser.
Contudo, não se trata como alguns colegas apontam, de reduzir a busca por um corpo ideal, a uma falha, uma falta, um defeito, uma patologia ou um processo de alienação. Trata-se, a nosso ver, de poder pensar por quais processos discursivos e de socialização estas e outras práticas fortemente instituídas e difundidas colaboraram para anular as resistências ao que nelas existe de opressão.
É preciso pensar na forma pela qual os agentes interiorizam/incorporam o discurso dominante e na sua conseqüente reprodução no seio da sociedade. É importante notar que os mecanismos que regem a dinâmica das relações, tais como sujeição e dominação, obediência e imposição, não devem ser encarados como algo que vem de cima para baixo, e sim como um processo dialético, horizontal, encenado por todos os membros de uma sociedade, assimilado como uma tática inerente ao jogo, e que permeia todos os âmbitos e espaços indo da família à escola, dos locais de trabalho às instituições públicas, retornando ao convívio social.
Por isso, torna-se fundamental refletir acerca da sociedade de imagens na qual vivemos. O corpo, ao entrar em cena, e ocupar agora um espaço que dá ao indivíduo a visibilidade necessária aos poderes disciplinares, torna-se o principal alvo das estratégias de controle. Por essa mesma razão ele deve ser pensado e visto como uma possibilidade de resistência.
Este mundo é feito para os magros, jovens, brancos, caucasianos e sem nenhum tipo de deficiência física. Quem não pertencer a um desses grupos, com certeza ficará à margem sofrendo inúmeros preconceitos.

Joana V. Novaes é doutora em psicologia clínica. Coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social – Lipis da PUC-Rio. E-mail joananovaes@terra.com.br.
Junia de Vilhena é doutora em psicologia clínica, é psicanalista, professora do Departamento de Psicologia da PUC-Rio; coordenadora do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social – Lipis da PUC-Rio e pesquisadora da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental. E-mail vilhena@psi.puc-rio.br



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Sábado, 27 de Março de 2010

envelhecer é ficar fora de foco:
os traços vão ficando imprecisos
e o contorno do rosto acaba por se decompor
como um pedaço de pão a se dissolver na água.
O que tem sido narrado acerca da velhice e com que olhar? Nosso mundo atual privilegia a imagem exterior e o belo quase sempre está associado à juventude. Pensar sobre a velhice, no aspecto físico do ser, requer pensar também a respeito do olhar, pois as dificuldades encontradas pelos idosos para se relacionarem com o outro, a partir da degradação do corpo, ocorrem principalmente por causa do olhar contaminado pelo preconceito. Quando se trata do envelhecimento do corpo feminino, há ainda mais rigor desse olhar e a sexualidade da mulher velha é geralmente vista como inexistente ou inadequada. Nos contos “Ruído de passos” e “Mas vai chover”, Clarice Lispector trata da sexualidade e expõe uma face da velhice que não costuma ser discutida, especialmente quando se trata do desejo feminino. Essa exposição de um drama íntimo sob forma de literatura permite-nos refletir sobre o tema visto com preconceito pela sociedade, e observar sua forma de representação.
A mulher velha é tida como alguém que não mais sente desejo e, se sente, não é vista como alguém digna de tê-lo satisfeito. Nossa sociedade é centrada na beleza do que é jovem, principalmente no que diz respeito à mulher. Há um forte estigma que desvaloriza a mulher mais velha. Normalmente a vida sexual de uma mulher mais velha é alvo de chacotas, comentários, especialmente quando se trata de um relacionamento com homem mais jovem. Essa é a temática discutida no conto “Mas vai chover”; e a questão do desejo sexual que persiste em uma velhinha de oitenta e um anos, Cândida Raposo, é apresentada em “Ruído de passos”. No primeiro, a exploração e o desrespeito do jovem com quem Maria Angélica, de sessenta anos se relaciona apaixonadamente é o foco da discussão; no segundo conto, a voz narrativa apresenta-nos a angústia de quem vive o “inferno” do “desejo de prazer” sem poder satisfazê-lo, da superação da vergonha em confessar isso ao médico a quem pede ajuda, para libertar-se desse martírio.
Em ambos, as mulheres precisam vencer o preconceito da idade para ter esse desejo sexual e satisfazê-lo, seja de modo solitário ou ‘negociado’ com um jovem. Num a personagem velha teve a coragem de crer no amor do jovem por ela e atirou-se a essa relação; noutro, a velhinha teve a coragem de expor sua angústia e permitiu-se resolver-se. Nesse, a memória é elemento desencadeador do processo de libertação do corpo para o prazer, ao trazer para o cenário de sua atuação solitária o “ruído de passos” de seu marido.
A temática do corpo degradado surge freqüentemente em narrativas do envelhecer, porém, como forma de resistência, não só trazendo a discussão da decrepitude como impossibilidade de comunicar-se ou de agir, mas também como novos modos de estar no mundo.
A modificação ocorrida no corpo desencadeia processos de mudança nas formas de se estar nos espaços, de perceber-se nessa nova condição, de se posicionar frente às circunstâncias e frente ao outro. Assim, encontra-se a questão da degradação do corpo unida à recuperação do mesmo pela memória, nos textos “Significado oculto de um corpo velho”, conto da escritora portuguesa Maria Isabel Barreno, e A obscena senhora D, romance de Hilda Hilst, nos quais as personagens apresentam postura diferente diante do olhar do outro, como que para recuperar uma dignidade desse corpo, para chocar o outro e “fazer ver” de outra forma as marcas impressas pelo tempo no corpo velho.
Há narrativas que apontam o olhar do outro vendo de fora o seu diferente, porém narram também o estranhamento não só desse que olha de fora, mas o daquele que se estranha. No conto “Significado de um corpo velho”, a literatura faz-se tradutora das inscrições do corpo envelhecido. Assim como a velhinha protagonista, ao relembrar seu corpo jovem, a narrativa percorre o velho corpo marcado e sua estrutura desgastada pelo tempo. A voz narrativa trabalha a linguagem como se fossem fios reconstituindo a dignidade de um corpo que, antes da decrepitude, sustentara todos os labores de uma vida; refere-se ao corpo velho como um rico texto a ser lido: “seu corpo era um texto vivo, a narrativa de uma vida que ela tinha de honrar”.
O olhar do rapaz sobre ela a faz reportar-se a si própria, como se estivesse frente a um espelho. O seu olhar sobre o jovem corpo do rapaz remete-a a um passado, o do seu próprio corpo jovem. Sua pele, seus ossos e seus músculos são tema da invocação de uma memória impressa na carne, de uma memória impressa na pele: “pensou nos ossos doridos (...) Doridos sim, mas por há tanto tempo lhe servirem e modelarem a postura, fielmente. Amou-os e agradeceu-lhes” (SOCV, 71-76).
O encontro com o rapaz, inicialmente afronta-lhe a velhice, com seu corpo forte, ágil, jovem. Depois, provoca-lhe essa reflexão sobre o quanto já estivera nessa condição jovem e o quanto já fizera ao longo da vida com esse corpo que envelhecera, porém não o encara como uma ruína e sim como uma obra esculpida pelo tempo, redesenhada ao longo dos anos vividos, através de seu trabalho, da fatura de tudo o que fizera com as próprias mãos. Ao compreender isso ela se sente melhor: “deixou de ser apenas sua habitante; saiu e olhou-se de fora”, descobre que possui o “olhar que renovava sua configuração”.
Deste modo, a velha senhora re-significa os sinais de velhice em seu corpo. Ela passa a encarar o corpo debilitado não como algo fracassado, inútil, mas como “escultura” viva, cujas marcas impressas inscrevem a história de uma vida, não apenas marcas de dor e sofrimento, mas também resíduos de prazer e alegrias. Cada ruga conta a história de um pedaço de sua vida, dor ou prazer, tristeza ou alegria, mas vida.
A partir dessas emoções, a velhinha acumula toda sua energia para expressar essa nova perspectiva de si num gesto, tocar a mão no ombro do jovem rapaz. Ao sorrir para ele sem dentes, escancaradamente e sem vergonha de sua gargalhada senil, a velhinha horroriza o jovem, “que curiosidade e fascínio lera nos olhos do rapaz do leite; que perplexidade tão absolutamente muda a do jovem macho face à velha fêmea quantas passagens secretas apontadas nesse território de mudez”. Essa senhora compreende sua força, seu poder feminino nas mais diversas faces, da mãe à bruxa, além de deter o conhecimento de “sabedorias únicas”. Por isso consegue superar a baixa estima, encara o jovem sem pudor e passa a amar-se.
O romance A obscena senhora D dá-se por meio de uma narrativa desenfreada de
Hillé, numa mistura de invocação a deus, lamento e narrativa de memórias. Ela é narradora tanto de uma vida de indagações quanto de indagações de uma vida, assim, narra em primeira e em terceira pessoa, mesclando outras vozes de fora, na mesma narrativa; ela é a protagonista de sua história e da de outros, ela mesma é muitas. Hillé conta sua história que é também a história do outro, olha de dentro e olha de fora para entender a vida para saber da morte, é como a figura do “recordador” de que fala Ecléa Bosi, pois “o velho narrador revivendo, está aprendendo a morrer”. Hillé não agüenta a vida, foge para um mundo seu, isola-se de todos, até do marido quando vivo criando seu mundo embaixo da escada. Hillé narra uma experiência profunda – “naquele momento em que ela se corporifica (e se enrijece) na narrativa” pode haver a perda de sua história, porém “o mutismo também petrifica a lembrança que se paralisa e sedimenta no fundo da garganta como disse Ungaretti”iv. Deste modo, é preciso narrar. Esse é o movimento da personagem, narrar para não petrificar a lembrança, lembrar para compreender, entender para poder morrer. Como morrer sem ter entendido a vida? Essa é a grande inquietação da personagem, que ecoa também em outra narrativa da mesma autora, Estar sendo. Ter sido, cujo personagem principal é amigo de Hillé e chega a explicitar essa questão.
Em OSD aborda-se decrepitude do corpo, isolamento, impossibilidade de comunicação, na medida em que a protagonista Hillé recusa-se a relacionar-se com os outros de forma convencional –, o abandono e o estranhamento dessa mulher envelhecida e solitária, vista pelos vizinhos como bruxa, como louca, temida por eles, todos esses temas são elementos construtores da personagem também denominada Senhora D, de derrelição, de desamparo. Estes constituem também o texto, na medida em que são temas recorrentes da reflexão da narradora personagem.
No entanto, A Senhora D recusa-se às formas convencionais de encontro. Está em conflito consigo, com os outros, com o seu deus, Ehud, a quem questiona sobre tudo. Vive em busca de repostas, da razão. Representa a falta de viço em sua vida com o gesto de substituir seus dois peixes mortos por peixes de papel pardo, que recorta e coloca no aquário, periodicamente.
Segundo Merleau-Ponty “o sensível não é feito somente de coisas. É feito também de tudo o que nelas se desenha, mesmo no oco dos intervalos, tudo o que nelas deixa vestígio, tudo o que nelas figura, mesmo a título de distância e como uma certa ausência”vi. A personagem materializa o desenho das coisas substituindo a própria coisa por sua representação ao trocar os peixes por recortes de papel em forma de peixe.
Hillé invoca a memória do que fora, denotando a dificuldade em aceitar a degradação do corpo pelo envelhecimento: “Ter sido e não poder esquecer. Ter sido e não mais lembrar”. “Ser e perder-se” (OSD, 76). O que ela é no presente figura no texto como mera representação do que fora no passado, assim como seus peixes de papel, pardo e sem vida como ela se sente, apenas um reflexo da existência em outros tempos: “tendo visto, tendo sido quem fui, sou esta agora? Como foi possível ter sido Hillé, vasta, afundando os dedos na matéria do mundo, e tendo sido perder essa que era, e ser hoje quem é?” (OSD, 24). A personagem indaga-se sobre a vida, pensa-a falando dos dejetos, das excrescências, dos detritos, do lixo. Reflete acerca do corpo, por dentro e por fora, indaga sobre a vida a partir dele: “a vida foi isso de sentir o corpo, contorno, vísceras, respirar, ver, mas nunca compreender” (OSD,53). A narradora fala de gosma e putrefação; de tudo o que envolve a carne, que chama de barro; da vida, partindo da matéria, perecível e frágil, para poder narrar a realidade humana, para poder dizer do fio tênue que liga o corpo à vida e, a vida à morte.
Porém, a personagem traz uma nova perspectiva, a da possibilidade de renovação, já que troca os peixes que recorta toda semana, pois estes se deterioram facilmente. Assim como ela, que troca de máscaras para poder ser sempre outra. Hillé pode ser muitas e seus peixes podem ser outros.
O jogo de ausência e presença, do visível e do invisível é representado dentro da narrativa em perspectiva, pois a protagonista faz a representação da representação com a ausência dos peixes, trocados por outros de papel, e representa a própria ausência ao mascarar-se, ao ser outra. Hillé ausenta-se estando presente, “a própria ausência está enraizada na presença”, diz Merleau-Ponty e “as ‘negatividades’ também contam no mundo sensível”. Hillé é tão lúcida, tão presente neste mundo, que se permite o devaneio, a loucura, a ausência de si, pelo menos no olhar dos outros sobre ela. Essa é sua forma de estar no mundo, ausentando-se dentro de uma presença marcante.
A relação da personagem com os outros dá-se por uma janela. De fora, vêem-na como um bicho, como uma louca. Ela, por sua vez, constrói a imagem pela qual quer ser vista. Prepara máscaras horripilantes e coloca-as em seu rosto antes de abrir a janela: “olhar é, ao mesmo tempo, sair de si e trazer o mundo para dentro de si”. Ao ser visitada, repele as pessoas que tentam aproximar-se dela, mostrando sua nudez senil. A narrativa deixa claro que a repulsa dos outros por sua nudez é, na verdade, pelo corpo degradado, é a recusa em ver o corpo envelhecido. A imoralidade está na velhice do corpo.
Nesse sentido, pode-se aproximar a postura de Hillé e a da velhinha do conto de Barreno, analisado há pouco, em que ambas as personagens chocam o outro pela exposição escancarada do corpo velho. Além disso, as duas desafiam pelo olhar as formas de ver do outro, na medida em que apresentam-lhe a face. Uma apresenta-se mascarada, a outra, desmascarada. Hillé cobre o rosto velho com máscaras horripilantes, a velhinha de Barreno, abre um sorriso desdentado, que normalmente é escondido do olhar alheio. Hillé quer espantar os outros com as caretas que coloca no lugar de seu rosto, desfigurado pelas marcas do envelhecimento, “o que é visto se impõe ao espectador com força suficiente como para determiná-lo ao sabor da sua percepção”ix. A personagem substitui o horror do que ela vê em si, espantada pela velhice, pelo que pode ser um espanto para o olho do outro, mascarando-se e escondendo o rosto, que é a face normalmente exposta ao olhar alheio. Ao mesmo tempo, revela sua intimidade e o que sempre fica escondido é exposto.
Assim, Hillé apresenta-se aos olhos dos outros tal como um fenômeno artístico, já que intencionalmente causa estranhamento ao desnudar-se ou ao mostrar-se com caretas e focinhos, grunhindo, pois a personagem remove um procedimento “do âmbito da percepção automatizada”.
Deste modo, já que a visão constitui “o laço vivo entre nós e o mundo, entre nós e os outros”, Hillé, exterioriza e estende seu questionamento a respeito do mundo ao escandalizar o outro, ao desestabilizar as relações primeiro dentro dela, depois dentro de casa, e no mundo, ao abrir a janela e mostrar-se chocante: “o olhar tem a capacidade de pôr em questão toda realidade”. Assim, a aparição horrenda de Hillé instiga-nos a pensar sobre o olhar que não consiste apenas em “ver e ser visto (e este é o fracasso do olhar contemporâneo, a condição trágica do homem moderno que só pensa no ver e no ser visto)”, pois olhar quer e pode ser mais que isto, ele pode fazer ver além do visível.
Assim como Hillé desafia o olhar do outro, duas personagens também o fazem, porém com teor diferente. A sexualidade, o desejo e o despojamento da vergonha de ser velha, expressos por atitudes, ao exibir um olhar quente e escancarar um sorriso desdentado sem nenhum pudor, a velhinha frente ao jovem leiteiro; ou ao relacionar-se sexualmente com o jovem entregador da farmácia, Maria Angélica; ou ao abrir a janela para ser vista com máscara horripilantes ou levantar a saia para mostrar o que geralmente se esconde, a Senhora D, a figura da derrelição, essas mulheres “mais vividas” querem mostrar outras possibilidades de ser e de estar no mundo, antes de deixá-lo.
Ver a juventude do outro, estampada em seu rosto, denotada em seu corpo é um tapa na cara, tal qual o que se pode sentir revendo fotografias da juventude, quando se entra em idade avançada. É a memória que aciona esse lembrar do que se foi. A consciência dos limites e da degeneração que a velhice traz causam a sensação de impossibilidade de voltar a ser. Hillé escancara a velhice aos olhos do leitor, narra poeticamente a vida, crua, e aponta para a morte, mas não antes de ter compreendido a vida, não como único caminho. Ela tem medo, mas às vezes acha morrer única saída para essa vida difícil de agüentar, mas não desiste de entendê-la, de buscar novas formas de ver e de ser vista. Vive a interrogar-se sobre o sentido da vida e isso é dado ao leitor pela voz narrativa, que costura presente e passado da história da narradora personagem, apresentando seus questionamentos via memória de diálogos com Ehud, mescladas às suas interrogações a deus.
Deste modo, fica evidente a memória como ponto de apoio central daquele que envelhece. A partir desta dão-se as relações dos idosos com os outros e com o mundo, ou essas relações os remetem a ela. É por meio da memória do que se foi ou se possuiu que se tem a consciência das faltas atuais, das ausências, das deficiências, do que não se é mais, daquilo que não mais se tem. E a constatação dessas diferenças dá-se principalmente no corpo.
A Senhora D sabe que sua obscenidade está na velhice, no estar degradado de seu corpo, e mostrá-lo é um ato obsceno, envelhecer é obsceno em uma sociedade que valoriza o novo e o que se vê, e que só acha belo o jovem, que cria espaços para este, esquecendo-se de adaptá-los também para os idosos, propiciando-lhes a continuidade de um viver por si, com prazer e alegria, e que, principalmente, os veja de outro modo, como seres com vida, com possibilidades para além, abrindo perspectivas para que se sintam assim.
O mundo oferece muitas possibilidades para serem vividas com o corpo jovem, que pode estar-nos mais variados espaços e de modos diferentes. Para o corpo velho, os espaços são restritos, por seus limites. Alarga-se então o espaço da memória. Esta assume caráter fundamental na vida dos idosos, que têm muito que lembrar e resgatam suas vidas pela lembrança de um tempo em que era o que a sociedade valoriza, recuperando, por instantes, sua “importância neste mundo”.



publicado por araretamaumamulher às 18:21 | link do post | comentar | favorito







Desde o início dos tempos, a mulher é vista como sagrada, por ter o dom de dar à luz um novo ser humano. Hoje, apesar de a maioria das mulheres ter se distanciado da sua natureza, é comum as mulheres pagãs retomarem essa ligação, e a maternidade é um momento onde todos os sentimentos – inclusive essa ligação – ficam à flor da pele.
O ato de dar à luz ainda é considerado sagrado. Não deve ser visto como um momento de sofrimento e ansiedade. Você, que está grávida, veja seu corpo como uma dádiva da natureza. O fato de ser fértil e capaz de gerar uma vida dentro de você deve ser visto como algo maravilhoso, porque realmente é. E, por maior que seja a participação do pai da criança, a gravidez até o parto é uma transformação da mulher.
Desse ponto de vista, é chocante pensarmos em como hoje são as práticas obstetrícias: a imobilização forçada da gestante, a indução do parto, o uso de drogas que tiram a consciência da mãe, as intervenções cirúrgicas planejadas antecipadamente sem necessidade, além do tratamento frio dado à mãe e ao recém-nascido.
Existe o consenso de que só uma mulher que pariu pode compreender e apoiar o sofrimento de outra mulher. Atualmente, há o resgate da prática de doulas, ainda que não seja algo difundido comumente.
O Cristianismo transformou o ato de dar à luz em algo impuro, e que a mulher deveria sofrer pois estava pagando pelos seus pecados. O que era visto como sagrado, passou a ser visto como parâmetro para dor: “aquilo doeu mais do que a dor do parto” ou “não existe dor pior que a dor do parto” – conceitos que ficaram na mente de todas as mulheres e transformaram o momento do parto em algo temido e indesejado. O batismo servia para “purificar” aquele bebê. Dentro das crenças pagãs, sabemos como isso tudo é absurdo.
É necessário que as mulheres pagãs conheçam mais sobre a história da maternidade e reivindiquem seus direitos – resgatem rituais para reconsagrar seu corpo e sua alma.
Fundamental é ter em mente que uma concepção consciente implica sexo consciente. Não faz parte do respeito aos nossos corpos induzir uma gravidez sem que você e seu parceiro estejam de acordo. Também não é respeitoso com ele, muito menos com o seu bebê.


publicado por araretamaumamulher às 17:42 | link do post | comentar | favorito

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